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Revista Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição - ISSN 0102-9398

DIAGNÓSTICO E CONDUTA
NAS AMENORRÉIAS

Rui Francisco Medeiros de Souza*

RESUMO is characterized by absence of menstruation for a period of


time which is equal or longer than 6 months or for 3 normal
O objetivo deste artigo é trazer aspectos atuais para o menstrual cycles in a woman who has already menstruated. Its
diagnóstico das amenorréias. A intenção do autor é apresentar etiology is wide and it can be by: abnormalilties in the exit tract
um manejo eficaz e seguro. or of the uterus; ovarian, of the anterior hypophysis, of the
As Amenorréias são classificadas em primárias e Central Nervous System. Diagnosis is made based on
secundárias. Amenorréia primária é quando uma pessoa, anemnesis, physicl exam and complementary exam. Once the
fenotipicamente feminina, aos 14 anos de idade ainda não teve possibility of pregnancy is removed, we start by requesting
a primeira menstruação nem o surgimento dos caracteres sexuais dosage of thyroid-stimulating hormone, dosage of prolactin
secundários, ou aos 16 anos já apresenta estes caracteres mas and by making a test with progesterone. The continuation and
ainda não teve a primeira menstruação. Amenorréia secundária the type of investigation depend on the results we obtain and
significa a ausência de menstruação por um período igual ou vary into: estrogen and progesterone test; dosage of the fol-
maior que 6 meses ou 3 ciclos menstruais normais, em uma licle-stimulating hormone and luteinizing hormone; radiogra-
mulher que já menstruou. Sua etiologia é ampla e pode ser por: phy of the sella turcica; computerized tomography or mag-
anormalidades no trato de saída ou do útero, ovarianas, da netic resonance; chromosome evaluation. Treatment depends
hipófise anterior, do Sistema Nervoso Central. O diagnóstico é on etiology.
feito baseado na anamnese, exame físico e exames
complementares. Afastada a possibilidade de gravidez, KEY WORDS: primary amenorrhea; secondary amen-
iniciamos solicitando dosagem do hormônio estimulante da orrhea.
tireóide, dosagem da prolactina e fazendo um teste com a
progesterona. O prosseguimento e o tipo de investigação
dependem dos resultados que vamos obtendo e variam entre:
INTRODUÇÃO
teste com estrogênio e progesterona; dosagem do hormônio
folículo estimulante e hormônio luteinizante; radiografia da sela A ausência de menstruação é fisiológica na
túrcica; tomografia computadorizada ou ressonância magnética; infância, gravidez, lactação e menopausa. Excluin-
avaliação cromossômica. O tratamento vai depender da do estas situações, é chamada de amenorréia, e pode
etiologia. ser um sinal de patologias genéticas, distúrbios
endócrinos, sistêmicos1, alterações anatômicos ou
UNITERMOS: Amenorréia primária; amenorréia
secundária. funcionais.
As amenorréias podem ser classificadas em
primária e secundária. Entende-se por amenorréia
ABSTRACT primária quando uma pessoa, fenotipicamente femi-
nina, aos 14 anos de idade ainda não teve a primeira
The aim of this article is to bring out current aspects menstruação (menarca) nem o surgimento dos ca-
for amenorrheas diagnosis. The author intention is to show an racteres sexuais secundários (desenvolvimento de
essicient and sase conduct. mamas - telarca e pêlos pubianos - pubarca), ou aos
Amenorrheas are classified into primary and secon-
16 anos já apresenta os caracteres sexuais secundá-
dary. Primary amenorrhea is characterized when a person, phe-
notypically female, at the age of 14, still haven't had the first rios mas ainda não teve a menarca. Amenorréia se-
menstruation nor the appearance of secondary sexual charac-
ters, or at the age of 16 already presents these characters but
Trabalho realizado no Serviço de Ginecologia do Hospital Nossa
still haven't had the first menstruation. Secondary amenorrhea
Senhora da Conceição de Porto Alegre - RS - Brasil.

* Médico Ginecologista. Preceptor Chefe da Residência Médica Endereço para correspondência:


de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Nossa Senhora da Con- Rui Francisco Medeiros de Souza
ceição. Integrante da Unidade de Atenção a Criança e Adolescen- Avenida Carlos Gomes, 1286 conj. 203 - CEP 90480-001 - Por-
te do Hospital Nossa Senhora da Conceição, RS. to Alegre - RS - Telefone: 3332.1885
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cundária é definida como a ausência de menstrua- Síndrome de Asherman significa sinéquia ou


ção por um período igual ou maior que 6 meses ou 3 aderência na cavidade endometrial ou endocervical2.
ciclos normais, em uma mulher que já menstruou2. É causa de amenorréia secundária e pode ser
A menarca costuma acontecer 1 a 2 anos provocada por curetagem e outras cirurgias no
após o início do desenvolvimento dos caracteres corpo e colo uterino, tuberculose e esquistossomose
sexuais secundários1, portanto, se isto não aconte- que compromete o útero4, introdução de substânci-
cer, devemos iniciar a investigação da causa para as irritativas que provoquem processo inflamatório
evitar prováveis danos futuros, por exemplo se for na cavidade endocervical ou endometrial.
em decorrência de hímen imperfurado pode pro-
vocar dano na funcionalidade das trompas. Síndrome da Insensibilide aos Androgênios
(anteriormente chamada de feminilização testicular),
ETIOLOGIA são pseudo-hermafroditas masculinos. Têm
genótipo masculino (XY) e fenótipo feminino por-
Para que a menstruação aconteça é necessá- que apresentam defeito no cromossoma X que faz
rio uma interação hormonal entre hipotálamo, com que os receptores de androgênio não funcio-
hipófise, ovário e o seu estímulo sobre o útero. Com nem, não desenvolvendo as características mascu-
relação ao ciclo menstrual, o hipotálamo atua linas, apesar da produção adequada deste hormônio.
secretando, de forma pulsátil, o GnRH (hormônio Nestes casos o estrogênio circulante atua, estimu-
liberador de gonadotrofina). Este hormônio estimula lando o desenvolvimento de caracteres sexuais fe-
a hipófise fazendo com que esta secrete, também mininos. As estruturas derivadas dos ductos de
de forma pulsátil, o FSH (hormônio folículo esti- Müller (útero, trompas e parte superior da vagina)
mulante) e o LH (hormônio luteinizante). O FSH estão ausentes porque o fator anti-mülleriano exis-
estimula o crescimento folicular no ovário e a con- te e inibe o desenvolvimento. Estes indivíduos apre-
seqüente produção de estrogênio. O LH promove a sentam amenorréia primária, vagina em fundo cego
maturação, ovulação e a posterior formação do cor- e os pêlos pubianos e axilares são escassos ou au-
po lúteo que produz principalmente a progesterona. sentes 2.
No útero o estrogênio promove a proliferação do
endométrio e a progesterona o transforma em Anormalidades Ovarianas
secretor 2 . Com a queda destes hormônios o
endométrio descama e se exterioriza como mens- Podem provocar amenorréia primária ou se-
truação, se não houver anormalidades no colo cundária.
uterino, vagina e vulva. Síndrome de Turner (clássica 45 X) apre-
sentam amenorréia primária com hipogonadismo
As causas de amenorréia são: hipergonadotrófico2. As características físicas prin-
Anormalidade no Trato de Saída ou do cipais são baixa estatura, pescoço alado, peito de
Útero pombo 1,2, ausência de desenvolvimento das mamas,
pêlos axilares e pubianos, genitália externa imatura.
Hímen imperfurado, septo vaginal transver- As gônadas são atrésicas e em fita1.
so completo são causas de amenorréia primária em
que o sangue menstrual não se exteriorizar e pode Disgenesia Gonadal Pura (46,XX ou 46,XY),
provocar hematocolpos, hematometra, as gônadas geralmente são estrias e estes indivídu-
hematossalpinge com possibilidade de dano funci- os têm fenótipo feminino com infantilismo sexual e
onal nas trompas e endometriose (menstruação re- estatura normal2.
trógrada e implantes)3.
Mosaicismo caracteriza-se por múltiplas li-
Agenesia de vagina ou do colo uterino tam- nhagens com variada composição dos
bém são causas de amenorréia primária e as conse- cromossomas sexuais. Manifesta um
qüências podem ser as mesmas já mencionadas hipogonadismo hipergonadotrófico. O aspecto fí-
anteriormente, excluindo-se hematocolpos. sico e o tipo de amenorréia primaria ou secundária
vai depender da linhagem dos cromossomas sexu-
Útero hipoplásico, ausência congênita do úte- ais2.
ro, cavidade endometrial ou do endométrio4 são res-
ponsáveis por amenorréia primária, porém sem as Agenesia Gonadal provoca hipogonadismo
repercussões mencionadas nos itens anteriores. hipergonadotrófico com a amenorréia primária. Na

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ausência de função gonadal o desenvolvimento é bre o gerador de pulsos de GnRH 2.


feminino4.
Síndrome da Sela Vazia pode ser congênita
Síndrome de Savage os ovários apresentam ou em decorrência de radioterapia, cirurgia, ou
folículos mas não são estimulados, provavelmente, infarto de tumor hipofisário 4.
por falta dos receptores de FSH ou existe defeito
pós-receptor. Manifesta hipogonadismo Síndrome de Sheehan necrose aguda da
hipergonadotrófico2. hipófise por isquemia devido a hemorragia pós-par-
to4. A intensidade das manifestações clínicas vai
Insuficiência Ovariana Prematura quando depender da extensão da necrose2.
entra em amenorréia antes dos 40 anos de idade,
inclusive pode ocorrer a forma primária. Eventual- Anormalidades do Sistema Nervoso Central
mente é reversível e a sua causa é variada, incluin-
do origem genética (número reduzido de folículos Pode provocar amenorréia primaria e secun-
ou uma taxa aumentada de atresia); origem auto- dária.
imune; destruição dos folículos por infecção (por A origem hipotalâmica é a causa mais co-
exemplo na.: ooforite por caxumba); radioterapia e mum de amenorréia por hipogonadismo
quimioterapia4. hipogonadotrófico e ocorre devido a deficiência na
secreção pulsátil de GnRH. Geralmente é um diag-
Galactosemia ocorre destruição prematura nóstico de exclusão das causas hipofisárias4.
dos folículos ovarianos, provavelmente devido a A secreção pulsátil do GnRH é modulada por
ação tóxica dos metabólitos da galactose em interações com os hormônios gonadais circulantes
decoçrrência da ausência funcional da galactose-1- e os neurotransmissores. A adrenalina, acetilcolina
fosfato-uridil-transferase2. e o peptídio intestinal vasoativo (VIP) estimulam
os pulsos de GnRH. Os hormônios liberadores de
Síndrome dos Ovários Policísticos é causa corticotrorfina (CRH), melatonina (MSH), ácido
de amenorréia secundária e sua etiologia é comple- gama aminobutírico (GABA) e os opióides
xa e ainda não bem esclarecida. Ocorre disfunções endógenos inibem a liberação de GnRH. A serotonina
internas e feedback alterados entre hipotálamo, e a dopamina manifestam efeitos variáveis. Na
hipófise, ovários, supra-renais e compartimento hiperprolactinemia, hipotireoidismo (TSH elevado
periférico (pele e tecido adiposo). No compartimento costuma elevar a prolatina), doença de Cushing (ex-
hipotálamo-hipófise há um aumento da freqüência cesso de ACTH) e na acromegalia (excesso de GH)
dos pulsos de GnRH que provoca aumento da são secretados excesso de hormônios hipofisários,
freqüência dos pulsos de LH com elevação deste os quais inibem a secreção do GnRH. A desnutri-
na relação LH/FSH. Provavelmente o FSH não se ção, estresse, exercícios em excesso, distúrbios
eleve devido ao feedback negativo dos estrogênios, psiquiátricos e as doenças crônicas inibem os pul-
cronicamente elevados. A prolactina está elevada sos de GnRH2.
em 25% dos casos. Possivelmente os ovários apre- Atraso Fisiológico em decorrência da
sentam desequilíbrio enzimático o que provoca reativação tardia do gerador de pulsos do GnRH.
maior sensibilidade destes ao estímulo das Outra situação é aquela que pode acontecer nas
gonadotrofinas, traduzindo-se em maior produção adolescentes atletas, que têm grande atividade físi-
de androgênios. As supra-renais também podem ca5 e conseqüente liberação excessiva de adrenalina
apresentar disfunção enzimática. O tecido adiposo e endorfina.
e a pele também participam devido a alterações Síndrome de Kallmann caracteriza-se pela
advindas em decorrência do ganho ponderal2. secreção pulsátil insuficiente do GnRH provocan-
do amenorréia primária. Observa-se, também,
Anormalidades da Hipófise Anterior anosmia ou hiposmia em decorrência de defeito
anatômico congênito do SNC na região responsá-
Secreção anormal dos hormônios da hipófise vel pelo olfato e pela origem embriológica das célu-
anterior (GH, TSH, ACTH, gonadotrofinas, las produtoras do GnRH4.
prolactina) tanto de causa funcional como tumoral Estímulo anatômico/físico sobre o
(ex.: prolactinomas, doença. de Cushing provocada hipotálamo: tumor do SNC (o mais comum é
por tumor hipofisário produtor de ACTH) podem craniofaringioma); lesões traumáticas, vasculares
provocar amenorréia devido ao efeito adverso so- e inflamação.

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Estímulo dos neurotransmissores sobre o tanto existe estímulo estrogênico, evidenciando


hipotálamo: emagrecimento, excesso de atividade atividade do ovário, hipófise e SNC, fica constata-
física5, estresse, distúrbio psiquiátricos 6, doenças do também que o endométrio está em boas condi-
crônicas, uso de drogas, desnutrição, malabsorção. ções, útero, vagina e vulva são permeáveis) Se não
sangrar faz-se um ciclo de estrogênio e
Estímulo dos hormônios esteróides progesterona
circulantes sobre o hipotálamo: obesidade, insufi- Teste com estrogênio e progesterona (suge-
ciência e hiperplasia supra-renal virilizante, tumo- rimos estrogênios conjugados 1,25 mg durante 21
res funcionantes do ovário e da supra-renal1. dias e acetato de medroxiprogesterona 10 mg as-
sociado nos últimos 5 dias deste ciclo, ambos via
DIAGNÓSTICO oral) se o sangramento de privação for negativo,
devemos repetir este teste e, se novamente for ne-
Baseia-se em: anamnese, exame físico, teste gativo, existe alguma problema no trato genital bai-
medicamentoso e exames complementares. xo. Se ocorrer sangramento solicitar dosagem do
FSH e LH.
Anamnese: definir se é amenorréia primaria Dosagem do FSH e LH se estiverem eleva-
ou secundária. Investigar possibilidade de gravidez, dos, o diagnóstico mais provável é insuficiência
ciclos menstruais anteriores, perda ou ganho de ovariana. Se o as gonadotrofinas forem normais ou
peso, condição nutricional, desequilíbrio psicológi- baixas pedir radiografia da sela túrcica.
co, estresse, doenças e cirurgias na infância1, do- Radiografia da sela túrcia também deve se
ença ou seqüela no sistema nervoso central, histó- solicitada nos casos de galactorréia, prolactina alta.
ria familiar de distúrbio genético4. Se for normal possívelmente se trate de amenorréia
de origem hipotalâmica, se estiver anormal está in-
Exame Físico: medir peso e altura para veri- dicado fazer tomografia computadorizada ou res-
ficar se está compatível com a idade. Observar si- sonância magnética da região do hipotálamo e
nais sindrômicos como pescoço alado, peito de hipófise para pesquisar tumor ou outra lesão.
pombo, hirsutismo Examinar desenvolvimento ma- Tomografia Computadorizada com contras-
mário e a presença de galactorréia, desenvolvimen- te (TC) ou Ressonância Magnética (RNM) solici-
to de pêlos pubianos e axilares. O exame dos tar nas seguintes condições: quando as
genitais externos, procurar sinais que evidenciem gonadotrofinas estão normais ou baixas e a radio-
ação estrogênica como espessamento e coloração grafia da sela túrcica não for esclarecedora; quan-
da mucosa, presença de muco. Observar o tama- do esta estiver anormal e quando a prolactina esti-
nho do clitóris e avaliar a permeabilidade da vulva e ver acima de 100 ng/ml. A RNM é mais sensível
vagina. que a TC mas é mais onerosa 4.
Avaliação Cromossômica está indicada nas
Procedimento Diagnóstico Inicial. Afastada mulheres com menos de 30 anos de idade, que apre-
a possibilidade de gravidez, solicitamos: dosagem sentem amenorréia por insuficiência ovariana e
do Hormônio Estimulante da Tireóide (TSH), do- gonadotrofinas elevadas. Se o cariótipo revelar a
sagem da Prolactina e realizamos um teste com presença de cromossoma Y, a cirurgia para exérese
progesterona. Se existir galactorréia é útil a radio- das gônadas deve ser feita devido o risco de trans-
grafia da sela túrcica. Dependendo dos exames e formação malígna e virilização4.
da resposta ao teste da progesterona, realizamos
outros testes e solicitamos outros exames. TRATAMENTO
Dosagem do TSH, se elevado significa
hipotireoidismo. Vai depender da causa da amenorréia.
Dosagem da Prolactina, se estiver acima do Hímen imperfurado deve ser corrigido as-
normal a causa da amenorréia, provavelmente, seja sim que feito o diagnóstico3, para evitar a possibili-
devido a hiperprolactinemia. Sua elevação pode ser dade de desenvolver, no futuro, hematocolpos,
de origem funcional, tumoral ou medicamentosa. hematometra, hematossalpinge e endometriose.
Teste com progesterona (preferimos usar o Trata-se fazendo uma incisão em cruz e ressecan-
acetato de medroxiprogesterona 10 mg via oral do os bordos, o hímen fica permeável, com um
durante 5 dias), se acontecer um adequado pequeno losango no centro.
sangramento de privação e o TSH e Prolactina fo- Septo vaginal transverso completo deve ser
rem normais, o diagnóstico é de anovulação (por- ressecado cirúrgicamente quando diagnósticado,

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para prevenir prováveis danos futuros3. prolactina devem ser avaliados pelo neurocirurgião7.
Agenesia de vagina quando existe uma fosseta Lembrar que a prolactina pode estar elevada
vaginal depressível deve-se orientar manobras pelo uso de certos medicamentos, como a
dilatadoras, na tentativa de tornar permeável o ca- metoclopramida, sulpiride, outros tranquilizantes.
nal vaginal e ampliá-lo. Quando isto não for possí- Nestes casos, se possível, esta medicação deve ser
vel a alternativa é a realização de uma suspensa.
neovaginaplastia3. As síndromes da sela vazia e de Sheehan e
Agenesia do colo uterino fazer cirurgia para distúrbios da tireóide devem ser tratadas com os
estabelecer comunicação entre o útero e vagina. Se hormônios necessários e a participação do
não tiver sucesso realizar a histerectomia para evi- endocrinologista.
tar hematometra, hematossalpinge e endometriose. No atraso fisiológico da menstruação pode-
Síndrome de Asherman faz-se a histeroscopia mos prescrever dose pequenas de estrogênios. Su-
para desfazer as sinéquias e inserção de um dispo- gerimos estrogênios conjugados 0,625 mg/dia, por
sitivo intra-uterino (DIU) o qual deve permanecer até 12 meses, se ocorrer sangramento uterino pas-
por 3 meses, para prevenir que as aderências se samos a recomendar um esquema cíclico, associ-
formem novamente7. Outra opção é fazer curetagem ando acetato de medroxiprogesterona 10 mg nos
com colocação de DIU. últimos 10 dias da série de 21 dias do estrogênio
Nos estados intersexuais o tratamento, clí- conjugado, suspendemos o tratamento após 1 ano,
nico ou cirúrgico, vai depender do caso 7 . Na para observar a resposta7.
síndrome de Turner, disgenesia gonadal pura, Síndrome de Kallmann também é tratado com
mosaicismo, ageneseia gonadal, síndrome de ciclos de estrogênios e progestrogênios. Se for ne-
Savage devemos tratar com estrogênio e cessário fazer indução da ovulação pode ser indi-
progestogênio, de forma cíclica, para estimular o cado gonadotrofinas ou GnRH7.
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundá- Na anorexia nervosa recomenda-se tratamen-
rios (CSS), nesses casos recomenda-se uma dose to psiquiátrico e dieta alimentar adequada 7.
maior de hormônios como a que tem nos anticon- Estresse e distúrbio psiquiátrico indica-se
cepcionais orais. Quando os CSS já estão presen- tratamento com apoio psicológico.
tes e na insuficiência ovariana, podemos usar uma Amenorréia por excesso de atividade física
dosagem menor, como as usadas para tratar o recomenda-se diminuição dos exercícios e uma di-
climatério, com a finalidade de prevenir a eta balanceada rica em cálcio, para que atinja um
osteoporose. peso de acordo com sua estrutura óssea e altura 5.
Nos casos de anovulação crônica, não tenho Doenças crônicas, desnutrição, malabsorção
necessidade de fazer anticoncepção, usar e uso de drogas devem ser tratadas adequadamen-
progestágenos para prevenir o risco de hiperplasia te.
e câncer do endométrio8. Recomendamos o acetato Obesidade dieta para perder peso.
de medroxiprogesterona 10 mg via oral nos primei- Distúrbio das glândulas supra-renais tratada
ros 10 dias de cada mês. Se necessitar com a participação do endocrinologista.
anticoncepção podemos recomendar um ACO de Tumores funcionantes do ovário e supra-re-
baixa dosagem 4 . Na síndrome dos ovários nais são tratados com remoção cirúrgica.
policísticos, quando existe excesso de peso, o pri-
meiro passo é emagrecer. Se a paciente quer CONCLUSÕES
engravidar, devemos prescrever indutores da ovu-
lação7. A cirurgia no ovário só é feita quando os Esclarecer a sua etiologia para estabelecer a
procedimentos anteriores não resolveram a esteri- conduta.
lidade. Em uma mulher que menstruava regularmen-
Na hiperprolactinemia funcional e te e entra em amenorréia secundária, podemos afas-
prolactinomas indica-se a bromocriptina, inician- tar várias alterações responsáveis por este distúr-
do-se com meio comprimido à noite e aumentando bio. Certamente não apresenta hímen imperfurado,
a dose até que a dosagem da prolactina esteja den- septo vaginal transverso completo, agenesia da va-
tro do normal. Controle feito através de dosagens gina, colo e do útero, ausência congênita da cavi-
quinzenais. Trata-se por até 6 meses e suspende-se dade uterina e do endométrio, pseudo
a medicação, se voltar a ter amenorréia, reavalia-se hermafroditismo masculino. Os componentes do
o caso7. eixo hipotálamo-hipófise-ovário estão presentes e
Os tumores hipofisários que não produzem já funcionaram e interagiram normalmente, se bem

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que podem falhar com o tempo. Novak Tratado de Ginecologia. 12. ed. Rio de Ja-
Toda mulher abaixo de 30 anos, com neiro: Guanabara Koogan; 1996. p. 575-91.
hipogonadismo hipergonadotrófico deve fazer o 3. PIAZZA MJ, TEIXEIRA AC. Amenorréia Pri-
cariótipo para verificar se apresenta cromossoma mária. In: Tratado de Ginecologia da Febrasgo. Rio
Y e, portanto, a existência de tecido testicular o de Janeiro: Revinter; 2001. p. 288-91.
qual costuma provocar virilização e transformação 4. SPEROFF L, GLASS RH., KASE NG.
malígna. Nestes casos a gonadectomia deve ser Amenorréia. In: Endocrinologia Ginecológica Clí-
feita. nica e Infertilidade. 5.ed. São Paulo: Manole; 1995.
Nas mulheres que apresentam anovulação p. 417-76.
crônica existe um estímulo estrogênico contínuo 5. Athletic Amenorrhea. AudioHealth Library Topic
no endométrio, aumentando o risco de hiperplasia [periódico online]1996 [capturado 2001 Ago 15];
e câncer endometrial. Nesses casos está indicado o [2 telas] Disponível em: http://
tratamento com agentes progestacionais . www.yourhealth.com/ahl/2671.html
6. MARCUS MD, LOUCKS TL, BERGA SL.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁRICAS Psychological correlates of functional hypothalamic
amenorrhea. Fertil Steril 2001 Aug;76(2):310-16.
1. REIS JTL. Amenorréia Primária e Secundária. In: 7. HALBE HW, GONÇALVES MA. Amenorréia. In:
Magalhães MLC, Andrade HHSM. Ginecologia Infanto- Halbe Tratado de Ginecologia. 3. ed. São Paulo:
Juvenil. Rio de Janeiro: Medsi; 1998. p. 233-47. Roca; 2000. p. 1463-78.
2. SCHERZER WJ, MCCLAMROCK H. 8. APGAR BS, GREENBERG G. Using progestins
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