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Concepções Teóricas e Práticas Na Produção Textual
Concepções Teóricas e Práticas Na Produção Textual
2010
RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre a distino entre atividade e exerccio no ensino
de lngua portuguesa. Primeiramente, examinaremos as referidas noes luz de algumas tendncias
pedaggicas; em seguida, analisaremos as proposies de manuais acerca dos conceitos mencionados e,
finalmente, utilizaremos as reflexes obtidas a partir da observao de uma sala de aula de uma escola
pblica do ensino fundamental. Esse estudo nos leva a concluir que o trabalho com a escrita em sala de aula
de lngua portuguesa privilegia o exerccio e, consequentemente, uma viso de lngua fragmentada e
sobretudo normativa.
Palavras-chave: atividade; exerccio; ensino de lngua portuguesa.
RESUME: Ce travail a pour objectif de rflchir sur la distinction entre activit et exercice dans l
enseignement de Langue Portugaise. Premirement nous examinerons ce sujet la lumire de quelques
tendances pdagogiques actuelles; ensuite nous analyserons les propositions des manuels ce sujet et
finalement nous utiliserons les rflexions obtenues partir de lobservation dune salle de classe de l
enseignement public (8e anne au Brsil). Cette tude nous mne conclure que le travail avec lcriture
en salle de classe de Langue Portugaise (langue maternelle) privilgie lexercice et, par consquent, une
vision de langue fragmente et surtout normative.
Mots-Cls: activit, exercice, enseignement de langue portugaise.
INTRODUO
Durante muito tempo tem-se interrogado sobre a prtica de produo escrita na escola,
sobretudo, em sala de aula de lngua portuguesa (Cf. ILARI, 1986, GERALDI, 1984, 1993,
1996 e 1997, FARACO, 1984, dentre outros). O que se tem obtido como resposta, na maioria
das vezes, ainda parece ser o seguinte: nossos alunos, em sua maioria, sobretudo os de
nvel fundamental, apresentam inmeras dificuldades para produzir textos em gneros e
tipos diversificados. Quando diante de uma situao que lhes exige a utilizao da escrita
como manifestao de suas opinies, valores, crenas, alegam que no sabem escrever e/
ou no gostam de faz-lo. Associada a isso, pode ser observada, tambm, a insatisfao de
professores ao dizerem que seus alunos no escrevem com coeso ou coerncia, no tm
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Contra tal ativismo, Jesus (op. cit., p. 76-77) ressalta que Gramsci (1977) julgava como
primordial que se priorizasse a criatividade em detrimento da atividade, pois esta, como
proposta pela Escola Nova, implicaria um conformismo por parte do professor ao considerar
o dinamismo de seus alunos. Segundo Jesus (op. cit., 76-77),
A escola ativa, embora o nome implique ao, movimento, poderia existir sem que fosse
comprometida a formao do aluno. Gramsci queria se precaver contra as teorias das escolas
novas (do movimento escolanovista) que viam, em primeiro plano, a atividade da criana.
Seu objetivo era superar o estgio da atividade da escola pelo da criatividade, pois sabia que em
uma escola sem criatividade o aluno poderia ser uma marionete muito ativo [si.].
Disso podemos depreender que o termo atividade, como concebido pela escola nova,
reduz, de alguma forma, a relao professor-aluno ao binmio aluno-aprendizagem, na
hiptese de esta ltima ser concretizada. Tal perspectiva liberal tradicional, em que,
geralmente, o papel do aluno se restringia passividade em detrimento da importncia dada
ao professor como detentor de um poder e conhecimento incontestveis. No mbito da
tendncia tradicional, segundo Luckesi (1994, p . 57),
a reteno do material ensinado garantida pela repetio de exerccios sistemticos e
recapitulao da matria. A transferncia da aprendizagem depende do treino; indispensvel
a reteno, a fim de que o aluno possa responder s situaes novas de forma semelhante s
respostas dadas em situaes anteriores [grifos nossos].
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Vale ressaltar que, nos livros didticos por ns pesquisados, no encontramos nenhum tipo de
exerccio baseado nos pressupostos tericos do Programa de Investigao da Gramtica Gerativa. O que
nos leva a inferir que tais exerccios ocorreram de forma acentuada quando do incio e efervescncia da
teoria Chomskyana. (Cf. ROULET, 1978).
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A esse respeito ver tambm o que diz Marcuschi (2001, p. 51) a respeito dos diversos ttulos
(denominaes) dados sesso de compreenso dos livros didticos de lngua portuguesa.
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Exemplos retirados do livro de CCCO, M.F.; HAILER, M. A. (1995, p. 35-36). Tais exemplos
giram em torno do trabalho com o texto Eroticidade, de PALCIOS, Z. Revista Mundo jovem. Rio
Grande do Sul, julho de 1986. Cf. pginas 3 e 4 fundamentao terica acerca do Socioconstrutivismo
apresentada pelos autores no item Orientaes para o professor.
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Exemplos retirados do livro de TIEPOLO, E. V. et al. Linguagem e interao. V.7. Curitiba:
Mdulo, 1999.
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Vejamos, ento, um dos textos produzidos a partir do que foi solicitado pela professora:
Benedito. Sr. Professor do colgio Afrnio
XXXXXX da Silva
Baseados na distino que estabelecemos entre atividade e exerccio, podemos dizer
que o texto em anlise apresenta indcios que tendem mais ao exerccio do que atividade,
sendo cobrado do aluno como verificao de sua aprendizagem acerca do gnero textual
em questo. Isso se explica pelo fato de os alunos apenas substiturem, na maioria das
vezes, os dados pessoais, deixando, em muitos casos, a mesma justificativa, o mesmo tipo
de destinatrio e o mesmo pedido. No texto acima apresentado, vimos que a aluna acata,
exatamente, a sugesto da professora, ao fazer uma solicitao para fazer uma prova de
recuperao. notrio ainda que a aluna no se atenta para o fato de que o gnero
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lares 2.
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Schneuwly & Dolz argumentam em torno da existncia de gneros escolares 1 e gneros esco-
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5. CONSIDERAES FINAIS
Diante do que foi observado, podemos dizer que o trabalho com a produo escrita
em sala de aula de lngua portuguesa esteve voltado, na maioria das vezes, ao exerccio,
tendo em vista um fim especfico, desarticulado, muitas vezes, de uma funo social mais
ampla, bem como desarticulado da perspectiva de conceber os alunos como sujeitos
produtores de textos para agir no mundo, para ser cidados de suas aes (ZOZZOLI,
1998, p. 199).
Verificamos, ainda, que no se trata apenas de uma atitude didtica por parte da
professora, como se a ela (enquanto sujeito individualista) pudessem ser atribudas todas
e quaisquer responsabilidades pelo fracasso escolar. O que pudemos observar que,
dentre tantas questes, no se tem investido na formao continuada do professor, no se
tem questionado, muitas vezes, a articulao teoria-prtica to necessria ao espao de
sala de aula.
Disso, portanto, conclumos que muito ainda h por fazer quando se trata de
problematizar o ensino da lngua portuguesa na escola, sobretudo em relao prtica de
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Recebido: 07/02/2010
Aceito: 04/05/2010
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