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Freedom of the will and the

concept of a person

HARRY FRANKFURT

UFOP - 2010
Objetivo

Oferecer uma definição essencialista de pessoa.

“It might have been expected that no problem would be of more


central and persistent concern to philosophers than that of
understandig what we ourselves essentially are.” (p. 6)
Para nossos propósitos

Entender como essa discussão contribui para a


discussão livre arbítrio X determinismo.
Introdução

Conceito de pessoa comumente utilizado:

 Entidade possuidora de características corpóreas e estados


mentais. (Strawson, 1959; Ayer, 1963)

Contra-exemplo:

 Muitos animais não humanos que notoriamente não


quereríamos chamar de pessoas teriam de ser incluídas nessa
classe. Ex: golfinhos, chimpanzés, cachorros, etc.
Conceito não especista

“What interests us most in the human condition would not interest us less if
it were also a feature of the condition of other ceratures as well.” (p. 6)

No mundo atual as propriedades de ser pessoa e pertencer a


certa espécie biológica – homo sapiens – são co-extensionais.
Mas não tem de ser assim. Ex: se existisse, Deus seria uma
pessoa; Frodo é uma pessoa.
Há também seres humanos que não são pessoas. Ex: doentes
mentais, viciados em drogas.
Portanto, o conceito de pessoa não é para ser entendido como
um conceito de atributos necessariamente específicos de uma
espécie.
Desejos de segunda ordem

A diferença entre pessoas e outras criaturas está na


estrutura da vontade da pessoas.
Pessoas são capazes de formar desejos de segunda
ordem
 Querem ter certos desejos e motivos;
 Têm a capacidade de querer ser diferentes daquilo que são.
Outras criaturas parecem não ser capazes de formar
desejos de segunda ordem.
I- Desejos de 1ª e 2ª ordens

“someone has a first-order desire when he wants to


do or not to do such-and-such, and that he has a
second-order desire when he wants to have or not to
have a certain desire of the first order.” (p. 7)
“S quer X”

1. Desejos de 1ª ordem (X se refere a uma ação)


a) A expectativa de se fazer X não evoca qualquer sensação ou
resposta emocional introspectiva em S;
b) S não está ciente de que quer X;
c) S acredita que não quer X;
d) S que abster-se de X;
e) S quer Y e acredita que é impossível querer X e Y ao mesmo
tempo;
f) S “realmente” não quer X;
g) S preferiria morrer a fazer X.
A vontade de S tem de ser identificada com o desejo
ou desejos efetivos que motiva ou move S a agir de
um certo modo (desejos de 1ª ordem).

“someone who states that A may mean to convey that it is this


desire that is motivating or moving A to do what he is actually
doing or that A will in fact be moved by thes desire (unless he
changes his mind) when he acts.
It is [...] the special usage of “will” that I propose to adopt, the
statement identifies A’s will.” (p. 8)
“S quer X”

2. Desejos de 2ª ordem (X se refere a um desejo de 1ª


ordem)
 “S quer querer X”.
1. Como desejo não efetivo. Ex: o médico que quer ter a experiência
de como é querer se drogar.
 Neste caso não há identificação do querer como a vontade.
2. Como desejo efetivo (Volições de 2ª ordem). Ex: alguém que quer
melhorar seu empenho no trabalho desejando que seu desejo de se
concentrar mais seja efetivado.
 S já tem X (desejo de 1ª ordem).
 S quer que X seja seu desejo efetivo.
 O desejo de 2ª ordem determina o de 1ª ordem.
 Neste caso X tem de ser identificado com a vontade da pessoa.
Resumo

Desejos de primeira ordem


 Desejo de se fazer algo
 x deseja ...
 ser filósofo sintético; fumar; visitar Auschwitz, etc.

Desejos de segunda ordem


 Desejos acerca de desejos
 x deseja desejar (ou não desejar) ...
 ser um filósofo sintético; fumar; ter filhos, etc.

Volições de segunda ordem


 Determinação de um desejo de primeira ordem por um desejo
de segunda ordem.
II - Propriedade essencial de pessoa

S é uma pessoa sse for capaz de ter volições de


segunda ordem.

Em todos os mundos possíveis em que S tem volições


de segunda ordem, S é uma pessoa.
Pessoa X Queredor

Pessoa:
 Tem volições de segunda ordem
Queredor:
 Pode ter desejos de segunda ordem, mas não tem volições de
segunda ordem.

Ex: viciado relutante.


III- Livre arbítrio

Ter volições de 2ª ordem é condição necessária e


suficiente para se ter livre arbítrio.
 S tem livre arbítrio sse tem volições de 2ª ordem.
Do que estamos falando realmente quando falamos
de livre arbítrio?
Dois tipos de liberdade

1. Liberdade de ação
 Fazer aquilo que se quer fazer

2. Liberdade da vontade
 Querer aquilo que se quer querer
Liberdade de ação

S tem livre arbítrio sse faz aquilo o que quer fazer.


1. Um cachorro pode escolher correr para o lado que
quiser.
Logo, fazer o que se quer fazer não é condição
suficiente para se ter livre arbítrio.
2. Mesmo eu estando preso num quarto sem poder
sair, posso determinar minha vontade de querer
sair.
Logo, fazer aquilo que se quer fazer não é condição
necessária para se ter livre arbítrio.
“When we ask whether a person’s will is free we are
not asking wheter he is in a position to translate his
first-order desires into actions. That is the question
of whether he is free to do as he pleases. The
question of the freedom of his will doen noto concern
the relation between what he does and what he
wnats to do. Rather, it concerns his desires
themselves.” (p. 15)
“the statement that a person enjoys freedom of the will
means [...] that he is free to want what he wants to want.
More precisely, it means that he is free to will what he wants
to will, or to have the will he wants. Just as the question
about the freedom of na agent´s action has to do with
whether it is the action he wants to perform, so the question
about the freedom of his will has to do with whether it is the
will he wants to have.
It is in securing the conformity of his will to his
second-order volitions, then, that a person
exercises freedom of the will.” (p. 15)
Desejos de ordem superior

Há também desejos de 3ª ordem, 4ª, e assim por


diante. Não há limite teórico para a formação de
desejos de ordens superiores.
Sempre que houver conflitos entre desejos, terá de
haver um desejo de ordem superior que resolva tal
conflito.
 Para conflitos de 1ª ordem, desejos de 2ª ordem
 Para conflitos de 2ª ordem, desejos de 3ª ordem
 Para conflitos de 3ª ordem, desejos de 4ª ordem...
Objeção

Se os desejos continuarem ad infinitum, nunca


poderemos determinar nossos desejos de 1ª ordem, e
por conseguinte, traduzi-los em ação.
Resposta

“When a person identifies himself decisively with


one of his first-order desires, this commitment
“resounds” throughout the potentially endless array
of higher orders. [...] The deciviness of the
commitment he has made mean that he has decided
that no futher question about his second-order
volition, at any higher order, remains to be asked. (p.
16)
Outra objeção

As volições de 2ª ordem (ou ordens superiores) só


são formadas depois de deliberação e muito esforço
por parte do sujeito para satisfazê-las. Seria difícil,
portanto, exercer o livre arbítrio.
Resposta

Algumas vezes agir livremente é mais difícil; noutras


é mais fácil.
 Ex: decidir levantar minha mão é mais fácil do que decidir
parar de fumar.
IV – Vantagens da teoria

1. Explica porque só o homem tem livre arbítrio.


 Pois é capaz de formar volições de 2ª ordem.
2. A liberdade da vontade é mais fundamental que a
liberdade da ação.
3. Por causa de (1) leva vantagem sobre outras teorias,
e.g. a teoria de Chisholm (1966).
Responsabilidade Moral

“the relation between moral responsability and


freedom of the will has been very widely
misunderstood. It is not true that a person is morally
responsible for what he has done only if his will was
free when he did it. He may be morally responsible
for having done it even though his will was not free
at all.” (p. 18)
Compatibilismo

“It seems conceivable that it should be causally


determined that a person is free to want what he
wants to want.” (p. 20)
“it seems conceivable that it should come about by
chance that a person is fre to have the will he wants.”
(p. 20)
“it is also conceivable [...] for states of affairs to come
about in a way other than by chance or as the
outcome of a sequence of natural causes.” (p. 20)

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