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O tópico da imago Dei no pensamento dos direitos humanos

de Francisco José de Jaca O. F. M. Cap. (1645-1689)

Doutorando
Joel F.
Decothé
Junior
(UNISINOS)
Bolsista:
CAPES-
PROSUC
Vida e missão de Francisco José de Jaca O. F. M.
Cap. (1645-1689)
 O frade espanhol Francisco José de Jaca O. F. M. Cap. (1645-1689), nascido em
Jaca, província de Aragão. Atuou como missionário professando os seus votos
sendo investido com o hábito religioso de capuchinho menor no dia 14 de janeiro
do ano de 1665 no espaço do Convento de São José em Tarragona Espanha.
Passada mais de uma década, o frade José de Jaca passou a atuar como
missionário entre os indígenas e os povos negros do Novo Mundo.
 O frade capucho viveu em Cartagena das Índias por algum tempo. Quando no ano
de 1681 José de Jaca foi deportado para o seu país de origem, permaneceu em
Cuba por algum tempo, sendo nesta oportunidade o momento de encontro com o
seu grande companheiro de luta pela libertação dos povos escravizados, o
também frade capucho Epifanio de Moirans O. F. M. Cap. (1644-1689).
 Desde então, a vida missionária dos frades capuchinhos se entrecruzaram na luta
profética pela liberdade dos povos ameríndios e africanos escravizados que foram
trazidos coercitivamente para o Novo Mundo. José de Jaca fez a proposição de
evidenciar em seu tratado Resolución sobre la libertad de los negros y sus
originarios, en estado de paganos y después ya cristianos de 1681 a denúncia dos
desmandos e abusos praticados nas colônias espanholas pelas autoridades civis
e eclesiásticas com a sua ideologia da escravidão.
Iª Parte da Resolução: análise dos direitos
humanos

 Jaca ostenta a intenção de fazer o exame acurado e abrangente da


realidade em que vivem os povos escravizados.

 Constrói argumentos fundamentais utilizados para condenar estas


práticas escravagistas, partindo dos pressupostos do direito natural e do
direito das gentes.

 A Iª parte da Resolução, contém a primeira seção que é composta por 16


parágrafos numerados, sendo esta fração expressa por ¼ do conteúdo da
obra.
Direitos Humanos: Iª parte da Iª parte.
O humano como imagem de Deus

 Os humanos são criados seres naturalmente livres.

 O fundamento ontológico da liberdade é um dom sobrenatural.

 A questão da graça entre em debate.

 Jaca oferece uma resposta aos cegos que guiam outros cegos
Primeira proposta radicalmente crítica de
contestação dirigida às práticas escravagistas no
Novo Mundo

 A Resolução foi redigida em perfeita consonância com o contexto


intelectual de articulação dos tratados de iustitia e iure no largo dos
séculos XVI e XVII. Cabe o destaque para as reflexões sobre tal
problemática feitas por Domingo de Soto O P. e pelo jesuíta Luis de
Molina S J.
 O tratado do frade capuchinho se concentra nas aporias que dizem
respeito a questão da escravidão, e aos subtemas que fazem referência a
este problema em sua variante de colateralidade. Em síntese, têm-se
uma série de aporias que são tratadas e que fazem alusão a perspectiva
moral da natureza prática da liberdade e dignidade humana.
 A metodologia de trabalho de Jaca foi a da casuística que estava em uso
na época, porém a sua leitura tinha um fim instrutivo e se relacionava
com os seus sentimentos de inconformidade com as injustiças praticadas.
Os Direitos Humanos: o ser humano como Imago
Dei

 Não é normal utilizar o termo direitos humanos na época de Jaca.


Quando o frade capuchinho utiliza a linguagem de humanos direitos, faz
referência a tudo aquilo que o ser humano carrega consigo de forma inata
em sua condição de criatura. Segundo Jaca os direitos são negados
quando orientados para a vida das pessoas escravizadas.
 Jaca recebe influência dos debates da Escola de Salamanca. O
pensamento de Francisco de Vitória sobre a autonomia da ordem natural,
isto é, entre em jogo a noção de naturalismo tomista com enfoque no ser
humano. Jaca tem em mente o princípio tomasiano da graça divina que
não veio para destruir a natureza, mas sim aperfeiçoa-la.
Os Direitos Humanos: o ser humano como Imago
Dei
 Jaca é devedor da articulação do direito das gentes cunhada por
Francisco de Vitória, assim ele age por meio do postulado pelo critério em
que se deve estender normativamente o respeito proposto pelos direitos
naturais em favor de toda humanidade.
 O missionário capuchinho leva este argumento às últimas consequências,
pois postula com este critério de demarcação o reforço dos pilares dos
direitos humanos, por meio do qual os seres humanos em razão de sua
natureza são criados a imagem de Deus.
 A crítica do missionário capucho se dá desde o pressuposto da teologia
da criação (imagem e semelhança). Assim, entra em jogo a perspectiva
do conceito de liberdade natural, pois segundo Jaca, a condição de
criatura detêm tacitamente a noção de liberdade que é um fator
concedido pela própria natureza de ser criatura (2002, p. 4).
O Ser Humano como imagem diante de Deus

 Jaca articula a sua crítica à ideologia da escravidão com uma


fundamentação centrada no poder, domínio e bondade de Deus. Aí reside
a origem do ser humano criado a imagem e semelhança divina.
 Diferentemente da articulação de santo Tomás, Jaca segue a via da
tradição franciscana (Sto. Francisco de Assis e Sto. Antônio de Pádua) e
não opta pela fundamentação desde algum sistema filosófico específico.
Jaca configura a sua crítica com base na teologia da criação e da
redenção.
 O argumento robusto será o de que a natureza particular do ser humano,
está orientada a reconhecer em Deus a gênese de si própria e de toda
criação. Jaca entende que o ser humano é a causa segunda finita, pois
aqui reside a distinção em relação a causa primeira, a saber, o Deus
criador. O argumento é o de que o ser humano é uma ínfima realidade
diante de Deus criador.
Humano como causa segunda finita, diante da
Causa Primeira Infinita

 Com isso, a condição humana de ser analogicamente analisada conforme


a imagem de Deus, segundo Jaca (2002, p. 5) “[...] é uma causa segunda
finita, limitada, dependente, e é como um nada diante da presença da
causa primeira e independente (Meu ser ante ti é como um nada).”

 Jaca argumenta sem fazer concessão alguma, que a prática da


escravidão, vilipendia e torna a tirania uma infeliz prática da Igreja no
trato de seus filhos e filhas, pois assim se pratica a vileza de tratar estas
pessoas injustamente como escravas. Logo, Jaca defende que a
liberdade é um direito natural.
A questão da normatividade da graça

 Para o frade capucho a normatividade da graça contribui para a


condenação e abominação da servidão escravagista que ofusca a
concepção teológica da imago Dei.
 Jaca faz a distinção mental entre a lei natural e a lei da graça. Sua
argumentação se pauta pela lei da graça, sendo esta a superação dos
limites da lei natural em sua antropologia da causa segunda finita, que se
coloca em contato com a graça ativa do Criador como causa segunda
independente.
 O paradigma normativo da graça (liberdade e igual dignidade ontológica)
será o modo concreto da conduta e ação diante da injusta instituição da
escravidão de povos africanos e indígenas no Novo Mundo.
Contra Aristóteles e a favor da Escola de
Salamanca.

 Jaca não endossa a concepção aristotélica da necessidade da escravidão


em sua forma natural e hierárquica.
 O frade capuchinho assume a posição da Escola de Salamanca (F. Vitória
e D. Soto). Neste sentido, faz a ruptura com a noção de escravidão
hierárquica e natural, postulando em oposição à prática dos direitos e
deveres dedutíveis da própria natureza.
 Segue-se a seguinte indagação é realizada por Jaca (2002, p. 6) “[...] que
razão há para ditar que a ignomínia da escravidão seja propícia e
rigorosa na vida da criatura racional?”
Imagem divino-humana como racionalidade e
liberdade natural

 Em sua argumentação Jaca pretende mostrar que as diferenças que


existem entre os seres humanos são mínimas, estas não devem afetar o
plano original de Deus, ou seja, estabelece a concepção de que a raça
humana seja criada a sua imagem e semelhança, pois assim Deus criou
o ser humano (Gn 1. 27).
 Esta é a inspiração conceitual que foi tomada pelo frade capuchinho
como elemento filosófico-teológico advindo da Escola de Salamanca.
 Por fim, podemos dizer que o missionário capuchinho segue a linha de
compreensão teológica traçada pela escolástica, tendo em vista que
conforme Schüler (2002, p. 247)“[...] a imagem consiste na racionalidade
e na liberdade da natureza humana.”
Referências
PENA GONZÁLEZ, M. A. Francisco José de Jaca. La primera propuesta
abolicionista de la esclavitud en el pensamiento hispano. Servicio de
Publicaciones Universidad Pontificia de Salamanca. Imprenta Kadmos
Salamanca, 2003.
JACA, F. J. de. Resolución sobre la libertad de los negros y sus
originarios, en estado de paganos y después ya cristianos. Ed. Miguel
Anxo Pena González. Madrid: Consejo de Investigaciones Científicas, 2002.
PICH, Roberto Hofmeister. Probabilismo, escravidão negra e critica:
Francisco Jose de Jaca O.F.M. Cap. (c. 1645-1689) interpreta Diego de
Avendaño S.J. (1594-1688). Thaumazein (Santa Maria), v. 12, p. 1-44,
2019.

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