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O BEHAVIORISMO METODOLÓGICO E

SUAS RELAÇÕES COM O


MENTALISMO E O BEHAVIORISMO
RADICAL
Psicologia Analítico-comportamental
João Manoel Rodrigues Neto
De filosofia a ciência:

 Filosofia:  Ciência:
Observações conclusões
observações;
 Pressuposições conclusões;

 Passível de negação por novas


 Desdobramento lógico pelo raciocínio;
observações;
 Absoluto.
 Provisório.
 Abstrações gerais;
 Restrita ao universo natural;

(Baum, 2007)
Psicologia
como Ciência:  A história demorou a exigir que o
conhecimento do homem se afastasse
dele mesmo, se objetivasse. Distanciamento
da Psicologia, tornada autônoma, em relação à Filosofia.
 Emergência do capitalismo: transformar a reflexão
sobre o homem em intervenção sobre o homem
(Codo, 1984)
Origem e abandono das explicações mentalistas

 Voluntarismo de Wundt (1832-1920)


Objeto de estudo: Os elementos da consciência
Método: Instrospecção; relato da percepção
O que todos tinham em comum?
• Desafio de fazer uma psicologia
 Estruturalismo de Titchener (18671927) científica
Objeto de estudo: A estrutura da consciência • Eventos mentais: objeto de estudo
Método: Instrospecção; relato do estado consciente
• Eventos comportamentais:
importância secundária
• Método de Estudo: Introspecção
 Funcionalismo de William james (1820-1903)
• Aparentemente, se tratavam de
Objeto de estudo: Consciência; processos mentais abordagens “científicas”
Método: Instrospecção; descrições
 Dualismo alma-corpo Dualismo mente corpo
“Na verdade ambas são posições essencialmente similares, por
dualistas e causais: o homem é concebido como tendo duas
naturezas, uma divina e uma material, ou uma mental e uma física,
e a divina (ou mental, dependendo do século em que situemos
nossa análise) determina o modo de ação da material e física. ” (p.
Mentalismo: 1)

 Limites:
 Como interagem as duas naturezas?
 Circularidade.
 Mecanicismo: Mundo Mente Ações
Origem e abandono das explicações mentalistas

Críticas
 Os dados não eram confiáveis
 Concordância entre observadores não era possível
 Instrospecção é um método questionável

 A ciência é empírica; lida com fenômenos publicamente observaveis, sujeitos à registros


objetivos, enquanto eventos privados não são observáveis publicamente

A privacidade impõe desafios para a


investigação científica
Questões impostas pelo mentalismo

 Onde estão esses eventos?


 Eles pertencerão à mesma dimensão?
 Como eventos de uma dimensão poderão
interagir com eventos de outra?
 Como as causas mentais podem ser produzidas?
 Estratégias para não enfrentar estes desafios filosóficos:
Ignorar
Recorrer a outras áreas(e.x. fisiologia)
Tratar como intermediário
 Proposta para a Psicologia tomar como seu objetivo de estudo
Behaviorism o comportamento ele próprio, e não como indicador de alguma
o: outra coisa.
 Oposição ao estudo dA Mente.
 Possibilidade de uma ciência natural do
comportamento;
Behaviorismo  O que é ciência?
como Filosofia  O que é parte do universo natural?
da Ciência:  O que diferencia ciência de outros empreendimentos
humanos?
Watson
 Estudar o comportamento por si mesmo;
 Opor-se ao Mentalismo, e ignorar fenômenos como
“Por que não fazemos consciência, sentimentos e estados mentais;
daquilo que podemos
observar, o corpo de estudo  Aderir ao evolucionismo biológico e estudar tanto o
da Psicologia?” comportamento humano quanto o animal, considerando
este último mais fundamental;
 Adotar o determinismo materialístico;
 Usar procedimentos objetivos na coleta de dados, rejeitando
Watson a introspecção;
 Realizar experimentação controlada;
“Por que não
 Realizar testes de hipótese de preferência com grupo
fazemos daquilo que
controle;
podemos observar, o
corpo de estudo da  Observar consensualmente.
Psicologia?”  Evitar a tentação de recorrer ao sistema nervoso para
explicar o comportamento, mas estudar atentamente a ação
dos órgãos periféricos, dos órgãos sensoriais, dos músculos
e das glândulas.
Watson  Comportamento como necessariamente aprendido e
determinado por estímulos imediatamente antecedentes.
“Por que não
fazemos daquilo que
podemos observar, o  Influências:
corpo de estudo da  O Positivismo Social de Auguste Comte;
Psicologia?”  O Positivismo Lógico do Círculo de Viena;
 O Operacionismo.
 Operação fundamental;
“Comportamento, para ser objeto de estudo do behaviorista, deve
Centralidade ocorrer afetando os sentidos do outro, deve poder ser contado e
da medido pelo outro.” (p. 3)
Observação  Necessária concordância;
 Papel do treino dos observadores;
“Dentro de uma Física newtoniana mecanicista da época, todo fenômeno
devia ter uma causa (uma concepção funcionalista falaria em condições), e
como Watson rejeitava a mente como causa, se a causa do comportamento
Definição de não poderia ser a mente, então esta deveria ser algo externo ao organismo,
Comportament a saber, o Ambiente. Na verdade Watson não se libertou da concepção
o dualista de homem. Se para a Escolástica o corpo precisa ser animado pela
(Watson) alma, e para o Mentalismo o comportamento é expressão da mente, para
Watson ele é produto da instigação do estímulo.” (p. 3)
 Comportamento: mudança observável no organismo causada por uma
mudança no mundo físico (estímulo)
 Hull, Mowrer, Spence, Woodworth e Tolman;
 Busca pela inclusão de variáveis organísmicas (neurológicas,
fisiológicas etc.)
“Para esses estudiosos do comportamento o comportamento se explicaria
Behaviorismo e se estudaria através de uma cadeia causal de processos encadeados:
mediacional: eventos antecedentes, provavelmente no ambiente externo ao
organismoque desencadeiam processos mediacionais, centrados no
organismo, que por sua vez controlam o comportamento; por essa
razão são também denominados behavioristas metodológicos
mediacionais ou, mais modernamente, behavioristas cognitivas.” (p. 4)

S O R
 Influências do modelo de Watson para a definição
de Estímulo e de Reflexo;
Lashley e Pavlov
 Modelo de causação antecedente exclusiva e
mediada pelo SNC;
 Críticas Skinnerianas:
 Dualista;
 Hipóteses neurológicas;
 Mecanicista;
 Dependência unidirecional;
“Assim, podemos dizer que o Behaviorismo
Metodológico, clássico ou mediacionista, ao tomar estados
ou processos e/ou neurais, hipotéticos ou inferidos, como
supostas causas do comportamento, ironicamente, se
posicionava como um legítimo defensor do Mentalismo
(e, nesse sentido, Skinner fez a si um desfavor ao usar a
expressão behaviorista, ao identificar-se como um
behaviorista radical).” (p.4)
Psicologia e postura organocêntrica

• “Forças causais” no organismo;


• Processos inferidos;
• Comportamento como expressão de outro fenômeno
Inferências
(SNC, Emoções, Pensamento, Self etc.)

“NaInterpretações baseadas são


verdade [os mentalistas] em autores
variáveis
que,intermitentes
recusando o nome
de behavioristas metodológicos (com o que certamente Watson
concordaria!), não Construtos hipotéticos
obstante partilham com eles o que de menos
avançado eles apresentam: um modelo causal do
comportamento, uma posição dualista, mecanicista, e de
dependência unidirecional.” (p.5)
Behavirismo Radical:

• Ambiente: onde buscamos variáveis e condições das


quais o comportamento é função.

• Modelo de Seleção por Consequências: “A cadeia


causal, unidirecional e mecanicista, é substituída por
uma malha de relações de caráter interacionista e
histórica.” (p. 5)
Dor e alegria não são coisas do ambiente, Sentir ésão
umformas
comportamento,
de me uma
comportar, são exemplos do meu comportamento.
maneira Nãodo organismo
há uma caixafuncionar
cheia de dor, a qual eu abro para contemplar
em determinadas
ou sentir; condições,
nem um assim
guarda-roupa do qual eu retire uma blusa como
de alegria
correr ée uma
com outra
a qualmaneira
dele insistem
visto meu estar. Mas nossas práticas culturais funcionar, em
que a alegria outras
está lá,
Frase 1.aEu
que eu estou falando.
experimento como a umcondições).
pedação de bolo, que ela
toma conta de mim como um vendaval, que ela não é uma forma
 Frasede 2.interação
particular Eu escrevi esta palestra.
com o ambiente! Com verbos que denotam
Behavirismo funções fisiológicas básicas, meu corpo é considerado o agente, ou,
Radical:  Frase
para 3. Eu mais
uma audiência vejosofisticada,
vocês. é o palco onde estas funções
ocorrem. Com verbos que denotam funções motoras ou sensoriais, o
eu é Frase 4. Eu
o agente. Mas,estou com sede.
com relação a verbos que denotam funções
emocionais ou perceptuais a linguagem me impede de interagir com o
 Fraseno5.Máximo
ambiente; Eu estou com dor
ou interajo com dente.
a dor, com a alegria, com
minha memória, com o conteúdo dos meus pensamentos, com minhas
idéias, cognições etc.
 Diferença em relação ao Behaviorismo Metodológico: o
Eu constrói o conhecimento;
 Metodologia do N = 1;
 Tarefa da ciência: analisar a experiência do cientista;
Behavirismo “Essa aliás é uma das razões porque Skinner atribui
Radical: tamanha importância do estudo do comportamento
verbal: a análise do comportamento verbal permite o
estudo das circunstancias em que a experiência, isto é, o
trabalho do cientista se dá, e assim, permitiria seu
entendimento e eventual controle.” (p. 7)
“O Behaviorismo Radical exercita-se através de uma interpretação de
dados obtidos através da investigação sistemática do comportamento (o
corpo desta investigação propriamente dita é a Análise Experimental
do Comportamento). Esta interpretação volta-se para a descrição de
Behavirismo relações funcionais entre Comportamento e Ambiente (isto é, relações
Radical: entre descrições de ações dos organismos e descrições das condições
em que essas ações se dão). Não busca explicações realistas ou de
causa-efeito, e sim relações funcionais ou leis que expressem
sequências regulares de eventos, e que eventualmente poderão ser
descritas por funções matemáticas.” (p. 7)
 Materialista e Evolucionista;
 Dois tipos de transações organismo-ambiente:
 Com consequências;
S R S
Behavirismo  Com contextos;
Radical:  Relações funcionais com base no registro de mudanças na
probabilidade de respostas;
 Interpretação histórica!
 Possibilidade de funções semelhantes para diferentes indivíduos.
:aigolocisp a arap sovi tanret la sohnm
iC
a

Mentalismo: Behaviorismo:
 Psicologia como ciência da  Psicologia
como ramo da
mente; Biologia interessado pelo
 Dualismo em relação aos eventos comportamento;
acessíveis e inacessíveis;  Privacidade como parte dos objetos
 Diferentes naturezas: material e da psicologia, mas sem assumir uma
psíquica; natureza distinta dos eventos;
 Divergência quanto a essas  As medidas de correlatos ou as
diferentes naturezas; “invasões da privacidade” não torna
o que é privado menos único;

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Proposta de Skinner: Behaviorismo Radical

 Rupturas do behaviorismo skinneriano com visão


difundida sobre produção de conhecimento científico:
 Não recorrer ao acordo entre observadores como critério
de verdade;
 Possível tomar eventos privados como objeto da
Psicologia;
 Eventos materiais;
 ”Subjetivo”: não restrito a eventos privados;
“Em certa medida, todos os eventos referem-se ou são
conhecidos por um sujeito.” (Sério, 2005, p. 257)
Peculiaridade do behaviorismo radical na psicologia:

• Recusa o mentalismo;

• Não fundamenta sua recusa apenas em razões metodológicas;

• Recurso ao ambiente para explicar o comportamento;

• Comportamento: interação entre o organismo e o ambiente e é ao mesmo tempo produto de


interações anteriores.

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