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CARNAVAL GUIRATINGUENSE: BLOCO DOS SUJOS

Singular pela pluralidade cultural, gerada pelo hibridismo etnográfico, racial, social e
religioso desde os mais remotos períodos da história, o povo brasileiro se orgulha pelo
maravilhoso patrimônio cultural de natureza imaterial, que sobrevive graças a força e a
resistência dos mais diversos grupos sociais que lutam para preservar a sua identidade
cultural, através da prática de costumes e cultos de suas crenças e valores.
Essa resistência sobreviveu a evolução industrial, resiste ao processo de globalização
e ao poder com que atua a indústria cultural nos meios de comunicação de massa, levando a
população ao consumo de modismos pueris e de uma uniformidade lastimável.
A cultura popular, entretanto, alheia a esses interesses e mecanismos, consegue manter com
integridade, seus valores, merecendo das instituições ligadas à cultura, uma atenção muito
especial e necessária. O tradicional Bloco dos Sujos1guiratinguense provoca uma euforia por
onde passa; contagia a todos com seu jeito irreverente e criativo...
Olhares sorrateiros, nervosismo, excitação, som ritmado de tambores, cores,
fantasia... Santa folia; vida gerando vida e inebriando a alma, cinzas que ficam na quarta, na
quinta, nas esquinas, no ventre das meninas... Cinzas que nos fazem sentirem renovados,
brincando de rei, de anjo mau, de soldado, vão compondo a mesma sinfonia...

Máscara que esconde o que sempre fomos e revelam por vezes o que gostaríamos de
sempre ter sido. Máscaras das sociedades, máscaras das mortes anunciadas, máscaras das
mortes institucionalizadas, máscaras da sede fabricada, máscaras da fome mal contada...
Máscara de natal, máscaras do sonho bom de carnaval, entre miçangas, tangas e
plumas, ressuscita “D. Cazuza” que brada forte a seus servos: “Brasil:Mostre sua Cara! E

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Existem blocos com essa denominação em todas as regiões brasileiras, no entanto constata-se que os primeiros
registros remontam a 1904, época de apologia da limpeza na ‘nova sociedade capitalista’, moldada a partir do
exemplo europeu do início do século XX. Em Guiratinga as primeiras manifestações desse bloco datam de 1970,
ocasião em que um grupo de mulheres se organizam vestidas com um macacão e capuz vermelho, sendo
substituídos sucessivamente por um camisolão vermelho e preto, depois por um vestido de boneca e finalmente
pelo tradicional roupão de chita que permanece até hoje.
todos ensandecidos, embasbacados e narcisos cantam os encantos e desencantos desta Terra
Santa: Guiratinga.
Iguais em tudo na vida, fadados às mesmas sinas de outros tantos severinos, o Bloco
dos Sujos seria a reação natural da população feminina inicialmente maior de dezoito anos ao
fato de não poderem se divertir no Bloco dos Caretas2. O nome do bloco foi a extensão natural
do apelido carinhoso de uma seus integrante. O talco, a água e a irreverência são marcas
registradas desse bloco nas tradicionais passagens pelas ruas de Guiratinga.
Inicialmente este bloco realizava visitas a residências familiares e eram muito bem
recebidas, geralmente com farofa, caipirinha, churrasco, cerveja, etc... Ao longo dos anos
porém, pela falta de consideração de alguns integrantes que se aproveitavam do fato de
estarem descaracterizados e aprontavam verdadeiras traquinagens, as atividades passaram a se
resumirem a infindáveis passeios pelas ruas do município culminando no último dia com um
almoço ou churrasco entre todos os participantes.
Atualmente, além das mulheres, jovens, adultos e crianças de todas as idades
milhares de adeptos passaram a acompanhar esse bloco que representa um dos ícones de
nosso município.

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Grupo carnavalesco exclusivamente masculino criado na década de 1930 no município de Guiratinga-MT, seus
integrantes se caracterizavam com máscaras construídas com papel machê, pinhola, talco e adereços. Atualmente
é permitida a presença de mulheres e sua passagem pelas ruas é inconfundível.
O Bloco dos Sujos se traduz numa demonstração genuína de que verdadeiramente,
cultura popular emana do povo e se constitui na mais pura expressão do jeito de ser e de viver
de uma cidade ou de uma nação.
Em todo pais, o carnaval é festejado no sábado, domingo, segunda e terça-feira
anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. Em
Guiratinga é comemorado também por ocasião das comemorações do aniversário da cidade
com o nome de “Carnaguira” que acontece geralmente n o final de semana que antecede o dia
02 de agosto.
O Carnaguira é uma micareta a exemplo do que acontece em várias cidades dos
estados do Nordeste, o chamado "carnaval fora de época" como o Fortal, em Fortaleza; o
Carnatal em Natal; a Micaroa em João Pessoa; o Recifolia, em Recife; o Micaru, em Caruaru
entre outros. As passeatas, a máscara, o talco, os shows pirotécnicos e artísticos e a liberdade
de expressão entre as pessoas, refreada durante o ano todo, caracterizam o carnaval
guiratinguense que se transformou assim, numa celebração ordeira de caráter cultural e a cada
ano atrai mais turistas ao município.
CARNAGUIRA 2009

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