Boletim Operário é uma publicação semanal de caráter histórico que objetiva resgatar fragmentos de fatos relacionados ao Movimento Operário Brasileiro, notadamente antes de 1930.
Boletim Operário é uma publicação semanal de caráter histórico que objetiva resgatar fragmentos de fatos relacionados ao Movimento Operário Brasileiro, notadamente antes de 1930.
Boletim Operário é uma publicação semanal de caráter histórico que objetiva resgatar fragmentos de fatos relacionados ao Movimento Operário Brasileiro, notadamente antes de 1930.
Senhor encarregado dos negcios de S.M. Rei Humberto, junto ao Governo desta Repblica, queira nos dar ateno por um instante: Trata-se de uma questo que diz respeito aos interesses de vrios operrios italianos, seriamente prejudicados pelo incorreto procedimento das autoridades do pas. Trata-se de uma questo que, por sua importncia, interessa tanto ao representante diplomtico do governo da Itlia mantido e custeado junto ao governo desta repblica para tratar dos interesses dos italianos aqui residentes quanto aos prprios italianos diretamente envolvidos na questo. O governo do Estado de So Paulo, de acordo com o Governo Federal, achou necessria (para sua prpria segurana e de acordo com as leis vigentes) a expulso extra statum de alguns operrios italianos residentes na capital daquele Estado, acusados de filiao a partidos subversivos. Por esse motivo, aquele governo deportou, ou melhor, expulsou do territrio nacional os operrios Vezzani, Consorti e os irmos Campagnoli. O nosso Real encarregado de negcios deve ter pleno conhecimento deste fato. O governo da Repblica deve ter informado a nossa Real Legao sobre a desciso tomada a respeito: medida de segurana pblica adotada contra alguns sditos do governo italiano. Disto no queremos nem podemos duvidar. Em casos idnticos dever de todo Governo manter informado o representante diplomtico da nao a que pertencem os deportandos, mant-lo ciente da deciso tomada contra estes ltimos. O governo da Repblica deveria ter obedecido este preceito. O nosso encarregado de negcios, Aldo Nobili, deveria ter sido informado, em tempo hbil da expulso decretada pelo governo da Unio contra os operrios Vezzani, Consorti e irmos Campagnoli.
Dito isto, no nos espantamos saber que a nossa
Legao no prostestou contra a desciso do governo desta Repblica, de acordo com a tomada pelo Estado de So Paulo. Contra os quatro deportados pesavam muitas agravantes, e nenhuma atenuante a favor. Bastava a infame denncia de Eduardo Brichanteau para tornar impossvel toda e qualquer tentativa do nosso Encarregado de Negcios a fim de modificar a deciso tomada pelo governo deste pas. Alm disto, outras circunstncias tornavam impossvel uma boa interveno do nosso representante diplomtico. O governo desta repblica, decretando a expulso dos citados quatro indviduos, exercia um direito conferido-lhe pelas leis vigentes. O procedimento era legal: ilegal seria, portanto, qualquer tentativa para frustr-lo. Dura lex, sed lex. Tudo bem. Porm, estas expulses, no que concerne aos meios empregados para torn-las possveis, com relao a todos os detalhes que a cercaram teriam sido assim to legais a ponto de tornar admissvel o nulla osta da parte da nossa Legao? No, absolutamente, no. O Governo do Estado de So Paulo, ou mas precisamente o chefe de polcia daquele Estado, Dr. Bento Bueno, procedeu incorreta e ilegalmente neste caso. Aquele governo, aquela autoridade predeu e conservou presos por quatro longos meses doze compatriotas nossos, todos operrios residentes no Estado de So Paulo, e depois de to longo perodo libertou alguns deles e fez deportar outros, exatamente os j citados.
Nenhuma lei do pas permite que uma autoridade,
qualquer que ela seja, conserve preso quem quer que seja durante quatro meses a ttulo de priso preventiva, menos ainda pessoas apenas supostamente filiadas a partidos subversivos e no autores de crimes penalmente punveis. Nenhma lei do pas autoriza o governo a encarcerar supostos filiados de partidos subversivos apenas para investigar se tal suposio de fato justificada. A autoridade tem o dever de tomar medidas a fim de provar suas dvidas. Estas provadas, a autoridade tem apenas o direito de determinar um prazo para que os deportados deixem o territrio nacional. Teoria e prtica adotadas at agora em todos os pases, admitem como legal unicamente este procedimento. Qualquer outro ilegal: qualquer outro contrrio lei. Ilegal, contrrio lei, foi o procedimento das autoridades brasileiras. Ilegal foi a priso dos doze operrios italianos, ilegal sua deteno em crcere durante quatro longos meses, ilegais as circunstncias que levaram expulso final. Estas ilegalidades perpetradas pelas autoridades de So Paulo causaram graves danos aos quatro deportados; outros danos, no menores aos que foram postos em liberdade. Os primeiros porque transportados diretamente da priso a bordo de um navio e no puderam regularizar seus negcios naquela cidade, perdendo alguns deles, como Vezzani, considervel soma de dinheiro. Outros os ltimos em consequncia dos quatro meses de deteno sofreram danos morais e materiais no menos penosos. Quem o responsvel por tanto dano sofrido pelos nosso compatriotas? Quem o encarregado da defesa de seus interesses? Cabe ao Encarregado de Negcios, Cav. Aldo Nobili, dar uma resposta. Que seja tcita. Que sejam explicitas as respostas a estas outras seguintes perguntas: S. Excelncia fez ou no fez alguma coisa em favor das pessoas acima citadas? S. Excelncia protestou em tempo hbil com de dever contra o abusivo e ilegal procedimento das autoridades de So Paulo contra os j citados sditos do governo italiano? Esperamos que S. Excelncia nos d as informaes pedidas. Trata-se de interesses italianos aos quais dedicamos toda nossa ateno. S. Excelncia, como autoridade encarregada da defesa de tais interesses, dever cooperar conosco de boa vontade. Ns, da imprensa, queremos cumprir com a nossa parte do dever. Diritto quer se bater pelo direito. Este jornal, mantido exclusivamente pelos operrios italianos, no pode lanar no esquecimento os interesses desses mesmos operrios, professem eles ou no a doutrina poltico-social de quem o redige. A vergonha, o vituprio que iro recair sobre a Imprensa italiana se proventura deixar passar em silncio fatos como os que acabamos de expr no nos atingiro, a nsdo Diritto. Nosso passado no nos compromete. No, nos atemorizamos com as possveis consequncias do estrito cumprimento do nosso dever. Aos outros a vergonha do silncio! A ns a honra de termos falado! E falaremos! Il Diritto Rio de Janeiro 14 de setembro de 1895.