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vista desde sua intercessão com a cultura e bientais passa por uma visão do meio ambi-
a história, ou seja, o indivíduo é sempre um ente como um campo de sentidos socialmen-
ser social. te construído e, como tal, atravessado pela
Assim, o foco de uma EA popular não são diversidade cultural e ideológica, bem como
exclusivamente os comportamentos. Embo- pelos conflitos de interesse que caracterizam
ra em certa educação popular também exis- a esfera pública. Ao enfatizar a dimensão
ta uma herança racionalista que se expres- ambiental das relações sociais, a EA popular
sa principalmente no conceito de conscienti- propõe a transformação das relações com o
zação. É preciso admitir aqui que a perspec- meio ambiente dentro de um projeto de cons-
tiva racionalista, que pensa os processos de trução de um novo ethos social, baseado em
transformação pela via régia da consciência, valores libertários, democráticos e solidários.
chega à educação ambiental não só pela EA A opção por um grupo etário, por exemplo
comportamental mas também por certa EA as crianças, não é uma característica pre-
popular. Ocorre que nem toda EA popular se dominante nesta abordagem. Aqui se com-
atém estritamente à noção de conscientiza- preende a formação como um processo per-
ção, mesmo porque uma crítica deste con- manente e sempre possível. Há várias expe-
ceito tem sido feita pela própria educação riências de EA popular, por exemplo, que ele-
popular nos últimos anos. Assim, esta EA gem, isto sim, certos atores sociais como su-
pode utilizar-se também de conceitos mais jeitos prioritários da ação educativa ambi-
complexos, como por exemplo o de Ação Polí- ental, como por exemplo os grupos e organi-
tica, no sentido em que é definido pela filo- zações populares. Ou ainda, destacam a im-
sofia política de Arendt, para entender o agir portância de trabalhar com os grupos cuja in-
dos sujeitos e grupos sociais frente às ques- teração com o meio ambiente é mais direta,
tões ambientais4. por exemplo, agricultores ou certas catego-
Mais do que resolver os conflitos ou pre- rias de trabalhadores urbanos como os
servar a natureza através de intervenções recicladores e outros 5. De qualquer forma,
pontuais, esta EA entende que a transforma- não há uma especial valorização da infância
ção das relações dos grupos humanos com o como faixa etária privilegiada para a forma-
meio ambiente está inserida dentro do con- ção ambiental.
texto da transformação da sociedade. O en- Cabe lembrar que a educação popular
tendimento do que sejam os problemas am- tem sido em grande parte uma educação de 47
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48 mente conhecido o tema das descontinuida- valorizar um ambiente saudável e não poluí-
des entre o dito da razão e as atitudes6.
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A rtigo EA popular parece ser uma das
mediações educativas afinadas ao
do, ter comportamentos tais como não sujar
as ruas e participar dos mutirões de limpeza espírito de uma extensão rural
do seu bairro. Essa mesma pessoa, no en-
tanto, pode considerar adequada a política
agroecológica
de produção e transferência de lixo tóxico
para outra região e não se importar com a
contaminação de um lugar distante do seu
ambiente de vida. Numa perspectiva indivi-
dualista, isto preserva seu meio ambiente
imediato, a despeito do prejuízo que possa ter, res, comprometida com um ideário emanci-
por exemplo, para outras populações afeta- patório e, ao enfatizar a dimensão ambiental,
das por estes resíduos tóxicos. Neste senti- amplia a esfera pública, incluindo nesta o
do, é possível um comportamento preocupa- debate sobre o acesso e as decisões relativas
do com o meio ambiente local sem qualquer aos recursos ambientais. Nesta perspectiva,
compromisso com um pacto solidário global. o educador ambiental é, sobretudo, um medi-
Quanto à capacidade de uma educação pro- ador da compreensão das relações que os gru-
mover valores ambientais, é importante des- pos com os quais ele trabalha estabelecem
tacar que o processo educativo não se dá ape- com o meio ambiente. Atua assim, como um
nas pela aquisição de informações, mas so- intérprete dessas relações, um facilitador das
bretudo pela aprendizagem ativa, entendida ações grupais ou individuais que geram no-
como construção de novos sentidos e nexos vas experiências e aprendizagem.
para a vida. Trata-se de um processo que en- No caso da extensão rural, a EA popular
volve transformações no sujeito que apren- parece ser uma das mediações educativas
de e incide sobre sua identidade e posturas afinadas ao espírito de uma extensão rural
diante do mundo. A internalização de um agroecológica tomada como "um processo de
ideário ecologista emancipatório não se dá intervenção de caráter educativo e transforma-
apenas por um convencimento racional so- dor, baseado em metodologias de intervenção-
bre a urgência da crise ambiental, mas so- ação participante que permitem o desenvolvi-
bretudo implica uma vinculação afetiva com mento de uma prática social mediante a qual
os valores éticos e estéticos desta visão de os sujeitos do processo buscam a construção e
mundo. Deste ponto de vista, uma EA com- sistematização de conhecimentos que os levem
portamental pode ser funcional a diversas a incidir conscientemente sobre a realidade"
esferas de ação que visam inibir ou estimu- (Caporal e Costabeber, 2000:33). A afinidade
lar, em termos imediatos, certos comporta- da EA popular com o marco da nova extensão
mentos bem definidos _ por exemplo: dimi- rural remete à vocação de uma EA que pre-
nuir o índice de depredação de árvores pelos tende promover mudanças nos níveis mais
visitantes de uma área de proteção ambien- profundos das relações socioambientais. É
tal _ mas dificilmente consegue incorporar a claro que aqui trata-se de uma escolha pe-
dimensão mais ampla e coletiva das relações dagógica e não de uma verdade auto-eviden-
ambientais associadas a transformações em te. Do mesmo modo que não se trata neste
direção a um novo projeto societário. artigo de pretender dar a palavra final a uma
A EA popular, por sua vez, age dentro de discussão que vem se dando entre os educa-
um universo onde a educação é uma prática dores ambientais, mas expressar uma posi-
de formação de sujeitos e produção de valo- ção e expô-la ao debate. A 49
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Referências bibliográficas
Notas
1
No âmbito das iniciativas de políticas multidimensional de mudança social orientado
públicas, destacam-se, em nível nacional, a a ecologização das práticas agrícolas no
criação dos Núcleos de Educação Ambiental manejo dos agroecossistemas. Diferencia-se
no IBAMA desde 1992; os centros de Educação desse apenas no sentido de destacar a
Ambiental desde 1993 pelo MEC; Programa expansão da assimilação de um ideário
Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) ambientalizado também para um conjunto de
instituído em 1994 pelo MEC e MMA; a práticas sociais e culturais no mundo rural não
inclusão da educação ambiental nos necessariamente agrícolas.
3
Parâmetros Curriculares definidos pelo MEC Este pode ser entendido como um espaço
em 1998; e aprovação da Política Nacional de de relações sociais e históricas onde se produz
EA em 1999. e reproduz a crença no valor da natureza
2
A noção de transição ambiental aqui como um Bem que deve ser preservado, acima
proposta compartilha com o conceito de dos interesses imediatos das sociedades. Esta
transição agroecológica tal como proposto por crença alimenta a utopia de uma relação
Caporal e Costabeber (2000) e Costabeber e simétrica entre os interesses das sociedades e
processos vitais e aos limites da capacidade uma discussão do conceito arendtiano de Ação
de regeneração e suporte da natureza que Política e sua aplicação no contexto da
deveriam balizar as decisões sociais, e educação ambiental ver Carvalho (1992).
5
reorientar os estilos de vida e hábitos coletivos Sobre a definição de sujeitos prioritários,
e individuais. ver Ruiz, Javier Reyes. “Diagnóstico mexicano
4
Para Arendt (1989), o conceito de Ação sobre educación popular ambiental”. Seminario
Política é a expressão mais nobre da condição regional de capacitación de las comunidades
humana. Os humanos se definem por seu agir para el manejo sustentable de los recursos
entre seus pares, influindo no destino do naturales. Rede de Educación Popular
mundo comum. Esta capacidade de agir em Ambiental - REPEC, México, 1995 (mimeo).
6
meio a diversidade de idéias e posições é a A pesquisa "O que brasileiro pensa da
base da convivência democrática, da liberdade ecologia" (Crespo e Leitão, 1992), por exemplo,
e da possibilidade de criar algo novo. Desta verificou entre os entrevistados essa lacuna
forma, o Agir humano é o campo próprio da entre o convencimento racional e a disposição
educação enquanto prática social e política para agir diferente frente ao meio ambiente.
que pretende transformar a realidade. Para
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