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Desigualdade Social e indiferença: velhos conhecidos.

A história nos mostra que a pobreza sempre existiu e uma grande maioria acredita que ela
sempre existirá. Diferentemente dos antigos conceitos que afirmavam ser a causa da pobreza
natural, ou seja, resultado da determinação “divina”, os pensadores reiteram que a pobreza é
tão somente o resultado da desigualdade social. Karl Marx, em sua eloqüente dialética, aponta
os efeitos da contradição entre o capitalismo e a classe trabalhadora, afirmando
categoricamente que a exclusão e a desigualdade são frutos do nosso sistema econômico.
Mesmo aqueles que não são seus ferrenhos defensores terão que concordar que tal sistema
contribui de forma importante para o crescimento do abismo social que separa os “pobres
mortais trabalhadores”, ou proletários, dos grandes empresários, a velha classe dominante:
os burgueses.

Muitos adeptos dessa corrente ideológica têm apresentado de diferentes e criativas maneiras
os conceito de Marx. Um premiadíssimo curta, intitulado “Ilhas das Flores”, foi um dessas bem
sucedidas tentativas. Reconhecido mundialmente, foi considerado pela crítica européia com
um dos melhores 100 filmes do século. O autor mostra de forma contundente como o sistema
econômico, no qual estamos inseridos, contribui para a desigualdade e a indiferença com a
necessidade alheia. Através de fatos corriqueiros, o autor narra a trajetória de alguns
personagens divididos em classes sociais: uma dona de casa que vende produtos de beleza
para ajudar no orçamento doméstico, um produtor de tomates, um fazendeiro e criador de
porcos e finalmente os moradores da Ilha das Flores. Na narrativa, muitas informações são
mostradas através de uma linguagem científica, cuja a intenção é a de “igualar” o ser humano
por meio de descrições que denotam a raça humana. Contudo, mostra o desigual tratamento
dado aos “iguais” seres humanos, colocando-os inferiores aos porcos. Na concepção do autor,
o que determina a diferença entre os humanos é sua classe social, os bens que possui.

Mulheres e crianças que se alimentam de restos que foram descartados por tratadores de
porcos e considerados como impróprio para o consumo, podem parecer, para muitos,
sentimentalismo ou exploração da desgraça alheia, no entanto são fatos, e como tais devem
ser apresentados. Graças a iniciativas como essas, a questão pode ser retomada nas rodas de
conversas ou, pelo menos, nas cadeiras das universidades. Ilha das Flores, uma comunidade
de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, foi o cenário dessa história, mas poderia ser qualquer
outra das muitas existentes em igual condição no Brasil e no mundo. As opiniões em torno do
tema são divergentes, contudo isso não impede que um desejo seja unânime: que não existam
mais “ilhas das flores”.

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