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Graduação em

Direito &
Relações Internacionais

Direito Internacional Público

Ordenamento Jurídico

Hierarquia das normas


Estudo de caso
IX.1. Hierarquia das normas

como é definida a

HIERARQU
NORMAS
IA
das

JURÍDICAS ?
IX.1. Hierarquia das normas

Uma primeira preocupação na abordagem do tema é estabelecer


o exato significado de hierarquia.
[…]a palavra hierarquia significa ordem, graduação, organização
segundo uma preferência. Hierarquizar quer dizer pôr em ordem
de acordo com um critério.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997.p.229

O ordenamento jurídico de um determinado Estado consiste


em um sistema unitário de normas em perfeita harmonia umas
com as outras, formando um todo coerente. Assim, de acordo
com a teoria do escalonamento das normas, elaborada por
Kelsen, pode-se afirmar que o núcleo da unidade de um
ordenamento jurídico é que as normas desse ordenamento não
estão todas no mesmo plano.
IX.1. Hierarquia das normas

Bobbio (1999), adotando os ensinamento de Kelsen, pondera que


“[…] há normas superiores e normas inferiores. As inferiores
dependem das superiores. Subindo das normas inferiores
àquelas que se encontram mais acima, chega-se a uma norma
suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior, e
sobre a qual repousa a unidade do ordenamento. Essa norma
suprema é a norma fundamental.”
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. p.49

Ensina que num dado ordenamento jurídico, se considerarmos a


disposição das normas em uma pirâmide, vamos encontrar em
seu ápice a norma suprema, fundamental, da qual todas as outras
normas dependem e retiram sua eficácia e validade.
IX.1. Hierarquia das normas

normas
constitucionais

Escalonamento
normas Normativo
infraconstitucionais

normas
infralegais
IX.1. Hierarquia das normas

Deve-se observar, entretanto, que a norma fundamental não é a


Constituição do Estado, mas uma outra norma que lhe é superior
e que lhe dá validade.
Essa norma, chamada por KELSEN de norma fundamental
pressuposta, é uma norma hipotética na medida em que ela não
está codificada, pois não se trata de norma posta, mas
pressuposta, uma vez que é aceita sua existência quando se
obedece aos comandos ditados por determinada autoridade
reconhecida como tal por todos.
(KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.221)
IX.1. Hierarquia das normas

A classificação hierárquica para RÁO tem base na conformidade


das normas inferiores às de categoria superior, isso se traduz em
dois princípios: o da constitucionalidade e o da legalidade.
(RÁO, Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos. 5 ed. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 1999. p.306)

Pelo princípio da constitucionalidade, todas as normas inferiores


devem estar em conformidade com a Constituição Federal. E o
princípio da legalidade determina que os atos executivos e
judiciais devam estar em conformidade com a lei, enquanto estas
devam subordinar-se entre si. Segundo a lição de Delgado
“[…]a hierarquia própria às fontes normativas componentes do
Direito Comum é rígida e inflexível: nada agride a Constituição e,
abaixo dela, nada agride a lei.”
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p.177
IX.1. Hierarquia das normas

Assim pode-se concluir que existe uma hierarquia entre as normas


que podem ser assim escalonadas:
- Norma fundamental;
- Constituição Federal;
- Lei; (Lei Complementar, Lei Ordinária, Lei Delegada, Medida
Provisória, Decreto Legislativo e Resolução);
- Decretos Regulamentadores do Poder Executivo;
- Outros diplomas dotados de menor extensão de eficácia e mais
tênue intensidade normativa.
IX.1. Hierarquia das normas
IX.1. Hierarquia das normas

Importante problema colocado, e ainda não definitivamente


resolvido pelo STF é o relativo à hierarquia dos tratados
internacionais sobre direitos humanos a que o Brasil haja aderido
antes da introdução, pela Emenda Constitucional 45/2004, do §3º
ao artigo 5º da CR/1988:
IX.1. Hierarquia das normas

Claro está que, após a entrada


em vigor do referido preceito,
somente os tratados
internacionais de direitos
humanos aprovados:
(a)em dois turnos e;
(b)por três quintos dos
membros do Parlamento,
terão hierarquia constitucional.
Resta estabelecer qual a
posição, no quadro normativo,
das demais situações.
IX.1. Hierarquia das normas

ATENÇÃO!
Ainda não existe consenso no Brasil a respeito da
hierarquia definitiva das normas internacionais.

• Dias Tóffoli
• Luiz Fux
• Rosa Weber
• Roberto Barroso
• Edson Fachin
• Alexandre
Moraes
IX.2. Estudo de Caso

?
como isso impacta vida na

PRÁTICA
IX.2. Estudo de Caso

Os tratados relativos à prisão civil por dívida, é bem de ver,


enquadram-se na segunda hipótese, qual seja a de haverem sido
promulgados na vigência da CR/1988, mas antes da introdução
do §3º ao art. 5º pela EC 45/2004.
Eis os dispositivos:
IX.2. Estudo de Caso

O Pacto de São José da Costa Rica, também conhecido como


Convenção Americana de Direitos Humanos, é um tratado entre
os países-membros da Organização dos Estados Americanos e
que foi firmado durante a Conferência Especializada
Interamericana de Direitos Humanos, adotado em 22 de
novembro de 1969 e entrou em vigência em 18 de julho de 1978.
O Brasil subscreveu a Convenção por meio do Decreto Legislativo
n.º 27, de 26 de maio de 1992, que aprovou o texto do
instrumento, dando-lhe legitimação. Com a aprovação pelo
Congresso Nacional, nosso governo depositou a Carta de Adesão
junto a Organização dos Estados Americanos no dia 25 de
setembro de 1992.
IX.2. Estudo de Caso

A despeito da expressa vedação legal estabelecida pelos tratados


internacionais antes indicados, considerou o STF subsistente a
possibilidade de prisão civil por dívida em nosso ordenamento, e
recepcionadas disposições como as contidas nos
- decreto lei 911/69
- art. 11, I do dec 1.102/1903.
- art. 652 do Código Civil de 2002
IX.2. Estudo de Caso
IX.2. Estudo de Caso

Para o nosso país, a Convenção entrou em vigor a partir do


Decreto presidencial n.º 678 de 06 de novembro de 1992,
publicado no Diário Oficial de 09 de novembro de 1992, p. 15.562
e seguintes, que determinou o integral cumprimento dos direitos
disciplinados no Pacto de São José da Costa Rica.
A Emenda Constitucional n.º 45/2004, acrescentou o § 3º ao
artigo 5º da CR, passando a prever expressamente que os
tratados e convenções internacionais serão equivalentes às
emendas constitucionais, somente se preenchidos dois
requisitos, quais sejam: que tratem de matéria relativa a direitos
humanos e que sejam aprovados pelo Congresso Nacional, em
dois turnos, pelo quorum de três quintos dos votos dos
respectivos membros.
IX.2. Estudo de Caso

Seguindo tais pressupostos, o tratado terá índole constitucional,


podendo revogar norma constitucional anterior, desde que em
benefício dos direitos humanos, e tornar-se imune a supressões
ou reduções futuras, diante do que dispõe o artigo 60, § 4º, IV, da
CR,
“[…] as normas que tratam de direitos individuais não podem ser
suprimidas, nem reduzidas nem mesmo por emenda
constitucional, tornando-se cláusulas pétreas”
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009. p.487

De acordo, portanto, com esta emenda, o Pacto de São José,


como não passou por esse processo, teria apenas valor
subalterno, de norma ordinária.
IX.2. Estudo de Caso

A prisão civil do depositário infiel, durante décadas, foi objeto de


incessantes discussões doutrinárias e jurisprudenciais.
A Constituição da República, no seu art. 5º, LXVII, preve que “não
haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel”.
Contudo, tal dispositivo entra em conflito com a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica), que ao determinar em seu art. 7º, § 7º que ninguém será
detido por dívidas, acabou por proibir a prisão civil do depositário
infiel, somente permitindo-a na hipótese de dívida alimentar.
IX.2. Estudo de Caso

O STF posicionava-se no sentido de os tratados internacionais de


direitos humanos entram no ordenamento jurídico brasileiro com
status de lei ordinária. Diante desta interpretação a prisão civil
do depositário infiel era constitucional, não tendo sido revogada
pelo Pacto de São José da Costa Rica.
Contudo, em 2008, o STF mudou seu entendimento, afirmando
que os tratados internacionais de direitos humanos, quando não
aprovados na forma do § 3º do art. 5.º da CR, ingressam no
ordenamento jurídico com status supralegal e
infraconstitucional. Com isso, o STF adaptou-se não só ao
referido pacto, como também ao Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos da ONU e a Declaração Americana dos
Direitos da Pessoa Humana de 1948 (Bogotá, Colômbia).
IX.2. Estudo de Caso

No caso da prisão civil do depositário infiel, embora as leis que a


prevêem estejam de acordo com a Constituição da República,
estão em desacordo com o Pacto de São José da Costa Rica, que
a proíbe. Por isso, as normas que versam sobre prisão civil do
depositário infiel, embora vigentes no ordenamento, foram
derrogadas por este pacto.A decisão do STF no Habeas Corpus n.
87585, teve a seguinte ementa:

DEPOSITÁRIO INFIEL - PRISÃO. A subscrição pelo Brasil do Pacto de São


José da Costa Rica, limitando a prisão civil por dívida ao descumprimento
inescusável de prestação alimentícia, implicou a derrogação das normas
estritamente legais referentes à prisão do depositário infiel.
(87585 TO , Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento:
03/12/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-118 DIVULG 25-06-
2009 PUBLIC 26-06-2009 EMENT VOL-02366-02 PP-00237)
IX.2. Estudo de Caso

No mesmo sentido, eis um trecho dos argumentos do voto do


Ministro Gilmar Mendes, no julgamento do RE n.º 466.343-SP:
Nesse sentido, é possível concluir que, diante da supremacia da Constituição sobre os
atos normativos internacionais, a previsão constitucional da prisão civil do
depositário infiel (art. 5º, inciso LXVII) não foi revogada pelo ato de adesão do Brasil
ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7),
mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em
relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria, incluídos o art. 1.287
do Código Civil de 1916 e o Decreto-Lei nº 911, de 1º de outubro de 1969. Tendo em vista
o caráter supralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação
infraconstitucional posterior que com eles seja conflitante também tem sua eficácia
paralisada. É o que ocorre, por exemplo, com o art. 652 do Novo Código Civil (Lei nº
10.406/02), que reproduz disposição idêntica ao art. 1.287 do Código Civil de 1916.
Enfim, desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto San
José da Costa Rica (art. 7º, 7), não há base legal para aplicação da parte final do art. 5º,
inciso LXVII, da Constituição, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel.
IX.2. Estudo de Caso

Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência


IX.2. Estudo de Caso

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