As desigualdades sociais na obra Memorial do Convento de José Saramago
Trabalhado elaborado por: Tomás Ornelas Nº9 12ºD
Introdução A obra Memorial do Convento de José Saramago é um romance histórico que retrata o período da Inquisição em Portugal e a construção do Convento de Mafra. O livro aborda temas como religião, poder, amor e desigualdade social, sendo este último um dos principais temas da obra e o que vou-me debruçar sobre na apresentação de hoje. Os pobres José Saramago apresenta-nos um retrato realista e crítico das condições de vida do povo pobre em Portugal, onde a pobreza, a falta de oportunidades, a opressão e a fome eram elementos constantes na luta diária pela sobrevivência, daqui são levados quarenta mil homens que são obrigados/forçados a ir trabalhar na construção do convento de Mafra onde são submetidos a condições de trabalho desumanas e tratados com extrema crueldade. O autor descreve as práticas opressivas e as injustiças sofridas por esses trabalhadores ao longo do romance. Aqui estão alguns excertos que exemplificam o quotidiano do povo português nesta altura e a forma como os eram tratados os trabalhadores da construção do convento: "A vida para os pobres era uma sorte, ou seja, uma coisa quase impossível". Esta afirmação ressoa ao longo da obra, pois o autor mostra que as oportunidades eram escassas e as perspetivas de melhoria de vida quase inexistentes. "As casas do povo eram de adobe, de palha e de erva, feitas a dois passos de vida". Além da falta de recursos económicos, as moradias dos mais desfavorecidos eram precárias. Estas habitações, frágeis e insuficientes, enfrentavam os rigores do clima e das intempéries, deixando os mais pobres expostos a doenças e adversidades. "Eram trabalhadores de quem não se esperava mais do que simples obediência, como se animais fossem" (p. 84). Esta passagem retrata a visão dos responsáveis pela construção, que consideram os trabalhadores como seres inferiores, privando-os da sua humanidade e tratando-os como meros instrumentos de trabalho. "Eram chicoteados, os capatazes das pedreiras, quando algum deles atrasava o passo, e depois chegava o seu turno, trocavam a surra, gritavam palavrões como se só os capatazes soubessem dizê-los" (p. 86). Nesta citação, Saramago descreve a violência física e psicológica empregada pelos capatazes como uma forma de controle sobre os trabalhadores. Os chicotes e os insultos demonstram a brutalidade e a falta de consideração pelos direitos e pela dignidade dos operários. "Havia homens que estavam ali havia tanto tempo que a pele já não era humana, era outra coisa" (p. 158). Neste excerto o autor destaca as condições de trabalho exaustivas e prolongadas que levam os trabalhadores a sofrerem danos físicos, transformando sua pele e sua aparência. Essa descrição reforça a ideia de que eles são tratados como objetos descartáveis e explorados além de seus limites, ao ponto de mudarem radicalmente o seu aspeto físico. As citações anteriores exemplificam tanto o tratamento desumano e opressivo imposto aos operários da construção do convento como as precárias condições em que o povo português vivia. Os ricos Por outro lado, temos o rei D. João V, a nobreza e a igreja católica que vivem no maior luxo que o dinheiro poderia comprar e que cometem as maiores extravagâncias possíveis. Isso mesmo pode ser comprovado nos seguintes excertos: "Povo, só os padres o levavam nas orelhas e arrastavam por onde queriam, a rogo ou a força, e aqui estão as provas, olhai bem para elas" (p. 34). Esta citação enfatiza como a Igreja detinha um poder absoluto sobre o povo, manipulando-o e controlando-o de acordo com seus interesses. Os padres são retratados como figuras que subjugam o povo, enquanto as provas mencionadas sugerem o contraste entre a pobreza do povo e a riqueza da Igreja. "O rei tem uma caixa que não tem fundo, nele cabe tudo, joias, dinheiro, terras, homens, mulheres" (p. 92). Nesta passagem, Saramago descreve a imensa riqueza e ostentação do rei Dom João V. A caixa sem fundo simboliza a infinita acumulação de riquezas vindas das colónias e poder, enquanto o povo é privado desses recursos e vive na miséria. "O altar é um poço de luz, é a riqueza do mundo que se oferece aos olhos do povo, porém não a que está no mundo, que é a de todos, mas a que está fora dele, que é de poucos" (p. 313). Nessa citação, o autor destaca a maneira como a Igreja ostenta a sua riqueza e exibe o seu luxo, proporcionando uma visão deslumbrante aos olhos do povo. No entanto, Saramago ressalta a ironia de que essa riqueza pertence a poucos privilegiados, enquanto a maioria sofre na pobreza. Essas citações exemplificam a crítica de Saramago às extravagâncias e ao luxo do rei D. João V e da Igreja na obra. O autor aponta a disparidade entre a opulência dessas instituições e a realidade de pobreza e exploração vivida pelo povo, questionando a moralidade dessa desigualdade e a forma como o poder é exercido. Opinião Na minha opinião esta temática das desigualdades sociais retratada por José Saramago no Memorial Do Convento é um tema ainda bastante atual pois no mundo atual continuamos a ver muita desigualdade social que se vai agravando cada vez mais como podemos ver por estes dados: Em 2021 os 10% mais ricos da população global controlam 76% da riqueza mundial. Em contraste, os 50% mais pobres possuem apenas 2%. Os 40% médios, por sua vez, possuem 22%. Por estes números podemos ver a grande disparidade na distribuição da riqueza pela população, por um lado podemos ter várias populações de países africanos que morrem à fome por não ter nada que comer e por outro lado temos sheiks de países árabes que já não sabem em que coisas vão gastar os seus rios de dinheiro. Conclusão Pelas situações expostas por Saramago na obra e pelos dados do mundo atual apresentados podemos ver que o problema da desigualdade social já é bem antigo e qua a humanidade ainda tem um longo percurso a percorrer para podermos ter um mundo com uma distribuição de riqueza mais justa.