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‘Acérdéos do Supremo Tribunal de Justica 31-3-2011 SOCIEDADES COMERCIAIS — Responsabilidade civil de gerente — Actividade desleal e concorrente de sécio-gerente — Indemnizagao por danos, ilicitudee nexo de causalidade — Exclusdo da sociedade (Acérdao de 31 de Margo de 2011) ‘Secgdo Civel SUMARIO: | — Os gerentes respondem civilmente para com a sociedaderelativamenteadanos causadosaesta porfactos préprios e violadores de deveres ley elou contratuais, a nao ser que demonstrem ter agido sem culpa. ll — A conduta de sécio-gerente, constituida pela pratica de actos contrarios aos deveres gestdo de que estava incumbido e exercicio de actividade concorrente com a da sociedade, configura violagdo ilicita e culposa dos seus deveres, nomeadamente dos deveres de lealdade, dilig&ncia, fidelidade e defesa dos interesses da sociedade. M— A responsabilidade civil dos administradores (gerentes) decorre da pretericéo de deveres contratuals e legais, nao sendo a diligéncia do gerente apreciada como culpa em concreto, em fungao do comportamento normal do préprio gerento, antes havendo que ter em conta um Padrao objectivo, que nao é o do simples bom pai de familia, mas sim o de um gestor dotado de Certas qualidades, isto 6, de um gestor criterioso eordenado. IV— Ailicitude geradora de responsabilidade civilnao se afere em funcao do resultado, pressupondo antes uma avaliagaéo do comportamento do agente, nao havendo ilicitude sempre que o comportamento do agente, apesarderepresentar uma leséo de bens juridicos, nao prossiga qualquer fim proibido por lei. V — No que concerne a responsabilidade por facto ilicito culposo — contratual ou extracontratu: © facto que actua como condi¢do sé deixara ser causa do dano desde que se mostre por sua natureza de todo inadequado e o haja produzido apenas em consequéncia de circunstancias anémalas ou excepcionais, nao pressupondo a mesma a exclusividade da condi¢ao, no sentido que esta tenha, sé por si, determinado o dano. VI— A cessao de quota de sociedade, concretizada contra licita recusa de consentimento e por valor declarado mais alto que o valor real, 6 reveladoradecomportamentodesleal susceptivel de fundamentar a exclusao do sécio cedente. cB. Acordam no Supremo Tribunal de Justiga: [A], Lda.e (8), Lda. vieram intentar acgéo, com proceso ordinario, contra [C] e mulher [D], pedindo a condenagao destes a pagarem-Ihes.a quantia que seapurar em execugao de sentenca, a titulo de indemnizagao pelos prejuizos softidos com a actuagao do réu e que se declare a exciusdo deste da sociedade (B], Lda. ‘Alegando, para tanto, e em suma ‘As AA so sociedades “familiares”, em que todos os sécios so 08 mesmos nas duas sociedades, ‘Tém por objecto social o exercicio da actividade de transportes, incluindo a actividade e mudangas nacionais e internacionais e respectivo embalamento e armazena- mento. Acérdaos do Supremo Tribunal de Justica 160-1 29-3.2011 OR. marido, além de sécio, foi gerente das AA entre 1984 e 01.01.96, data em que renunciou a geréncia, Emfinais de 1995, oR. marido, utlizandoconhecimentos obtidos no exercicio das suas fungées, divulgou aterceiros, estranhos as AA, informagoes confidencials sobre a actividade destas, estrutura de pessoal e custos, pregos Praticados e listas de clientes, que foram utlizadas por empresas concorrentes, com actividade no mesmo ramo, nomeadamente a sociedade [E], Lda., criada e gerida pelos RR., causando-Ihes prejuizos. ‘Bem como convidou empregados das AA a prestarem servigos na referida sociedade [E]. 0 que acabou por acontecer em relagao alguns trabalhadores, oque também Ihes causou prejuizos. Durante 0 ano de 1995, o R. andou a preparar e a organizar a criagao, constituigao e estruturacao da referida sociedade [E], desviando empregados, clientes e servigos das AA, servindo-se abusivamente do nome destas, € dizendo que praticavam pregos muitos elevados, Perturbando o normal funcionamento dos seus servigos & criando publicidade negativa, afectando a sua imagem. TTais factos vieram ao conhecimento das AA nos finais, de 1995, principios de 1996, na sequéncia de queixas de clientes 'e de informagées prestadas por pessoas das relagées dos restantes gerentes, ‘Tambémo. faltouinjustificadamente ao servigo durante {Scdes, qatar mexaraorachicacene ofr sociadade . OR, marido cedeu as quotas que detinha nas AA a [F] Limited, sem 0 consentimento daquelas @ seus s6cios, Contra a deliberagao que recusou esse consentimento com simulagao de prego — sendo o prego declarado muito superior ao real -, Sendo tais cessées ineficazes € inoponiveis as AA. ‘A propria cessao de quotas, nas condigdes referidas, deu origem a noticias na imprensa, pondo em causa 4 imagem de estabilidade © confianga das AA perante 0 piiblico e clientes, 0 que levou ao afastamento destes, causando-hes prejuizos. Os actos praticados pelo R. constituem violago de mandato de gerente e dos deveres de sécio e constituem- -nona obrigago de indemnizar as AA, bemcomoconstituem fundamento para exclusao de sécio em relagao a A. [6], Lda. (porquanto em relagao a A. [A], Lda. foi deliberada a amortizagao da respectiva quota, nos termos do pacto social) Citados os réus, vieram os mesmos contestar, defendendo-se por excepgao, invocando a prescriga0 do eventual direito indemnizatério das AA e que a cedéncia de quotas detidas pelo réu nas mesmas impede o pedido de exclusdo formulado, bem como por impugnacao, ugnando, a final, pela improcedéncia da acgao. Replicaram as autoras, pedindo a improcedéncia das excepgies arguidas. Foi proferido 0 despacho saneador, que, alem do mais, julgou improcedente a excepgao da prescri¢ao invocada, relegando para final 0 conhecimento da outra excepgaio. Foram fixados os factos tidos por assentes e organizada a base instrutéria o Nao se conformando coma parte do despacho saneador que julgou improcedente a excepgao antes invocada, dele vieram os réus agravar, tendo, porém, deixado tal recurso deserto, por falta de alegagao Realizado o julgamento, foi decidida a matéria de facto da base instrutoria pela forma que dos autos consta, Foi proferida.a sentenga a qual, julgando improcedente a outra excepgao peremptoria deduzida pelos réus, julgou parcialmente procedente a aceao, condenando 0 réu a Indemnizar as autoras dos prejuizos que melhor explicitam Seco Civel 31-3-2011 na alinea c) e 0s réus na exclusao do réu marido de sécio da. [B], absolvendo a ré do demais peticionado. Inconformados, vieram os réus interpor, sem éxito, recurso de apelagao para o Tribunal da Relagao de Lisboa, ‘Ainda irresignados, vieram os réus pedir revista para este Supremo Tribunal de Justica, formulando, na sua alegacao, as seguintes conclusoes: As recorridas contra-alegaram, pedindo a condenacao dos recorrentes como litigantes de ma fé, em multa e indemnizagao. Corridos os vistos legais, cumpre, agora, apreciar € decidir. Vem dado como PROVADO: Da especificacao: Ld Questdes que cumpre apreciar: 1 2! — A nao ilicitude dos actos constantes na al. ¢) da sentenga de 1 instancia, confirmada pela Relacao, inexistindo qualquer nexo de causalidade entre os mesmos, @ a produgao de danos. 3*—Ada ndo inexisténcia de qualquer comportamento ilicito por banda do recorrente marido, mor mente a sua nao violagao dos deveres de nao concorréncia. ‘4*— Ada inconstitucionalidade do art. 254° do CSC, tal como é interpretado nas instancias, 5*— Ando existéncia de simulagao no valor da cesséo de quota. ‘6° —A improcedéncia do pedido de exclusdo de s6cio do réu marido, da A. (6) LJ Passemos as segunda, terceira e quarta questdes: a da ndpo llcitude dos actos constantes na al. c) da sentenga de 1* instancia, confirmada pela Relago, inexistindo qualquernexode causalidade entre osmesmose a produgao dedanos, ada nao inexisténcia de qualquer comportamento ilicito por banda do recorrente marido, mormente a sua nao violagéo dos deveres de nao concorréncia e a da inconstitucionalidade do art. 254°, tal como ¢ interpretado nas instancias. ‘Sendo tais actos os seguintes, conformenotaderodapé supra, relativos aos prejuizos sofridos pelas autoras: = n8o foi possivel, em curto prazo, prover substituigso dos 2 trabalhadores que o réu levou para a nova empresa, (© que perturbou o funcionamento das autoras — n?s 7 e 13; —houve clientes das autoras, incluindo clientes tradicio- nis, que passaram a contratar também os servigos da [E] ett; &s_autoras tinham uma imagem e tradigo_de moderagao, estabilidade e confianga, tendoa saida do Reu {C] causado instabilidade nas mesmas - n° 14; -naaltura dos factos antes descritos, as autoras tiveram uma diminuigao de facturagao, o que Ines causou prejuizo patrimonial n° 22; -08 factos descritos a cessaio de quotas determinaram a instauragao e contestagao de varias aogdes — n° 23. ‘Sendo que, perante estes factos, concluiu a Relacao que a perturbagao no funcionamento das autoras, pela saida dos dois trabalhadores, bem como a instabilidade decorrente dos factos acima teferidos @ a fase de litigio que se Ihes seguiu, originaram prejuizos para as autoras. 0 quais, em termos de nexo causal, devem ser imputados 2 Condutas do réu acima descritas — arts. 562° a 566° do CC. Devendo, pois, indemnizar as autoras por esses prejul- 08, em montantes @ apurar em execugao de sentenga - art. 661°, 2 do CPC. Entendendo os recorrentes que simples. prova da perturbagdo do funcionamento das autoras, pela Acérdaos do Supremo Tribunal de Justica 31-3-2011 impossiblidade da substituiga0 dos dois trabalhadores —que rem sequer pode ser imputada ao réu ~ em curto prazo do configura a verificagdo de prejuizos. ‘Como também estes nao existem s6 pelo facto deterem existido clientes que passaram a utilizar os servigos da [E]. De igual modo, a saida do recorrente [C] nao pode ser considerada ilicita, sendo um dos objectivos da acgao a sua exclusao de sécio da B], tendo aAAdeliberado adquirir compulsivamente a sua quota Nao havendo nexo de causalidade entre qualquer conduta imputada ao réu e a diminuigao da facturagao. "Tendo acérdao recorrido explicitado, por remissao para factualidade provadaatal respeito, que aqui se acolhe, porque se entendeu, independentemente do uso de ‘expresses de caracter mais genérico, porque tais factos dao azo a responsabilidade do réu (Ora, segundo o acérdao recorrido, da materia de facto provada, mormente da descrita sob pontos 2° a 6°, 8° a 0°, 16°, 17° 31°, resulta nao s6 que o réu praticou actos conirarios aos deveres de gestao de que estava incumbido, como exerceu actividade concorrente com a das AA Configurando tals factos uma violagao ilicita e culposa dos deveres do recorrente, como gerente, nomeadamente dos doveres de lealdade, diligéncia, fidelidade e defesa dos interesses das autoras, bem como a da obrigagao de nao concorréncia que sobre o mesmo impendia, ‘Sobrea responsabilidade de membros daadministracao para com a sociedade, incluindo, portanto, os gerentes de uma sociedade por quotas, dispde-se no art. 72°, n? 1 que ‘«Os gerentes, administradores ou directores respondem para com a sociedade pelos danos a esta causados por actos ou omiss6es praticados com preterigao dos deveres: legais ou contratuais, salvo se provarem que procederam, sem culpa.” De tal normativo resulta, portanto, que os gerentes respondem civilmente para com a sociedade relativamente ‘a danos causados a esta por factos proprios e violadores. de deveres legais e/ou contratuais, a nao ser que demons- trem ter agido sem culpa. ‘Sendo a responsabilidade dos gerentes para com a sociedade uma responsabilidade contratual e subjectiva, dependendo da culpa, que se presume (oft., também, art. 799°, n° 1 do CC). Vindo a entender a doutrina que aquele citado art. 72° consagra uma tipica responsabilidade contratual, quer porque se considera que eles so mandatarios da socie- dade'", e essa pessoa dé o seu assentimento - Menezes Cordeiro, Da responsabilidade civil dos administradores. das sociedades comerciais, p. 337 a 341. Entendendo Ant6nio Pereira de ‘Almeida, Sociedades Comerciais, 6° ed., quea relagao de administragao se deve subsumirao.contrato de prestagao de servigo (art. 1154° do CC) que aqui se pode designar por contrato de administragéo, quer porque se reconhece (12) Aaplicagao, da ideia de mandato, a situagao juridica dos administradores, @ abjecto de duas grandes tradigbes critcas: uma Critica interna, que tem a ver com a prépria natureza do mandato| se desenvoiveu na Alemanha e outra, extema, igada ao ambito| {das fungdes do administrador, e que vem de ‘dia. Parecendo ‘azodveladmitrque, na base da situa¢Sojuridica dos administradores, {das sociedades privadas, esteja um contrato: a sociedade pretende ‘uma determinada pessoa, em fungdes de administragao, e essa pessoa dao seu assentimento — Menezes Cordeiro, Da Fesponsabilidade civil dos administradores das sociedades ‘omerciais, p. 337 a 341. Entendendo Antonio Pereira de Almeida, ‘Sociedade Comercials, 6"ed., quea relaro de administrago ‘se deve subsumir a0 contrato de prestagao de servigo (art. 1154° {do CC) que aqui se pode dasigna’ por contrato de administragao. ‘Seco Civel 31-3-2011 -161 que a fonte directa das suas obrigagoes é 0 acto negocial da sua nomeagao™, ‘Tendo, em qualquer caso, a responsabilidade civil dos administradores que decorrer da “preterigao de deveres contratuais ¢ legais", tendo que existir sempre uma desconformidade entre a conduta do administrador! e aquela que Ihe era normativamente exigivet"®, Ora, estando os gerentes da sociedade, desde logo, vinoulados @ observancia de deveres legalmente consa- grados no proprio CSC, pode enunciar-se como obrigagao tipica 0 dever de diligéncia (art. 64°)". Nao sendo a diligencia do gerente apreciada como a culpa em concreto, em fungao do comportamento normal do préprio gerente, havendo antes um padrao objectivo, que ndo é o do simples bom pai de familia, mas sim o de um gestor dotado de certas qualidades, Sendo certo que, apesar da epigrafe do dito art. 64° (dever de diligéncia), parecendo que 0 legislador o tomou como auténomo, colocado no mesmo plano de qualquer dos outros deveres dos gerentes, deverd entender-se que a diligéncia exigida neste artigo é um critério vinculativo para a apreciacao da conduta do gerente no cumprimento de todos os seus deveres"” Concretizando-se, assim, tal dever de diligéncia, na formula do“gestor criterioso e ordenado”, devendoagestao seguir o interesse da sociedade, tendo em conta os inte- resses dos sécios e dos trabalhadores (citado art. 64°)", “Tendo o legislador acabado por aproximara ‘diigencia™ de uma norma de conduta e, portanto, de fonte de iicitude, aqual, quando violada, esta sujeitaa subsequente e eventual juizo de culpa’. Parecendo desnecessério autonomizar o dever de lealdade pelo qual a empresa também deve ser dirigida de modo a prosseguir ou ter em vista o interesse da sociedade, sendoo mesmo uma das facetas do dever geral de diligéncia na gestao®”: Costumando tal dever de lealdade ser associado & ‘obrigagaio de nao concorréncia, obrigagao de nao aproveitar ‘em beneficio proprio eventuais oportunidades de neg6cio, de nao actuago em conflto de interesses” Devendo, em consonénciacomtaldever o administrador actuar de acordo com ointeresse social, evitando situages de conflito de interesses. Podendo decompor-se este referido deverna obrigagao de nao concorréncia e obrigagdo de ndo apropriagao de informagées internas ou negdcios com a sociedade””. (13) Raul Ventura e Brito Correia, Responsabilidade civil dos administradores das sociedades andnimas e dos gerentes das Sociedades por quotas, p. 120, (14) E utlizamos a expresso em sentido amplo, abrangendo também o gerente da sociedade por quotas, que aqui esta em (15) Jo80 Soares da Silva, Responsabilidade civil dos adminis- tradores da sociedade: os deveres gerais ea corporate governance, ROA Ano 57, Il, p- 613. (16) Na redaceao aqui em vigor, sendo a actual redaceao dada pelo DL 76-A/2006, de 29 de Margo, que densificou o elenco dos Severes a que os gerentes (ou administradores) estao obrigados. (17) Raul Ventura, Sociedade por Quotas, vol. Ill p. 148, (18) Na sua fonte esté o art. 17.°, n° 1 do DL 49 381, de 15 de Novembro de 1969. (19) Menezes Cordeiro, Os deveres fundamentals dos administradores das sociedades, ROA Ano 66, I, p. 452. (20) Que na actual redacgao do citado art. 64° (DL 76-A/2006, de 29 de Marco) esté elencado na al.b) do seu n? 1 (21) Raul Ventura, Sociedade por Quotas, vol. Il p. 148 e ss. (22) Armando Manuel Triunfante, CSC Anotado, p. 60, mencionando Pereira de Almeida e Menezes Cordeiro ~ nota (53). (23) Pereira de Almeida, ob. cit, p. 260 e 261 ‘Acérdéos do Supremo Tribunal de Justiga 162 31-3-2011 Estando esta obrigagao de nao concorréncia nas sociedades por quotas expressamente prevista e proibida no art. 254°, assim rezando o mesmo, no que aqui importa: “1. Os gerentes nao podem, sem consentimento dos sécios, exercer por conta propria ou alheia, actividade concorrente com a da sociedade 2. Entende-se como concorrente com a da sociedade qualquer actividade abrangida no objecto desta, desde que esteja a ser exercida por ela ou 0 seu exercicio tenha sido deliberado pelos sécios. 3. No exercicio por conta propria inclui-se aparticipacao, porsi, ou poriinterposta pessoa, em sociedade que implique ‘assungdo de responsabilidade limitada pelo gerente, bem como a participacao de, pelo menos, 20% no capital ou nos lucros de sociedade em que ele assuma responsabili- dade limitada 4 weve t tees ). 5. A infracgao do disposto no n® 1, alem de constituir justa causa de destituipao, obriga 0 gerente a indemnizar a sociedade pelos prejulzos que esta sotta, 6.( : fet ceeeeee Entendendo-se como concorrente coma da sociedade qualquer actividade abrangida no objecto desta, desde que esteja a ser exercida por ela, sendo, assim, 0 crtério determinante da mesma, tal como se encontra previsto no n® 2 ora exposto, meramente formal: coincidéncia da actividade exercida ou a exercer pelo gerente com a actividade abrangida no objecto social da sociedade Protegida™ Sendo proibido 0 exercicio de actividade concorrente, ‘quer por conta propria do gerente, ou seja, por este eno ‘SeU préprio interesse, quer por conta alheia, seja, no interesse doutra pessoa. Justificando-se também neste caso, contrariamente ao sustentado pelo recorrente, quando diz que nao é titular de qualquer participagao social na empresa’, a proibigao do exercicio de actividade cconcorrente’pelo facto dele exercer 0 cargo de gerente na sociedade concorrente e na sociedade protegida. Ora, como bem se diz no acbrddo recorrido, provado ficou que 0 réu recorrente, enquanto gerente das AA foi Preparando a constituigéo e funcionamento da empresa com actividade concortente - todas elas com o objecto ‘ocialde transporte e armazenamentode bens emercadorias (als, B) e J)) ~ com armazém e estabelecimento a cerca de 10 Kms de distancia das instalagoes das AA, utilizando conhecimentos relativos a clientes e precos que Ihe advinham das suas funcSes, obtendo, também por via destas, a lista interna de nomes, moradas, profissoes, categorias profissionais e remuneracdes dos empregados da AA, convidando empregados para deixarem 0 servigo das AA, passando a presté-o a [E] — oft. als F), J), K) e V) dos factos assentes e respostas aos quesitos 29, 3°, 4°, 5°, 6°, 9, 11°, 18%, 16° e 17° Exercendo 0 réu, como gefente das AA, actividade concorrente com a destas, para alem de violar o dever fundamental de dligéncia de um gestorcriterioso e ordenado, ‘no interesse das sociedades (aqui protegidas). Ao qual, em primeiro lugar, devia lealdade Tudoisto, sem necessidade de se tomar posigao perante a querela doutrinaria de se saber se ort. 64° referido impoe efectivamente um dever auténomo dos administradores ou ‘se mais ndo fara do que estabelecer um modo ou requisito de actuacao para cumprimento de deveres que por outro, Via, aqui pela dita proibigao da concorréncia, sejam estabelecidos. (24) Raul Ventura, Sociedade por Quotas, vol. Il, p. 58 ¢ 59. -asqs@5) N&® ne sendo, asim, apicavel a previsio do citado at 54 ‘Seceao Civel 31-3-2011 Ousseja, ode saber se tal preceito, contendo um critério de comportamento do administrador para 0 conjunto dos seus deveres, conterd também uma fonte auténoma de determinagao da conduta devida, susceptivel de ser autonomamente violado e, por isso, ser fonte auténoma de responsabilidade civil. ‘Sempre se dizendo no tocante a também questionada ictude, que o nosso legistador, optando claramente pelo sistema alemdo, faz apareceramesma sempre configurada ‘como um juizo de desvalor atribuido pela ordem juridica (maxime, art. 483° do CC), juizo esse referido ao comporta- Mento do agente (teria do desvalor do facto). Nao se auferindo a licitude em relagao ao resultado, pressupondo antes uma avaliagao do comportamento do agente. Nao havendb ilicitude sempre que o comportamento do agente, apesar de representar uma lestio de bens juridicos, nao rossiga qualquer fim proibido por lei”. E,naverdade, para que o administrador seja civiimente responsavel para com sociedade é necessario que 0 acto Por ele cometido seja considerado pelo direito como llicito, aqui se abrangendo tanto a licitude civil obrigacional, como a ilicitude delitual Podendodizer-se ser formalmenteilicito oacto contrario ‘a uma norma imperativa ou a um dever imposto por uma norma. Sendo, assim, em principio ilicito 0 acto (ou omissao) que se traduza na inexecugao do dever geral a que esté vinculado 0 agente (responsabilidade extracontratual, delitual ouaquiliana)ou de uma obrigacao (responsabilidade contratual). ‘Sendo ainda certo que, conforme tem vindo a ser entendido por este STV, o problema donexo de causalidade, nna sua vertente naturalistica — determinagao em concreto ‘entre 0 facto e o dano — envolve somente matéria de facto, que escapa a0 controlo e @ censura deste Tribunal de revista, face ao que dispdem os arts. 722°, n® € 712°, n° 6, ‘ambos do CPC. Ja se estando, porém, no ambito dos nossos poderes de cognigao apreciar se a condigao de facto, que ficou apurada, constitui ou néo causa adequada do evento lesivo. ‘Sucedendo, ainda, que a doutrina da causalidade ade- quada, adoptada e consagrada pelo nosso ordenamento juridico (art. 563°do CC), com apelo ao prognéstico objectivo que, ao tempo da lesao (ou do facto), em face das circuns- (26) Menezes Cordeiro, Manual de Direito das Sociedades, T |, Das Sociedades em Geral, p. 691 e ss, entende que, s6 por si. {al preceito no pode ser violado, tratando-se de uma norma incompleta, nao nos dizendo, em bom rigor, 0 que fazer ou que bjectivos prossequir Poisninguém, abstractamentenao-ciigente, odendo sé-1o na (nao) execugao de larefas concratas. E aqui sim. \devera 0 administrador ser “criterioso @ ordenado’, o que implica, entre 0 mais, agir com seriedade. Devendo, pois, o preceito ser Cconjugade com outros, de modo a permitir a obtencdo de normas tes, 'No mesmo sentido, autor citado, Da responsabilidade civil dos _administradores das sociedades comercial, p. 496/497. A. Varela, na RLJ Ano 126, p. 315, refere-se ao art. 64° como preceito bastante genérico e impreciso, mais retico do que realist ‘Sendo correcto pensar, no plano teérico, que a quesiao da diligéncia se deve em geral colocar como pressuposto do |uizo de ilicitude, concorrendo para a definigao de acto devido Raul Ventura € Brito Correia, ob. cit, p. 6. ‘Jodo Soares da Silva, estudocit,p. 615/616 parece encaminhar- se, com apoio do art. 133° da Ley de Sociedades Angnimas espanhola, de 1989 e no preceito similar do art. 2392° do Cédice Civile (italiano) no sentido de que o preceito ora em andlise serefere ‘8 umdever geraldo administrador, fonte auténoma de determinacao dda conduta devida, cuja violagao acarreta responsabilidade, (27) Menezes Leltéo, Direito das Obrigagées, vol. |, p. 273 € SS. citando A. Varela, Obrigagdes, vol. Ip. 532 e Ribeiro de Faria, Obrigagbes, vol. I, p. 416. Acérdéios do Supremo Tribunal de Justica 3-3-2011 tancias entao reconheciveis ou conhecidas pelo lesante, seria razoavel emitir quanto a verificagao do dano, deve ‘ef interpretada, no que conceme a responsabilidade por facto ilicito culposo — contratual ou extracontratual — com ‘sentido de que o facto que actua como condigaosé deixara de ser causa dodano desde que se mostre por suanatureza de todo inadequado e 0 haja produzido apenas em consequenciade circunstancias anémalas ouexcepcionais, nao pressupondo a mesma a exclusividade da condicao, ‘no sentido que esta tenha, 86 por si, determinado o dano. E, assim, dada a factualidade assente e tida em conta pelas instancias, ailicitaactuagaodoréu, queremconcreto, Quer em abstracto, mostra-se como uma das possiveis condigoes do dano. Nao sendo, pois, de censuraro encontrado nexo causal entre as referidas condutas e os comprovados danos. Respondendo os gerentes, tal como ja dito, para com a sociedade pelos danos a ela causados por actos ou ‘omissoes praticados com preterigao dos deveres legais ou contratuais, salvo se provarem que procederam sem culpa (art. 72°, n® 1 do CSC). Prova esta que 0 réu nao fez. Provado tendo ficado que oréu, ainda enquantogerente das AA, praticou actividade concorrente com a daquelas. Conduta essa llicita e censuravel”, como ja vimos, sendo, ainda certo, sempre se dird, que ao gerente, como 6rgao de administracaio das sociedades por quotas (art. 252°) compete praticar os actos que forem necessarios ou ‘convenientes para a realizagao do objecto social (art. 259°), nao se devendo servir das suas proprias funcées para fins pessoais e alheios (at6 prejudiciais)ao escopo da sociedade que representa, Que Raul Ventura chama de protegida. Mais se dizendo, parafraseando Pais de Vascon- celos),"... os6cioa quem é confiado exercicio de fungdes de gestdo ... estd em vantagem sobre os demais ... é-Ihe mais exigivel que, no seu agir, melhor respeite o interesse social e é-lhe mais reprovavel que o desconsidere" ‘Nada tendo a ver este entendimento com a violagao do livre exercicio da actividade econémica, nos quadros definidos pela Constituigao e pela lei E, assim, com a violagdo do art. 61° da CRP. Que consagra a liberdade de iniciativa em sentido estrito, ou sseja,aliberdade de estabelecimento. Nele se contemplando tanto a criagdo de empresas, como a sua actividade depois de constituidas. Com subordinagao do poder econémico privado ao poder politico democratico € de garantia dos direitos dos trabalhadores™". ‘Assim se concluindo, como no tribunal recorrido, que nao esté aqui em causa a liberdade de constituigéo de uma sociedade para, em normais condigdes de mercado, concorrer com as AA. ‘Mas apenas oIlicito aproveltamento, por banda do réu, de conhecimentos obtidos no exercicio e por causa das ‘suas fungées de gerente nestas, ainda durante o exercicio das mesmas, em beneficio de outra sociedade, com 0 mesmo objecto social das AA. Por tudo isto, verificados os pressupostos da responsabiliadde civil—factoilicito, culpabilidade, prejuizos (embora nao haja, desde ja, elementos para fixar a quantidade, art. 661°, n® 2 do CPC) e nexo de causalidade = 6 0 réu gerente civilmente responsavel. (28)A"clligéncia do gestorcriterioso e ordenado*,contidanuma norma de conduta fonte de licitude, quando violada, e sujeita a subsequent @ eventual juizo de culpa, (28) A Participagdo Social nas Sociedades Comerciais, p. 966. (80) Constituigdo da Republica Portuguesa (31) Jorge deMirandae Rui Medeiros, Constituigao Portuguesa Anotada, TI; p. 619° e ss. ‘Secgao Civel 31-3-2011 1-163 Agora, as quinta e sexta quest6es: a da nao existéncia de simulago no valor da cessao de quota e a da impro- cedéncia do pedido de exclusdo de sécio do réu marido, da A, [8], Lda. Sustenta o recorrente que, mesmo existindo simulagao do valor da quota, ha que aplicar as regras do art. 231°, ao podendo, assim, dos factos dados como provados resullar qualquer obrigagao de indemnizar para o recorrente. Nao sendo, de qualquer modo, suficientes os factos constantes dos arts. 24° e 25° da base instrutéria para se poder dar como demonstrado que tenha havido simulagao do valor da cessao de quota. 'Nao abrangendo o caso julgado os factos, mas apenas a decisao, ‘Sendo certo, acrescenta, que para a procedéncia do pedido de exclusao judicial de sécio impoe-se a prova de que houve prejuizos concretos decorrentes do exercicio da mesma actividade da sociedade sem o consentimento da outra s6cia ou a previsibilidade em termos objectivos de verificagao de prejuizos relevantes. "Tendo resultado também provado que a recorrida (8) era, & data dos factos, uma sociedade com actividade muito reduzida, sem qualquer peso e influéncia no mercado. Devendo, assim, improceder 0 pedido de excluséo de s6cio. Entendeu 0 ac6rdao recorrido, no atinente a venda da quota na sociedade, que a forma como esta se processou é reveladora de comportamento desleal, como entendido na decisao recorrida E, perfilhando 0 decidido a propésito na sentenga entéo recorrida, refere que nao houve nesta a preocupagao de analisar de forma pormenorizada a questao da simulagao no prego da venda da quota, uma vez que a mesma havia JA sido objecto de apreciacdo em decisao transitada em julgado numa acgao em que AA e RR foram parte, pelo que ‘existe caso julgado quanto a tal materia. Tendo-se concluido naquela acgao ter existido simulagao do prego da venda da ora questionada quota, tendo-se decidido que a [F] nao era sécia da [B} ‘Alargando-se a formagao de caso julgado para além da parte dispositiva da decisao, a resolugao das quest6es que a sentenga tenha necessidade de resolver como premissa da conclusdo firmada, perfilhou-se tal entendi- ‘mento, uma vez que a “economia processual, 0 prestigio das instituigdes judicidrias, reportado a coeréncia das decisdes que proferem ¢ 0 prosseguido fim de estabilidade fe certeza das relag6es juridicas, sao melhor servidos pelo critério eclético que, sem tornar extensiva a eficacia do caso julgado a todos os motivos objectivos da sentenca, reconheceu todavia essa autoridade decisdo daquelas quest6es preliminares que forem antecedente légico indis- pensavel a emisso da parte dispositiva do julgado™ E, assim sendo, a simulago do prego na venda da quota mostra-se, definitivamente, demonstrada e nao apenas indiciada na presente acco, nao tendo de ser, de novo, apreciada, mas apenas ponderada para efeitos de aplicagao do art. 242°, tendo resultado, pois, demonstrados ‘08 comportamentos ilicitos por parte do recorrente que configuram deslealdade perante a A. [B]. E resultaram, também, demonstrados prejuizos relevantes e 0 nexo de causalidade entre os prejuizos e 0 comportamento do recorrente. ‘Vejamos: O socio pode ser excluido por justos motivos quando © seu comportamento desieal ou gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, tenha causado a esta ou (32) Rodrigues Bastos, Notas a0 CPC, vol. Il, p. 200 € 204 Acérdéos do Supremo Tribunal de Justiga 164 31-3-2011 possa vir a causar-he prejuizos relevantes (art. 242°, Ft) Bevendo a fundamentagao para a exclusao de sécio resuitar da verificagao cumulativa dos seguintes factos:() Uns, respeltantes a0 comportamento do s6cio em causa, que devem ser qualificados ou como desleais ou como ‘graveriente perturbadores do funcionamentoda sociedade; Wi) outros, relatives ao prejuizo causado a sociedade pelo Comportamento.concretamente provado, prejuizo este Que deve ser relevante e que pode ja ter ocorrido ou vir a scorer. ‘Sendo certo, quanto a questao do caso julgado™, que as decisées as quais o mesmo compete sao as que versam Sobre o fundo da causa e, assim, sobre os bens discutidos noprocesso; saoas que definemarelagao uridicadeduzida ‘em juizo; as que estatuem sobre a pretensao em causa Estando o alcance do caso julgado definidono art. 673° do CPC, que nos diz que a sentenga constitu caso julgado ‘os precisos limites @ termos em que julga Podendo oscilartais limites entre solugdes que oalargam a fundamentagao inerente a decisdo e as que o restringem 56 a conclusao da decisao, passando por outros. mais ectécticas Sendo pelo teor da prépria decisdo que se mede a extensdo objectiva do caso julgado. ‘Apesar de, em principio, so se formar o mesmo sobre a decisdo contidana sentenga endo sobre a suamotivagao, Sobre as raz6es que determinaram o juiz™ “Tragando os limites do caso julgado os limites daprépria situago a definr, que, de inoorta, passa a indiscutivel E dai que, perante aindiscutiblidade de certaafirmacao, 8 possa concluir pela indiscutiblidade da subsisténcia ou insubsisténcia de outra afirmacao, de contetido diferente. Podendo operar-se a extensao do caso julgado por coeréncia légico-juridica @ por coeréncia pratica, Dentro da primeira, podera alargar-se, por um lado, as afirmagées incompativeis, de que fica indiscutivel ainsubsis- tencia,e, por outro, as afirmagoes incluldas, por assim dizer insepardveis -sejamafirmacéesincluidas, sejamafirmagdes implicitas ~ de que fica indlscutivel a subsistencia TTornando-se necessario, para que se possa falar de um julgado implicito que a afirmagao que faz caso julgado imponha, s6 por si, como consequéncia necessaria, outra a que 0 julgado se alarga”™” ‘Tudo visando a certeza e a seguranca, metas do caso julgado Sendo 0 objecto da acgo, no apenas aquele que resulta da peticao inicial, mas 0 que emerge da sua discussao, designadamenie, quando & arguida pelo réu qualquer excep¢ao peremptéria ou outras questdes, donde resulta que para se decidir da procedéncia ou da improce- dencia do pedido € necessario formular varios julzos — art, 660°, n° 2. Estando compreendidos nos “precisos limites e termos em que se julga” todas as questées solucionadas na sentenga, conexas como direitoa que se refere a pretensao do autor™. (83) Ac. do STU de 30/11/95 (Cunha Lopes), CJS, Ano I, T P. 128 e Raul Ventura, Sociedades por Quotas, vol. Il p. 60, (34) E falamos aqui do caso julgado material (ou interno). (35) No se excluindo que se possa e deva recorrer & parte ‘motivatériada sentencaparainterpretaradecisa0, parase reconstut e fixar 0 seu conteddo, (36) Cir. M. Andrade, Nogées Elementares de Processo Civil, P.326 ess €A. Varela, Manual de Processo Civil, 695, (87) Castro Mendes, Limites Objectivos do Caso Julgado em Proceso Civil, p. 330 © Ss. (38) Ac. do ST. de 6/2/96 (Torres Paulo), Bol. 454, p, 599, com ‘mengéo de outra jursprudéncia, © que se tem vindo a seguir de ‘muito pert. ‘Secgao Civel 31-3-2011 E no apenas a conclusao final de procedéncia ou de improcedéncia E, assim, sempre que para decidir sobre 0 objecto da acgao seja’necessario decidir qualquer excepcao peremptéria ou outras questées que, por tal modo ‘conexionadas com aquele, constituem o seu antecedente légico, 0 caso julgado que sobre aquele venha a formar-se abrange forgosamente a deciso que venha a recair sobre tais questées™. Alargando-se, assim, a formagao do caso julgado, para alem da parte dispositiva da decisao, a resolugao das questdes que a sentenga tenha necessidade de resolver ‘como premissa da conclusdo firmada™, Sétendoa sentenga, emprincipio, forgade casojulgado entre as partes — arts. 497° 498°, ex vido art. 671°, n° 1 do CPC. ra, in casu, compulsando os autos, mormente a certidao junta de fis 666 ss — accao intentada pela [A] contra a [F] - verifica-se que, para alem de al nao estar em causa a cesséo de quota da [B], na mesma nao é parte o ora réu [C], pelo que a deciséo tomada de a [F] nao ser sécia da dita [A], fundamentada 6 certo, também na simulago do prego da respectiva e questionada cessao, nao faz caso julgado com interesse para a questo que ora julgamos, Ja na outra acgao — certidao de fis 744 @ ss — onde a questo principal era a de saber se era ou nao valida, entre outra, a cessdo da quota do ora réu [C], da [B], a favor da IF], tendo o mesmo réu ai tido intervengdio principal espontanea, apés aprofundada explanacao de facto e de direito sobre a matéria da arguida simulagao de prego, tida ‘como relevante na deliberagao de amortizacao de quotas também pela [8] tomada, concluiu o senhor Juiz que “da articulagao deste conjunto de consideragSes, devidamente estribadas nos factos provados, e da conjugagao destes com as regras da experiéncia comum, somos levados a inferir que ~ no minimo — 0 valor declarado na escritura de cessdo de quotas ndo é um valor real, mas sim simulado, endo o valor real inferior ao declarado.” Entendendo-se, assim, a arguicao da simulagao efectuada nas assembleias-gerais de 14 15de Novembro de 1995, pertinente e justificada, Sendo, pois, licita a recusa de consentimento para a cessdo de quota do [C] a [F]. py, “meninde tee decidndo-se que esta ndo 6 sécia da Assim se podendo, na verdade entender, dizemos também nés, que esta decisdo final assentou na outra decisdo relativa a simulagdo do prego da cessao de quota da [B] por banda do réu (C] Devendo tal decisao estar, assim, compreendida na expresso “precisos limites e termos ‘em que se julga’, 1a no citado art. 673°. ‘Ja que é, afinal, a premissa da conclusao firmada. Fazendo, pois, também caso julgado. ‘Sendo, assim, também a forma como o dito réu procurou cedera sua ora questionada quota reveladora de comporta- mento desieal, como se entendeu na decisao recorrida. De qualquer modo, mesmo entender-se que nao ficou aqui provada a simulagao de prego na escritura piblica de cessdo de quotas referida em L), sempre a restante ‘comprovada conduta do réu para com a A. [B] se deve ter como desleal pelas razSes melhor constantes, a propésito, ‘no acbrdo recorrido, que aqui se acolhem pela sua bondade. Tendoresultado também apurados prejuizos relevantes, para a dita sociedade — a sua reduzida actividade mais (89) Ac. do STJ de 516/91 (Jaime de Olivera), Bol. 408, p. 588. (40) Rodrigues Bastos, Notas a0 CPC, vl. il, p. 200. Acérdéos do Supremo Tribunal de Justica 31-3-2011 ‘Secgao Civel relevantes tornara tais prejuizos ~ nao exigindo 0 falado art.242",n° 1 umprejulzo efectivo,masaefectiva capacidade da actuagao dosécio lhe provocar danos ~ cfr. pontos 11,13, 14, 22 e 23 elencados na decisdo recorrida, Procedera, pois, tambémo pedido de exclusao de s6cio do réu da sociedade [B], Lda. ‘Apesar de tudo o agora explanado e decidido, nao se pode concluir, sem mais, e apesar da ampliagao do dever de boa fé processual, com o alargamento de tipo de ‘comportamentos que podem integrar a ma fé processual ‘no novo tipo legal aqui em vigor‘, pela ltigancia de maf dos recorrentes, por facilmente se dever entender que nao se encontram preenchidosos seus respectivos pressupostos = art. 456°, n° 2 do CPC. Nao sé vislumbrando, mau grado seu decaimento, ‘erro grosseiro ou culpa grave dos réus no seu recurso. Face a todo 0 exposto, acorda-se neste Supremo Tribunal de Justiga em se negar a revista, confirmando-se 0 acérdao recorrido. Custas pelos recorrentes. Lisboa, 31 de Margo de 2011 Serra Baptista Alvaro Rodrigues Fernando Bento Proc. n° 242.09.3YRLSB.S1 Comaraca de Lisboa (41) Introduzido pela reforma de 1995 (DL 329-A/95, de 12 de Dezembro. 31-3-2011 1-165

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