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A epidemia de gripe suína que dia-a-dia ameaça expandir-se por mais regiões do
mundo, não é um fenômeno isolado; é parte da crise generalizada e tem suas raízes no
sistema de criação industrial de animais dominado pelas grandes empresas
transnacionais.
Os únicos antivirais que ainda têm ação contra o novo vírus estão patenteados na maior
parte do mundo e são de propriedade de duas grandes empresas farmacêuticas: o
zanamivir, com nome comercial Relenza, comercializado por GlaxoSmithKline, e o
oseltamivir, cuja marca comercial é Tamiflu, patenteado pela Gilead Sciencies,
licenciado de forma exclusiva pela Roche. Glaxo e Roche são, respectivamente, a
segunda e a quarta empresas farmacêuticas em escala mundial e, igualmente como no
restante de seus remédios, as epidemias são suas melhores oportunidades de negócio.
Com a gripe aviária, todas elas lucraram centenas ou milhões de dólares. Com o anúncio
da nova epidemia no México, as ações da Gilead subiram 3%, as da Roche 4% e as da
Glaxo 6%; e isso é somente o começo.
Outra empresa que persegue esse lucrativo negócio é a Baxter, outra farmacêutica
global (ocupa o 22 lugar), tece um "acidente" em sua fábrica na Áustria, em fevereiro de
2009. Enviou um produto contra a gripe a Alemanha, Eslovênia e a República Checa,
contaminado com vírus da gripe aviária. Segundo a empresa. "foram erros humanos e
problemas no processo", do qual não pode dar detalhes, "porque teria que revelar
processos patenteados".
Não necessitamos enfrentar somente a epidemia da gripe; necessitamos enfrentar
também a epidemia do lucro.
Crescendo? Por quê? Porque nessas "Ilhas de Riqueza" ainda é permitida a produção
animal intensiva com técnicas de confinamentos em cubículos insalubres. As altas
temperaturas, a falta de higiene e a superpopulação facilitam a proliferação de bactérias.
(O professor José Lutzenberger chamava estas granjas de "campos de concentração e
extermínio de animais"). Para sanar o problema, os produtores utilizam hormônios e
antibióticos que, além de evitar infecções, aceleram o crescimento animal.
Isto é fruto da pressão do consumidor que, ciente dos malefícios desse medicamento ao
organismo humano, exige em sua mesa produtos produzidos segundo altos padrões de
segurança alimentar, de bem-estar animal e de proteção do meio ambiente. Ou seja, quer
alimentos mais naturais, livres de transgênicos, de agrotóxicos, de antibióticos...
Mesmo assim, este consumidor consciente está com problemas. O jornalista Henrique
Cortez (1) trouxe à tona uma notícia assustadora: mesmo que você não coma carne, que
você exija produtos orgânicos, vai ingerir os antibióticos usados em animais porque
estão presentes nos vegetais cultivadas em solo adubado com dejetos animais.
Apresentou dados do Environmental Health News:
- "perto de 70% do total de antibióticos e drogas afins produzidos nos Estados Unidos
são utilizados em bovinos, suínos e aves";
- cerca de 90% dessas drogas são excretadas na urina ou no estrume;
- a contaminação por antibióticos também ocorre em vegetais cultivados em culturas
biológicas já que o "estrume é largamente utilizado como um substituto dos fertilizantes
químicos na agricultura biológica".
Mas estes problemas, cuja solução é vital para a exportação brasileira de carne, não
estão na pauta das nossas políticas econômicas, ambientais e sanitárias.
E o consumidor brasileiro desses produtos nem pensa em comprar briga com a indústria
farmoquímica, nem com os produtores que apostam nessa droga para aumentar o
volume de produção.
Se nos EUA a proibição dos antibióticos para animais só ocorreu após uma batalha
judicial de 5 anos entre laboratórios e governo, quanto tempo levaria para ser
implementada aqui???
Acho que podemos brigar por um programa de certificação para granjas que criarem
seus animais ao ar livre, com alimentação natural e medicação alopática (já ouviram
falar dos probióticos para animais?).
Além disso, podemos brigar por um programa sério de rotulagem que nos informe sobre
as técnicas aplicadas na produção dos alimentos expostos para o consumo.
Notas:
(1) Artigo ‘Antibióticos usados em animais são absorvidos pelas hortaliças cultivadas
em solo adubado com resíduos animais’ -
http://www.ecodebate.com.br/2009/01/13/indice-da-edicao-de-13012009/
(2) http://taquari.emater.tche.br/sistemas/sirca/rastreabilidade/rastreabilidade.php