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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
OS GLADIADORES E A SOCIEDADE ROMANA ANTIGA

Solange Barros e Silva Moura1


Ana Claudia Urban2

Resumo: Este artigo é o resultado final do PDE, Programa de Desenvolvimento Educacional da


Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná, ocorrido durante os anos de 2014 e 2015.
Essa produção teve como finalidade fazer uma reflexão sobre a prática de ensino de História. Teve
como objetivo fazer uma análise sobre a violência dos jogos de Gladiadores, na Roma Antiga e
comparar com a violência na sociedade atual. Também se constituiu intenção deste trabalho observar
como os jovens entendem a violência, como explicam os atos considerados como violentos. Os
autores que subsidiaram as reflexões foram Funari (2003) e Garrafoni (2002). O artigo apresenta as
reflexões teóricas que ajudaram na organização do trabalho, a implementação em sala de aula, bem
como as discussões e contribuições do GTR. Afirmamos que o trabalho válido e produtivo, pois
desencadeou reflexões que consideramos fundamentais na atualidade.

Palavras chaves: Roma Antiga. Gladiadores. Violência. Ensino de História.

1. INTRODUÇÃO

Quando se discute o tema ‘sociedade romana’ em sala de aula é abordado,


em geral, sobre os patrícios, os plebeus e sobre a escravidão. Quanto ao assunto
‘gladiadores’ trata-se levemente e, em alguns casos, é utilizado o filme “Gladiador”
de Ridley Scott, para trabalhar alguns pontos referentes à escravidão, pobreza e o
poder do imperador. Por isso esse trabalho teve a intenção de trazer aos educandos
maior conhecimento sobre a vida dos gladiadores e o fascínio que exerciam sobre a
população, tanto pobres e excluídos do poder político e econômico, como os
privilegiados e detentores de riqueza e poder.
Segundo as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do Estado do
Paraná (DCE/PR) a escola pública, nas últimas décadas, passou a receber uma

1
Professora de História da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Concluinte do PDE, na linha
Fundamentos teórico-metodológicos para o ensino de História.
2
Orientadora. Professora da UFPR.
quantidade maior de estudantes provenientes das classes populares. Ao assumir
essa tarefa, que é a razão para a existência da escola pública, intensifica as
discussões sobre o papel do ensino básico no projeto de construção de uma
sociedade justa e igualitária para nosso país.
Para que os sujeitos da Educação Básica possam ter oportunidades iguais se
faz necessários que eles tenham acesso ao conhecimento produzido pela
humanidade e presente nas diferentes disciplinas.
Assim, “Assumir um currículo disciplinar significa dar ênfase à escola como
lugar de socialização do conhecimento” (PARANÁ, 2008, p.14). Essa tarefa da
escola é primordial para o acesso ao conhecimento pelos alunos vindo de classes
menos favorecidas que, muitas vezes, é o único caminho para o mundo letrado e
para o conhecimento científico. Deve-se ainda dar condições para uma crítica às
desigualdades sociais, políticas e econômicas da sociedade brasileira.
As práticas pedagógicas devem estar fundamentadas nas várias
metodologias de ensino, o que nos leva a realizar diferentes formas de promover o
conhecimento e a motivação dos educandos.
Para o Ensino Médio, as Diretrizes Curriculares propõem que os conteúdos
básicos devem estar articulados aos Conteúdos Estruturantes; Relações de
Trabalho, Relações de Poder e Relações Culturais, desta maneira: “Tomá-los como
ponto de partida é uma forma de responder às críticas a respeito da impossibilidade
de ensinar “toda a história da humanidade” (PARANÁ, 2008 p.76).
Ainda, segundo as Diretrizes Curriculares para o professor trabalhar com a
História Temática precisa formular uma problemática das estruturas e ações
humanas que estão presentes em nosso cotidiano como desigualdade social,
confrontos de gênero, de raça e de condição sexual entre outros. E com a
problematização desses temas ligados aos conteúdos estruturantes é possível
interpretar o objeto de estudo da disciplina.
2. DESENVOLVIMENTO

As cosmovisões populares, por seu lado, constroem-se não como passado


como imitação (mimesis) ou como submissão aos padrões eruditos. Se os
ricos viviam um passado sem presente, os pobres viviam o presente sem
um passado. Essa consciência do gozo do momento permeava a vida
cotidiana do homem do povo. Forçados a trabalhar para viver, escravos e
pobres, homens e mulheres sentiam, de forma muito clara, a significação da
percepção e da fruição. Essa massa estava presente nos teatros, nos
anfiteatros, nos bares e nos templos. Assistiam a tragédias, a recitais
musicais e poéticos, a diversos gêneros de comédias ... as lutas de
gladiadores e entre homens e feras. Participavam ativamente, também de
cultos de Baco, Ísis e Vênus... Compunham, ainda, suas próprias canções,
trovas, músicas e danças (FUNARI, 2003, p. 26, 27).

Funari nos fala que a sociedade romana era bem distinta entre suas classes
sociais, os ricos viviam ligados às tradições, já os pobres e escravos estavam
preocupados com o presente e suas necessidades mais imediatas. Mas isso não os
impedia de terem suas paixões e demonstrá-las abertamente. Em Roma foram
encontradas em escavações muitas declarações de amor feitas tanto pelo povo
pobre e livre como por escravos.
Entre as classes menos privilegiadas de Roma, encontramos os
gladiadores, normalmente escravos, mas também a presença de homens livres. As
lutas de gladiadores estavam presentes no dia-a-dia dos romanos, não só para
diversão popular, mas também para a elite, que financiava os combates. O povo
tinha acesso aos teatros romanos em todo o Império, pois as arenas eram
construídas por todo o território.
A Arena romana era o lugar de punição pública dos criminosos, más servia
também como forma de manter a ordem social e provar a superioridade romana.
Porém dava condições para os que foram considerados criminosos e infames
tivessem a possibilidade de conquistar um lugar novamente nessa sociedade que os
expulsou.

As lutas representavam um exercício simbólico de poder, poder sobre o


mundo natural, sobre a decisão de lei e sobre a possibilidade de excluir ou
não uma pessoa definitivamente da sociedade, a arena era não só um local
onde o povo e imperador se encontravam, mas também, um símbolo do
mundo civilizado dominando as forças da natureza (GARRAFONI, 2002,
p.22).
As primeiras lutas de gladiadores ocorreram na cidade de Roma, por volta de
264 a.C. Segundo Garrafoni (2005) o primeiro combate ocorreu em memória de
Iunius Brutus Pera. Esse episódio foi relatado pelo historiador Tito Lívio, mas é
discutido pelos historiadores e arqueólogos uma vez que tradicionalmente se atribui
aos etruscos a origem dos combates. Mas há também quem sustente a ideia de que
as lutas tiveram inicio na região da Campânia, e depois trazidas aos romanos pelos
povos etruscos. Se o inicio dos combates ocorreu em 264 a.C., seu fim é tido como
ocorrido em 438 d.C., por um Código Teodosiano, mas também se defende que o
fim dos muneras (gladiadores), tenha como causa o desenvolvimento do
cristianismo
Durante o período republicano na Roma Antiga poucos combates ocorreram
mas, durante o império romano, tornaram-se frequentes e espalharam-se por todo o
território subjulgado pelos romanos. Os espetáculos eram apresentados em
anfiteatros e arenas e estava ligada a pessoa do imperador. Em Roma era o
imperador quem oferecia esses espetáculos ao povo, e nas províncias a
responsabilidade pela realização dos espetáculos ficava a cargo dos sacerdotes do
culto imperial.
Dentro dos anfiteatros os assentos eram divididos conforme as classes
sociais: homens, mulheres, crianças e idosos subiam as escadas e sentavam-se
para assistir aos combates, caçadas e, nos grandes anfiteatros, a encenação de
batalhas navais ocorridas principalmente no Coliseu romano, também
testemunhavam a execução de criminosos ou iam simplesmente encontrar amigos.
Era também uma oportunidade para o povo ver, ser visto, ser ouvido e ficar frente a
frente com o imperador. As arenas funcionavam como espaço em que dominantes e
dominados se confrontavam e podiam nesse local onde o anonimato produzia força
e consistência dar luz às reivindicações populares.
Os combates de gladiadores ocupavam uma posição de honra na sociedade
romana e a maioria deles eram oriundos de prisioneiros de guerras ou condenados
por crimes considerados graves, também escravos adquiridos para esse fim
compunham o quadro de combatentes. Durante o império romano, homens livres e
até alguns originários das classes nobres como os cavaleiros e mesmo alguns
senadores, os chamados Auctorati, se colocaram sob o poder de um mestre (o
lanista), ao qual prestavam juramento e ingressavam para o grupo de gladiadores.
“Juro deixar-me ser queimado, amarrado, chicoteado, morto pelo ferro e qualquer
outra coisa que meu senhor ordene” (Satyricon de Petrônio apud GUARINELLO,
2007, p. 129)
Esse juramento era um ato de submissão, e por isso não era considerado
digno de um homem livre, ainda mais de um membro da elite. Para tentar impedir o
ingresso de pessoas da elite, foram feitas leis imperiais proibindo o acesso de
homens livres para os combates, mas essas leis acabaram tendo pouco efeito, visto
que existem relatos que confirmam a presença até de imperadores lutando como
gladiadores. Qual seria esse motivo? Por que razões tantas pessoas sentiam-se
atraídas por participar de combates tão violentos. Segundo Guarinello (2007) o
gladiador era considerado um ser sagrado, para o qual a morte deixava de ser uma
ameaça terrível, para se tornar algo normal na vida.
Em geral os gladiadores tinham uma vida sofrida e degradante, muitos
morriam em combates, embora a historia confirme que alguns chegaram a fazer
fortuna e até tiveram uma aposentadoria com um bom pecúlio.
Guarinello (2007), compara os gladiadores aos mártires cristãos, que foram
capazes de suportar as terríveis torturas que lhes era imposto, sem recuar em razão
de seu juramento a Deus. Segundo esse autor apesar da violência dos combates, a
média de morte nas arenas era em torno de 20%, desmistificando assim a ideia de
que a maioria dos combates ao menos um dos lutadores acaba morrendo. Coloca
ainda esse autor que não foi raro o gladiador que morreu fora dos combates e junto
com seus familiares ou amigos. Porém não podemos nos iludir quanto ao ato de
violência presente nos anfiteatros. Eles eram palcos de dor, sangue, sofrimento,
violência e morte, considerando que muitos dos gladiadores eram obrigados a
participar dos “espetáculos” nas arenas, mesmo sendo inocentes de qualquer crime.
Tanto para criminosos como para inocentes, fazer parte dos jogos de
gladiadores era desesperador como relata o autor Pseudo Quintiliano:

[...] o dia chegara e o povo se reunira para o espetáculo de minha punição.


Os corpos dos que haviam de morrer eram exibidos na arena, conduzidos
na procissão de sua própria morte. Aquele que oferecia o espetáculo (o
editor) estava sentado, acumulando o prestígio que obteria com nosso
sangue. Embora ninguém conhecesse minha sorte, minha família, meu pai,
pois estava separado de meu lar pelo mar, algo em mim despertou a
misericórdia dos espectadores, pois eu parecia completamente
despreparado. Meu destino inevitável era ser uma vítima da arena. Ninguém
custara mais barato que eu ao ofertante dos jogos. Por todo o lado ouvia-se
o barulho feito pelo equipamento da morte: uma espada que se afiava, uma
peça de metal que se aquecia, bastões que se preparavam, chicotes. Esses
homens pareciam piratas. Os trompetes soavam um tom fúnebre e a
procissão funerária prosseguia carregando os leitos de Libitina (deusa
romana dos funerais), antes mesmo que alguém morresse... por toda parte
ferimentos, gritos, lamentos, só perigo. (PSEUDO QUINTILIANO apud
GUARINELLO, 2007, p. 130).

Podemos verificar que os espetáculos de Gladiadores eram para alguns


momentos de glória e de comprovar sua coragem e habilidade, más para outros era
o momento de desespero porque poderia marcar o fim de sua vida.

2.1. METODOLOGIA: O PROJETO EM SALA DE AULA

A metodologia utilizada inicialmente foi a leitura, análise de textos e notícias


de jornal sobre atos de violência. Em seguida foram discutidos textos historiográficos
de Renata Senna Garrafoni e Pedro Paulo Funari, que, por meio de suas
publicações, relatam situações e atos de violência na Roma Antiga.
Esse projeto teve como objetivo problematizar o tema, não buscando de
imediato resolver a questão, mas caracterizá-la a partir da visão geral da turma
sobre a questão violência, tanto no passado como nos dias atuais.
Dessa forma, essa produção didática compreendeu a princípio um
levantamento bibliográfico com a intenção de analisar o tema estudado e poder
compará-lo aos acontecimentos dos dias atuais.
A presente unidade didática foi composta de atividades que exploraram o
tema “violência” e também conhecer a concepção dos educandos quanto a
violência.
No desenvolvimento das ações pedagógicas foram utilizadas várias formas
de recursos que facilitaram a aprendizagem, como: textos historiográficos, notícias
de jornal, vídeo, e aula expositiva e dialogada, com o uso da TV multimídia para
contribuir com a compreensão sobre a sociedade romana, como eram os
espetáculos de lutas de gladiadores e como esses gladiadores eram vistos pelo
público em geral.
Para a questão da violência nos dias de hoje, os alunos fizeram uma
pesquisa em sites da internet sobre as leis que regulamentam as relações sociais,
os tipos de punição impostos aos que transgridem as regras sociais, quais os dados
de violência relativos aos jovens e quais as formas de violência mais praticada e
sofrida pelos jovens brasileiros.

2.1.1. Atividade: jornais e fontes disponíveis na web

O objetivo desta atividade foi trazer aos alunos algumas informações sobre os
tipos de violência que acontecem entre os jovens e verificar o que eles
consideravam como violência.
Para a realização do trabalho os alunos receberam cópias de notícias tiradas
de jornais sobre brigas de torcidas organizadas, ações de grupos neonazistas e
outros tipos de violências praticada contra os jovens. Logo após fez-se leitura e
discussão em sala de aula sobre cada uma das notícias. Em seguida os alunos
responderam as questões de acordo com o que entenderam e respeitando a escolha
de cada um.
Pontos positivos: os alunos identificaram questões como preconceito racial e
de homofobia. Também fizeram uma pesquisa sobre as leis e punições para os
diversos tipos de crimes como a Lei 1.390 de 3 de julho de 1951 e a Lei 7.716 de 15
de maio de 2003, que pune crimes de preconceito e a Lei 10.671 de 15 de maio de
2003 sobre o Estatuto do Torcedor
Pontos negativos: alguns alunos não se envolveram no trabalho e não foi
possível o uso do laboratório de informática devido à necessidade de manutenção
nos computadores, pois a maioria estava sem condições de uso.

2.1.2. Atividade: fonte texto historiográfico

O objetivo desta atividade foi proporcionar aos alunos algumas reflexões


sobre a violência que ocorre hoje e fazer uma comparação com as situações de
violência no passado.
Após a leitura e discussão do texto historiográfico “A vida quotidiana na Roma
Antiga”, de Pedro Paulo Funari, o grupo foi dividido em duplas e foi realizada uma
discussão sobre a questão da violência no passado comparando com notícias do
presente sobre brigas de torcidas organizadas.
Como na atividade anterior os alunos haviam pesquisado sobre as leis
referentes a brigas de torcidas, a atividade acabou por contribuir com a discussão
que teve como fonte o texto historiográfico. Também os estudantes pesquisaram
sobre notícias envolvendo conflitos entre torcidas organizadas e descobriram que o
Brasil lidera o ranking de brigas de torcidas.
Pontos positivos: os alunos descobriram que brigas de torcidas aconteciam
também no passado. Elogiaram a questão da punição pois, para eles, parte do que
acontece hoje está relacionado a falta de punição e defenderam que deveria existir
maior rigor em relação ao cumprimento das leis.
Pontos negativos: uma vez que laboratório de informática estava sem
condições de uso, não pudemos juntos pesquisar a localização da cidade de
Pompéia. Por isso trabalhamos com mapas que levamos para a sala de aula.

2.1.3. Atividade: o filme Gladiador3

Foi exibido o filme: “Gladiador” para a classe. O objetivo da exibição desse


filme era de que os alunos observassem a sociedade romana antiga, assim como
proporcionar a reflexão sobre como a sociedade pode ser apresentada pelos
produtores cinematográficos.
Depois da apresentação do filme foi realizada uma discussão com a turma
iniciando pela questão a sociedade romana e seus gladiadores.
Alguns alunos perceberam que a sociedade romana era vista como violenta e
que gostava dos jogos de gladiadores, vendo-os como heróis e que enfrentavam a
morte sem medo, mas na realidade nem todos os romanos gostavam de assistir
aquela violência e nem todos os gladiadores queriam ser gladiadores. Também
observaram a questão das classes sociais e do uso da violência para demonstrar o
poder do imperador.
Um ponto negativo foi que alguns alunos, devido a ausência na aula não
tiveram a oportunidade de assistir o filme. Para complementar foi solicitado aos
mesmos que procurassem assisti-lo em casa, no entanto, por considerarem o filme
muito violento não tiveram interesse, ficando apenas com algumas cenas revistas
durante o momento das discussões. Outro ponto negativo foi que, para alguns
alunos, assistir a cenas de violência tornou-se algo atrativo e motivador e não um
momento de reflexão sobre ações que deveriam ser evitadas.

3
Filme Gladiador: direção de Ridley Scott, Gênero: Aventura. Elenco: Connie Nielsen, Derek
Jacobi, Joaquin Phoenix, Oliver Reed, Richard Harris, Russell Crowe. Ano: 2000
2.1.4. Atividade: “A origem da violência”.
O objetivo dessa atividade foi fazer com que os alunos observassem as
diversas formas de violência existente na sociedade e que ela pode estar oculta
sobre a forma de um discurso ou uma propaganda apresentada na mídia.

A violência é um problema da modernidade, mas que tem origem remota. Se


analisarmos as relações de poder entre os seres humanos, vamos perceber que o
homem sempre dominou o outro por coação, violência, ideologias opressoras e
sistemas econômico-políticos. A violência tem crescido nas cidades... Se
conseguirmos encontrar as causas destas situações poderá resolver um dos
problemas sociais mais graves da atualidade. (MELLO, Rosangela Menta, disponível em
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1172 Acesso em
17/11/2014).

Essa atividade foi bastante positiva, pois a grande maioria conseguiu


distinguir as formas de violência discutida pela autora como coação, ideologias
opressoras e outras.
A conclusão que os alunos chegaram foi de que precisamos de uma política
séria e de um bom investimento na educação, mas que também cada um deve fazer
sua parte agindo com respeito ao próximo e com a sociedade em geral não
esquecendo que temos direitos que devem ser respeitados, e também deveres a
serem cumpridos.
O aspecto negativo foi que os alunos demonstraram certa desilusão quanto a
uma sociedade mais justa. Nesta questão a grande maioria respondeu que não
acreditava ser possível em nosso país uma sociedade melhor, sem preconceito, com
menos violência e mais respeito ao ser humano.

2.1.5. Atividade: a produção dos alunos

Essa atividade foi desenvolvida em grupos os quais puderam optar por fazer
uma maquete, um cartaz ou uma pesquisa sobre a sociedade romana: os
gladiadores ou o Coliseu.
O objetivo central foi refletir sobre a violência na sociedade em que a escola e
os jovens estão inseridos e, de que maneira é possível entender essa violência com
os fatos ocorridos ao longo da história da humanidade.
Algumas equipes fizeram um levantamento sobre a violência no Bairro e
foram orientados para responder quais são os tipos mais comum de violência que
envolvem os jovens, se ocorrem conflitos com torcidas organizadas e quais são as
punições previstas no Código Cível Brasileiro.
Segundo o levantamento realizado pelos alunos o maior índice de violência
no bairro, onde a escola está inserida, está relacionado ao uso de drogas e bebidas
alcoólicas, que acaba gerando os roubos e assaltos. Mas também apareceu
bastante o problema do bullying, abuso sexual, o aborto, a violência doméstica e as
violências verbais e virtuais.
Para a questão sobre os conflitos envolvendo torcidas organizadas, os alunos
relataram que ocorrem brigas de torcidas nos estádios de futebol, quanto ao bairro
não é com frequência e, quando acontece, o local dos enfrentamentos é no terminal
de ônibus. As punições são desde prestação de serviços comunitários, proibição de
assistirem aos jogos de futebol de seu time ou prisão.
Outros grupos optaram por confeccionares maquete ou cartaz, como segue:

Figura 1 – Confecção de maquete sobre o coliseu feito por um grupo de alunas da


turma

Fonte: arquivo da autora do artigo


Figura 2 - Coliseu.

Fonte: arquivo da autora do artigo

Confecção de um cartaz (abaixo) sobre o Coliseu realizado por um aluno


portador da Síndrome de Asperger.
Esse cartaz tem um valor especial, pois foi feito por um aluno que pouco
conseguia participar da aula devido a ser portador de Asperger (Transtorno do
Espectro Autista). Mas assistindo ao filme e depois dos debates sobre o Coliseu e as
lutas de Gladiadores o mesmo sentiu-se motivado a desenhar.

Fonte: arquivo da autora do artigo.


3. COLABORAÇÃO DOS PROFESSORES QUE PARTICIPARAM DO GTR (Grupo
de trabalho em rede)

O tema violência no ambiente escolar abordado a partir das reflexões e


fontes sobre os Gladiadores na Roma Antiga foi de forma geral muito bem aceito
pelos professores que participaram do GTR, todos sem exceção, consideraram
muito pertinente as discussões e fizeram interessantes colocações sobre como seria
possível trabalhar a questão que se faz necessária e urgente, pois o índice de
violência nas escolas está chegando a um ponto crítico e insustentável.
Segundo o professor A4: a violência vem desgastando os valores sociais e
invadindo o cotidiano da escola, ou, seja, ela vem de fora dos muros escolares mas
suas consequências se refletem dentro da escola. Para esse professor a violência é
um tema muito relevante na escola, onde educadores e estudantes convivem com
um universo de violência que invade o espaço escolar e gera medo em um ambiente
que deveria ser seguro e propicio ao aprendizado. A desintegração das relações e
dos papeis da estrutura familiar, somado à cultura da tolerância extremada com os
atos violentos, veiculados e reforçados pelos meios de comunicação, agravam o
processo do esvaziamento ético e de valores positivos no cotidiano das salas de
aula.
Para o professor B a violência deve ser enfrentada pela escola com a parceria
dos pais ou responsáveis e da comunidade, pois assim a escola ganha um grande
aliado e poderá fazer o seu papel prioritário que é ensinar e formar cidadãos críticos
e conscientes de seu papel no mundo e o caminho mais eficaz para o combate da
violência nas escolas é a integração com a comunidade, que passa a respeitar o
papel social da escola (ensinar) e a reconhecer que aquele espaço é de todos. De
vítima, ela passa a ser parceira do bairro e das famílias. A aproximação pode
começar com o diálogo com os pais. Envolvê-los no acompanhamento da
aprendizagem, dos êxitos e das dificuldades dos filhos e isso é tarefa dos gestores.
Com isso é possível romper com o jogo de empurra-empurra sobre a
responsabilidade pelo sucesso (ou fracasso) escolar.
Para a professora C o caminho para solucionar o problema está também
ligado a necessidade dos órgãos competentes e das autoridades se voltarem para o
4
Os professores participantes do GTR será identificados por meio de letras.
problema e nos apoiarem para uma possível solução ou pelo menos uma ajuda, pois
a violência escolar não é problema apenas da escola. Segundo ela, estamos
doentes, desmotivados, sem saber aonde buscarmos uma solução, acreditamos que
sabemos o motivo, porém não estamos sabendo como solucionar. Ainda defende
ela que está na hora de recebermos ajuda de outros órgãos da sociedade para
resolvermos este problema que não é só nosso e de um segmento da sociedade,
mas acaba dentro das escolas.
O professor D levanta a questão da origem da violência que, muitas vezes,
vem de casa, vem da família que está desestruturada e o jovem traz para o
ambiente escolar a realidade vivida em sua casa. Ele defende que famílias
desestruturadas, problemas financeiros e agressões entre membros da mesma
família são constante na vida de muitos de nossos alunos. Para ele a partir do
momento que um jovem se envolve em algum tipo de agressão (física ou verbal) no
ambiente escolar e os pais são chamados, percebemos que o jovem está apenas
refletindo a educação que recebe em casa diariamente. Pais despreparados e
despreocupados em educar seus filhos acabam delegando essa função ao colégio,
sem saber que essa não é a função dos professores. O resultado são alunos
considerados problemáticos [...]
Entre as ações possíveis para diminuir os conflitos em sala de aula foram
propostas algumas atividades que incluíram desde trabalhar com textos e trechos de
filmes, até músicas e poesias. As indicações foram muito boas, infelizmente não
poderia colocar todas, por isso selecionei aqui algumas:
Entre elas temos a indicação de uma professora que considera importante a
mediação do professor para buscar soluções para os conflitos na escola e uma das
alternativas proposta por ela foi o professor trabalhar o tema violência com a música:
“Precisamos de paz, violência jamais5” (Leonor Alves).

5
Para ler mais sobre a música, sugerimos:
http://pjedmundoqueiroz.blogspot.com.br/2010/10/precisamos-de-paz-violencia-jamais.html
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste trabalho pretendeu-se, com a ajuda de fontes e algumas


propostas didáticas, organizar um conjunto de aulas onde os alunos pudessem
manifestar a sua relação com o conteúdo escolhido, bem como despertar o interesse
do educando sobre os conteúdos de Historia, mostrando que aspectos que vemos
acontecer nos dias atuais, de alguma forma, marcaram outras épocas também.
A participação dos educandos na construção desse saber histórico (problema
da violência no bairro onde está localizada a escola), os levou a descobrir mais
sobre a realidade por eles vivida que, muitas vezes, nem eles mesmos estão
conscientes.
Foi um trabalho gratificante, no entanto que não termina com o fim do PDE.
É um problema que deve ser enfrentado todos os anos e com todos os alunos,
desde os alunos da 6ª ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. A
questão da violência está longe de ser superada nas escolas. Devemos debater
durante todo o ano e com todas as disciplinas, não tendo a pretensão de acabar
com o problema, mas fazer um enfrentamento e se conseguir diminuir um pouco por
certo teremos alcançado uma grande vitória. Nesse ponto fomos felizes, pois o
Colégio, por meio de sua direção, resolveu manter um programa de enfrentamento a
violência na escola para os próximos anos. Para tanto será investido em palestras,
debates, filmes e outros meios que possam inserir o problema da violência junto aos
alunos buscando amenizar os conflitos e seus resultados negativos.
5.REFERÊNCIAS

BRASIL, LDB 9394/96. APP-SINDICATO, LDB, Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional LEI 9394/96. Curitiba/PR, Produção da Secretaria de Imprensa
e Divulgação da APP-Sindicato, Impressão Gráfica e Editora Popular. S/D.

FUNARI, Pedro Paulo. A vida quotidiana na Roma Antiga. São Paulo, Annablume,
2003.

GARRAFONI, Renata Senna. Bandidos e Salteadores na Roma Antiga. São


Paulo, Annablume, 2002.

___________. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas.


São Paulo: Annablume, FAPESP, 2005.

GUARINELLO, Norberto Luiz. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o


circo. São Paulo, História, v. 26, p. 125 a 132, 2007.

MELLO, Rosangela Menta. A origem da violência. Portal do Professor, Violência.


http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1172
Acesso em 17/11/2014

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes Curriculares da


Educação Básica: História, 2008.

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