Você está na página 1de 48

Universidade Federal de Rondônia

CARBÚNCULO HEMÁTICO

Prof. Igor Mansur


Sinonímia

• Carbúnculo verdadeiro ou bacteriano, Anthrax,


sangue de baço, pústula maligna.
Antrax (grego- carvão)

Cor do baço - preta


Introdução
É uma doença infecciosa aguda, de caráter septicêmico
hemorrágico, caracterizada por esplenomegalia (aumento do
baço) e infiltração gelatino hemorrágica (sero-hemorrágica) nos
tecidos subcutâneos e subserosos. É uma zoonose.

Ocorre em todo o mundo (cosmopolita), sendo muito


disseminada em países onde o controle efetivo das doenças
transmissíveis dos animais é falho.
Agente etiológico
Bacillus anthracis
Bacilo G+
Imóvel
Esporulado
Aeróbio

 
Etiologia
B. anthracis é um agente formador de esporos.
São destruídos em culturas por aquecimento a 55-58ºC
durante 10-15 minutos.
No suco gástrico morrem aos 15-20 minutos. O suco
gástrico não afeta os esporos.
Podem sobreviver 1 mês no sangue dessecado.
Os desinfetantes comuns matam em soluções diluídas.
No esterco do estábulo continuam vivos durante meses.
Etiologia
Em sangue putrefeito, continuam sendo plenamente
virulentos por 11 anos.
No solo foram encontrados esporos viáveis inclusive
após 24 anos.
O ar seco aquecido a 120-140ºC os destrói em 3
horas.
A secagem e a salga das peles não afetam os
esporos aderidos a eles.
Etiologia
Dos meios de desinfecção mostraram-se eficazes:
a água oxigenada (3%) e ácido peracético (0,4%)
durante 30 minutos de atuação;
a formalina (5%) durante 6 horas de atuação, no
mínimo.
Espécies suscetíveis
Os herbívoros são os mais receptivos, sendo
mais frequentes em ruminantes (bovinos,
caprinos e ovinos)
 Mais ou menos frequentes em equinos
 Menos frequentes em suínos
 Raramente em carnívoros.
Espécies suscetíveis
Também são muito sensíveis os búfalos, camelos e renas.
Além disso, o carbúnculo afeta herbívoros selvagens,
como hipopótamos, elefantes, antílopes e alces.
Transmissão

A transmissão se dá através dos


cadáveres e das fezes dos animais
doentes, onde ocorre a esporulação dos
bacilos, que são formas extremamente
resistentes.

Estes esporos contaminam o solo e a


água, o que aumenta a facilidade de
contágio para os animais de pastoreio.
Transmissão
Via oral – através da ingestão de água e alimentos
contaminados por esporos provenientes de animais
doentes. Estes animais eliminam bacilos junto com suas
secreções e excreções, contaminando o meio ambiente
(pasto, comedouros, bebedouros e os rios).

Via solução de continuidade da pele – tosquia,


fômites (um instrumento), castração, tudo que possa
levar a um corte na pele do animal.
Transmissão
OBS: apesar de comumente os esporos
se encontrarem nas fezes, os urubus
transmitem através do vômito.

OBS: também pode ocorrer transmissão


através de disseminação mecânica por
moscas e aves, que carreiam estes
esporos nas patas e bicos.
Epidemiologia
A infecção é produzida, geralmente,
mediante a ingestão de esporos com o
alimento ou a água.
Epidemiologia
As vias de transmissão mais importantes no
carbúnculo são os cadáveres e as fezes dos
animais doentes.
A esporulação dos bacilos tem uma
importância fundamental.
Epidemiologia
Os esporos do carbúnculo que produzem a
infecção através do alimento provêm,
sobretudo, do solo.
Fontes de contaminação:
 Solo
 Farinha de osso utilizado como adubação
 Águas residuais de curtumes e lavatórios de lã
Patogenia
Ingestão alimentar

intestino delgado

diminuição das defesas

vias linfáticas e sangue/fator permeabilidade/letal


Edema, hemorragia e choque.
septicemia e morte animal
Patogenia

Via oral – com a ingestão de água ou alimentos


contaminados, os esporos vão se fixar em ferimentos
das mucosas ou nas criptas(para escapar do sistema
imunológico), permanecendo em estado latente,
germinando posteriormente, originando as formas
vegetativas encapsuladas.
Patogenia

Via solução de continuidade da pele – ao


atingirem o ferimento, os esporos causam uma
dermatite local. Em seguida migram para a
corrente circulatória, onde ocorrerá a
multiplicação. O PI (período de incubação) dura
de 1 a 14 dias. Corresponde ao período entre o
ingresso do germe no organismo até o
aparecimento dos primeiros sintomas.
Sinais clínicos
Forma hiperaguda – a evolução é rápida e o animal pode
aparecer morto sem sintomas, ou então ocorrerem alguns
sintomas repentinos, tais como: hemorragia cerebral,
espuma corada de sangue pela boca, sangue puro pelo
ânus, asfixia e convulsões.
Sinais clínicos
Forma aguda – é rápida, mas nem tanto quanto a
hiperaguda. Os sintomas são febre, prostração,
anorexia, animal em decúbito lateral, entra em profundo
estado de depressão, pode ter diarréia hemorrágica,
edemas e a fêmea em gestação normalmente aborta.
Sinais clínicos
Forma crônica – neste caso os sintomas gerais
são mais graves e perceptíveis em suínos. Começa
com uma faringite aguda, infiltração da garganta e
dos gânglios linfáticos subparotídeos, pele com
manchas avermelhadas, ocasionalmente a mucosa
dos lábios e língua podem apresentar uma vesícula
com líquido.
Sinais clínicos
Cavalos: cólicas violentas,
temperatura alta, edemas nas regiões
faringiana, peito e pescoço, fezes e
urina com sangue e a morte ocorre
em 1 a 2 dias.
Sinais clínicos
Bovinos: evolução de 12 a 48 horas, febre alta,
alimentação normal, excitação, tremores
musculares, cólicas, eliminação de sangue pelas
fezes, urina e leite, edemas no pescoço, no peito e
na região genital. Precede a morte dispnéia, parada
de ruminação, secura na boca, ranger dos dentes
(bruxismo).
Sinais clínicos
Ovinos e caprinos – apoplexia cerebral (afecção
que se caracteriza pela privação de sentidos e
movimentos), tremores, excitação, dispnéia e
convulsões, a principal lesão é a angina
carbunculosa.
 
Diagnóstico

Clínico – é o diagnóstico onde se analisam


os sintomas, o histórico, os sinais e dados
epidemiológicos.
Diagnóstico - Anatomia
Patológica
As alterações anatômicas são
caracterizadas por hemorragias na
maioria dos órgãos, infiltrações
serogelatinosa e derrames hemorrágicos;
Diagnóstico -Anatomia
Patológica
Os gânglios linfáticos estão muito
tumefeitos, especialmente na proximidade
dos infiltrados gelatinosos.
O baço está muito aumentado de tamanho,
com a polpa vermelho-escura e pastosa.
O fígado e os rins estão engrossados
igualmente e com degeneração
parenquimatosa.
Anatomopatológico
(necropsia)
A necropsia á campo deverá ser evitada pelo risco da
contaminação pelos esporos.

Em caso de fazê-la, deverão ser seguidas as regras de


biossegurança: luvas, óculos de proteção, avental,
máscara.

Deve ser coletado um pequeno fragmento de baço e uma


pequena quantidade de sangue. No caso específico de
suínos, procura-se o linfonodo regional alterado e retira-se
um fragmento.
Diagnóstico

OBS: o sangue do carbúnculo é incoagulável.


(estreptoquinase – destrói fibrinogênio)

Laboratorial – esfregaço sanguíneo, dos fragmentos


retirados faz-se o cultivo, pode fazer inoculação em animais
de laboratório.
 
Prognóstico
O prognóstico é muito desfavorável nos
casos hiperagudos.
Tratamento
Utilização de soro anticarbunculoso.
Dose:
100-200 ml a equinos e bovinos
30-60 ml de soro a ovinos, caprinos e
suínos de forma subcutânea ou melhor,
intravenosa.
Tratamento
A penicilina e outros antibióticos mostraram-
se muito eficazes frente ao bacilo do
carbúnculo.

São utilizados soro anticarbunculosos e


penicilina combinados.
Profilaxia
Médica – vacinação.
Sanitária – comunicação obrigatória ao
Serviço de Defesa Sanitária Animal
(SDSA), cremação no local da morte do
animal, evitar necropsia a campo para
evitar contágio por esporulação, isolar as
pastagens onde ocorreram as mortes,
higiene de manuseio e instalações e
desinfecção – neste caso pode-se fazer a
desinfecção com fogo ou creolina a 5%.
Profilaxia

Dado que a infecção dos animais é


produzida, quase exclusivamente, através
do trato digestivo, as medidas preventivas
devem ser dirigidas para a eliminação das
possíveis vias de transmissão oral.
Profilaxia

Os alimentos contaminados e a cama


devem ser eliminados, preferencialmente,
queimando-os.

São utilizadas vacinas que contêm bacilos


ou esporos carbunculosos atenuados.
Normas Legais Veterinárias

O carbúnculo é doença de declaração


obrigatória. Após sua detecção deve ser
ordenado o isolamento dos animais
doentes ou suspeitos de estarem
infectados.
Normas Legais Veterinárias
As excreções provenientes desses animais,
assim como o alimento e a cama que
tenham estado em contato com eles,
devem ser descontaminados.
Deve ser proibido o sacrifício de animais
doentes ou suspeitos, para que não
cheguem ao meio ambiente nem sangue e
nem secreções, nas quais o agente possa
esporular na presença de oxigênio.
Normas Legais Veterinárias

A adoção de medidas terapêuticas e a


necropsia de animais mortos devem ser
reservadas aos veterinários oficiais.
Os cadáveres devem tornar-se inofensivos
mediante incineração, processamento
técnico ou enterro profundo;
Normas Legais Veterinárias

É proibido o esfolamento. Não devem ser


comercializados a carne nem o leite dos
animais doentes.
A desinfecção é realizada com cloreto de
cálcio, água oxigenada (3%), ácido
peracético (0,4%) ou formalina (5%) e
deve ser supervisionada pelo veterinário.
A Doença no Homem

A forma de apresentação mais frequente é o


carbúnculo cutâneo (pústula maligna). Na
maioria dos casos trata-se de uma
infecção ocupacional.
A Doença no Homem

Correm perigo as pessoas relacionadas


profissionalmente com animais
domésticos e, fundamentalmente, com
matérias-primas de animais e alimentos.
A Doença no Homem
No carbúnculo cutâneo, após um período de incubação
desde algumas horas até 3 dias, é formada uma
pequena vesícula avermelhada, rodeada de um eritema.
O centro desta vesícula apresenta coloração vermelho-
escura e, finalmente, torna-se negro (carbúnculo).
A Doença no Homem

Os sinais gerais da infecção são febre,


cefaléia, colapso circulatório, vômitos
sanguinolentos e melenas. No final da
primeira semana já pode levar à morte.
A Doença no Homem

O meio de eleição para o tratamento da


infecção carbunculosa no homem é a
penicilina. Foram acreditados, por outro
lado, a oxitetraciclina, a tetraciclina, a
eritromicina, a estreptomicina, o
cloranfenicol e clortetraciclina.
Arma Biológica

Você também pode gostar