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Introdução
A crítica e o olhar satírico do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil
portugueses, para alimentar o sonho de um rei ao qual se atribui a edificação do Convento de
Mafra.
A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que edificou o
palácio-convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos
aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português.
Entre estes dois polos, o de uma corte barroca e o de uma multidão que sofre e dá quanto os
seus músculos podem para simplesmente sobreviver, o narrador desenrola sucessivos painéis e
episódios, ora patéticos ora burlescos.
Vestem roupas rôtas, trapos, sempre sujos das obras, do suor, não têm quaisquer hábitos de
higiene. São fisicamente desnutridos. O povo é, no geral, humilde, analfabeto, nada informado,
por isso ignorante e ainda altamente manipulável.
É também rude/violento. Submetido à tirania, aos trabalhos forçados e aos desejos e interesses
da Igreja, do clero e demais apoiantes;
Os homens que aqui trabalham são carpinteiros, pedreiros, serradores, madeireiros, tecelões,
entalhadores e tapeceiros. Enquanto executam as suas tarefas estão por perto soldados que de
bastão e vergão na mão vão se certificando que os trabalhos estão a ser cumpridos da forma
correta.
Para concluir, considero que o povo, apesar não ser uma personagem principal, é a peça chave
da obra, visto que para além de ser uma das personagens mais simbolizantes da narrativa, dado
a crítica e representação que lhe é atribuída, é ainda a linha de conexão entre as histórias de
Baltasar/Blimunda e do Rei/Rainha. Assim, tal como num puzzle, onde todas as peças são
necessárias, em memorial do convento, o povo é também indispensável.
O povo anónimo coletivo construiu o Convento de Mafra à custa de muito esforço, sofrimento,
sacrifício e mortes e é ainda a linha de conexão entre as histórias de Baltasar/Blimunda e do
Rei/Rainha.