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Jovem a
Cada ano
Chegue aos 80 anos com saúde,
O vigor e a forma física
De um cinqüentão
Chris Crowley e
Henry S. Lodge, M.D.
SEXTANTE
“Fique Mais Jovem a Cada Ano” – Chegue aos 80 anos com
saúde, o vigor e a forma física de um cinqüentão. Chris Crowley e
Henry S. Lodge, M.D. – Atraze seu relógio biológico – Editora
Sextante, 2007.
CAPÍTULO 1
O FIM DO MUNDO
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Do corpo humano. Será uma visão revolucionária para praticamente
todos os leitores. Uma vez que você entenda essa mecânica e faça
algumas das coisas que, depois dessa leitura, parecerão óbvias,
conseguirá viver aos 80 anos como se ainda estivesse 50! Pode
acreditar. Tudo bem, nada impede que você sofra um acidente e se
espatife contra uma árvore nem que um tumor cresça no seu
cérebro e o mate em pouco tempo. Mas, na realidade, a maioria de
nós não precisa envelhecer num ritmo acelerado.
Melhor ainda. Quase todos nós poderemos ficar funcionalmente
mais jovens a cada ano pelos próximos 5 ou até 10 anos. Isso pode
parecer um disparate cruel ou pura fantasia, porém é verdade.
Apenas alguns aspectos do envelhecimento biológico são
imutáveis. Por exemplo, o fato de que nossa freqüência cardíaca
máxima diminui um pouco a cada ano e de que a pele e o cabelo
perdem o viço. Contudo, 70% do que sentimos como
envelhecimento é opcional. Não precisamos aderir à velhice. Isso
não é brincadeira nem estou exagerando. Existe um modo novo e
seguro de agir em relação a esse assunto. E você é candidato a
mudar de rumo. Basta que aprenda o caminho das pedras.
Isto é o que você acredita que sabe: ao entrar na casa dos 60
anos, passa a achar que seus pés estão deslizando por uma
encosta escorregadia. A cada ano, fica um pouco mais gordo, mais
lento, mais fraco, mais acometido por dores. Começa a perder a
audição e a visão. Seus quadris doem. Seus joelhos também.
O que acontecerá. Mas isso é uma escolha, e não uma
condenação dos céus. Você poderá decidir com a maior facilidade
que deseja viver como se tivesse 50 anos, talvez até menos, pela
maior parte do resto da sua vida. Se estiver disposto a dizer isso a
seu corpo, enviando-lhe alguns sinais específicos, será capaz de
evitar a encosta escorregadia. Conseguirá manter-se num nível
apenas ligeiramente inclinado até os 80 anos ou mais. Há pessoas
nessa faixa de idade que correm maratonas. E outras que sobem e
descem de bicicleta as íngremes colinas nos arredores de
Barcelona, cumprindo metas, levando uma vida boa e divertida.
Há quem não seja tão interessado em esportes, mas que, mesmo
assim, permaneça em grande forma,desfrutando de uma velhice
vigorosa. Portanto, a mensagem deste livro é: você não precisa
ficar velho do jeito que está imaginando. Poderá fazer todas as
coisas praticamente do mesmo
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modo. Andar de bicicleta, correr, nadar e amar. Usando quase a
mesma energia, tendo quase o mesmo prazer, sendo quase a
mesma pessoa. Na realidade, ainda que você não esteja com um
bom condicionamento físico agora, conseguirá melhorar de maneira
substancial nos próximos anos e, depois, manter-se nivelado por
cima.
Se você ainda não passou por isso, não faz a menor idéia de
quanto o “envelhecimento normal” é ruim. Acredite, é horrível
mesmo. Harry e eu estamos pedindo, ou melhor, implorando, que
você se retire da encosta escorregadia. Isso estabelecerá uma
mudança fundamental na próxima fase de sua vida: a terceira
idade.
O que está em jogo – as mudanças potenciais pelo resto da sua
vida – é algo muito importante. Pense por um minuto nos seguintes
dados: Harry diz que mais de 50% de todas as doenças e de todos
os ferimentos acidentais que ocorrem no último terço da vida podem
ser evitados, se a pessoa alterar seu estilo de vida de acordo com
as nossas sugestões. Não se trata de adiar os males para uma
idade mais avançada, e sim de impedir sua ocorrência e manter-se
a salvo dos tormentos, das despesas e da perda de prazer que eles
causam. Você sabia que 70% das mortes prematuras nos Estados
Unidos estão relacionadas com o estilo de vida? Nesse caso,
“prematuras” quer dizer estar bem longe da casa dos 80 e muitos
anos.
Ainda mais importante para mim é a declaração de Harry de que
cerca de 70% do declínio “normal” associado ao envelhecimento – a
fraqueza física, as articulações doloridas, a falta de equilíbrio, a
sensação de pessimismo – pode ser adiado até quase o final da
vida. Essa é a diferença significativa. Eu tive momentos de
envelhecimento normal. Minhas articulações doíam tanto que o
simples ato de andar era um sacrifício. Eu era obrigado a procurar
um rebaixamento no meio-fio para não ter que erguer a perna nem
míseros 10cm. Pense nisso. Imagine-se tão franzino que precise
tomar impulso para se levantar de uma cadeira comum. Isso
acontece. Será assim com você, de verdade. Embora não tenha
que ocorrer necessariamente.
Tudo isso soa um exagero, mas não é. Harry abordará as ciências
emergentes para provar todas essas questões. O que ele diz é
admirável. E eu falarei sobre a vida, a respeito de andar de
bicicleta, de esquiar, de fazer coisas novas, de me sentir
funcionalmente mais jovem do que era há 10 anos e de estar em
grande forma na maior parte do tempo. Você poderá passar dos 60
e sentir-se
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funcionalmente rejuvenescido a cada ano pelos 5 ou 10 anos
seguintes. Portanto, o assunto é sério.
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Clínica do Colégio de Médicos e Cirurgiões da Universidade de
Colúmbia. É também um estudioso atento das descobertas mais
recentes da biologia celular e evolutiva. Elaborou um relatório
sobre essa ciência, ainda não publicado em revistas médicas, e
sobre suas experiências no tratamento, há mais de 15 anos, de
pacientes nas faixas dos 50 e 60 anos ou mais. A ciência é barra-
pesada, porém Harry a torna fácil de entender e convincente. Tudo
bem, quase fácil. Seja como for, durante a leitura dos seus capítulos
(que praticamente se alternam com os meus), a lógica – ou quase
necessidade – de seguir suas sugestões parece absolutamente
clara.
A propósito, como essa ciência é muito nova, Harry avisa que
parte do que ele diz agora poderá se revelar errado à medida que
as pesquisas forem avançando. Mas os temas básicos, não. A
revolução de que ele fala está acontecendo neste momento, e a
ciência é uma realidade. Harry demonstra que existem forças
notáveis no corpo humano – nas células, por toda parte – que
trabalham sem parar nos processos de construção e destruição. As
forças darwinianas – a questão da preservação das espécies – têm
tudo a ver com quem somos e com a nossa forma de viver. Nos
seus capítulos, ele explica o que são essas forças e como elas
funcionam. Também diz de que modo manipulá-las e redirecioná-las
em nosso benefício para mantermos o envelhecimento a certa
distância e durante um bom período. Não por completo nem para
sempre. No entanto, por muito mais tempo do que você está
disposto a acreditar neste momento.
Parte do que você aprenderá é algo que já é do seu
conhecimento. Existem marés na vida que nos arrastam para a
frente ou para trás. Quando somos crianças, a maré está por trás
de nós e nos empurra para a frente, não importa o que fizermos.
Somos mais fortes, temos mais capacidade de concentração e
coordenação. Possuímos mais facilidade de entender e enfrentar
qualquer situação. Mas, a certa altura, a maré dentro do nosso
corpo perde a força, e esse movimento que nos faz ir adiante chega
ao fim. Em seguida, num instante, a maré se volta contra nós. O
corpo se enfraquece, nosso equilíbrio se torna instável, nossos
ossos ficam frágeis. Começamos a nos esquecer das coisas.
Depois, temos a sensação de que dentro de pouco tempo essa
maré será bem mais violenta e nos jogará contra as rochas, onde
gaivotas e caranguejos estarão esperando para nos devorar.
O curioso é que a maré não tem toda essa força. Ela parece
poderosa
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constante e implacável. No entanto, é controlável: podemos desviar
seu poder inclemente para favorecer nossos próprios interesses.
Temos como usar a aterradora força do vento que nos joga contra
as rochas para soprar nossas velas e voltarmos a velejar com
segurança. Harry é extremamente inteligente, e suas palavras
merecem um estudo atento. Tudo o que ele espera de você é que
mude sua maneira de viver – de forma radical e para sempre. Eu
também.
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Olha para o computador muitas vezes enquanto fala com o
paciente. Jamais se poderia dizer que sua aparência é
desagradável. Na realidade, ele é até bonitão. Foi remador na
universidade e isso transparece, embora se vista e se apresente de
forma relaxada. O que, claro, não é problema para mim, pois me
visto e me apresento assim também. Harry e eu viemos do mesmo
lugar, North Shore, em Boston. Crescemos a cerca de 8km de
distância um do outro e nossa diferença de idade é de 25 anos.
Ele continuou a falar sobre números, parâmetros, etc. Como meu
objetivo era entrevistá-lo para a importante função de meu médico,
perguntei:
– Afinal, qual é a área da medicina que mais o atrai?
– O que realmente aprecio é o conceito de relacionamento de longo
prazo com os pacientes e a possibilidade de mantê-los a ter uma
vida melhor, e não apenas a ficarem bons disso ou daquilo.
– O que você quer dizer com isso? – perguntei.
– Sempre me interessei por gerontologia, pela questão do
envelhecimento, assim como pela clínica geral. Na realidade, sou
diplomado nessas duas áreas, embora não saiba dizer exatamente
em que medida a gerontologia está separada da clínica geral. –
Nesse momento, ele se virou e, com toda a calma, deixou cair a
bomba. – Minha única certeza é de que existe uma revolução
fundamental acontecendo no que diz respeito ao modo como as
pessoas envelhecem. – Fez uma pausa e começou a falar sobre a
questão da curva lenta e contínua que vai dos 50 anos até a morte,
por um lado, e do novo patamar, por outro. Traçou as linhas no ar
com a mão. – E você, Chris, pode estar no limiar dessa mudança.
– Eu?
– Sim. Com base nos seus dados pessoais e no resultado dos seus
exames. Ah! Você não fuma. Com esses resultados e o hábito de
praticar exercícios físicos mais intensos, tem condições de
continuar do jeito que está hoje, até completar, digamos, 80 anos.
Talvez 90. Na realidade, se fizer umas poucas coisas, conseguirá se
tornar funcionalmente mais jovem. Você está em melhor forma do
que a maioria dos homens que vem aqui pela primeira vez. Mas
poderia ficar mais jovem no ano que vem em todos os aspectos que
interessam. Mais novo no próximo ano. E por alguns anos mais.
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Eu me levantei e me aproximei dele.
– Verdade?
– É claro. Você esquia. Pois bem, poderá continuar a esquiar muito
durante seus 70 anos. Só diminuirá um pouco o ritmo a certa altura
dos 80 anos. Quanto a andar de bicicleta, isso você fará para
sempre. Claro, por fim, sofrerá um certo declínio. Porém,
basicamente, até chegar aos 80 anos ou mais, será capaz de
permanecer tão atlético, vigoroso e ativo quanto foi aos 50 anos. E
nos primeiros cinco ou mais anos, conseguirá ficar funcionalmente
mais jovem.
– O que devo fazer?
– É difícil resumir, contudo existem três fatores fundamentais
envolvidos nessa questão: exercícios, nutrição e compromisso. O
elemento mais importante e o que proporciona a maior mudança
para as pessoas é a prática de exercícios. É o segredo para se ter
saúde. Você deve se exercitar de maneira intensa quase todos os
dias da sua vida. Digamos, seis dia por semana. E realizar um
treinamento de força, com pesos, a chamada musculação, em dois
desses seis dias. A atividade física é a grande chave no processo
de envelhecimento. Esse longo deslizamento poderá simplesmente
desaparecer. Ou fazer o movimento inverso por algum tempo. E
você terá condições de continuar a ser aquilo que é pelo resto da
vida.
Eu tinha mais umas 500 perguntas na ponta da língua. Mas,
contrariando o hábito, fiquei sentado, esperando.
Harry prosseguiu.
– A nutrição também. Você deveria se alimentar do jeito certo, mas
provavelmente não faz isso. Se possível, procure voltar para seu
peso ideal. Você está com 88Kg – disse ele enquanto lia esse dado
na tela do computador.
– Qual é seu peso ideal, uns 80Kg?
– Acho que 75Kg, talvez menos. Durante a faculdade fiz um pouco
de remo e pesava 70KG. Consegui me manter assim até os 40
anos.
– Se você for capaz de chegar a 77Kg, será ótimo. De qualquer
modo, não se preocupe muito com isso. Seja qual for seu peso, o
mais importante é se exercitar e depois aprender a comer de forma
sensata. Pare de consumir aquelas coisas que você sabe que
fazem mal, como fast-food, gorduras em excesso e carboidratos
simples. E reduza as porções de tudo.
Ele disse que meu peso baixaria com o tempo se eu me exercitasse
e deixasse de comer bobagens.
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– E quanto aos genes? Pensei que tudo já estivesse decidido desde
que nasci e que só me restava aguardar a derrota.
– Não – afirmou Harry enfaticamente. – Isso é um grande mal
entendido e uma desculpa vergonhosa. Os genes representam no
máximo 20% dessa questão. O resto é definido pela própria pessoa.
– e a bebida?
Ele olhou de novo para a tela do computador.
– Bebedor social! – disse ele, lendo o questionário que preenchi. –
Duas doses por noite. – E, então, entraram em cena suas boas
maneiras. Em vez de se debruçar por cima da mesa e me chamar
de mentiroso, Harry apenas falou do hábito saudável de consumir
uma ou duas taças de vinho. Mais do que isso passa a ser
prejudicial. Muito mais do que isso se torna uma tremenda bomba.
Obviamente.
– Compromisso. – Ele encolheu os ombros como se quisesse
demonstrar que esse era um assunto mais difícil de abordar. – A
questão é a seguinte: você tem que se envolver com outras
pessoas. E deve escolher algo a que possa se dedicar: metas,
ações de caridade, família, trabalho, hobbies. Especialmente depois
da aposentadoria, será fundamental que arregace as mangas e
assuma o controle da sua vida. De outro modo, as coisas poderão
tomar um rumo desfavorável. – Harry parou, olhou em volta e disse:
– Deve ser algo específico para seu caso, não dá para generalizar.
É necessário que haja pessoas e causas com as quais você se
importe. Tanto faz que causas sejam essas. Elas não precisam ser
lucrativas nem de interesse para a sociedade, mas devem ter valor
para você. É essencial que existam pessoas com quem você se
preocupe e algo que lhe dê razão para viver. Senão – um pequeno
sorriso –, você morrerá.
– Isso é tudo? – perguntei.
– Em resumo, sim.
– Muito bem. – E me aprontei para sair. – Quantos exercícios? E o
que devo comer?
Mas isso está ao longo do livro. Você vai gostar. Salvará sua vida.
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CAPÍTULO 2
COMO ESTÁ SUA MULHER?
Chris Crowley
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foi antes, agora a situação é outra. Hoje eu sei que nessa nova fase
da sua vida – chegando aos 60 ou 70 anos e já pensando na
aposentadoria –, será muito mais fácil se você tiver uma
companheira. E se ela tiver você.
Caso não haja ninguém ao seu lado ou se a relação que você tem
é um verdadeiro horror, tudo bem. Este livro não foi escrito apenas
para pessoas casadas. Existem caminhos alternativos. Amigas
servem. Uma amiga apenas, bem íntima, pode operar milagres.
Redes de almas gêmeas também, especialmente se vocês
estiverem ligados por uma grande paixão por algo. O grande
segredo é estar interagindo com alguém para que você tenha algum
tipo de apoio quando entrar nessa nova etapa da vida. Nós fomos
criados para viver aos pares. Os solitários se resfriam, sobretudo
quando o inverno está chegando.
Mais adiante, Harry apresentará dados muito interessantes sobrfe
como os mamíferos são inteiramente voltados para a vida em
grupo. Ele mostrará como nosso cérebro funciona nesse sentido. É
algo estranho, mas verdadeiro. A disposição para agir aos pares e
em equipe está profundamente enraizada no nosso corpo e na
nossa mente. Não há como fugir disso. Portanto, voltemos à
pergunta inicial: como está sua mulher? Ou sua companheira ou
sua amiga íntima? E preste atenção neste excelente conselho: se
você estiver vivendo uma relação especial, não a destrua durante o
turbilhão de mudanças que surgirá na fase da aposentadoria. Você
precisará dela.
Considero importante mencionar esse detalhe porque,
surpreendentemente, existem muitos homens que agem da forma
errada. Relacionamentos que duraram 30 anos ou mais desabam
de repente quando os parceiros chegam à faixa dos 50 ou 60 anos.
As pessoas desistem no momento exato em que sua relação
poderia se tornar algo de fato muito bom. Talvez isso seja uma
conseqüência do fato de elas agora estarem passando muito mais
tempo juntas ou do estresse causadoi pela aposentadoria. Nem
sempre, porém, a separação é uma grande idéia, pois, nessa fase,
todos nós, precisamos de uma boa companhia e de raízes
profundas. Essa é uma época em que muitas raízes estão sendo
arrancadas e as coisas começam a parecer assustadoras.
Sou um otimista e você também deveria ser. É a melhor maneira
de encarar a vida. Vou ser franco mais uma vez: fazer 60 anos
poderá ser um momento muito ruim se você não se cuidar. E
mesmo que se cuide. Pense no seguinte: muita gente morre nessa
faixa de idade. Não por atropelamento nem por cair da bicicleta, e
sim por causas seminaturais, como problemas cardíacos ou
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algum tipo de câncer. Mas é improvável que você morra cedo, claro.
Especialmente se fizer tudo aquilo que eu e Harry recomendamos.
A morte chegará, sem dúvida. E essa idéia o deixará desalentado.
O fará escutar o barulho de uma cachoeira lá longe. E você se
perguntará o tempo todo: que som é este? Como se não soubesse,
tomado, tomado de medo, de muito medo. Uma das regras básicas
deste livro é: seja homem, faça o que tem que fazer, aproveite tudo
até o fim. É um grande conselho, porém difícil de seguir. Embora
seja possível enfrentar a cachoeira sozinho, será mais fácil passar
por isso na companhia de alguém, de preferência ao lado de uma
pessoa que você conheça a fundo. Sobretudo quando estiver
deitado, escutando o barulho da cachoeira à noite. Nós somos
animais gregários. Aninhe-se.
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o que aquela antiga e querida empresa para a qual você trabalha
fará. As pessoas ali querem vê-lo longe amanhã mesmo e vão
conseguir o que desejam. E com uma surpreendente rapidez. De
um dia para o outro, você perderá seu papel de elemento
fundamental naquela organização social complexa, isto é, deixará
de ser um membro da turma. Talvez o transformem em consultor ou
o admitam no escritório de vez em quando. Mas isso não interessa
mais, você já é parte da história. Eles vão lamentar sua situação por
cerca de 30segundos e seguirão em frente. Como se você já
estivesse morto.
É duro. Toda aquela estrutura de apoio, toda aquela rede de
colegas, de amigos e inimigos, o grande centro da sua vida: tarefas
a executar, conquistas das quais se orgulhar, acontecimentos a
temer, situações em que está indo bem e outras às quais não está
se conseguindo se ajustar. Tudo isso desaparece num piscar de
olhos. E não resta muito mais na nossa sociedade com que
possamos preencher este espaço vazio. Precisamos de mudar a
maneira de organizar a sociedade para termos condições de
aproveitar melhor o último terço da nossa existência.
Para o bem ou para o mal, você terá que inventar uma nova vida
num mundo desconhecido e muito estranho – você e sua
companheira, se possuir uma. Talvez pensem em se mudar, quem
sabe para uma pequena cidade de praia ou para o interior. E a nova
casa terá que durar um bom tempo. Antigamente, os homens
morriam poucos oanos depois de se aposentar, no entanto essa
realidade mudou de forma drástica em muitos países.
Caso você tenha a sorte de estar num relacionamento que
consegue suportar alguns fardos – ou se vocês forem capazes de
reinventar o que construíram juntos de modo que possam agüentar
o tranco –, o mais provável é que os dois se tornem o elemento
principal na vida um do outro por um longo tempo. Talvez pelo resto
dos seus dias. Assumirão esse papel em termos de companhia, de
parceria, de encorajamento – enfim, em todos os aspectos da vida.
Para um grande número de homens, isso corresponderá a uma boa
parte da estrutura social por um período considerável. É claro que o
melhor dos relacionamentos do mundo não pode ser um substituto
para tudo aquilo que o trabalho proporcionava. Seria uma loucura
pensar assim. Mas ele será o fator principal quase com certeza.
Portanto, trate de iniciar as negociações emocionais o mais rápido
possível. Vocês agora são verdadeiros sócios, independentemente
do que tiverem sido no passado. Falem um com o outro de
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maneira franca e procurem saber quem está mais interessado em
fazer o que, isto é, que cargas cada um deseja e consegue
carregar.
E façam coisas novas em dupla. Pensem, por exemplo, nas
orientações sobre a prática de exercícios físicos que Harry e eu
apresentaremos neste livro. Se houver uma chance no mundo de
que o executem juntos – ou pelo menos uma parte deles –, isso
será suficiente para transformar esse compromisso num prazer
maior e numa tarefa muito mais fácil de cumprir. Você poderá
pensar: “O problema é que minha companheira não gosta dessas
coisas”. Ou: “Ela jamais conseguiria levar isso adiante.”
Talvez você tenha razão. Talvez não.
Vou dar um exemplo. Quando minha mulher, Hilary, e eu nos
conhecemos, a piada corrente era de que ela jamais saia de casa,
exceto para ir a clubes, e sempre se vestia de preto. Depois de nos
mudarmos para o Colorado, Hilary despiu-se rapidamente da
pessoa que era, tal qual o Super-Homem mudando de roupa numa
cabine telefônica. De um momento para o outro, começou a esquiar,
a caminhar, a andar de bicicleta e sabe Deus o que mais. Ela não
se tornou uma “atleta”, muito menos eu. Mas decidiu praticar
atividades físicas. Quando voltamos para o leste e eu passei a
seguir o que chamo de Regras de Harry, Hilary estranhou no início.
Depois, porém, aderiu aos exercícios, e hoje fazemos uma boa
parte deles na companhia um do outro, uns dois dias por semana. É
até difícil descrever como é muito melhor me exercitar com ela.
Não tenha tanta certeza de que sua companheira rejeitará os
exercícios. Talvez ela o esteja enganando. Na terceira idade, há
coisas importantes que ela fará melhor que você. Por exemplo:
estabelecer novas amizades, manter vivo o contato com os filhos e
os netos para que você possa ser útil a eles e buscar
relacionamentos e compromissos que sejam positivos para os dois.
Essas e outras áreas essenciais em que ela será capaz de carregar
uma boa carga
Apóiem-se um no outro
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cionamento. É o que costuma acontecer agora: ambos assumem
funções essenciais para trocar sua nova vida, de tal maneira que
passam a se respeitar mais e a demonstrar mais atenção um com o
outro. Simplesmente cuidam-se mais mutuamente do que faziam
antes. A propósito, nessa altura da vida o fluxo de testosterona
diminui um pouco. Isso ajuda.
Mais um momento de franqueza. Com a idade, alguns homens
chegam a pensar em abandonar o relacionamento por acharem sua
mulher muito envelhecida fisicamente. Como se eles ainda fossem
bonitões, como se sua barriga proeminente, sua careca e seus
dentes amarelados não existissem. Seja como for, isso acontece.
Há uma crença de que nós conseguimos envelhecer em melhor
forma do que as mulheres. Não quando estamos morrendo. É
evidente. E isso acontece conosco em média cinco anos mais cedo
do que com elas! E não ficamos mais bonitos quando estamos
mortos, embora muitos homens costumem se esquecer disso.
Pensam que são galãs de cinema e que viverão para sempre. Não
passa por sua cabeça que estão envelhecendo também, e tudo o
que desejam é dar o fora.
Esse sentimento lastimável, provavelmente uma projeção dos
seus próprios medos em relação ao que está acontecendo com
eles, não é uma boa base para ação. Neste livro, eu e Harry não
falamos nada a respeito de divórcio, de esposas jovens e assuntos
desse tipo. São questões muito pessoais. No entanto, temos uma
idéia. Em vez de você e sua mulher ficarem sentados em silêncio,
dando espaço para o desânimo enquanto observam o que está
errado com cada um dos dois em termos físicos, por que não se
concentram no vigor que ambos ainda têm? Que tal dizerem !Sim!”
um para o outro nesse momento crucial, quando ainda estão em
condições de fazer isso? Por que não reforçam o estoque do que
existe de melhor e mais forte entre vocês e reafirmam seu
compromisso com a vitalidade recíproca?
De qualquer modo, observe que há limites para o que sua
companheira pode fazer por você. Caso esteja na faixa dos 40 anos
e ainda cheio de si, talvez não acredite nisso, porém existe o risco
de você tentar se apoiar excessivamente no seu relacionamento
quando estiver passando pelos primeiros estágios da
aposentadoria. Os homens – mesmo os fortes, como você e eu –
adotam uma atitude tola quanto à necessidade de se preparar para
a aposentadoria. Em geral, nos negamos a fazer isso. Por isso,
quando esse dia chega, muitos de nós voltam para casa com algo
parecido com lágrimas nos olhos, na esperança
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de que nossa companheira assuma toda a responsabilidade de nos
manter interessados na vida, amados e entretidos. Desculpem,
senhores, mas as mulheres não podem se encarregar disso. Não só
não podem como não devem aceitar esse obrigação, mesmo que
sejam loucas por seus maridos ou companheiros.
Você terá que se dedicar a renovar contatos e compromissos para
que sua vida siga em frente. Precisará exercitar seus encantos, sua
persuasão, seus talentos, sua capacidade de se entusiasmar diante
de algo e de despertar o interesse de outras pessoas por isso
também – atributos desenvolvidos durante toda uma vida – da
mesma forma que deverá fazer exercícios físicos. Quanto mais
ampla e variada sua maneira de administrar seus relacionamentos e
se comunicar com as pessoas antes da aposentadoria e durante
esse período, mais preparado você estará para enfrentar essa nova
situação.
Mas tudo isso é, por enquanto, uma questão secundária. A regra
básica para este capítulo em particular é a seguinte: entre em
contato com sua mulher, companheira ou melhor amiga. Revitalize,
reestruture e fortaleça essa relação, seja ela qual for. E avancem os
dois para a terceira idade como parceiros plenos, como novos
moradores num ambiente hostil. Se fizerem essa caminhada juntos,
ela será muito mais divertida e seu desfecho será bem melhor.
Comece por este livro. Peça à sua companheira que o leia e
troquem impressões. Utilizem as idéias de Harry sobre a biologia
evolutiva para induzir seu corpo e sua mente a se manterem fortes
pelos próximos 30 anos. Essa é uma história romântica,
surpreendente depois de todos esses anos. E vocês estão nela
juntos.
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CAPÍTULO 3
A NOVA CIÊNCIA
DO ENVELHECIMENTO
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vida, de repente, tomou um rumo triste e irreversível. Fiquei cada
vez mais convencido de que a maior parte dessas conversas estava
acontecendo antes da hora apropriada. E por motivos evidentes e
que poderiam ser evitados.
Não que eu tivesse fornecido diagnósticos errados ou falhado na
identificação de algo nas radiografias. Pelo contrário, eu havia feito
o que os médicos em geral sabem fazer muito bem: tratar as
pessoas quando elas chegam ao seu consultório já doentes. Assim,
concluí que, embora meus pacientes tivessem recebido boa
assistência médica, eles não haviam tido grandes cuidados de
saúde. Na maior parte dos casos, a decadência e os males físicos
eram resultantes de 30 anos de problemas ocasionados pelo seu
estilo de vida, e não por doenças. Como a maioria dos médicos do
meu país, eu vinha realizando com toda a competência um trabalho
equivocado. A medicina moderna não tem se preocupado o
suficiente com as complicações decorrentes do estilo de vida.
Os médicos não costumam tratar desse assunto e as faculdades
ensinam pouco a esse respeito. Comecei a perceber que não havia
justificativa para isso. Sempre me dediquei ao estudo dessas
questões, porém jamais as tornei o ponto mais importante. E muitos
dos meus pacientes, incluindo pessoas extremamente inteligentes e
capazes, estavam vivendo de forma péssima. Alguns deles já
estavam morrendo.
Na revisão que fiz dos meus 10 anos de experiência profissional,
cheguei a mais conclusões. A maior parte da medicina moderna
é aquilo que os advogados e banqueiros costumam chamar de
transacional: um negócio que é feito apenas uma vez. Após
sofrer um ataque do coração ou fraturar um joelho, a pessoa
procura um especialista. O médico a submete a um período de
tratamento intensivo de recuperação ou de cura para aquele
problema específico. Depois disso, as partes se separam e seguem
por caminhos distintos, em geral para sempre.
Observei que, no meu consultório, a situação era outra. Eu tinha
relacionamentos de 20, 30 anos com os pacientes, e isso é uma
das melhores coisas para um clinico geral. O privilégio de
acompanhar a vida das pessoas por um longo período me coloca
numa posição diferente em relação a meus colegas especialistas.
Estou “a par” de como meus pacientes estão vivendo e de como
estão morrendo. Estou “a par” de que estilo de vida adotado hoje
em dia é perigoso e, por vezes, letal, sobretudo durante a
aposentadoria. Estou “a par” de que, por melhor que seja a
assistência médica, todos nó
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pecisamos de grandes cuidados de saúde. E são muito poucos
aqueles que recebem esse benefício.
Não há justificativa para o fato de que a sociedade, sofrendo com
as pragas do aumento dos custos médicos e das epidemias de
obesidade, de doenças cardíacas e de câncer, dedique tão pouca
atenção a esse assunto. Sabemos perfeitamente o que precisa
ser feito. Nos Estados Unidos, cerca de 70% dos casos de morte e
envelhecimento prematuros estão relacionados com o estilo de
vida. Derrames, ataques cardíacos, tipos comuns de câncer,
diabetes e a maior parte das quedas, das fraturas e dos ferimentos
graves, além de muitos outros males, são causados sobretudo pela
maneira como vivemos. Se tivéssemos uma forte determinação,
poderíamos evitar a ocorrência de mais da metade de todas as
doenças que acometem homens e mulheres com mais de 50 anos.
Não estou falando em adiar, mas em evitar. Em vez disso, porém,
tornamos esses problemas invisíveis, deixando que permaneçam
como parte da paisagem “natural” do envelhecimento: Ah, isto já é
velhice natural chegando.”
Quanto mais observo a ciência, mais se torna claro para mim que
essas doenças e a deterioração física não são uma parte normal do
envelhecimento, e sim um ultraje. Acabamos por nos habituar a
essa situação porque nivelamos a meta vergonhosamente por
baixo. De modo inconsciente, muita gente acredita que “vai
envelhecer e morrer”; uma expressão, quase uma só palavra e, sem
dúvida, um conceito sem fundamento. Essas pessoas crêem que
morrerão logo depois que ficarem idosas e frágeis, portanto não se
importam com a queda da sua qualidade de vida. Essa é uma idéia
totalmente errada e uma premissa perigosa que não deve constar
do planejamento da sua vida. Na verdade, é possível “envelhecer e
viver”. Se você quiser, poderá ficar decrépito, porém talvez não
morra logo. Pode ser que chegue aos 90 anos, o que é uma boa
razão para tornar a última parte da sua existência uma época
formidável, e não uma triste combinação de obesidade, articulações
doloridas e apatia. O “envelhecimento normal” é intolerável e pode
ser evitado. Temos como nos proteger de grande parte das piores
coisas e envelhecer não apenas dignamente, mas com verdadeiro
prazer.
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Essa foi minha epifania: “Como médico, não posso ficar
sentado sem fazer nada, apenas olhando para as pessoas com
as quais me preocupo enquanto elas despencam ladeira
abaixo na direção de um lugar horroroso. Qual o mérito de
esperar o carro bater para depois fazer um bom trabalho no
tratamento dos feridos e moribundos? Se 50% das doenças
graves que vejo podem ser evitadas, então meu trabalho terá
que ser de prevenção.”
Desde então, adoto com cada um dos meus novos pacientes a
mesma linha de conversa que tive com Chris. Sempre que um deles
se mostra receptivo de algum modo, dou início a um novo trabalho.
A grande notícia é que a maioria das pessoas compreende esse
raciocínio, e muitas delas já estão seguindo firmes na trilha que leva
ao rejuvenescimento.
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E o problema está justamente nisso. O corpo e os cérebros são
perfeitos para desempenhar suas funções naturais, mas nenhum
deles foi “prejetado” para a vida moderna e seus elementos típicos,
como fast-food, televisão e aposentadoria. Eles foram criados para
a vida na natureza, um ambiente onde só os mais capazes
conseguiam sobreviver. A maioria das partes do corpo humano tem
tanto a ver com um shopping center quanto um tigre-de-bengala.
Deixados à mercê dos seus próprios mecanismos, o corpo e os
cérebros sempre interpretarão de forma errada os sinais do século
XXI.
A decadência é opcional
Pág
o mais rápido possível. Do ponto de vista das espécies, passados
os anos reservados à gestação e ao cuidado com as crias, essa é
uma boa maneira de envelhecer. Viver desse modo requer menos
quantidade de comida e, evidentemente, a morte chega mais cedo,
fazendo com que sobrem mais alimentos para a nova geração.
Esse é o código darwiniano relativo ao envelhecimento. Foi assim
que a natureza “projetou” o corpo e é por isso que a decadência se
torna um pouco mais intensa a cada ano. É o chamado ciclo da
vida. Isso lhe parece bom, já que você está prestes a entrar nessa
fase?
Talvez não. Do ponto de vista individual, ou seja, do ponto de vista
de cada um de nós, existem problemas. Por outro lado, esse é um
modo apavorante de viver e, por outro, faz sentido. Estamos numa
época em que podemos controlar a temperatura da nossa casa, e
não mais na idade do gelo. Hoje a maioria de nós tem à disposição
comida suficiente, e não de menos. Então, se o frio e a fome
paralisantes não existem mais, por que o corpo não se ajusta a
essas novas condições e descarta a semi-hibernação defensiva?
Acontece que foi há pouco mais de 100 anos que nos livramos
desses dois grandes motivos de tensão – sem dúvida, um tremendo
acontecimento no que se refere ao desenvolvimento humano, mas
algo insignificante em termos de tempo na evolução da nossa
espécie. Nossos mecanismos fisiológicos não se adaptaram de
forma nenhuma ao mundo moderno da aposentadoria nem vão se
adaptar. Na verdade, eles não apresentam a mínima mudança em
relação aos sistemas que foram criados há milhões de anos para
funcionar num mundo hostil, cheio de perigos, e onde nunca havia
alimentos na quantidade necessária. As alterações evolutivas são
possíveis, no entanto, somente em milhões de anos. Por isso,
talvez você prefira pensar em outras saídas. Pode ser que queira
enfrentar desde já seu velho corpo darwiniano e saber que recursos
estão ao seu alcance para forçar algum tipo de adaptação enquanto
ainda está em condições de fazer isso. Lembre-se: sem sua
interferência, seu corpo continuará a interpretar mal os sinais da
vida moderna. Ele colocará em ação o esquema “padrão de
decadência” e começará a se deteriorar, a morrer. Para entender
por que isso acontece, você precisa conhecer os bons e os maus
tempos na natureza e aquilo que nossos ancestrais faziam para se
ajustar a eles, utilizando os mecanismos e sinais que ainda
trazemos conosco.
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Primavera na savana
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Este livro lhe mostrará como alcançar esse patamar. Antes,
porém, eu o convido a dar uma olhada no lado ruim da história, na
maneira como vivemos hoje. Pense no estilo de vida moderno com
seus elementos característicos: comida prejudicial, muitas horas
diante da televisão, longos deslocamentos para chegar ao local de
trabalho, estresse profissional e conjugal, noites maldormidas, luz
artificial, excesso de barulho e, talvez o pior de tudo, falta de
exercícios físicos. E há também a aposentadoria, uma situação
em que o estresse gerado pelo trabalho e o tempo gasto nos
transportes urbanos costuma dar lugar ao tédio e à solidão.
Primavera na savana? Dificilmente. Na natureza, esse estilo de vida
emite sinais de perigo de morte, e o corpo e o cérebro reagem
efetuando mudanças extremas.
Há um paradoxo que precisa ser obrigatoriamente entendido: o
excesso de calorias e a falta de exercícios são uma indicação para
o corpo de que existe uma expectativa de fome à qual poderemos
não sobreviver. Em resposta a esse perigo, o corpo e o cérebro
entram num tipo de depressão de baixa intensidade. Por ironia, a
depressão é normal na natureza. É uma estratégia extrema de
sobrevivência. Peço a você que agora pense na natureza tal como
ela é – não nos maravilhosos crepúsculos e nos passarinhos
cantando no jardim, mas nos campos de matança. Um cenário onde
50% dos filhotes de antílopes são devorados por coiotes nas duas
primeiras semanas de vida, onde matar ou morrer não é uma
probabilidade remota, e sim um acontecimento diário. Nessa
natureza não existe margem para erro, por menor que seja. Ajustar-
se aos bons tempos é fácil. Adaptar-se aos maus tempos – à seca,
ao inverno e ao perigo – é uma questão crítica. Animais mortos não
se reproduzem.
Então, o inverno chega à tundra. A maior parte da pouca comida
que o corpo conseguiu estocar como energia é queimada com o
tremor causado pelo frio apenas para mantê-lo vivo. Tem início a
longa fome de inverno. No transcorrer daqueles meses, o corpo
definha até ficar pele e osso. A gordura “armazenada” vai
desaparecendo no combate ao frio e à fome. A vida está presa a
uma lenta corrida contra a morte, à espera da primavera.
O que temos dificuldade de entender hoje é que essas imagens
que acabei de descrever foram uma parte normal da experiência
humana e que o mecanismo de usar a depressão como defesa
extrema está entranhado em nós até os ossos. Nossa espécie o
utilizou em todos os invernos e períodos de seca e fome. Entrar em
depressão nos permitiu sobreviver. Não estou me referindo
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à depressão clínica, que é tratada com remédios, mas à depressão
para a sobrevivência: aquela em que desaceleramos o
metabolismo, criamos reservas de gordura, batemos em retirada,
nos voltamos para dentro de nós mesmos, hibernamos e reduzimos
tudo ao mínimo. O momento em que nos fechamos inteiramente,
deixando que todos os sistemas, com exceção daqueles que são
essenciais, declinem e se atrofiem.
Na realidade, o estresse crônico – tanto o físico quanto o mental –
funciona dessa maneira. Ele adverte o corpo de que o ambiente
mudou para pior e que estamos diante de um longo desafio à
sobrevivência. A depressão de baixa intensidade combinada com a
decadência física é o estado de saúde preferido do corpo para
enfrentar uma situação desse tipo. A questão é que os sinais desse
estado de saúde são mais ou menos iguais aos que caracterizam o
estilo de vida adotado na aposentadoria: sedentarismo, ausência de
contatos sociais e ingestão de tudo que está à mão. Essas são as
indicações primárias da fome ou do inverno, e o corpo manifestará
uma reação. E ele responderá a esse comportamento com a
certeza inabalável adquirida ao longo de bilhões de anos de
sobrevivência.
O sinal mais importante da decadência é o sedentarismo. O
corpo está atento àquilo que fazemos, ao nosso comportamento
físico, todos os dias, como se fosse uma ave de rapina. Na
natureza, nada justifica o sedentarismo, exceto a falta de comida.
Vale lembrar que nossa espécie se desenvolveu na África. Embora
houvesse muita caça naquele ambiente, a comida apodrecia em
poucas horas. Não havia geladeira, lojas de conveniência nem
pipoca para microondas. Nossos ancestrais precisavam se levantar
e caçar durante horas diariamente. O único motivo que impedia
essa busca por alimento era a inanição. Assim, não importa quanto
comemos: é essa a informação que estamos dando ao corpo cada
dia que passamos sem nos exercitar. E nessas ocasiões lhe
dizemos que está na hora de envelhecer. De apodrecer. De entrar
em depressão pela sobrevivência – de reduzir a energia, de ficar
apático. É o momento de armazenar cada grama excedente de
comida como gordura, de baixar a atividade do sistema imunológico
e de deixar que a musculatura e as articulações se enfraqueçam. É
hora de encontrar uma gruta, encolher-se num canto e começar a
tremer.
E tudo isso começa de repente, porque os sinais de decadência
são enviados sem parar, não importa o que façamos. Essa é a maré
mencionada por
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Chris. Os tecidos do corpo e os circuitos neurológicos estão sempre
tentando se deteriorar. Os músculos, os ossos e o cérebro
procuram continuamente se derreter tal qual um sorvete ao sol. Se
não conseguimos enviar nenhuma indicação de crescimento, os
sinais da decadência vencerão. A boa notícia é que esses sinais,
embora constantes, são fracos, enquanto até uma modesta
indicação de crescimento – um exercício razoável, uma boa
caminhada – ajuda a reverter a situação. Portanto, a questão é a
seguinte: você precisa fazer uma atividade física todos os dias para
dizer ao seu corpo que é “primavera”. Essa é a chave desse livro.
Não é complicado, mas você terá que se exercitar com grande
freqüência.
Tenha em mente que decadência e envelhecimento biológico não
são a mesma coisa. A decadência manifesta-se num conjunto de
males causados pelo nosso atual estilo de vida sedentário. Ela se
desenvolve quando entramos numa lanchonete para engolir
rapidamente uma comida gordurosa e todas as vezes que abrimos
mão de nos exercitar e ficamos em casa sozinhos. Começa quando
desistimos de viver e assumir compromissos. Contudo, ela pode ser
interrompida ou desacelerada significativamente com a utilização
dos mecanismos darwinianos de que falei. O envelhecimento é um
efeito da natureza, enquanto a decadência é algo que podemos
controlar.
A era da informação
Livro:
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