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Chora o Poeta a morte de um seu filho de tenra  

idade
   
Querido Filho meu, ditoso esp’rito, Alma minha gentil, que te partiste
Que do corpo as prisões tens desatado, Tão cedo desta vida descontente,
E por viver no Céu tão descansado, Repousa lá no Céu eternamente,
Me deixaste na terra tão aflito. E viva eu cá na terra sempre triste.
   
Tu mais do que teu Pai és erudito, Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Muito mais douto e mais exp’rimentado, Memória desta vida se consente,
Pois por ser Anjo em Deus predestinado, Não te esqueças daquele amor ardente,
Deixaste de homem ser talvez precito. Que já nos olhos meus tão puro viste.
 
Se do achaque de um sol, do mal de um dia, E se vires que pode merecer-te
Entre um doce suspiro e brando ronco Algũa cousa a dor que me ficou
De toda a flor acaba a louçania: Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
 
Que muito, ó Filho, flor de um pau tão bronco, Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que acabe a flor na dócil infancia Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
E que acabando a flor, dure inda o tronco. Quão cedo de meus olhos te levou.
A Maria de Povos, sua futura Esposa  
   
Discreta e formosíssima Maria, Ilustre y hermosísima María,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora, Mientras se dejan ver a cualquier hora
Em tuas faces a rosada Aurora, En tus mejillas la rosada aurora,
Em teus olhos e boca, o Sol e o dia; Febo en tus ojos, y en tu frente el día,
 
Enquanto com gentil descortesia Y mientras con gentil descortesía
O ar, que fresco Adónis te namora, Mueve el viento la hebra voladora
Te espalha a rica trança brilhadora, Que la Arabia en sus venas atesora
Quando vem passear-te pela fria; Y el rico Tajo en sus arenas cría;
 
Goza, goza, da flor da mocidade, Antes que de la edad Febo eclipsado,
Que o tempo trota a toda a ligeireza Y el claro día vuelto en noche obscura,
E imprime em toda a flor sua pisada. Huya la aurora del mortal nublado;
   
Oh, não aguardes que a madura idade Antes que lo que hoy es rubio tesoro
Te converta essa flor, essa beleza, Venza a la blanca nieve su blancura,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. Goza, goza el color, la luz, el oro.
   
Gregório de Matos Luís de Góngora
Mientras por competir con tu cabello,
oro bruñido al sol relumbra en vano;
mientras con menosprecio en medio el llano
mira tu blanca frente el lilio bello;
 
mientras a cada labio, por cogello.
siguen más ojos que al clavel temprano;
y mientras triunfa con desdén lozano
del luciente cristal tu gentil cuello:
 
goza cuello, cabello, labio y frente,
antes que lo que fue en tu edad dorada
oro, lilio, clavel, cristal luciente,
 
no sólo en plata o vïola troncada
se vuelva, mas tú y ello juntamente
en tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.
 
Luís de Góngora

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