Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Título:
Minimizando Riscos na Gestão Estratégica:
Proposta de uso de Inteligência Competitiva em Instituição de Ensino e Pesquisa
Autores:
Alessandro Bezerra Trindade 1
Luiza Maria Bessa Rebelo2
Afiliação Institucional:
Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
E-mail:
abtrindade@fucapi.br
rebelolu@terra.com.br
Área Escolhida:
Inteligência Competitiva
1
Engenheiro Eletricista (UFAM). Aperfeiçoamento em Automação Industrial (UNICAMP). Especialista em
Monitoramento e Inteligência Competitiva (UFAM). Assessor da Diretoria Executiva na Fundação Centro de
Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica/ FUCAPI.
2
Professora Adjunta da UFAM, Departamento de Administração/FES. Mestre em Administração pela FGV/RJ.
Doutora em Engenharia de Produção, Área de Gestão de Negócios, do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção - PPGEP/UFSC.
2
Resumo
Numa sociedade cada vez mais marcada pela competitividade, pela hiperinformação e pela
globalização, as instituições buscam obter vantagem competitiva para se diferenciar, reduzir
custos e poder atender os clientes. Os dirigentes das instituições têm na tomada de decisão a
sua maior preocupação, pois um direcionamento equivocado pode prejudicar o rumo da
organização. A adoção de Inteligência Competitiva é uma forma de poder tomar decisões
acertadas, sendo definida como um programa sistemático para coletar e analisar informação
sobre as atividades de competidores e tendências de mercado em geral, visando a obtenção
das metas delineadas pela empresa. Especificamente neste trabalho, buscou-se apresentar uma
proposta para adoção da Inteligência Competitiva como ferramenta para reduzir riscos e
aprimorar a Gestão Estratégica de uma Instituição de Ensino e Pesquisa. A metodologia
adotada foi de natureza qualitativa, utilizando-se das pesquisas descritiva e exploratória para
desenvolvimento da investigação. Para desenvolvimento da proposta, os autores apoiaram-se
na pesquisa documental e, no estudo de caso, visando a consolidação de um trabalho teórico-
prático, aplicado à Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica/ FUCAPI.
Através desses mecanismos da pesquisa científica, buscou-se identificar o processo atual
através do qual a instituição pesquisada realiza sua Gestão Estratégica e, de forma estruturada
e sistemática, apresentou-se a proposta de modificação desse processo, contemplando-se as
ferramentas e conceitos de inteligência. Além disso, por haver a necessidade do
monitoramento contínuo dos ambientes interno e externo, foram indicados os passos para se
implantar uma Unidade de Inteligência Dedicada, na instituição. Dessa forma, espera-se estar
contribuindo na indicação de caminhos para que essa instituição, e outras do gênero, possam
executar de forma eficaz e efetiva a sua missão, no rumo da sua visão de futuro.
1 Considerações iniciais
2 Fundamentação Teórica
Basta uma rápida análise nos noticiários e nas publicações impressas para se ter a
certeza que o mundo encontra-se numa efervescência econômica, política e tecnológica que
tem conseqüências em todos os níveis sociais.
No meio de todo este turbilhão encontram-se as organizações e estas têm sentido a
força imperativa de buscar formas organizacionais alternativas para sobreviver no mundo dos
negócios. Com a globalização, as organizações passaram a se preocupar com a
competitividade e com a inserção no mercado de bens e serviços, com maior qualidade a um
preço menor (GOMES, BRAGA, 2001). Elas já se deram conta de que precisam realizar uma
permanente avaliação desse ambiente competitivo e das informações advindas dele, e que,
através de uma postura estratégica, podem aproveitar as oportunidades que lhes são colocadas
e contornar as ameaças identificadas.
A adoção de estratégias concorrenciais permite às organizações conservarem, de
maneira duradoura, uma posição sustentável no mercado. Nesta situação, seus concorrentes as
enxergam como portadoras de uma vantagem competitiva.
O grande desafio, portanto, está em saber lidar com a incerteza, a turbulência e a
instabilidade desse mundo em transformação.
Nesse contexto, o que fazer para garantir uma vantagem competitiva diante dos
concorrentes apesar das constantes mudanças no ambiente de negócios? A literatura técnica
da área indica a necessidade de antecipar-se às mudanças, detectando as oportunidades e
observando, com olhos críticos, o panorama socioeconômico. E como fazer isso? Através do
monitoramento contínuo do fluxo de informações de negócios que envolvem essas
organizações (GOMES, BRAGA, 2001).
A Inteligência Competitiva apresenta-se como uma solução eficaz para
enfrentamento da turbulência ambiental. Kahaner (1997) assinala que Inteligência
Competitiva (IC) é um programa sistemático para coletar e analisar informação sobre as
atividades de competidores e tendências de mercado em geral visando a obtenção das metas
de uma empresa.
A IC pode auxiliar a gestão organizacional através das seguintes possibilidades de
ação: a) antecipar mudanças no mercado de trabalho; b) antecipar ações dos competidores; c)
4
3 Metodologia
As duas abordagens típicas de pesquisas científicas encontradas na literatura são:
abordagem quantitativa e abordagem qualitativa (EISENHARDT, 1989).
A escolha para realização da presente investigação recaiu sobre a abordagem
qualitativa pois, de acordo com Bryman (1989), essa abordagem é típica de quando há o
surgimento de determinada teoria que busca formular explicações de algum aspecto da
realidade, através de hipóteses específicas que serão testadas. Estas hipóteses permitirão testar
a teoria, sustentando-a ou não. Com o resultado do teste das hipóteses, reavalia-se a teoria
inicial e formulam-se novas hipóteses que novamente serão testadas e realimentarão o ciclo de
pesquisa. Para o contexto do trabalho, esta metodologia mostrou- se mais indicada.
Dentro da abordagem qualitativa, foi utilizada uma combinação dos métodos de
pesquisa descritiva e de pesquisa exploratória. A descritiva foi empregada quando da
investigação e apresentação de todo o processo corrente da realização de planejamento
estratégico da instituição alvo da pesquisa. Já a exploratória advém do fato desta investigação
propor uma modificação no conceito vigente do planejamento da instituição estudada,
agregando ferramentas de Inteligência Competitiva ao processo de gestão.
Utilizou-se ainda, o estudo de caso pelo fato de que a presente investigação se
caracterizou como um tipo de pesquisa que privilegiou a análise profunda e exaustiva de uma
dada unidade, de modo a se alcançar um conhecimento amplo e detalhado do objeto em
estudo (GIL, 1987). Buscou-se, portanto, o exame de um ambiente, de uma situação em uma
dada organização particular (GODOY, 1995).
Para melhor compreensão do processo de elaboração do trabalho, pode-se dizer
que a pesquisa empreendida obedeceu as seguintes etapas (adaptado de GIL, 1987):
● Formulação do problema;
● Construção de hipóteses ou determinação dos objetivos;
● Estabelecimento do plano de pesquisa;
● Operacionalização dos conceitos e variáveis;
● Elaboração dos instrumentos de coleta de informações;
● Coleta de informações;
● Análise e interpretação dos resultados;
● Elaboração do Relatório final.
6
Início
Definição do Comitê de GE
Avaliação da Sistemática
Novos Panoramas
Análise de valores/visão/matriz-
guia/conceitos-ponte
Fim
exemplo, a relação de fóruns ativos pertinentes à missão da instituição pelo total de fóruns
criados no portal, pode facilitar este acompanhamento.
Finalmente, mas não menos importante, não se deve esquecer que a ética e a
legalidade devem permear todo o processo de obtenção das informações. Deve-se estabelecer
um código de ética junto ao departamento jurídico da instituição para evitar problemas
futuros. Assim, dentre os temas apresentados no Plano Promocional e nas palestras, estará a
questão da sensibilização dos funcionários com relação ao trabalho ético em IC.
Para que a efetividade e a sistematização da coleta de informações seja a mais
proveitosa possível, até a saída de um funcionário para um congresso, seminário ou feira, o
responsável pela área de IC deverá lhe passar orientações e metas específicas de coleta. Na
volta do evento, deve-se prestar contas destas informações, compartilhando as informações
obtidas através de relatórios, palestras, etc, o que pode ir para ficha funcional do empregado,
inclusive pontuando no sistema de avaliação de desempenho.
Com a estrutura mínima montada, que dará suporte, dentre outras atividades, à
Vigilância Estratégica ou ao Monitoramento do Ambiente, pode-se passar para as sugestões
de melhoria no fluxo da Gestão Estratégica da FUCAPI, na busca da minimização de riscos.
Acompanhando-se o fluxo original do processo de GE (conforme Figura 01), é
interessante que se defina, após a nomeação do Comitê Gestor, as características, condições e
variáveis que deverão ser devidamente monitoradas e gerenciadas pela organização para que
ela fique bem posicionada em seu ambiente de competição. Seria a formalização da
ferramenta denominada “Fatores Críticos de Sucesso (FCS)”. Dentre as características, pode-
se destacar: os nichos de mercado que a instituição pensa em atuar, o investimento em alguma
nova tecnologia, a inovação, a responsabilidade social, a qualidade, etc. Numa fase posterior,
estes Fatores serão validados.
A ferramenta de FCS pode estar associada com a aplicação das cinco Forças de
Porter, visto que esta última auxilia na identificação dos FCS. Além disso, as Forças de Porter
permitem uma avaliação do mercado, dos concorrentes, dos fornecedores e dos clientes da
instituição. Serve, portanto, como ponto de partida para as preocupações estratégicas de
organização e para a próxima fase do processo de GE.
Uma grande melhoria, inclusive já identificada como necessária pelo Comitê de
GE da instituição durante as reuniões do final de 2003, seria a troca da atual definição de
panoramas pela Análise de Cenários Prospectivos. Esta etapa é crucial para todo o
desdobramento do processo e influi diretamente nos passos seguintes. O atual processo de
definição de panoramas se atém a enumerar aqueles sinais que podem influenciar o futuro da
instituição, ou seja, eles são apenas identificados.
Na Análise de Cenários Prospectivos estudam-se as diversas possibilidades de
futuros plausíveis existentes, e prepara-se a organizações para enfrentar qualquer uma delas,
ou até mesmo, cria-se condições para que se modifiquem suas probabilidades de ocorrência,
ou minimiza-se seus efeitos.
Essa mudança, por si só, já garante uma efetividade maior do processo de GE da
instituição e utiliza duas outras ferramentas de IC: a Análise de SWOT e o Método Delphi. A
primeira atua no levantamento de todos os aspectos que podem influenciar o futuro da
instituição, tanto internamente quanto externamente. Já o método Delphi é útil na
interpretação dos cenários, quando se consulta os peritos das temáticas identificadas pela
Análise de SWOT.
Após a análise de cenários, na qual as estratégias começam a se delinear, é
importante que se faça uma validação dos FCS levantados no início do processo. Isso se faz
11
necessário porque o futuro acaba ficando mais claro após a aplicação dos cenários, e é bem
provável que algumas características e premissas mudem.
As demais etapas do fluxo de GE da instituição não necessitam de modificação do
ponto de vista do uso de inteligência. Entretanto, a fase das reuniões periódicas de
acompanhamento e avaliação, a última do fluxo, terá um grande e significativo reforço. Nessa
etapa, o processo de Vigilância Estratégica ou Monitoramento será indispensável para
fornecer informações atualizadas sobre aspectos concernentes às estratégias elaboradas ou
sobre novos cenários não vislumbrados no início do processo de GE. Essa atividade será
comandada pelo especialista de IC, com a colaboração de todos os funcionários da instituição
– deve ser um esforço corporativo. Para o Monitoramento, todas as ferramentas aqui
apresentadas podem ser úteis, ficando a cargo do especialista a escolha da mais adequada ou a
combinação delas, se for o caso.
A constância no monitoramento é um ponto extremamente importante para que
os resultados aconteçam. Deve-se lembrar que o sistema é ininterrupto e que o
acompanhamento do meio ambiente tem que ser diário para que as pequenas informações
importantes não sejam perdidas. As análises devem ser divulgadas sempre que se ache que
são importantes, e não apenas em datas pré-definidas porque provavelmente não haverá mais
tempo para se tomar decisões. Ou seja, as mudanças não têm hora marcada para acontecer;
elas emergem, mas antes dão sinais de que estão para vir, e se a organização não se preparou
para elas, pode comprometer o seu futuro e a sua sobrevivência. Por essa razão, deve-se
manter o Monitoramento em dia. No atual modelo da FUCAPI, isso não ocorre
sistematicamente (só de forma pontual e isolada).
A figura 02, apresentada a seguir, ilustra o novo fluxo proposto para a GE da
FUCAPI, com as ferramentas de IC incluídas no processo para minimizar os riscos da tomada
de decisão e para aumentar a eficácia da mesma. As mudanças estão realçadas em caixas de
cor cinza escuro.
6 Considerações finais
Pelo que foi exposto neste artigo, pode-se afirmar que o seu objetivo central foi
alcançado, ou seja, foram feitas sugestões de melhoria no processo de Gestão Estratégica de
um instituto de ensino e pesquisa, a FUCAPI, através da adoção dos preceitos e de
ferramentas de Inteligência Competitiva. A proposta feita ao final, foi além da simples
análise, pois demonstra a necessidade de uma Unidade Dedicada de IC dentro da instituição.
Sendo assim, os passos para implementação desta unidade de IC também foram
contemplados.
A GE da FUCAPI, na sua versão original ou na sugerida neste trabalho, não se
constitui em mero receituário prescritivo, visto que contempla características singulares dessa
instituição. Entretanto, a essência e a metodologia podem ser aproveitadas e as lições
aprendidas no decorrer dos anos podem servir para indicar a outras instituições congêneres, as
melhores práticas com relação a estratégias e ao uso de IC, com o intuito de torná-las mais
competitivas. No caso específico das instituições privadas, classe na qual a FUCAPI faz parte,
a adoção de IC torna-se indispensável para poder torná-las mais ágeis e pró-ativas com
relação ao futuro, dando-lhes acesso rápido às novas tecnologias e ainda, como forma de
garantir a obtenção de recursos e a sustentabilidade dessas instituições, ao longo do tempo.
12
Início
Definição do Comitê de GE
Avaliação da Sistemática
Análise de valores/visão/matriz-
guia/conceitos-ponte
Fim
Deve-se ressaltar que resultados não irão ocorrer no curto prazo. Vários passos
deverão ser dados para se ter a infra-estrutura e a cultura mínima para que o processo
realmente funcione conforme o planejado. Dessa forma, o envolvimento e compreensão da
alta administração serão indispensáveis nos primeiros anos e, além disso, todo e qualquer
resultado favorável que tenha sido resultante das ações de IC na instituição, deverá ser
divulgado como forma de consolidar um caminho e para sensibilizar as pessoas com relação a
importância do comprometimento com o processo no dia-a-dia na instituição.
Como contribuição para futuros trabalhos, que complementem a proposta deste
artigo, aponta-se a utilização do Balanced Scorecard (BSC). A adoção do BSC pode levar a
uma efetividade no cumprimento das ações de médio e longo prazo.
Outra sugestão seria a realização de um levantamento de dados referentes à
utilização de IC e de GE em vários institutos de ensino e pesquisa, identificando as práticas
destes institutos, de tal forma que um modelo mais homogêneo pudesse ser sugerido para esse
tipo de instituição.
Para finalizar, vale ressaltar que, na avaliação da Associação Brasileira das
Instituições de Pesquisa Tecnológica - ABIPTI, o modelo de GE da FUCAPI é considerado
13
muito bom, mas as mudanças aqui sugeridas visam torná-lo mais robusto diante das mudanças
de cenários a que todos estão sujeitos e, desta forma, as estratégias sejam mais eficazes. E,
citando Costa (2004, p. 10), “se não planejarmos nosso futuro, outros o farão para nós, por
nós ou contra nós...”.
Referências Bibliográficas
BRYMAN, Alan. Research methods and organization studies. London: Routledge, 1989.
First published in 1989 by Unwin Hyman.
COSTA, Eliezer Arantes da. Gestão Estratégica. São Paulo: Saraiva, 2004.
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987.
KAHANER, Larry. Competitive Intelligence: how to gather, analyze, and use information to
move your business to the top. New York: Touchstone, 1997.
MARCIAL, Elaine Coutinho. GRUMBACH, Raul José dos Santos. Cenários Prospectivos:
como construir um futuro melhor. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.