Você está na página 1de 11

MEDO DA

FANTASIA
Por que os contos de fada foram banidos?
Aléxia Andrade do Carmo e Vinicius Cellurale Novaes
“ALGUNS PAIS TEMEM QUE CONTAR AOS
FILHOS OS CASOS FANTÁSTICOS DOS
CONTOS SEJA "MENTIR" PARA ELES. ESTA
PREOCUPAÇÃO É ALIMENTADA PELA
PERGUNTA DA CRIANÇA: ‘ISTO É
VERDADE?’.”

O que de fato a criança quer saber é: “se a estória contribui


com algo de importante para sua compreensão, e se tem algo
significativo a lhe dizer quanto às suas maiores
preocupações.”
“A ‘VERDADE’ DOS CONTOS É A VERDADE
DE NOSSA IMAGINAÇÃO, E NÃO A DA
CASUALIDADE HABITUAL.”

• “[...] A criança familiarizada com os contos de fadas sempre faz


com que os tempos de outrora signifiquem, na sua mente, o
mesmo que ‘Na terra da fantasia...’.”
• “[...] Para a criança, a questão de maior preocupação real é: ‘Ele
era bom? Ele era malvado?’. [...] (A criança) está mais interessada
em definir o lado Certo e o lado Errado.”
• “Antes que a criança chegue a controlar a realidade, deve ter
algum esquema de referências para avaliá-la.”
“OS CONTOS DE FADAS (...)
DECLARADAMENTE NÃO ESTÃO, EM
PRINCÍPIO, PREOCUPADOS COM A
POSSIBILIDADE, MAS COM A
DESEJABILIDADE.”
• “A resposta à questão de se os contos de fadas dizem a verdade, não deveria
remeter à verdade em termos factuais, mas à preocupação da criança no
momento, seja seu medo de ser enfeitiçado, ou seus sentimentos de rivalidade
edípica.”
• “Um pai, convicto a partir da sua própria experiência infantil do valor dos contos
de fadas, não encontrará dificuldade em responder às perguntas do filho.”
• “A fantasia rica e variada é fornecida à criança pelas estórias de fadas, que
ajudam a impedir que sua imaginação fique atada aos limites reduzidos de
alguns devaneios ansiosos ou de realização de desejos.”
TRANSCENDENDO A
INFÂNCIA COM A AJUDA
DA FANTASIA
“[...] QUANDO A CRIANÇA COMEÇA A SER TENTADA
PELO ACENO DO MUNDO MAIS AMPLO PARA SAIR
ALÉM DO CÍRCULO LIMITADO QUE CERCA A ELA E A
SEUS PAIS, SUAS DECEPÇÕES EDÍPICAS A INDUZEM A
DESLIGAR-SE UM POUCO DELES, QUE ATÉ ENTÃO
ERAM A ÚNICA FONTE DE SEU SUSTENTO FÍSICO E
PSICOLÓGICO.”
• “Como é capaz de realizar mais coisas, os pais sentem que chegou o momento de
esperar mais da criança, e eles se tornam menos dispostos a fazê-las por ela. Esta
mudança nas relações é um enorme desapontamento para a criança, na sua
expectativa de sempre receber infindavelmente; é a decepção mais grave de sua
jovem vida, que se torna infinitamente pior porque é infligida pelos que ela
acreditava credores de um cuidado ilimitado.”
• “[...] os novos desafios apresentados à criança por suas experiências mais amplas
são tão esmagadores, e sua capacidade de efetuar estas coisas novas e
possibilidade de resolver os problemas suscitados por seus passos em direção à
independência são tão pequenas, que ela necessita recorrer à fantasia como
satisfação, para não ceder ao desespero.”
“LOGO QUE A CRIANÇA É CAPAZ DE IMAGINAR
(ISTO É, FANTASIAR) UMA SOLUÇÃO FAVORÁVEL
PARA SEU PREDICAMENTO PRESENTE, AS
EXPLOSÕES TEMPERAMENTAIS DESAPARECEM.”

• “[..] Os problemas que a criança encontra e não pode resolver no momento


tornam-se manejáveis, porque o desapontamento no presente é mitigado
pelas visões de vitórias futuras. Se uma criança, por qualquer razão, é
incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, estabelece-se uma parada
no desenvolvimento.”
• “Embora a fantasia seja irreal, os bons sentimentos que ela nos dá sobre nós
mesmos e nosso futuro são reais, e estes bons sentimentos reais são o de
que necessitamos para sustentar-nos.”
“E NISTO QUE [...] (CONSISTE) A MATURIDADE:
UMA PESSOA A SE GOVERNAR SABIAMENTE, E,
COMO CONSEQUÊNCIA, VIVENDO FELIZ. A
CRIANÇA ENTENDE ISTO MUITO BEM.”

• “Para uma criança o maior enigma é o do sexo, em que consiste; este é o


segredo dos adultos, que ela deseja descobrir. Em muitos contos de fadas,
também, solucionar "o enigma" leva ao casamento e à obtenção do reinado.”
• “[...] como no inconsciente o ‘rei’ representa o próprio pai, o conto de fadas
promete a mais alta recompensa possível - uma vida feliz e o reinado - para o
filho que através das lutas encontrar a solução correta para seus conflitos
edípicos: transferir o amor pela mãe para um parceiro adequado de sua própria
idade; e reconhecer que o pai (em vez de ser um competidor ameaçador) é
realmente um protetor benevolente que aprova a realização adulta de seu filho.
“[...] O CONTO DE FADAS USA SÍMBOLOS UNIVERSAIS
QUE PERMITEM À CRIANÇA ESCOLHER, SELECIONAR,
NEGLIGENCIAR E INTERPRETAR O CONTO DE FORMAS
CONGRUENTES AO SEU ESTADO DE
DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL E PSICOLÓGICO.”

• “[...] o conto de fadas determina a forma como a criança pode transcender (o


seu estágio atual), e o que pode estar envolvido na conquista do próximo
estágio no seu progresso para a integração madura.”
• “(os) medos irreais (da criança) requerem esperanças irreais. Em comparação
com os (seus) desejos [...], as promessas realistas e limitadas são
experimentadas como desapontamentos profundos e não como um consolo.
Assim, a estória de fadas permite à criança ter o melhor dos dois mundos: pode
engajar-se e fruir integralmente das fantasias de vingança contra o pai postiço
da estória, sem qualquer culpa ou medo em relação ao pai verdadeiro.”
“NENHUM CONTO DE FADAS TRADICIONAL TIRARIA DA
CRIANÇA A SEGURANÇA NECESSÁRIA QUE ELA OBTÉM
DA IDEIA DE QUE OS PAIS SABEM MAIS, COM UMA
ÚNICA EXCEÇÃO CRUCIAL: QUANDO OS PAIS
DEMONSTRAM TER SE ENGANADO QUANTO ÀS
CAPACIDADES DA CRIANÇA.”
• “Quase todas as crianças estão convencidas de que os pais sabem mais sobre
tudo, com uma exceção: não lhe darem bastante valor. É benéfico encorajar esta
ideia porque ela sugere à criança que ela desenvolva suas habilidades - não para
ser melhor do que os pais, mas para corrigir o baixo conceito dos pais sobre ela.”
• “[...] porque afirma solenemente que o reino será dela, a criança está pronta a
acreditar no que o resto da estória de fadas ensina: que devemos deixar o lar para
encontrar nosso reino; que ele não pode ser obtido imediatamente; que devemos
aceitar os riscos e ser submetidos a provocações; que não podemos fazer tudo
sozinhos e necessitamos de outros que ajudem; e que, para conseguir a ajuda
deles, devemos satisfazer algumas de suas exigências.”
REFERÊNCIAS:

BETTELHEIM, BRUNO. A
PSICANÁLISE DOS CONTOS DE
FADAS. 32.ED. RIO DE JANEIRO:
PAZ E TERRA, 2016.

Você também pode gostar