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Lisandro Braga*
No presente artigo pretende-se discutir fundamental. De acordo com o materialismo
os regimes de acumulação, especificamente histórico dialético, a totalidade é o que
o integral (Viana, 2009), as mudanças na abarca o todo e esse é a sociedade, porém a
organização do trabalho ocorridas nele e seu sociedade é formada por diversas partes que,
caráter gerador de mais-violência para a necessariamente, estão ligadas umas às
vida (tanto física quanto psíquica) da classe outras exercendo múltiplas determinações
operária a partir do conceito acumulação sobre elas, mas uma dessas exerce uma
integral e do método dialético. Isso significa “determinação fundamental” sobre as
que as relações de trabalho serão explicadas demais, ou seja, sobre o todo (a sociedade)1.
a partir de suas determinações e pela forma Ocorre, porém, que em todas as
como elas se inserem na totalidade das sociedades o modo de produção exerce uma
relações sociais visando encontrar sua determinação fundamental visto que os seres
determinação fundamental e sua dinâmica humanos são, para continuarem a existir,
na contemporaneidade. Nesse sentido, coagidos a produzirem e reproduzirem suas
analisaremos a organização do trabalho a condições materiais de existência e esse é o
partir das relações de classe entre burguesia segundo pressuposto da história humana,
e proletariado. visto que o primeiro pressuposto é a própria
O que é um regime de acumulação e existência de seres humanos vivos (Marx e
qual é a importância desse conceito para a Engels, 2002). Assim sendo, o modo de
compreensão das relações de trabalho na produção condiciona as demais esferas da
sociedade capitalista contemporânea? A vida social uma vez que exerce uma
tentativa de responder essa questão determinação fundamental.
consistirá no “ponta-pé” inicial para o O que pretendemos demonstrar
desenvolvimento de todo o nosso raciocínio adiante é que as relações de trabalho na
nesse artigo. contemporaneidade é uma totalidade
O termo “regime de acumulação” não formada por diversas partes, tais como a
é um termo antigo e nem tão pouco sociedade capitalista contemporânea, o
consensual entre os diversos teóricos que o regime de acumulação integral, o modo de
utilizaram em suas análises sobre o produção capitalista etc. Esse último,
desenvolvimento do capitalismo. Nosso marcado essencialmente pela luta de classes
objetivo aqui não é realizar uma profunda entre burguesia e proletariado, é sua
discussão teórica acerca dos regimes de determinação fundamental. Com o intuito de
acumulação, mas apenas resgatar algumas esclarecer essa realidade específica, ou seja,
delas com intuito de encontrar a melhor a acumulação integral, a mais-violência
definição que nos sirva para o propósito gerada no trabalho e a resistência operária
deste artigo. Nas inúmeras análises sobre o na contemporaneidade, iremos, a seguir,
desenvolvimento do capitalismo podemos discutir o que são os regimes de
encontrar diversas periodizações desse acumulação, caracterizar o regime de
modo de produção desde as mais acumulação integral, suas especificidades na
conservadoras (Rostow) às limitadas e
1
fetichistas (Frank). Contentaremo-nos em O método dialético recebe várias abordagens, sobre
discutir com apenas dois autores: Rabah perspectivas diferentes. Sobre o conceito de
totalidade pode-se consultar as contribuições de
Benakouche e Nildo Viana. Karl Marx, Karl Korsch, Lukács, Kosik etc. Sobre
Iniciaremos com uma discussão acerca o conceito determinação fundamental, o mesmo foi
das categorias totalidade e determinação desenvolvido por Hegel e em Marx aparece como
essência.
Revista Enfrentamento – no 04, Jul./Dez. 2009 4
forma organizacional do trabalho e a mais- as relações de produção capitalistas e
violência derivada daí. pelo aprofundamento de tendências já
existentes no regime anterior, seguindo
a dinâmica da acumulação de capital
Regimes de Acumulação e Organização (Viana, 2009, 15).
do Trabalho
Benakouche contribui com uma
Karl Marx ao analisar a história análise do desenvolvimento capitalista ao
humana com o intuito de compreender o afirmar que as formas de expansão do modo
capitalismo constatou que a história da de produção capitalista estão em constantes
humanidade é a história da sucessão dos mudanças e que tais mudanças é uma das
modos de produção. A superação de um principais características desse modo de
modo de produção significa uma ruptura produção. Segundo esse autor
histórica profunda e o surgimento de
sociedades radicalmente diferenciadas, os modos e as formas de
oriundas de um processo revolucionário. acumulação do capital, e, portanto, os
Essa constatação e sua teorização foram modos de extração da mais-valia e as
formas que assumem as relações
realizadas por Marx e está contida no sociais (inclusive as relações salariais)
“Prefácio à Crítica da Economia Política”, mudam em função da evolução do
que assim afirma: capitalismo. E se os modos e as formas
de acumulação do capital mudam o
(...) Em uma certa etapa de seu tempo todo, seus elementos de
desenvolvimento, as forças produtivas articulação, tais como os modos de
materiais da sociedade entram em extração de mais-valia, as formas das
contradição com as relações de relações sociais, as formas da estrutura
produção existentes ou, o que nada de produção ou hierarquização do
mais é que a sua expressão jurídica, sistema produtivo nacional, os modos e
com as relações de propriedade dentro as formas de organização do processo
das quais aquelas até então tinham se de trabalho, o nível e o tipo de
movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas,
desenvolvimento das forças produtivas as formas do Estado, a estrutura social
essas relações se transformam em seus ou os modos e as formas da luta de
grilhões. Sobrevém então uma época classes, os tipos e as formas de
de revolução social. Com a dominação nas relações econômicas
transformação da base econômica, toda internacionais ... evoluem ou mudam
a enorme superestrutura se transforma em função do grau atingido pelo
com maior ou menor rapidez (...) desenvolvimento do capitalismo
(1983, 24-25). (BENAKOUCHE, 1980, 23-24 ).
Ao contrário do que ocorre em um
contexto de revolução social, a mudança de Apesar da interessante análise
um regime de acumulação para outro não realizada por Benakouche, a mesma possui
representa uma transformação, mas tão alguns limites. Um deles é o de apresentar
somente mudanças no interior de um mesmo de forma metafísica o desenvolvimento do
modo de produção, portanto o que ocorre é capitalismo, visto que seu motor, a luta de
classes, é apenas mencionado, mas em
uma mudança no interior de momento algum sua dinâmica e
uma permanência, o que significa que, contribuição para a transformação é
em sentido amplo, não há ruptura e explicitada. Dessa forma, sua análise acaba
nem radicalidade no processo de
mudança. A sucessão de regimes de por possuir um caráter fetichista. Logo,
acumulação explicita a manutenção do
modo de produção capitalista e de seus ao tomar o desenvolvimento
elementos característicos capitalista como algo autônomo e
fundamentais, e a substituição de um independente, Benakouche focaliza o
regime por outro é marcada, no fundo, desenvolvimento tendencial
pela realização do objetivo de manter espontâneo do capitalismo e deixa de
Referências Bibliográficas