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A PROPOSTA DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

ESTUDO DOS MODELOS E O PAPEL DA ANÁLISE

ANA P. S. WORMSBECKER1; HÉLIO G. CARVALHO2

1
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR)
Av. Sete de Setembro, 751,Curitiba, PR, Brasil
e-mail: anasoares@onda.com.br
2
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR)
Av. Sete de Setembro, 751, Curitiba, PR, Brasil
e-mail:gomes@ppgte.cefetpr.br

A importância da informação como recurso e sua aplicação gerencial é indiscutível na atual conjuntura econômica e social e
pressuposto para a obtenção de vantagem competitiva. Novos serviços de informação que atendam às necessidades impostas
pelas exigências do mundo contemporâneo estão sendo desenvolvidos. Neste ambiente, a Inteligência Competitiva se destaca
como uma abordagem que permite o monitoramento do ambiente empresarial. Este trabalho apresenta o estado-da-arte dos
modelos de Inteligência Competitiva - IC, visando a descrever, de forma breve, a evolução das atividades referentes a esta
temática enfocando, principalmente, a etapa de Análise da IC. Aborda os vários conceitos relacionados à temática da
informação. Descreve o perfil do profissional da informação, considerando esse termo como associado aos profissionais de
diferentes formações, mas que trabalham no âmbito da gestão de sistemas de informação. A metodologia utilizada será
baseada em revisão de literatura.

Palavras-chave: inteligência competitiva; profissional da informação; bibliotecário.

WORKSHOP BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E GESTÃO DO CONHECIMENTO, 3., 2002, SÃO PAULO. ANAIS.
CONGRESSO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, 1., 2002, SÃO PAULO. ANAIS. xxxx
THE PROPOSAL OF COMPETITIVE INTELLIGENCE STUDY OF MODELS AND THE ROLE OF THE
ANALYSIS. The importance of information as a resource and its managerial application is unquestionable in the present
economic and social context and a principle to obtain competitive advantage. New information services which meet the needs
of the contemporary world are being developed. In this environment, Competitive Intelligence is an approach that allows the
companies to scan their business environments. This study presents the state-of-art of the Competitive Intelligence models,
aiming at describing its over time. It discuss several concepts related to information and describes the profile of information
professionals, regarded as professionals graduated in different areas who work in the information system management field.

Keywords: competitive intelligence; information professionals; librarians.

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1. INTRODUÇÃO

A importância do conhecimento como recurso e poder gerencial tem sido crescente,


especialmente neste atual mercado competitivo onde o sucesso nos negócios depende, em
grande parte, da capacidade de gerir e usar tal conhecimento.
Novos serviços de informação, que atendam as necessidades impostas pelas exigências
do mundo contemporâneo precisam ser desenvolvidos, pois as atividades executadas no
passado e oferecidas, por exemplo, em bibliotecas tradicionais e centros de informação,
atendem apenas parcialmente esse novo mercado. Trata-se de uma evolução natural, assim
como a própria história da biblioteca que antes era tida apenas como guardiã do conhecimento
e que passou, com o passar do tempo, a ser considerada como uma organização responsável
por sistematizar o acesso à informação.
A Inteligência Competitiva, prática utilizada por empresas em todo o mundo, têm por
propósito oferecer informação com alto valor agregado. Trata-se de uma tendência mundial
para melhor conhecer os competidores, como forma de obter vantagem competitiva. Nota-se
que já é grande o número de empresas que fazem uso de tais práticas. Segundo PRESCOTT e
MILLER “das empresas multinacionais sediadas nos Estados Unidos e com receita de mais de
US$ 10 bilhões, 82% já contam com unidades de inteligência organizadas”. Todavia, a
maioria das pequenas e médias empresas, não possuem unidades de inteligência, muito
embora seus líderes reconheçam a importância da informação.
As bibliotecas corporativas estão realizando mudanças no sentido de não atuarem
apenas como mera ponte entre o usuário e a informação. Neste sentido já é possível visualizar
a atuação do bibliotecário, por exemplo, em funções que oferecem ao cliente conhecimento
com valor agregado. Este é o caminho que possivelmente será percorrido por outros tipos de
bibliotecas, afinal é uma exigência do mundo contemporâneo e uma necessidade para a
profissão da informação.
O presente artigo visa a oferecer algumas reflexões sobre o perfil do novo profissional
da informação frente às novas exigências do mercado, sob o enfoque da Inteligência
Competitiva – IC, propondo que esta prática para tratamento da informação e do
conhecimento seja utilizada nos ambientes empresariais. Apresenta o estado-da-arte dos
modelos de IC, considerando o profissional da informação como agente/contribuinte para os
processos de tomada de decisão. A dificuldade relacionada ao processo de análise da
informação será aqui descrito com o propósito de descobrir caminhos que facilitem esta etapa

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tão necessária no ciclo da inteligência competitiva. Conceitos acerca da temática da
informação também serão abordados.

2. INTELIGÊNCIA COMPETITIVA – DEFINIÇÕES & CONSIDERAÇÕES

Vivemos o momento de desenvolvimento tecnológico que pode proporcionar infinitas


possibilidades de armazenamento, acesso e disseminação de informações como nunca antes
visto na história da humanidade. A informação neste contexto é percebida como valor, dada a
possibilidade de se transformar em conhecimento e em inovação tecnológica.
A sociedade tem consciência de que a informação é fator de insumo para o sucesso e
principal ingrediente para a competitividade. A dificuldade encontra-se, todavia, em como
utilizar tal informação de forma prática, a ponto de obter vantagem competitiva. Afinal, o
volume de informações é cada dia maior e o quantitativo supera o qualitativo. Conforme
FULD citado por CARVALHO, “achar dados certamente não é problema nestes dias; achar o
tipo certo de informação é que é” (2000, p. 1).
Com o objetivo de esclarecer e tornar claro algumas terminologias do universo da
informação o presente artigo definirá, na seqüência: Dado, Informação, Conhecimento,
Inteligência, Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva.
Segundo DAVENPORT e PRUSAK “dados são um conjunto de fatos distintos e
objetivos, relativos a eventos. Ou seja, dados são registros isolados. Conforme DRUCKER
citado por DAVENPORT e PRUSAK (1998, p.2) “informações são dados dotados de
relevância e propósito, o que decerto sugere que dados, por si só, têm pouca relevância ou
propósito.” Entretanto é um erro pensar que os dados não são importantes para as
organizações, pois eles constituem a matéria prima da informação. Sem os dados a
informação não pode ser gerada.
DAVENPORT e PRUSAK (1998, p.4) apresentam a clássica definição de informação.
Segundo eles “informação são dados que fazem a diferença” ou seja, diferente do dado, a
informação para ser caracterizada como tal deve gerar para o receptor da mensagem a
possibilidade de ação a partir da emissão de tal conteúdo.
Conhecimento, na concepção de NONAKA e TAKEUCHI (1997, p. 63) é a “crença
verdadeira justificada”. Eles complementam dizendo ainda que:

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conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight
experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações.
Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em
documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. (1997, p.63)

Embora muitos autores não façam distinção entre conhecimento e inteligência, nota-se
que a inteligência pressupõe a estruturação do conhecimento. Segundo VIEIRA, inteligência
são informações analisadas e contextualizadas para fins decisórios, ou seja, tem como base o
conhecimento organizacional. (1999, p.176)
É possível observar com estes conceitos que dado, informação, conhecimento e
inteligência estão relacionados hierarquicamente, ou seja, não se obtém informação sem o
dado e, muito menos conhecimento sem informação. A inteligência é um processo
subsequente ao conhecimento, e envolve análise e reflexão culminando com a possibilidade
de resolução de problemas.

FIGURA 1: Hierarquia dos conceitos: Dado, informação, Conhecimento e


Inteligência

Uma clara definição de Gestão do Conhecimento - GC pode ser compreendida em


SVEIBY citado por CARVALHO e SANTOS quando explicita que GC é “a arte de gerar
valor a partir de bens tangíveis da organização”. Neste sentido, entende-se que é através da
gestão oportuna do conhecimento que as empresas podem passar a serem beneficiadas. O
diferencial competitivo passa a ser o conhecimento e não mais o capital. O GARTNER
GROUP citado por CORRAL comenta que “a gestão do conhecimento é a disciplina que
promove a integração, aproximação para identificar, gerenciar e dividir todas a informações
capturadas pelas empresas” (2001, p.2). Esta informação vantajosa inclui, principalmente,
bases de dados, documentos, políticas e procedimentos, tanto quanto experiências e
competências dos trabalhadores.

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Para NONAKA e TAKEUCHI “existem dois tipos de conhecimento humano, o
conhecimento explícito, que pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em
afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais e o conhecimento
tácito, difícil de ser articulado na linguagem formal.” (1997, p.13). Estes conceitos clássicos
de conhecimento são fundamentais para compreender a GC que é formada a partir de tais
estruturas.
Ainda para NONAKA e TAKEUCHI:

conhecimento explícito é um conhecimento mais fácil de ser transmitido uma vez que está armazenado em manuais,
especificações técnicas, fórmulas matemáticas etc. O conhecimento tácito trata-se de um conhecimento difícil de ser
trabalhado por se tratar de conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e envolve fatores intangíveis
como, por exemplo, crenças pessoais, experiências e até mesmo perspicácia e visão de negócio. (1997, p.42)

Não é fácil trabalhar com esta realidade. A experiência marcada por anos de atividade
é de fato difícil de ser transmitida a outros. Além desta dificuldade, é comum observar que os
trabalhadores, em alguns casos, dificultam este repasse por entenderem que outros podem
tomar seu trabalho afinal, depois desta atitude de “repasse” estes também poderão ser capazes
de executar determinada tarefa, antes apenas área de competência dos primeiros.
Portanto, o grande desafio para as organizações que trabalham a Gestão do
Conhecimento é oferecer aos seus integrantes a confiança de que compartilhar é vantajoso.
Quando o conhecimento é utilizado para a tomada de decisões nos negócios é comum
que os estudiosos se referiam a esta atividade utilizando o termo Inteligência Competitiva -
IC. Enquanto a Gestão do Conhecimento trabalha com aspectos internos da organização a
Inteligência Competitiva foca os aspectos externos. A FIGURA 1 complementa o argumento
mostrando que, partindo de conceitos básicos de dado, informação, conhecimento, chega-se à
definição de inteligência, que pode ser considerada segundo a UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA como:

o resultado de um processo sistêmico que envolve coleta, organização e transformação de dados em


informação, passando por análise e contextualização, cujo resultado é aplicado em processos de solução de
problemas, formulação de políticas, definição de estratégias, comportamento organizacional e tomada de
decisão, que geram vantagens competitivas para as organizações (1999, p.11)

A coleta organizada para uso é a característica principal dessa atividade. A


Inteligência Competitiva contribui para o melhor uso da informação por parte das empresas.
Oferece ao cliente informação pró-ativa e conhecimento acerca do mercado externo servindo
como diferencial competitivo.

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TYSON, citado por TARAPANOFF, complementa afirmando que “ela é mais do
que estudar os competidores, é o processo de estudar qualquer coisa que possa tornar a
organização mais competitiva e posicioná-la melhor no mercado” (2001, p. 46). Em
outras palavras, é o estudo que faz a diferença e gera vantagem a organização perante os
concorrentes - informação isolada não gera inteligência.
A Inteligência nasceu no ambiente militar, dentro dos departamentos de defesa,
mas foi no mundo empresarial que se tornou mais conhecida e disseminada. Nas
empresas a inteligência se transformou e passou a ser conhecida como Inteligência
Competitiva que pode ser entendida como um “processo sistemático de coleta e análise
de informações sobre a atividade dos concorrentes e tendências gerais do ambiente
econômico, social, tecnológico, científico, mercadológico e regulatório para ajudar no
cumprimento dos objetivos institucionais na empresa pública e privada”.
(UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 1999, p. 12).
Enfatiza-se que a inteligência competitiva não é espionagem, mas baseia-se na
captura, análise, síntese e utilização de informação disponível publicamente. Segundo
SHARP “95% das informações utilizadas na Inteligência Competitiva são públicas e
apenas 5% são, verdadeiramente, informações privadas do tipo: lista de clientes, de
preços e de propriedade intelectual...” (2000, p.38). Portanto, é a correta utilização dos
dados que proporciona vantagem competitiva.
Conforme destaca CARVALHO, “é um desafio para organizações e empresas de
qualquer porte, de qualquer indústria, de qualquer setor, fazer uso adequado da
informação, potencializá-la em conhecimento/inteligência e agregar valor aos seus
produtos e/ou processos”. (2000, p.20). O processo de inteligência não é simplório, pois
envolvem sistematização da informação coletada, análise e propostas para a solução de
problemas.
Segundo PORTER, citado por PALOP e VICENTE, pode-se sintetizar a
inteligência em quatro tipos: “Tecnológica, Competitiva, Comercial e de Ambiente
Empresarial”. (1999, p.24)

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3. INTELIGÊNCIA COMPETITIVA - MODELOS

Para desenvolver modelos de Inteligência Competitiva as empresas utilizaram os


conhecimentos da inteligência militar e governamental. Sun Tzu, por exemplo, continua
sendo lido e é considerado o pai da inteligência devido ao seu trabalho clássico sobre
inteligência militar. (PRECOTT; MILLER, 2002, p.18).
Entretanto na maioria das empresas ainda é grande o número de instituições que
se preocupam apenas com o armazenamento da informação, sem se preocupar com sua
real utilização. Para evitar que este fato relacionado ao armazenamento continue
ocorrendo é crescente o número de empresas que estão descobrindo o valor do ciclo da
Inteligência Competitiva.
Para se compreender os passos da inteligência competitiva é importante resgatar
como é o processo de tratamento da informação que, basicamente, envolve quatro etapas:

Alimentação – captação, classificação e codificação de informações externas e


internas à organização;
Memorização – estruturação em um banco de dados, normalmente feita com o
apoio de especialistas;
Recuperação – sistematização de forma e métodos quantitativos e qualitativos
para recuperar a informação armazenada;
Tratamento – análise quantitativa/qualitativa para disponibilização ao usuário.

O processo de Inteligência Competitiva é formado, basicamente, por quatro


grandes etapas:

• Captura
• Tratamento
• Análise
• Disseminação

Tais funções são essenciais em qualquer modelo de IC.

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PALOP e VICENTE destacam as funções básicas de um processo de inteligência:
(busca, captação e difusão); análise (tratamento, análise e validação) e utilização (exploração
dos resultados)” (1999, p.66). A figura 2 demonstra esses processos:

FIGURA 2 – Funções Básicas da Inteligência Competitiva

FONTE: PALOP, Fernando; VICENTE, José M. Vigilância tecnológica e inteligência competitiva, 1999.

Basicamente para se promover a IC, é necessário reconhecer as necessidades de


informação dos integrantes da organização; observar quando realizar a disseminação da
informação; formar grupos/redes de fontes de informação e, por fim, observar que a utilização
da IC se orienta pelas necessidades presentes nas empresas. Ou seja, um processo de IC deve
ser natural, assim como as necessidades são expontâneas, assim deve ser o processo da IC.

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Podem ser destacadas como empresas globais que se beneficiaram de modelos de IC a
IBM, Procter & Gamble, Shell Services International, dentre várias outras. O modelo de IC
desenvolvido pela Procter & Gamble, por exemplo, evoluiu de uma atividade rotineira de
geração de relatórios para uma atividade incorporada ao desenvolvimento estratégico da
empresa. Assim, o processo de IC respondeu as perguntas relacionadas com a necessidade de
se gerar maiores inovações para atingir os objetivos propostos; como reconhecer nos
funcionários conhecimentos e idéias e transformá-los em ação e também como capitalizar da
melhor forma possível as tecnologias emergentes na área de comunicação, tanto internas
como externas, a fim de realizar o máximo com esse conhecimento. (PRESCOTT E MILLER,
2002, p.43).
A IBM desenvolveu seu modelo de IC de forma que fossem identificados os
fornecedores de tecnologia da informação com que os clientes da IBM planejavam fazer mais
negócios. Para cada um desses concorrentes, a IBM designou um executivo experiente como
responsável por assegurar que as estratégias de toda a empresa tratassem desse concorrente e
conduzissem a ações adequadas no mercado. Sistemas alicerçados no Lotus Notes
proporcionavam às equipes bases de dados para discussão on-line, e davam a executivos e
analistas amplo acesso às bases de dados de IC, atualizando as avaliações de competitividade.
Tecnologias de internet para fora da empresa e de intranet para dentro da empresa também
foram utilizadas pela equipe. O projeto piloto da IBM foi avaliado, aprimorado e incorporado
a cultura corporativa da empresa. (PRESCOTT E MILLER, 2002, p.55).
O modelo da Shell Services International utiliza processos de gestão do conhecimento
sobre as atividades de inteligência competitiva. Detalha os quatro processos desempenhados
pelos analistas de IC, concentrando-se na progressão de atividade com baixo valor agregado.
Na seqüência são observadas a que atividades os analistas precisam dedicar mais tempo com
o propósito de se agregar maior valor às mesmas. (PRESCOTT E MILLER, 2002, p.67).
As três companhias analisadas têm diferentes características em relação ao modelo de
IC adotado. A Procter&Gable seguiu a linha do crescimento progressivo uma vez que, a partir
de uma atividade corriqueira como a geração de relatórios, identificou e implementou o
modelo de IC focado na inovação de produtos. Além disso, a empresa procurou utilizar seus
recursos internos de forma otimizada a fim de obter os melhores resultados.
A IBM foi agressiva atuando diretamente no combate à ameaça que os concorrentes
estavam representando. A Shell trabalhou de forma a observar quais as prioridades que
deveriam ser atacadas. Assim, o modelo de IC da IBM foi defensivo devido à própria
necessidade que a companhia estava enfrentando. Por sua vez a Procter& Gamble precisa
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inovar enquanto a Shell enfatiza a observação. É importante notar, nesse sentido, que a IC se
relaciona intimamente com o planejamento estratégico das empresas. A missão e a visão são
de extrema importância, pois só assim as informações selecionadas e analisadas poderão
contribuir para o sucesso empresarial. Neste sentido, todas as empresas analisadas
desenvolveram seus modelos de IC de forma a contemplar o planejamento estratégico.

4. O PROCESSO DA ANÁLISE

O propósito da IC é oferecer informações que realmente satisfaçam o cliente (aquele


que fez a encomenda do serviço) envolvendo assim, a compreensão do pedido e o
oferecimento de atividades que façam a diferença. Desta forma, os Centros de Inteligência
Competitiva podem atuar de forma a se preocuparem em estudar as necessidades do cliente e
oferecer informações com alto valor agregado. KALB comenta que “o trabalho de um analista
de IC envolve recomendações e não pacotes de informações previamente definidos” (2000,
p.43).
O grande diferencial entre as bibliotecas tradicionais e os atuais Centros de
Inteligência Competitiva é justamente a função de análise e o oferecimento de propostas que
possam agregar valor ao processo. Ou seja, entender o que o cliente quer e oferecer apenas
dados pode não atingir o objetivo em ambientes onde se promove a inteligência competitiva.
É necessário oferecer soluções e, para isso, o entendimento profundo do assunto e a
contextualização da informação se fazem necessários. A importância do intercâmbio de
conhecimentos entre profissionais com diferentes formações deve ser destacada como forma
de solucionar problemas. Assim, o profissional da informação poderá atuar em duas situações
neste ambiente. Primeiro, como executor no sentido da captura e armazenamento e, depois,
como analista e disseminador oferecendo subsídios para a tomada de decisão por parte dos
dirigentes.
Os sistemas de informação, geralmente, desempenham bem com os processos de
captura, tratamento e disseminação. Entretanto, a fase de análise da informação é
problemática para a maioria das unidades de informação. Nota-se, inclusive, que a maioria
trabalha apenas com as três fases mencionadas, deixando de considerar a fase de análise que é
justamente o momento de contextualização da informação. Isto acontece porque a fase de

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análise é a mais complexa, uma vez que envolve, necessariamente, um corpo de profissionais
preparados que tenham conhecimento do assunto tratado, com poder de reflexão e decisão.
Resgatando a história das bibliotecas, as instituições vivem uma situação ainda
tradicional de tratamento da informação. De modo geral, preocupam-se com a obtenção e o
armazenamento, assim como as bibliotecas do passado se preocupavam com a captura e
preservação. Talvez a comparação seja um pouco exagerada na visão de muitos; entretanto,
dentro das empresas é comum ver a acumulação de dados e mais dados sem objetivos
concretos. DAVENPORT, citado por CARVALHO “comenta o depoimento de um executivo
de uma grande empresa americana da área de alimentos que confidenciou que a sua
companhia analisava no máximo 2% dos dados coletados”. (2000, p.23). Os processos de
inteligência competitiva propõem, justamente, uma forma eficiente para a utilização da
informação.

5. O PROFISSIONAL DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

Uma nova possibilidade de atuação, no contexto da inteligência competitiva, é


destinada aos bibliotecários. Afinal a IC requer profissionais aptos a capturar, tratar e
disseminar informações, habilidades desenvolvidas durante séculos por esses profissionais.
Assim, o profissional da informação atua como recuperador de informação em sistemas de IC
ou ainda como auditor de informação e, analista de negócios. Novamente, pensando em
bibliotecas tradicionais, quase nada mudou em relação ao perfil do profissional mas pouco a
pouco, nota-se a incorporação de bibliotecários com novas atribuições, muito mais
interessados em oferecer informações com alto valor agregado e não apenas dados.
O livro Conhecimento Empresarial de Davenport e Prusak, quando comenta sobre a
profissão de Biblioteconomia/Ciência da Informação, identifica uma das funções do
bibliotecário como sendo a corretagem do conhecimento. A literatura clássica chama esse
profissional de “Information Broker”. Na visão dos autores, que têm larga experiência nas
atividades de informação, esse profissional é indispensável nas corporações por ser aquele que
conhece fontes de informação formais e informais. Em geral, é o bibliotecário que, quando
recebe a solicitação sobre uma nova pesquisa, pode informar quem são os outros membros da
empresa que já fizeram ou estão fazendo pesquisas semelhantes, por exemplo. Assim, além de
oferecer conhecimento explícito, esse atua como fonte de referência a outros profissionais
detentores de conhecimento tácito.
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Entretanto, serão apenas estas as atribuições dos bibliotecários? Nota-se, mais uma vez
que o perfil do bibliotecário está progressivamente se transformando. Afinal já é possível
observar profissionais trabalhando também no âmbito da análise da informação.
Em outras palavras, quando se fala em poder de análise, o antigo conceito do
bibliotecário muda, pois uma nova dimensão da informação foi englobada no processo. Para
se trabalhar com esse aspecto da IC, são necessários profissionais que desenvolvam um
raciocínio capaz de analisar o todo, ou seja, capaz de contextualizar a informação, entregando
ao cliente soluções que possibilitem a tomada de decisão.
Obviamente o bibliotecário estará inserido, necessariamente, numa equipe
multidisciplinar com a função maior de ser capaz de agregar valor à informação. A mudança
profissional não é exclusividade da Biblioteconomia ou Ciência da Informação, mas a
necessidade de adaptação às novas realidades do mundo contemporâneo exige mudanças de
postura de todos os profissionais. Para as profissões relacionadas à informação, parece que
tais modificações são mais acentuadas devido ao impacto que oferecem ao mundo
globalizado.
ARRUDA et al destaca que “elege-se como ideal o profissional que potencialize a
comunicação, a interpretação de dados, a flexibilização, a integração funcional e a geração,
absorção e troca de conhecimento”. (2000, p.17)
ALMADA DE ASCENIO, citada por ARRUDA et al, comenta ainda que:

Nenhum profissional da atualidade tem condições de reunir todas as habilidades,


conhecimentos e competências necessários para interagir e equacionar os problemas
decorrentes dos fluxos de informação e conhecimento. Para resolvê-los é necessária à
formação de equipes interdisciplinares em todos os níveis e processos: estratégicos,
gerenciais e operacionais .(2000, p.19)

Portanto, a IC estará necessariamente composta por profissionais com formações


diferenciadas. O bibliotecário, por ser um profissional que necessariamente trabalha a
informação, poderá estar presente nestas equipes multidisciplinares. Características como
criatividade e persistência devem estar mais do que nunca presentes nas atividades de IC, pois
como já visto, esta atividade exige dedicação constante e olhar crítico sobre as situações a
serem resolvidas. Mais uma vez pensando na história da profissão de biblioteconomia, pode-
se visualizar que o bibliotecário facilmente poderá compor equipes multidisciplinares de IC.
A biblioteca corporativa é um exemplo dessa situação, pois é lá que essa inter-relação
acontece com maior intensidade.

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6. CONCLUSÃO

A Inteligência Competitiva tem por propósito monitorar e oferecer informação tratada,


que faça a diferença e promova vantagem competitiva. Em geral as grandes empresas são as
maiores beneficiadas pelos processos de inteligência competitiva. Por outro lado, entre as
pequenas e médias empresas, sistemas de inteligência competitiva são praticamente
inexistentes. No Brasil, a prática da IC não é comum, mas já é possível observar em pesquisas
que a atenção dos dirigentes está crescendo neste sentido.
Atualmente considerações positivas, inclusive empresariais, afirmam que a
informação e o conhecimento são extremamente importantes para a competitividade. No
entanto, são poucos os que conseguem sistematizar sistemas de IC dentro de suas instituições.
Assim, a maioria está ainda distante de sistemas que privilegiem a IC. Mas é a IC uma
atividade exclusiva para ambientes empresariais? A resposta é um enfático não. A IC é
comumente aplicada em ambientes empresariais, mas pode ser também aplicada em
ambientes governamentais e acadêmicos, por exemplo. O principal objetivo da IC é oferecer
vantagem em relação ao concorrente baseada em sistemática coleta e análise de informações
públicas. A IC não esta baseada apenas em busca de informações disponíveis na Internet ou
em outras fontes, mas o desenvolvimento de suas atividades trabalha de forma a possibilitar o
garimpo de informações que façam a diferença e que gerem resultado para o processo.
O artigo abordou que os sistemas de informação conseguem, facilmente, trabalhar
bem nas etapas de captura, tratamento e disseminação da informação. O processo de análise
da informação, por outro lado, pode ser considerado problemático, pois envolve um corpo de
profissionais comprometido com o resultado, envolvendo informações contextualizadas, com
alto valor agregado. Atualmente, mais do que executar essas tarefas, o profissional da
informação precisa desenvolver habilidades de analisar, refletir e propor recomendações.
Uma proposta de estudo sobre o poder de análise dos profissionais de IC fica aqui
registrada, juntamente com a pergunta: Será possível criar uma sistemática com o intuito de
ajudar esses profissionais a aumentar o poder de análise em suas atividades?
Reflexões a respeito da temática da análise da informação foram consideradas não
com o intuito de exaurir o tema, mas muito pelo contrário, lançando apenas a necessidade de
maior observação desse aspecto do ciclo da IC.

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REFERÊNCIAS

PRESCOTT, John E.; MILLER, Stephen H. Inteligência competitiva na prática: técnicas e


práticas bem-sucedidas para conquistar mercados. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

CARVALHO, Hélio Gomes de Carvalho. Gestão da Informação tecnológica. Curitiba:


CEFETPR, 2000. Disponível em: <www.ppgte.cefetpr.br>. Acesso em: 09 mar. 2001.

DAVENPORT, Thomas H; PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial: como as


organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

NONAKA, Ikujiro;TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa. Rio de


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