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Centro Universitário Celso Lisboa

PSICOLOGIA

PSICOPATOLOGIA ESPECIAL

RESENHA CRÍTICA – O ALIENISTA

Diego da Silva Barros

Matheus Felipe Gomes Barcellos

RIO DE JANEIRO

2022
Essa breve argumentação possui como objetivo principal tecer uma explanação
e reflexão sobre o conto literário “O alienista”, de Machado de Assis. O conto
ocorre em Itaguaí, no Rio de Janeiro, durante o século XIX, e do início ao fim
revela-se de maneira bastante satírica e crítica ao mesmo tempo, onde os
pilares dos questionamentos do autor são a sociedade, a loucura e o
comportamento.

Machado de Assis, de maneira brilhante e precisa, traz Simão Bacamarte como


personagem principal, o qual é um ilustre “homem da ciência” e alienista, ou
seja, especialista em doenças mentais com formação na Europa que cria a
chamada Casa Verde para “analisar” e “estudar” seus casos.

A loucura sempre esteve presente na humanidade, porém ao longo da história


foi percebida de diferentes maneiras pela filosofia, pela literatura, pelas artes e
pela ciência (DE MENEZES, 1994, pág. 2). No século XIX, especificamente, a
ciência no que se refere à psiquiatria e a medicina vivia um momento de galgar
as prateleiras mais elevadas no tocante ao protagonismo social e cultural, e um
dos carros chefes dessas supostas novas especialidades era a ideia dos
manicômios como instituições voltadas para o tratamento do louco, o qual na
sociedade da época era visto como alguém que “poluía” o meio social com seu
jeito peculiar de ser, e precisava ser contido pelas autoridades governamentais
e médicas que muitas vezes conduzia o indivíduo para o “banco dos réus” em
forma de asilo (ODA e DALGALARRONDO, 2004).

No conto “O alienista”, Machado de Assis oferece esse panorama social


fascinante na pessoa de Simão Bacamarte, o qual possuía uma história
bastante interessante em vários aspectos de sua cosmovisão, sobretudo pela
sua arbitrariedade no diagnóstico de loucura, que é vista por exemplo, na
redução do ser humano a seus desvios de conduta e imperfeições, e pior, em
alguns casos, por escolhas que não passam pelos conceitos de normalidade
de Bacamarte, como o exemplo de Mateus (ASSIS, 1994).

É evidente a crítica do autor ao modelo científico que estava fazendo cada vez
mais “sucesso” na sociedade da época com suas inovações e descobertas, as
quais muitas vezes representava um silenciamento das subjetividades e
amordaçamento de desejos. A Casa Verde, como seu laboratório experimental
e científico, remete a ideia de uma ciência positivista americana, a qual
determina a separação entre o objeto de estudo, no caso o louco e sua loucura,
e o pesquisador (o cientista/alienista). Tal metodologia é questionada da
seguinte forma: quais são as fronteiras entre essa suposta separação e do
lugar do sujeito dito louco, que como cidadão é detentor de direitos?

Nessa prática asilar e segregadora, é visto ao longo do conto, que em vários


momentos há uma realidade paradoxal onde evidencia que existe pelo menos
mais coerência na loucura desse sujeito classificado como louco, que no
conhecimento, entendimento e “formação” do dito alienista que se assenta em
um lugar de inerrância, inequívoco e prepotência. Outro ponto crucial para
análise é a respeito dos valores e normas que uma sociedade cria, que em
nenhum momento é questionado pelo alienista. Não seria possível esses
desvios comportamentais serem produto de valores homogeneizantes
daqueles que determinam padrões de normalidade e anormalidade? É bem
provável seja esse tipo de concepção que nutre na raiz, prorrogando sua
existência e prevalência, todo tipo de preconceito e segregação, sobretudo pela
aversão e horror que é estabelecido em relação ao diferente e estrangeiro (DE
MENEZES, 2010, pág. 3).

Referência:

De Menezes. L.M. 2010. O alienista: doença mental ou desvio social?


Miscelânea, vol.7, página 1-12

Assis. M. 1994. O Alienista. Rio de Janeiro. Nova Aguilar. Disponível em: <
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000231.pdf >

Oda, A.M. e Dalgalarrondo. P. 2004. O início da assistência aos alienados no


Brasil ou importância e necessidade de estudar a história da psiquiatria.
Revista Latino-Americana de Psicopatologia Fundamental, vol. 1, página 129-
139 .

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