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Amazônia do tempo

presente: desafios e
perspectivas

Texto 9. WEINSTEIN, B. Experiência de pesquisa


em uma região periférica: a Amazônia. História,
Ciências, Saúde Manguinhos, Rio de Janeiro, vol.
9, n.2, 2002, p. 261-72.
Brasilianista
• “Brasilianista é o termo usado para definir os acadêmicos norte-americanos que estudam o Brasil.
Historicamente, a expressão está ligada aos estudos feitos sobre o país relacionados com as necessidades estratégicas
dos EUA durante a Guerra Fria. Nos anos 50, milhões de dólares foram destinados para pesquisar países como União
Soviética e China -uma tendência que ficou conhecida como ""estudos de área".
Na década de 60, as atenções se voltaram também para a América Latina. O governo norte-americano, preocupado
com a expansão da Revolução Cubana (1959) para outros países, inundou os programas de pós-graduação com
financiamentos para estudar os vizinhos. Batizados de ""os filhos de Castro", os brasilianistas dessa geração vieram,
na maioria, com a preocupação de entender a política brasileira durante o período republicano, embora muitos tenham
estudado também o período colonial, a literatura, a religião e outros temas. Fazem parte desse grupo nomes como
Robert Levine, Ralph Della Cava, Warren Dean, Riordan Roett, Stuart Schwartz, Kenneth Maxwell e Thomas
Skidmore”.
• (Folha de São Paulo. 06 de junho de 1999. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs06069915.htm)
• Amazonista:
• 1 Que ou aquele que tem grande estima e consideração pelo Amazonas ou pela região amazônica.
• 2 Que ou aquele que se dedica ao estudo do Amazonas ou da região amazônica.
• (Dicionário Michaelis on-line)
• Barbara Weinstein é professora de história
da América Latina e do Caribe na
Universidade de Nova York.  Autora, entre
outros, de The Color of Modernity: São Paulo
and the Making of Race and Nation in
Brazil (2015). Atualmente, escreve uma
biografia intelectual do historiador e
criminologista Frank Tannenbaum. 

Bárbara Weinstein
Livros
The Amazon Rubber Boom,
1850-1920,, Stanford: Stanford
University Press: 1983

• Livro resultante de sua pesquisa de doutorado.


Foram mobilizados documentos cartoriais,
jornais, dentre outros) para fundamentar
empiricamente a sua reflexão acerca da
expansão da economia gomífera na região.
Após a defesa de sua tese houve a
publicação de seu livro em inglês 1983.
• Orientadora Emília V. da Costa
• Em 1993, a tese foi traduzida para o
português se tornando uma referência para
a compreensão da exploração da borracha .
Experiência de
pesquisa
O projeto inseria-se no quadro teórico da discussão sobre a
validade explicativa da teoria da dependência.

Para a teoria da dependência a caracterização dos países como


"atrasados" decorre da relação do capitalismo mundial de
dependência entre países "centrais" e países "periféricos". 

Nesse sentido, a Amazônia seria pensada como “periferia da


periferia”

E.P. Thompson “Formação da classe operária inglesa. História


social (resistência e experiência)
Terra sem história
• “Um aspecto da teoria de dependência que eu e muitos outros jovens
historiadores julgávamos especialmente problemático era o forte estruturalismo
que ela representava. Aquela nos parecia uma forma um pouco mais sofisticada
de determinismo econômico — as necessidades do capitalismo mundial iriam
determinar e estruturar a história das áreas econômicas dos países
subdesenvolvidos. É claro que, eventualmente, o paradigma da dependência
desdobrou-se e gerou uma série de esquemas mais complexos (centro, periferia
etc.), mas o estruturalismo continuava a ser o aspecto-chave da teoria. De certa
forma, isso significava a morte do historiador”.
Terra sem história
• “Qual a necessidade da pesquisa, de se investigar cuidadosamente uma
série de conflitos, ou de se reconstruir um complicado processo histórico,
quando o resultado era sempre totalmente previsível? Como aluna do
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), pude declarar, em resposta
a uma questão que surgiu por ocasião de uma das primeiras apresentações
do projeto: “Tudo isso é de pouca importância, porque o grande capital
sempre ganha.” Contra essa perspectiva determinista, adotamos — eu e
minha turma de historiadores norte-americanos, veteranos dos anos 1960,
que estávamos trabalhando nessa linha — duas perspectivas alternativas”.
Terra sem história
• “Uma delas era a economia política marxista, que, em vez de destacar as
relações entre níveis diversos do sistema mundial, enfatizava as relações
de produção, as articulações de diferentes modos de produção e o papel-
chave do ‘conflito de classes’ na definição da natureza das relações de
produção, inclusive na transição, ou não, para um modo de produção
capitalista, com sua conseqüente proletarização da força de trabalho.
Embora essa perspectiva também tivesse seus aspectos estruturalistas,
ela abria espaço para algumas tendências novas na área da história e da
antropologia social”
Terra sem história
• A outra perspectiva significava a ênfase nas classes populares, como agentes ou
protagonistas da história, e na resistência popular, como fator central dos processos
históricos. Obviamente não havia nada de novo na ideia de ‘resistência’ per se.
• Mas eu enfrentava uma ‘região sem história’, para usar a expressão de Euclides da
Cunha, e sem historiografia.3 Havia, naquela época, poucos estudos sérios sobre a
história da Amazônia, justamente porque ela era tratada como uma região ‘sem
história’: uma bela adormecida em quem a história deixava apenas pálidos traços.
Para complicar ainda mais o quadro, a preservação da documentação pertinente à
região era previsivelmente problemática, sobretudo para a época póscolonial.
Proposta da tese de Weinstein

• inserir a história do ciclo da borracha na história geral da Amazônia e


do Brasil.
• investigar o papel dos grupos regionais — tanto os
aviadores/comerciantes5 como os próprios seringueiros —, para
revelar o seu caráter ativo, e não completamente passivo ou
equivocado, na história da época
Desafios
• Presentismo comunidade acadêmica da Amazônia, dominada por antropólogos,
sociólogos, geógrafos e biólogos que, de certa forma, compartilhavam da visão da
Amazônia como uma região sem história (ou apenas com uma história que começara
muito tardiamente)
• Em segundo lugar, a indiferença da comunidade acadêmica brasileira fora da
Amazônia com relação aos estudos históricos sobre essa região ‘periférica ’. Um
encontro com o já então famoso cientista social Francisco Weffort levou-me a perceber
que eu estava estudando a ‘periferia da periferia ’, na linguagem da época.
• Exotismo
• Novidade do tema na perspectiva
Estratégias
• Uma das estratégias para lidar com o problema era a agora famosa ‘leitura a
contrapelo’ (reading against the grain). Isso quer dizer usar a documentação produzida
pela elite, mas lendo-a apesar da intenção de seu autor. A melhor fonte para essa
estratégia era, sem dúvida alguma, a India Rubber World, em cujas páginas os
empresários norteamericanos queixavam-se continuamente da qualidade da mão-
deobra na Amazônia e da impossibilidade de ‘racionalizar ’ a produção da borracha
silvestre. Esses empresários compunham um retrato do seringueiro como preguiçoso,
desonesto e inquieto. É evidente que não se podia levar esse retrato totalmente a sério.
Mas o teor dos comentários era tão diverso do retrato tradicional do seringueiro como
um ser semi-escravizado que não se podia deixar de notar a diferença.
Estratégias
• Pouco a pouco, fui acumulando uma série de evidências — padrões de
migração, queixas de diversos comerciantes, registros de terra, protestos e até
estudos antropológicos — que me levaram a uma conclusão: a grande maioria
dos seringueiros, apesar de explorados, mantinha um grau de mobilidade
física e utilizava certas estratégias que limitavam o controle do seu tempo e a
expropriação do excedente de seu trabalho pelos aviadores/comerciantes.
• População “excessivamente livre”
• Representações e cultura popular (uma possibilidade nas fontes)

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