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EDUCAÇÃO

A onda
Gordeeff

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A Onda (Die Welle) é a refilmagem alemã para ao cinema
página
de um clássico televisivo americano, The Wave (“A onda”,
em inglês), de Norman Lear (que recebeu o Emmy Award
for Outstanding Children's Program de 1981), baseado na
história de Ron Jones (Take as Directed).

A história original conta a experiência pessoal de Ron


Jones, professor de História Mundial na Cubberley High
School, em Palo Alto, Califórnia, em 1967. Durante uma
aula, Jones pergunta a seus alunos se seria possível o
surgimento de um regime fascista nos EUA –
especificamente o nazismo. Os alunos acham bobagem e
refutam a ideia, mas concordam em participar de uma
experiência de duas semanas.

Como em todo regime fascista, há a figura central do líder, e, usando de sua prerrogativa
de professor, Jones começa a implementar rígidas regras de conduta e disciplina ao grupo
de alunos, tais como formas de se sentar, de saudação, senso de comunidade e conjunto,
que foram nomeadas pelo grupo com o termo A onda. Ao final do quarto dia do
experimento, temendo pela segurança de alguns alunos que se recusaram a participar do
grupo, Jon interrompe-o.

Na versão alemã, a história se inicia com uma aula sobre Autocracia, de Rainer Wenger,
professor do Ensino Médio, que na verdade gostaria de falar sobre Anarquia, tema
escolhido por outro professor. Como para a Alemanha este assunto é muito mais
incômodo e, como esta cultura também é mais pragmática, é interessante assistir às duas
versões (a alemã e a estadunidense), comparando-as tanto em termos culturais e sociais
quanto em termos temporais – já que a estadunidense é de 1981 e a alemã é de 2008.

Mas, apesar das diferenças, ambas as produções não perdem o fio condutor: mostram
como, pela criação de um ideal de vida e senso de grupo, é possível a manipulação das
massas e, ao mesmo tempo, como esse “poder” é facilmente extrapolado. Isto é, como
boas intenções podem ter consequências desastrosas – o próprio experimento – e como
más intenções podem ser facilmente vestidas de uma aura de verdade e retidão – no caso
do fascismo.

Há também inúmeras observações que podem ser feitas tanto a respeito da experiência
em si como em relação às versões realizadas. A história instiga questionamentos sobre o
comportamento adolescente, sobre a humanidade, sobre a selvageria, algo que vai muito
além da simples análise de sistemas políticos – que nada mais são que reflexos do próprio
homem. As duas versões mostram como as questões individuais acabam sendo
influenciadas e influindo nas condutas do grupo, colocando o espectador em dúvida sobre
quando uma ação é individual ou quando ela é grupal.

Entretanto, mesmo dentro da experiência não há somente o resultado indesejado. A


versão alemã mostra que muitos alunos que não são tão brilhantes ou participativos têm

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seus comportamentos positivamente transformados quando estimulados de forma mais


contundente ou desafiadora.

A própria rixa entre os professores – dos estudos de Autocracia e Anarquia – mostra,


irônica e interessantemente, que as aulas de Anarquia eram insuportáveis para os alunos,
enquanto a sala do estudo autocrático ficou lotada.

Estimulando o senso de unidade da turma – por exemplo, acabando com as panelinhas e


dispondo alunos com notas melhores junto com os de notas mais baixas – o professor fez
com que certas inimizades entre os alunos e mesmo alguns preconceitos dentro do grupo
desaparecessem em prol de algo maior e positivo: o crescimento e o desenvolvimento
individual, que, consequentemente, seria o desenvolvimento de uma turma mais forte – já
que não há como alcançar um sem o outro. É o conhecido ditado “a união faz a força”
posto em prática.

O mais interessante nessa história é que ela se desenvolve de forma a mostrar o caminho
para aquele grupo como um caminho bom e positivo, mas que, de repente, muda de
sentido radicalmente, extrapolando e exacerbando comportamentos a partir do momento
em que o senso de grupo passa a dar sensação de poder e de superioridade em relação
aos não fazem parte dele – é a falta do desenvolvimento do senso de tolerância.

Essa narrativa faz pensar sobre nosso próprio sistema de ensino e educação, não no
sentido de instrução, mas como conduta e comportamento, algo que não é
responsabilidade única da escola, mas da sociedade como um todo, tendo o núcleo
familiar como origem – isso os filmes retratam bem. Não há como ter uma sociedade
participativa se não educamos os indivíduos para isso. Não há como ter alunos mais
sensíveis, mais empáticos com seus colegas se a imagem da individualidade for sempre
apresentada como algo preponderante às necessidades do grupo. Não há como ter alunos
responsáveis se eles nunca enfrentam as consequências dos próprios atos. Não há como
ter uma sociedade melhor e mais justa se os indivíduos dessa sociedade não progridem
moralmente.

A Onda é daqueles filmes que deveriam ser obrigatórios (sendo um pouco autocrata) em
toda escola, exibido para alunos a partir dos 13 anos. É um banquete para trabalhar com
os alunos – servindo às várias disciplinas.

A versão alemã entrou no circuito brasileiro em 21 de agosto de 2009, e ainda pode ser
vista em algumas salas cults. A versão americana pode ser encontrada no Youtube em
duas partes: http://www.youtube.com/watch?v=BVRXXbU-z7U e
http://www.youtube.com/watch?v=GXi71XBdh1o).

Está também disponibilizada em baixa resolução no site http://www.thewave.tk/, onde é


possível encontrar mais detalhes sobre o assunto.

Publicado em 06/10/2009

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