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Preleção não é Pregação

O que é pregação? Tentemos chegar um pouco mais perto de uma


definição. De novo só posso fazê-lo dando-lhes alguns dos pontos
negativos. Qual é a diferença, por exemplo, entre a pregação e a
leitura de livros? Qual é a diferença essencial entre essas duas
coisas? Por que dizemos que as pessoas devem ir à igreja e que a
pregação deve ter continuidade na igreja, em preferência à leitura de
livros em casa? Qual a razão para dizer isso? Qual é a coisa
"peculiar", se preferirem, qual a "differentia"* da pregação? Qual é a
marca distintivamente dentre todas estas outras atividades? Bem,
vou tentar responder essa pergunta. Deixem-me fazer outra
pergunta: qual é a diferença entre pregar e transmitir uma leitura?
Julgo isto sumamente importante.

Penso que detectei a tendência que as pessoas têm de imaginar que


fazer uma preleção é a mesma coisa que pregar, que devido fazer
uma preleção do púlpito, essa se torna pregação. Mas não é assim.
Traço uma grande distinção aqui. Lembro-me de haver encontrado
com alguns homens durante a Segunda Guerra Mundial, capitães do
Exército dos Estados Unidos, e me lembro de ouvir um deles usar
uma expressão que me alarmou bastante. Ele estava numa certa
parte da Inglaterra e se associara a algumas igrejas de lá; e tinha
chegado a uma conclusão com respeito à condição delas. Disse ele:
"E então decidi pregar o meu sermão sobre a justifica¬ção". Ao dizer
isso, ele me disse tudo a respeito de si mesmo como pregador. Vocês
vêem, ali estava um homem que deliberadamente se sentara para
preparar uma preleção, "um sermão sobre a justificação", e ele tinha
outro sobre a santificação, e sobre vários outros assuntos. Assim é
que ele tinha um "sermão sobre a justificação". Para mim esse
homem nada sabia acerca da pregação. Obviamente havia preparado
o discurso sobre a justificação, e depois achou diversas passagens
que pôde enganchar nele, mas isso não é pregação. É fazer preleção
sobre a justificação, e sobre esses outros assuntos.
Digo que isso não é pregação. Há um lugar para a preleção. A
preleção é essencial. E existem muitas coisas que precisam ser
ensinadas na igreja. Mas tudo o que eu estou interessado em dizer é
que isso não é pregação. Vocês podem muito bem chegar à conclusão
de que eu tenho uma noção estranha quanto à pregação, porém
estou preparado para justificar o que estou tentando dizer.

Martyn Lloyd Jones / Escritura Em Foco

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