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Março - 2005
FICHA CATALOGRÁFICA
2
Dedico,
Aos meus pais pelo carinho, criação e a transmissão de valores que são as maiores
riquezas educacionais que já recebi e a minha irmã que sempre me incentivou em todos
os meu projetos.
3
AGRADECIMENTOS
Em especial ao professor doutor Aldo Pacheco Ferreira pela acolhida, incentivo, ajuda
e fé no meu potencial.
Aos demais companheiros da turma de mestrado de 2003, Ana, Leila, João Vitor,
Fábio, Brás e Vicente que me acompanharam, colaboraram e incentivaram durante estes dois
anos.
4
Sumário
Lista de figuras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Lista de fotos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Lista de Gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Lista de Tabelas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Lista de Quadros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Lista de Siglas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
RESUMO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
ABSTRACT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.1 APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2 Objetivos de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3 Referencial teórico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4 Revisão de literatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.1 AGROTÓXICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.2 SOLO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
5
4.2.1 Qualidade do solo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.5 SUSTENTABILIDADE.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5 Metodologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.2 AMOSTRAGEM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
6 Resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6
6.2.2 Respiração basal do solo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
8 Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
9 Recomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
7
Lista de figuras
01 Área de coleta 53
8
Lista de fotos
9
Lista de Gráficos
10
Lista de Tabelas
11
Lista de Quadros
12
Lista de Siglas
13
RESUMO
14
estudo nas duas coletas foi feito um comparativo entre elas e seus valores médios, com as
respectivas amostras de mata clímax local e com valores da literatura. A comparação dos
resultados mostrou que em momentos diferentes e sob tipos de manejos diferentes o solo do
sítio de estudo apresentou alterações provocadas pela ação dos agrotóxicos. Na comparação
com a amostra de mata clímax local foi constatado diferença entre os valores. Com relação à
comparação dos resultados obtidos das amostras do sítio de estudo nas duas coletas com os
dados de literatura foi possível verificar que os valores encontrados nas análises foram
menores que os encontrados em literatura para áreas com a mesma classe de solo. Todas estas
constatações mostraram que o solo no sítio de estudo encontrava-se impactado tanto em junho
quanto em novembro de 2004 e que esse impacto tem um efeito na saúde do ambiente.
15
ABSTRACT
Brazil is a country of agribusiness profile and depends a lot on the agricultural section result
for the balance of its trade balance. Due to that, the toxic agrochemical products have a great
importance for agriculture and their use is motivated with the objective of increasing the
productivity of the section, but they are also responsible for the contamination of the soil, air
and water and for several harmful interactions on the biodiversity and the environment. The
tomato plantations are an example faithful of this picture because they are characterized by
the great and indiscriminate toxic agrochemical products use. Among the alterations caused
by this practice one of the most important are related to the soil and its microbial community.
However, the studies and the knowledge regarding the current toxic agrochemical product
interactions and their metabolites on the soil and microbial community and the repercussion
of that for the environmental health and the health of the population are very scarce. The
objective of this work is to assess the impact provoked by agrochemicals and referred
metabolites to the soil microbial community in a tomato culture and assess the effects
provoked by these impact in the environmental health. The study ranch is a delimited area (20
x 10 m) of a tomato plantation localited in the district of Caetés municipal district of Paty do
Alferes-RJ, where among the several accomplished agricultural practices the abusive and
indiscriminate toxic agrochemical product use in the plantations without any type of
conservative practice is a concern. In this ranch 9 samples were collected, and in function of
the steepness of the land, 3 in each height of the land: top, half and base, distanced 3 meters
sidelong one between each other. It was collected a sample of a nearby area in climax site
forest to make a comparative valuation . Sample were two sample collectioned twices, the
first in the month of June of 2004, during winter when the plantation was under usual
handlings, such as application of agrochemical products. The second collection happened in
November of 2004 after the tomato harvesting and therefore the plantation gave place to the
pasture vegetation without any handling and toxic agrochemical application. The collected
samples were submitted to the chemical analyses of microbial biomass and basal respiration
and the results were used for calculating the metabolic quotient. With the obtained results
16
from the samples of this study ranch in the two collections a comparative one was made
between them and their medium values, with the respective samples collected in climax site
forest and with values of the literature. The comparison of the results showed that in different
moments and under different land uses, the soil presented alterations probably associated to
the toxic agrochemical action. In comparison with a sample colected in climax site forest
difference was verified. In relation to the comparison of the results to literature data it was
possible to verify that the values found in the analyses were lower than that found in literature
for areas with the same soil. These data suggested that the soil in the study ranch was
impacted in June and November of 2004 and that the impact may be associated to the
environmental health.
Key-words: Environmental impact, Toxic agrochemical products, Soil Microbiota, Soil Basal
Respiration, Soil Microbial Biomass, Metabolic Quotient.
17
Capítulo 1
Introdução
1.1 – APRESENTAÇÃO
O presente estudo tem como intenção avaliar o impacto causado pelo uso abusivo e
indiscriminado de agrotóxicos e seus metabólitos na microbiota do solo de uma cultura de
tomates e avaliar os efeitos deste impacto sobre a saúde do ambiente.
Os agrotóxicos têm um papel de grande importância para agricultura, por outro lado são
responsáveis pela contaminação do solo, ar e água e por diversas interações danosas a
biodiversidade e o meio ambiente.
As áreas agrícolas em todo mundo estão sujeitas a diversos riscos ambientais, segundo
DUMANSKI & PIERI (2000) estima-se que 40% das terras agrícolas do mundo sofrem
degradação e um dos principais fatores responsáveis é o uso indiscriminado de agrotóxicos
para controle de pragas e doenças nas plantações.
18
Esse uso indiscriminado de agrotóxicos ocorre muito por conta de pressões por altas
produtividades na área agrícola, onde os trabalhadores rurais cada vez mais deixam de
obedecer a regras de segurança pessoal e não respeitam a capacidade de absorção e
recuperação do ambiente. Por conta disso, vêm aumentando o número de áreas agrícolas
impactadas, e o agravamento da situação de outras que já estavam. Isso, ao longo dos anos,
vêm diminuindo a produtividade do solo e influenciando na economia, na saúde do meio
ambiente e das populações.
19
1.2 – JUSTIFICATIVA PARA A ESCOLHA DO TEMA
O interesse pelo tema originou-se ainda na época de atuação na iniciativa privada, onde
trabalhava em uma empresa de controle de pragas urbanas, e lidava com controle de pragas e
via uma enorme lacuna de informações quanto a determinadas ações de pesticidas no meio
ambiente.
20
1.3– FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
21
A diversidade e quantidade microbiana, representada pela biomassa microbiana (BM),
figuram como um dos mais importantes indicadores para análise da qualidade de um solo,
pois têm um importante papel uma vez que dela vai depender a ciclagem dos nutrientes e o
seu armazenamento, o fluxo de energia e a transformação de C, N e P (DIAZ-RAVIÑA et al.
1993; DE-POLLI & GUERRA, 1999; GAMA-RODRIGUES et al., 1997; ESPÍNDOLA,
2001).
Um outro indicador importante para avaliação da qualidade do solo é a respiração basal (RB),
pois esta reflete a atividade da microbiota do solo responsável pela degradação de compostos
orgânicos (LOPES, 2001).
E por último o quociente metabólico (qCO2) que é obtido pela razão entre a respiração basal e
B B
a biomassa microbiana. Ele é utilizado como um indicador de impacto do solo uma vez que
retrata o quanto este meio pode ou não estar impactado.
Entendendo o solo como um corpo vivo acredita-se que a qualidade pode influenciar não só
na fertilidade e na biodiversidade de organismos vivos presentes nele, mas como na qualidade
da saúde do homem que vive e trabalha neste solo. Através de dados obtidos dos indicadores,
BMS, RBS e qCO2 busca-se uma melhor compreensão do impacto provocado por agrotóxicos
B B
Espera-se que, com dados obtidos através dos bioindicadores, seja possível a adoção de
medidas corretivas e preventivas que levem a um manejo sustentável do ambiente e
principalmente do solo.
22
1.4 – RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Desta forma este estudo pretende fornecer informações que possam ser úteis na avaliação da
saúde do meio ambiente em decorrência da ação dos agrotóxicos no solo.
23
Capítulo 2
Objetivos de estudo
24
Capítulo 3
Referencial teórico
Para avaliar estes efeitos o presente projeto se prontifica a analisar, em um campo de teste
onde se desenvolve uma plantação de tomates, o impacto que a utilização indiscriminada de
agrotóxicos pode provocar na microbiota do solo e de que maneira isso pode afetar a sua
sustentabilidade e a qualidade do meio ambiente.
25
Capítulo 4
Revisão da Literatura
IV.1 – AGROTÓXICOS
Os agrotóxicos são substâncias cuja definição dada de acordo com a NRR 5 (Norma
Regulamentadora Rural), que acompanha a legislação federal nº 7.802, de 11 de julho de
1989, atualmente regulamentada pelo decreto lei 4.074/02, de 4 de janeiro de 2002, é:
Entende-se por agrotóxicos as substâncias, ou mistura de substâncias, de natureza química
quando destinadas a prevenir, destruir ou repelir, direta ou indiretamente, qualquer forma de
agente patogênico ou de vida animal ou vegetal, que seja nociva às plantas e animais úteis,
seus produtos e subprodutos e ao homem.
Os agrotóxicos recebem inúmeros outros nomes de acordo com o seu uso e a praga a qual se
deseja combater. É comum encontrarmos denominações genéricas como pesticidas ou
praguicidas que de uma maneira em geral define as substâncias químicas destinadas a matar,
repelir, atrair, regular, e interromper o crescimento de pragas.
Neste trabalho se optou por adotar o termo agrotóxico de maneira geral onde se englobam os
pesticidas ou praguicidas, inseticidas, rodenticidas, acaricidas, herbicidas, desfolhantes,
26
dessecantes, reguladores de crescimento, fertilizantes e outras substâncias químicas naturais
ou sintéticas passiveis de aplicação nas plantações ou no solo.
Independente do nome que se dá a estas substâncias, é importante avaliar não só o seu papel
no combate as pragas e vetores que assolam o homem no campo ou no ambiente urbano, mas
também o grande número de ações impactantes que elas provocam no meio ambiente e na
saúde das populações de forma direta ou indireta.
27
TABELA. 1: Incremento no consumo de agrotóxicos no mercado mundial no período
1985/1990 e consumo no ano de 1985
28
IV.1.2 – Impacto dos agrotóxicos na saúde da população
29
QUADRO 1: Principais ações e lesões causadas pelos agrotóxicos
30
No Brasil estudos mostram que a ocorrência de intoxicações nos aplicadores de agrotóxicos
vêm aumentando. Em um estudo feito por ARAÚJO (2000) foi levantada a ocorrência de um
caso de intoxicação aguda em cada 8 agricultores examinados e que a estimativa de
contaminação da população brasileira por agrotóxicos por ano é de cerca de 2%. Além disso,
existe o problema da sub-notificação onde se considera que para cada caso registrado em
hospitais existem aproximadamente 250 outros não registrados (RUEGG, 1991), neste caso os
números divulgados por pesquisas seriam muito maiores.
A utilização dos agrotóxicos sempre envolve riscos e estes, assim como os efeitos que estas
substâncias podem provocar na saúde humana, vão depender fundamentalmente do perfil
toxicológico do produto, do tipo e da intensidade da exposição e da susceptibilidade da
população exposta (DELGADO & PAUMGARTTEN, 2004).
Por conta disso os agrotóxicos vem fazendo um grande número de vítimas por todo mundo,
principalmente nos países em desenvolvimento como mostra a TABELA 3.
31
TABELA 3: Mortes por envenenamento com agrotóxicos para países subdesenvolvidos (em
todas as idades)
32
A realidade ocorrida nas plantações de tomate é um retrato fiel do que acontece em muitas
outras culturas pelas diversas regiões do país. Segundo ARAÚJO (2000) o plantio de tomate
demanda o uso intensivo de agrotóxico e isso representa um grande risco epidemiológico à
saúde humana relacionado ao consumo do fruto pela população, tanto local quanto de outras
regiões. O mesmo autor, em estudo realizado em regiões de plantação de tomate no estado de
Pernambuco, mostra que muitos dos agrotóxicos utilizados, apesar de possuírem registro, não
são recomendados para esta cultura e não existe qualquer tipo de controle sistemático dos
resíduos nos alimentos ou nos produtos comercializados.
O perigo desta prática pode ser bem entendido pelo que descreve SARTORATO (1996) em
seu trabalho, onde na revisão de literatura ele cita (COUTINHO et al., 1994:27) e (TRAPÉ,
1994:581) (WHO/EHC 78;1988) que falam sobre a utilização ampla de ditiocarbamatos em
olerícolas e horticulturas brasileiras e dos principais efeitos que essas substâncias e seus
metabólitos podem provocar a saúde humana como câncer, mutagênese e a teratogênese.
Neste mesmo estudo é citada uma análise feita no estado do Rio de Janeiro em 466 amostras
de diferentes espécies de hortaliças e frutas comercializadas no estado, onde em 63% das
amostras foram encontrados resíduos de agrotóxicos da classe dos ditiocarbamatos, dentre
eles o Mancozeb (etileno bis-ditiocarbamato de manganês e zinco) produto bastante utilizado
nas plantações de tomate em Paty do Alferes. Deste universo de análise, 24% das amostras
continham níveis de resíduos acima do tolerado pela legislação vigente e que, em particular, a
cultura de tomate apresentou um nível de 38,2% de resíduos acima do limite de tolerância
(CALDAS & REIS, 1991).
Um estudo feito na cidade de Paty do Alferes por DELGADO & PAUMGARTTEN (2004)
mostra os principais sintomas que os agricultores da região apresentam decorrente da ação dos
agrotóxicos, como mostra no QUADRO 2, abaixo.
33
QUADRO 2. Sintomas que os agricultores relataram terem apresentado durante e/ou logo
após a preparação e/ou aplicação de pesticidas na lavoura. Paty do Alferes, Rio de Janeiro,
Brasil.
Nº %
Agricultores Entrevistados 55 100
Relataram já ter “passado mal” 34 62,0
Relataram nunca ter “passado mal”. 21 38,0
Agricultores que apresentaram sintomas: - -
¾ Dor de cabeça 24 71,0
¾ Enjôo 17 50,0
¾ Diminuição de visão 13 38,0
¾ Vertigem/ tonteira 12 35,0
¾ Irritação da Pele 10 29,0
¾ Perda de Apetite 8 24,0
¾ Tremores 5 15,0
¾ Vômitos 5 15,0
¾ Crise Alérgica (espirro) 2 6,0
¾ Diarréia 2 6,0
¾ Dores no peito 2 6,0
¾ Secura na garganta 1 3,0
¾ Nervosismo 1 3,0
34
QUADRO 3. Inseticidas e fungicidas usados no município de Paty do Alferes, Rio de
Janeiro, Brasil.
35
Em relação à classificação toxicológica dos agrotóxicos, ela é feita segundo o grau de
toxicidade das substâncias que é medido através de um parâmetro conhecido como DL-50
(Dose letal 50%) que corresponde às doses que provavelmente matam 50% dos animais de
um lote utilizados para experiência. São valores calculados estatisticamente a partir de dados
obtidos experimentalmente e que servem para estabelecer uma classificação toxicológica das
substâncias como na Quadro 4.
II Moderadamente tóxico Azul 50 a 500 200 a 2000 100 a 1000 400 a 4000
III Levemente tóxico Verde > 500 > 2000 > 1000 > 4000
Num outro estudo, realizado por RAMALHO et al. (2000), foi feito um levantamento da
quantidade de agrotóxicos, por princípio ativo, utilizados por área no município de Paty do
Alferes, TABELA 4.
36
TABELA 4: Distribuição de agrotóxicos, por nome técnico, utilizado em Paty do Alferes, RJ.
Nome técnico Quantidade do Quantidade Área Quantidade/
Princípio ativo total área
(kg) (%) (ha) (kg ha-1)
Mancozeb 2182,16 30,91 72,93 29,18
Malathion 1211,40 17,59 49,46 24,49
Methamidophos 1062,66 15,43 106,69 9,96
Óxido cuproso 845,24 12,28 123,55 6,84
Oxicloreto de cobre 239,04 3,47 10,68 22,38
Permethrin 228,90 3,32 97,04 2,36
Cartap 227,44 3,30 97,72 2,33
Enxofre 220,16 3,20 40,46 5,44
Vamidothion 143,70 2,09 33,04 4,35
Thiophanate methyl + chlorotalonil 86,10 1,25 8,64 9,97
Mancozeb + thiophanate 78,00 1,13 10,50 7,43
Maneb + zineb 65,00 0,94 8,00 8,13
Chlorotalonil 61,50 0,89 14,60 4,21
Thiophanate methyl 54,13 0,79 18,08 2,99
Fonte: IBGE 1995
37
incluindo os efeitos sobre os inimigos naturais das pragas e a resistência induzida aos
próprios agrotóxicos,” (LUNA, 1999).
Outro ponto importante citado pelo mesmo autor acima em seu artigo é que “há interferência
dos agrotóxicos sobre a dinâmica dos ecossistemas, como nos processos de quebra da
matéria orgânica e de respiração do solo, ciclo de nutrientes e eutrofização de águas. Pouco
se conhece, entretanto sobre o comportamento final e os processos de degradação desses
produtos no meio ambiente”.
Os agrotóxicos por sua vez têm seu papel de importância para agricultura, mas por outro lado
são responsáveis pela contaminação do solo, ar e água e por diversas interações danosas a
biodiversidade e ao meio ambiente. Uma grande parte dos agrotóxicos que são aplicados nas
plantações para o controle de pragas acaba atingindo o solo e as águas, além disso, resíduos
destes produtos atingem estes meios por conta de embalagens vazias de agrotóxicos
descartadas inadequadamente, descarte inadequado de sobra de misturas ou a percolação
destes resíduos pelo solo atingindo os lençóis de águas subterrâneas (PERES, 1999; SILVA et
al., 2001; MORAES & JORDÃO, 2002).
O descarte das embalagens vazias de agrotóxicos quando feito de maneira inadequada pode
também provocar uma série de prejuízos ao meio ambiente. Quando este descarte é feito
diretamente em contato com o solo pode haver a contaminação do mesmo provocando
alterações decorrente da ação química dos agrotóxicos e seus metabólitos que escorrem das
paredes internas das embalagens. Além disso, a composição química do material destas
embalagens lhes confere uma alta estabilidade e persistência no ambiente provocando também
uma poluição física e visual.
38
Segundo SETHUNATAN (1973), quando em contato com o solo ou a água, as embalagens,
principalmente plásticas, podem sofrer três tipos diferentes de reação: degradação completa
sem a formação de metabólitos; degradação incompleta com acúmulo de metabólitos não
degradáveis; e, pequenas alterações levando ao acúmulo e a alta persistência dos produtos em
função de deposições sucessivas.
Os resíduos dos agrotóxicos, uma vez depositados no solo, permanecem na faixa superficial
de 15 cm (HARRIS, 1969; LICHTENSTE1N, 1962). Essa faixa do solo é também a região de
maior atividade da fauna e da flora do solo (ALEXANDER, 1961) servindo de plataforma
para interação do resíduo dos agrotóxicos com estas. A quebra das moléculas dos pesticidas
pelos microrganismos é considerada uma das mais importantes atividades ocorridas nesta
faixa do solo (VIG et al., s/d)
39
IV.2 - SOLO
É no solo que ocorrem inúmeros fenômenos como os ciclos hidrológicos, ciclos orgânicos e
inorgânicos, e a partir dele são disponibilizadas várias atividades benéficas ao homem como a
agricultura, suporte para os reservatórios de água e etc.
O solo é tido como um organismo vivo onde sua atividade biológica determinará o seu
potencial (RELATÓRIO DO ESTADO DO AMBIENTE, 1999).
O entendimento do solo como um corpo vivo significa considerar que todos os seus processos
e componentes estão funcionalmente integrados. Portanto, a vida do solo e seus processos
vitais estão expressos e regulados pela biota do solo. Essa regulação da biota sobre a
decomposição de resíduos orgânicos, ciclagem de nutrientes, degradação de poluentes
40
químicos e a sua forte influência sobre a estrutura do solo, fazem com que esses
microrganismos e esses processos sejam naturalmente escolhidos como indicadores da saúde
ou da qualidade do solo (PAPENDIK & PARR, 1992).
Segundo MATOS et al. (1999), a maior parte dos estudos feitos sobre biodiversidade são
direcionados para variedade taxonômica das espécies, mas vêm crescendo os estudos sobre a
diversidade genética.
41
IV.3 – INDICADORES BIOLÓGICOS.
Em seu estado funcional complexo a avaliação da qualidade de um solo não pode ser feita
diretamente (ISLAN & WEIL, 2000). Ela deve ser medida através da utilização de
indicadores biológicos que possibilitem a quantificação e qualificação dos organismos vivos
no solo.
De acordo com DUMANSKY & PIERI (2000) as bases científicas que respaldam a busca por
indicadores de qualidade do solo são: a compreensão de que estes indicadores estão voltados
para avaliação e ou monitoramento das condições do solo que o tornam um corpo vivo. De
outra forma, esses indicadores específicos desta escala devem ter a capacidade e a
sensibilidade para medir e avaliar atributos e processos do solo que interfiram na promoção da
sua vida (ZILLI et al., 2003).
42
relação entre todos os atributos do solo. Assim, um número mínimo de indicadores deve ser
selecionado.
respiração das raízes e respiração da fauna e um processo não biológico, a oxidação química o
qual pode ser particularmente provocado por altas temperaturas.
O termo respiração do solo também é definido como a absorção de O2 e, ou, liberação de CO2
B
B
B
B
B
B
B
B
B
A respiração dos microrganismos do solo pode ser determinada no campo através da retirada
de amostras com material resistente ao impacto. Destas amostras retiram-se às raízes, sendo
os solos colocados num cilindro contendo um recipiente com solução de hidróxido de sódio
ou potássio. O cilindro é vedado e as medidas são feitas concomitantemente com as da
respiração endáfica.
43
Nas condições de laboratório, a respiração basal ou estimulada, pode ser mensurada. Neste
caso, a respiração basal tem sido largamente usada para estudos sobre influências de diversos
atributos físicos do solo como umidade, temperatura e aeração sobre a mineralização da
matéria orgânica do solo (ANDERSON, 1989). Também se observaram correlações com
outras propriedades fisiológicas do solo, como enzimas ou conteúdo de ATP, o que permite a
estimativa da atividade da microflora e do tamanho da população microbiana (ANDERSON
& DOMSCH, 1978).
são usadas câmaras de incubação sem aeração e com absorção de CO2 por solução alcalina de
B
A biomassa microbiana é um dos componentes que controlam funções chave no solo, pois
além de atuar na decomposição e no acúmulo da matéria orgânica, nas transformações
envolvendo os nutrientes minerais ela representa, ainda, uma reserva considerável de
nutrientes como N, P e S, os quais são continuamente assimilados durante os ciclos de
crescimento dos diferentes organismos que compõem o ecossistema (STENBERG, 1999).
Isso possibilita que a fertilidade natural do solo possa ser avaliada pela BMS, uma vez que os
processos de catálise que influenciarão na dinâmica da matéria orgânica e na ciclagem de
nutrientes serão governados por ela (ALCÂNTARA, 1995). Assim, o declínio da atividade
44
microbiana tem grande impacto na fertilidade natural do solo, com grandes efeitos nos
ecossistemas naturais (BROOKES, 1995). Por outro lado, os solos que mantêm um alto
conteúdo de biomassa microbiana são capazes não somente de estocar, mas também de ciclar
mais nutrientes no sistema (STENBERG, 1999) possuindo, portanto uma alta eficiência.
MELLONI et al. (2001) citam vários autores quando falam que as análises de BMS fornecem
dados úteis a respeito de alterações ocorridas nas propriedades biológicas do solo por conta de
inúmeras ações promovidas nele, principalmente por aquelas feitas pelo homem, sendo um
parâmetro muito dinâmico. Isso por que a BMS responde de maneira diferenciada aos
manejos agrícolas adotados em cada agroecossistema (CATTELAN & VIDOR, 1990;
MOREIRA & SIQUEIRA, 2002).
45
energia necessária para a síntese da biomassa (DE-POLLI & GUERRA, 1997; BARDGETT
& SAGGAR, 1994).
incubada e medido pela taxa de respiração basal pela quantidade de carbono na biomassa
microbiana (DE-POLLI & GUERRA, 1997; WALKER & REUTER, 1996). Essa razão
expressa a quantidade de carbono imobilizado na biomassa microbiana
O cultivo do tomate é uma das culturas que mais causam impactos ao meio ambiente, devido
à exploração desordenada dos solos, aliada à destruição da cobertura vegetal, que intensifica a
erosão e, conseqüentemente, a perda de fertilidade dos mesmos, o que resulta no abandono,
mais tarde, das áreas por parte dos produtores (CARVALHO et al., 1998). Outro fator
agravante é à diversidade e quantidade de agrotóxicos que são utilizadas para o controle de
pragas e doenças que geralmente assolam este tipo de cultura. As áreas onde são
desenvolvidas a cultura de tomate caracterizam-se por uma intensa produtividade, o ano
inteiro ininterrupto, com um ciclo que varia de 3 a 4 anos (RAMALHO et al., 2000). Segundo
MOREIRA & SIQUEIRA (2002) o regime anual de uso de agrotóxicos apresenta uma
variabilidade que acompanha diretamente a sazonalidade da produção com maior aporte
dessas substâncias nas lavouras de verão, como a do tomate, com um consumo total de,
aproximadamente, 5,7 t/safra (ou gasto de R$ 208.650,00). As lavouras de inverno, com
destaque para a cultura da couve-flor, consomem aproximadamente 2,5 t/safra (ou gasto de
R$ 90.000,00).
O município de Paty do Alferes, localizado na região serrana do Rio de Janeiro, tem uma
tradição agrícola de mais de 200 anos. Atualmente a região se destaca pela cultura de
olerícolas onde são produzidos 40% de todo tomate comercializado no estado, com
predominância da plantação de tomateiros estaqueados para consumo do fruto in natura
46
(RAMALHO et al., 2000). No entanto, segundo o autor a produção na região vem diminuindo
em decorrência dos manejos inadequados empregados nas plantações, principalmente o
desmatamento através de queimadas e o uso abusivo e indiscriminado de agrotóxicos. Essas
práticas além de provocarem danos ao meio ambiente, reduzindo a fertilidade do solo,
também provocam danos à saúde humana principalmente aos trabalhadores da região que
estão expostos continuamente aos efeitos nocivos dos agrotóxicos, seja pela inalação, contato
com a pele e por consumirem os alimentos produzidos em natura com altos teores de
agrotóxicos.
47
IV.5 – SUSTENTABILIDADE.
Isso implica num uso racional dos recursos naturais de maneira que não se esgote a
possibilidade destes atenderem as necessidades das gerações futuras no que tange
principalmente a produção de alimentos. Um outro ponto importante é entender que um
agroecossistema é um conjunto de componentes bióticos e abióticos ligados intimamente
formando uma unidade ecológica funcional (ALTIERE, 2002) que atenderá as necessidades
de uma produção agrícola (GLIESSMAN, 2000).
Dentre os vários conceitos existentes sobre sustentabilidade há um que prega que seja o
equilíbrio entre o crescimento econômico, a equidade social, as liberdades políticas, a saúde e
o meio ambiente (AGENDA 21, 1993). SOUZA (1996), que é citado por LEONARDO
(2003), considera a definição do relatório da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD), importante: pois sustentabilidade é aquela que atende as
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem
as suas próprias necessidades.
48
Capítulo 5
Metodologia
O sítio de estudo foi uma plantação de tomate localizada no distrito de Caetés no município
de Paty do Alferes, (22º10’-22º25’ Sul e 43º11’ – 41º37’ Oeste) localizado na Serra do Mar a
aproximadamente 130 Km da cidade do Rio de Janeiro - RJ. A localização da plantação foi
registrada com o auxílio de um localizador por satélite (Global Positioning System).
Esta região é caracterizada por um relevo de declividade de até 50%, pela monocultura do
tomate sendo uma das maiores produtoras do estado do Rio de Janeiro. A agricultura se
desenvolve nas encostas com declividade média de 25%. Nesta região é costume a utilização
de queimadas para limpeza das áreas agricultáveis, a aração morro abaixo para preparo do
solo e o uso abusivo e indiscriminado de agrotóxicos nas plantações, sem nenhum tipo de
prática conservacionista dos agroecossistema, (RAMALHO et al., 2000).
mostra a FOTO 1.
49
FOTO 1: Foto do sítio de estudo na região de Caetés, na cidade de Paty do Alferes-RJ, em
junho de 2004
De acordo com a TABELA 5, montada com informações fornecidas pela secretaria municipal
de agricultura de Paty do Alferes, são muitos os agrotóxicos de diferentes grupamentos
químicos utilizados na região.
50
TABELA 5: Relação dos agroquímicos utilizados pelos agricultores da região de Paty do
Alferes.
51
V.2 - AMOSTRAGEM
Foram coletadas 9 amostras simples de solo de uma área de 200 m2, 20 metros morro acima
P P
10 m
3m
Topo
3 2 1
7m
20 m
Meio
6 5 4
7m
8 7
9
Base
3m 3m 3m
2m
2m
Foi feita uma coleta de uma amostra de solo de uma área de mata clímax local (AMC), a 300
metros distante do sítio de estudo, para comparação dos resultados com as amostras coletadas
no sítio de estudo (ASE). Essa coleta foi feita também à profundidade de 0-10 cm e utilizando
o trado copo.
52
sacos, com as amostras, e deixadas à sombra para secagem. No dia seguinte as amostras
foram destorroadas e peneiradas a uma granulometria de 2 mm e pesadas em balança analítica
com precisão de centésimo de grama.
De cada amostra foi retirada uma alíquota de 20 g para determinação da umidade, após
secagem a 105 º C por 24 h.
Este trabalho foi desenvolvido entre os meses de junho a novembro de 2004, onde foram
feitas duas coletas de amostras uma no primeiro mês e outra no último. A primeira coleta foi
feita no mês de junho em virtude da plantação estar na fase de desenvolvimento dos frutos,
momento este que se caracteriza pelo uso de uma grande variedade e quantidades de
agroquímicos nas plantações. O mês de junho, em plena estação de inverno, se caracteriza por
uma baixa pluviosidade média.
A segunda coleta ocorreu no mês de novembro de 2004 na mesma área, após 20 dias do
término do ciclo de cultivo do tomate. Portanto, os tomateiros deram lugar à vegetação de
pastagem quase sem nenhum tipo de manejo e sem aplicação de agrotóxicos. Além disso, o
mês de novembro se encontra em plena estação do verão e a região se caracteriza pela alta
pluviosidade média.
A AMC da primeira coleta foi feita em um local 300 metros distante do ponto onde fora
coletado as amostras. O local é coberto por uma vegetação clímax local situado na margem
oposta da rua (FOTO 2).
A AMC da segunda coleta foi feita em um ponto diferente da primeira coleta, distante 500
metros do sítio de estudo, mas também do outro lado da rua. Neste ponto foi observado que o
solo possui uma coloração mais avermelhada com muita quantidade de areia e outras
partículas inorgânicas.
53
FOTO 2: Foto da área da primeira coleta de amostra clímax local na região de Caetés, na
cidade de Paty do Alferes-RJ, em junho de 2004.
De cada amostra, peneirada e isenta o máximo possível de raízes e pedras, foi pesada, em
balança de precisão de duas casas decimais, 6 alíquotas de 20 g cada para determinação do
carbono da biomassa microbiana de acordo com o protocolo de análise da Embrapa (DE-
POLLI & GUERRA, 1997). Três alíquotas de cada amostra foram fumigadas com
clorofórmio P.A. Após um período de 24 horas, procedeu-se a retirada do resíduo de
clorofórmio. As outras 3 alíquotas não foram fumigadas e serviram como controle. As 6
alíquotas de cada amostra foram adicionado 50 ml de K2SO4 (0,5 mol L -1), e foram agitadas
B B B B P P
por 30 minutos.
54
Após 30 minutos de repouso a suspensão resultante das alíquotas foi filtrada em papel de
filtro Whatman nº 1. O carbono orgânico dos extratos foi determinado pela adição de 2mL do
filtrado e 3 mL de água deionizada em frasco de vidro. Em seguida, na ordem, foi medido em
pipeta de precisão adicionado a este mesmo frasco 2,5 mL de solução de trabalho(ST)1 e 2,5 P P
Com uma solução padrão de carbono foram feitas diluições como assinalado no QUADRO 5.
0 0 5 2,5 2,5
6 1 4 2,5 2,5
12 2 3 2,5 2,5
18 3 2 2,5 2,5
24 4 1 2,5 2,5
1- A solução de trabalho foi preparada adicionando-se 300 mL de solução de pirofosfato de sódio (Na4P2O7) a 0,1M, 46 mL de ácido
B
sulfúrico (H2SO4) 0,5 M, 20 mL de permanganato de potássio (KMnO4) 0,1 M e 80 mL de sulfato de manganês mono-hidratado
(MnSO4.H2O) 0,1M nesta ordem a um balão de 1.000 mL e ao final completado com água deionizada e homogeneizado.
2- A solução padrão de carbono foi preparada a partir da diluição de 6 mL de uma solução estoque de carbono de concentração 500 mg L-1,
B
55
V.4 – ANÁLISE DA RESPIRAÇÃO BASAL DO SOLO (RBS).
Foram retiradas 3 alíquotas de 50g de solo de cada amostra para determinação da respiração
basal (RB). Essas alíquotas foram incubadas em frasco de vidro provido de tampa vedante,
contendo um frasco com 10 mL de solução de NaOH (1 mol L-1), para absorver o CO2
P P B B
liberado pelo solo. Após 120 horas de incubação (5 dias) a 28º C, retirou-se o frasco com
solução de NaOH e precipitou o CO2 adicionando-se 2 mL de cloreto de bário (BaCl2), 10%
B B B B
em água e titulou-se o excedente de NaOH com solução de HCl (0,5 mol L-1), usando como
P P
O quociente metabólico (qCO2) foi calculado como a razão entre o C-CO2 liberado pela
B B B B
Os resultados das análises C-biomassa, Respiração basal e qCO2, obtidos nas coletas de
B B
jun/2004 e nov/2004, foram trabalhados em planilha Excel e gerados gráficos também através
desta planilha. Assim a média dos resultados dos pontos amostrados, foram submetidas às
análises estatísticas que se basearam na seguinte modalidade: medidas de dispersão (desvio-
padrão, amplitude e coeficiente de variação).
¾ Medidas de Dispersão
Para avaliar o grau de variabilidade ou dispersão dos valores de um conjunto de números,
lançamos mão das ferramentas estatísticas denominadas medidas de dispersão. Essas nos
proporcionam um conhecimento mais completo do fenômeno a ser analisado, permitindo
estabelecer comparações entre fenômenos da mesma natureza e mostrando até que ponto os
valores se distribuem acima ou abaixo da medida de tendência central. Nesta dissertação
utilizaram-se as seguintes:
56
1. Desvio-Padrão (S) => É a medida de dispersão mais usada e mais importante. Mede a
concentração dos dados em torno da média. É dado pela soma dos quadrados dos
desvios dividido pelo número total de observações.
2. Amplitude de Variação (A) => Trata-se da diferença entre o maior e o menor dado
obtido indicando o comprimento do intervalo de variação.
3. Coeficiente de Variação (CV) => Trata-se de uma medida relativa de dispersão, útil
para comparação em termos relativos do grau de concentração em torno da média de
séries distintas. É dado por:
57
V.7 - ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS AMOSTRAS.
Com relação aos dados de literatura foram pesquisados valores de análises BMS, RBS e
qCO2, em solos da mesma classe, portanto com características semelhantes dos trabalhados
B B
neste estudo, podzólico vermelho-amarelo, porém podendo haver pequenas variações nos
teores de argila e nas características do local de coleta.
58
V.8 – METODOLOGIA DE PESQUISA
A pesquisa em questão foi realizada com o intuito de descrever as características do solo bem
como do tipo de manejo ao qual este é submetido para que se tenha uma real idéia do tipo de
ação impactante sofrida por este. Possui também um caráter explicativo, pois o estudo tem o
intuito de apresentar as causas que levam a uma situação de impacto do solo na área de
estudo. E por último tem caráter exploratório dado à falta de estudos que abordem o impacto
provocado por agroquímicos na microbiota do solo e sua relação com a saúde ambiental
(NASCIMENTO, 2004).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em 14/06/2004, parecer nº 41/04, com base nas
normas estabelecidas pela Resolução 196/96 ENSP-FIOCRUZ, que trata de pesquisa
envolvendo seres humanos.
59
Capítulo 6
Resultados
O segundo ponto foi comparar os resultados das análises das amostras (1 a 9) e seus
respectivos valores médios, entre os meses de jun/2004 e nov/2004, analisando
estatisticamente através de medidas de dispersão.
O terceiro ponto foi avaliar o comportamento do solo do sítio de estudo em épocas diferentes,
tendo como parâmetro os resultado médios das análises de acordo com a altura de coleta das
amostras: base, meio e topo. Estes resultados foram analisados estatisticamente através de
medidas de dispersão.
Em quarto e último, foi feita uma comparação da média dos resultados obtidos das amostras
do sítio de estudo, não considerando as respectivas amostras de mata clímax local, com dados
obtidos em literatura.
60
VI.1 - COMPARAÇÃO COM AMOSTRA DE MATA CLIMAX LOCAL
TABELA 6: Resultados das análises de BMS das amostras de solo coletadas no sítio de
estudo e em área de mata clímax local na região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ,
em dois períodos diferentes.
Junho/2004 Novembro/2004
Ponto de amostragem
(µgC/g solo) (µgC/g solo)
1 142,23 155,72
2 136,78 190,93
3 200,66 132,55
4 88,09 228,28
5 39,17 172,43
6 134,99 208,74
7 277,84 278,48
8 362,53 228,38
9 39,31 259,58
AMC 76,46 22,32
Média ASE (1-9) 157,96 206,12
Desvio Padrão 107,44 47,96
Coeficiente de Variação 68,02% 23,27%
Amplitude de variação 323,36 145,93
61
Com os dados da TABELA 6 foi feito o GRÁFICO 1, e fazendo uma análise, verifica-se que
os valores obtidos na segunda coleta (nov/2004) foram todos superiores à respectiva AMC.
Além disso, o valor médio das ASE’s, de 1 a 9 (206,12 µgC/g solo), foi também superior se
comparado a AMC, (22,32 µgC/g solo), colhida na mesma data.
300,00 7 7
9
µgC/g solo
250,00 4 8
3 6
2
200,00 5
1
1 2 6 3
150,00
4
100,00 AMC
5 9
50,00 AMC
0,00
jun nov
Os dados de umidade das amostras nos dois períodos de coleta também foram determinados,
(TABELA 7), e pode-se observar que a média das ASE de jun/2004 difere do valor de
umidade da respectiva AMC, fato esse que não ocorre para as amostras de nov/2004. Se
comparado à umidade média das ASE nos dois períodos verifica-se que em novembro o solo
está mais úmido do que em junho, coincidentemente o primeiro mês é uma época de
constantes chuvas na região, enquanto o segundo é inverno, época de poucas chuvas.
62
TABELA 7: Resultados das análises de umidade das ASE e AMC coletadas na região de
Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em dois períodos diferentes.
1 11,65% 15,05%
2 11,90% 13,80%
3 10,80% 15,95%
4 11,65% 16,70%
5 10,40% 16,10%
6 11,70% 14,25%
7 10,95% 14,50%
8 12,25% 15,15%
9 16,10% 14,60%
AMC 8,00% 15,25%
Média ASE (1-9) 11,93% 15,12%
As ASE coletadas em nov/2004 apresentaram 8 (89%) valores com diferença superior a 10%
em relação à respectiva AMC. Das 9 amostras 4 (44,5%) apresentaram valores menores que a
AMC, enquanto 4 (44,5%) apresentaram valores maiores.
Fazendo uma comparação, pela TABELA 8, da média dos valores de RBS das ASE’s nos
dois períodos e comparando-os com os valores de RBS das suas respectivas AMC’s observa-
se que em ambas os valores da média estão abaixo do valor das AMC’s, no entanto essa
diferença pode ser considerada pequena (<7%).
63
TABELA 8: Resultados das análises de Respiração Basal das ASE e AMC coletadas na
região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em dois períodos diferentes.
Junho/2004 Novembro/2004
Ponto de amostragem (µgC.g-1solo/hora)
P P (µgC.g-1solo/hora)
P P
1 0,58 0,52
2 1,95 1,06
3 1,13 0,36
4 0,94 1,72
5 1,65 1,97
6 0,59 0,35
7 1,02 1,51
8 0,40 1,74
9 0,87 1,31
AMC 1,09 1,21
Média ASE (1-9) 1,02 1,17
Desvio Padrão 0,51 0,63
Coeficiente de Variação 50,06% 53,68%
Amplitude de variação 1,55 1,62
A variação das ASE coletadas em jun/2004 e nov/2004 pode ser comparada no GRÁFICO 2.
Nas ASE de jun/2004 ainda pode-se observar uma leve tendência de declínio dos valores no
sentido da amostra 9, o que significa dizer que as amostras coletadas nas partes mais baixas
do terreno apresentam valores de RBS mais baixos.
64
GRÁFICO 2: Gráfico comparativo dos valores de C procedentes da RBS das ASE e AMC
coletadas na região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em dois períodos diferentes.
2 5
2,00
4 8
5
µgC.g solo/hora
7
1,50
9
AMC
3 AMC
7 2
-1
4
1,00 9
1 6
1
0,50 8 3 6
0,00
jun nov
De acordo com a TABELA 9, comparando os valores do qCO2 pode-se verificar que 8 (89%) B B
das ASE de jun/2004, apresentaram seus valores diferentes do valor da respectiva AMC. O
valor médio das ASE’s de 1 a 9 de jun/2004 (12,02 µgC-CO2 h-1 x 103 µgC biom g-1solo) também
P P P P P P
65
TABELA 9: Resultados qCO2 das ASE e da AMC coletadas na região de Caetés na cidade de
B B
Os valores das amostras do sítio de estudo de nov/2004 apresentaram todos os valores com
diferença muito grande em relação a AMC ficando todas com valores bem abaixo desta.
De acordo com o GRÁFICO 3, as amostras de nov/2004 apresentam uma curva com uma
linearidade muito maior do que a curva das amostras de jun/2004.
66
GRÁFICO 3: Gráfico do quociente metabólico (qCO2) das ASE e AMC coletadas na região B B
50,00
5
40,00
30,00
9
20,00
2 AMC
4 5
10,00 4 8
1 3 6 2 7 9
7 1 3
8 6
0,00
jun nov
67
VI.2 – COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS DAS AMOSTRAS COLETADAS
EM JUNHO E NOVEMBRO.
Comparando a média dos resultados das amostras de jun/2004 com a das amostras de
nov/2004, a partir da TABELA 6., pode-se observar que média dos resultados das ASE’s da
primeira coleta é inferior (157,96 µgC/g solo) ao da segunda (206,12 µgC/g solo).
As variações dos resultados trabalhadas estatisticamente pelo desvio padrão (DP), a amplitude
de variação (AV) e o coeficiente de variação (CV) são apresentados na TABELA 10. Pela
análise do desvio padrão pode-se observar que as amostras de jun/2004 apresentam uma
variação de resultados, de BMS, bem mais acentuada em torno da média do que as amostras
de nov/2004. Isso é ratificado pelo coeficiente de variação das amostras de jun/2004 que se
apresenta bem superior ao das amostras de nov/2004, refletindo em uma maior dispersão dos
valores individuais das amostras em torno do valor da média dos resultados. Um outro dado
de confirmação é a amplitude de variação que mostra que nas amostras de jun/2004 os valores
máximos é mínimos estão muito mais distanciados do que nas amostras de nov/2004, onde se
observa uma amplitude de variação maior.
TABELA 10: Análise estatística do Desvio Padrão (DP), Coeficiente de Variação (CV) e a
Amplitude de Variação (AV) dos valores de BMS das amostras coletadas no sítio de estudo
na região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em dois períodos diferentes.
68
VI.2.2 – Respiração basal do solo.
Comparando a média dos resultados das amostras de jun/2004 com a das amostras de
nov/2004, a partir da TABELA 8., pode-se observar que o valor médio da primeira coleta é
ligeiramente inferior (1,02 µgC.g-1solo/hora) ao da segunda (1,17 µgC.g-1solo/hora).
P P P P
TABELA 11: Análise estatística do Desvio Padrão (DP), Coeficiente de Variação (CV) e a
Amplitude de Variação (AV) dos valores de RBS das amostras coletadas no sítio de estudo na
região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em dois períodos diferentes.
Os valores individuais das amostras de nov/2004 além de apresentarem uma variação maior
em torno da média aritmética (DP= 0,63) desses valores, apresentaram também uma
amplitude de variação e uma dispersão dos valores em relação à média ligeiramente maior do
que os valores das amostras de jun/2004.
Fazendo uma comparação dos valores médios das ASE’s de jun/2004 com as ASE’s de
nov/2004, a partir da TABELA 9., pode-se observar que o valor médio da primeira coleta é
superior (12,02µgC-CO2 h-1 x 103 µgC biom g-1solo) ao da segunda (5,59 µgC-CO2 h-1 x 103 µgC biom g-
B B P P P P P P B B P P P P P
1
solo).
P
69
O estudo estatístico feito com os valores das amostras do sítio de estudo coletadas em
jun/2004 e nov/2004, apresentado na TABELA 12., mostra que os valores das amostras de
jun/2004 apresentam-se com uma dispersão em relação a média bastante elevado se
comparado as amostras de nov/2004. Isso é ratificado pelos resultados do C.V. que comprova
que percentualmente a dispersão dos valores das amostras de jun/2004 é mais de duas vezes
maior do que a dispersão em nov/2004. Deve-se considerar também que os valores de qCO2 B B
das amostras de jun/2004 apresentaram uma amplitude de variação alta comparado aos
valores das amostras de nov/2004.
TABELA 12: Análise estatística do Desvio Padrão (DP), Coeficiente de Variação (CV) e a
Amplitude de Variação (AV) dos valores de qCO2 das amostras coletadas no sítio de estudo
B B
70
VI.3 - COMPARAÇÃO POR ALTURA DE COLETA NO SÍTIO DE ESTUDO
Fazendo uma análise do GRÁFICO 4, observa-se que os valores médios das amostras de
nov/2004 e jun/2004 geram, ambos, uma curva com declividade positiva. A curva referente
aos valores das amostras de nov/2004 apresenta uma linearidade maior (R2= 0,9971) P P
comparada a das amostras de jun/2004, (R2= 0,2254). Isso mostra que as amostras de
P P
nov/2004 coletadas no topo (1,2,3), no meio (4,5,6) e na base da plantação (7,8,9) apresentam
uma tendência mais evidente de aumento de C-biomassa no sentido do topo para a base do
terreno.
Com relação às amostras de jun/2004 mesmo verificando-se que há uma declividade positiva
no sentido de variação de C-biomassa do topo para base do sítio de estudo, a baixa linearidade
da curva, devido ao baixo valor da média dos valores das amostras do meio do sítio de estudo,
mostra uma heterogeneidade maior do solo em junho do que em novembro de 2004.
GRÁFICO 4: Gráfico das médias dos valores de C-biomassa das amostras de solo conforme
a altura da coleta no sítio de estudo na região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em
dois períodos diferentes
250,00 BASE
BASE
200,00 R2= 0,9971
P P
MEIO
µ g C /g s o lo
150,00 TOPO
R2= 0,2254
P P
100,00
MEIO
50,00
jun/04 nov/04
0,00
71
VI.3.2 - Respiração basal do solo
A análise da RBS com relação à altura das amostras coletadas em nov/2004, a partir do
GRÁFICO 5, apresenta uma linha do gráfico com declividade positiva indicando uma
tendência de aumento da RBS no sentido do topo para base, enquanto que as amostras
coletadas em jun/2004 apresentam uma linha de gráfico com declividade negativa indicando
uma tendência de decréscimo da RBS no mesmo sentido.
No entanto, a reta do gráfico das amostras de jun/2004 apresenta uma linearidade ligeiramente
maior (R2=0,9702) do que a reta do gráfico das amostras de nov/2004 (R2=0,8904).
P P P P
GRÁFICO 5: Gráfico das médias dos valores de RBS das amostras de solo conforme a altura
da coleta no sítio de estudo na região de Caetés na cidade de Paty do Alferes-RJ, em dois
períodos diferentes
1,20 TOPO
µ g C .g -1 s o lo /h o ra
MEIO
1,00
R2= 0,9702
P P
0,80 BASE
0,60 TOPO
0,40
0,20
0,00
jun/04 nov/04
72
VI.3.3 – Quociente metabólico
Analisando os valores do qCO2 das médias das amostras de acordo com a altura da coleta,
B B
apresentados na TABELA 13, observa-se que a média dos valores das amostras de solo
coletadas no topo, no meio e na base do terreno em junho de 2004 apresenta um valor maior
do que o mesmo parâmetro das amostras colhidas em novembro de 2004.
TABELA 13: Média dos valores das análises de BMS, RBS e qCO2 das amostras de solo de B B
- -1 3 -
(µgC/g solo) (µgC.g P (µgC-CO2 h x 10
P P P P (µgC/g solo) (µgC.g P (µgC-CO2 h-1 x 103
P P P P
1 -1 1 -1
solo/hora)
P µgC biom g solo) P P solo/hora)
P µgC biom g solo) P P
73
GRÁFICO 6: Gráfico das médias dos valores de qCO2 das amostras de solo conforme a
B B
18,00
-1
MEIO
16,00
14,00
R2= 0,0067
P P
12,00 BASE
10,00 TOPO
8,00
3
2,00
0,00
jun/04 nov/04
74
VI.4 -COMPARAÇÃO COM DADOS DA LITERATURA
Um estudo feito por MELONI et al. (2001), utilizando solo classificado como podzólico
vermelho-amarelo retirado de mata ciliar e um outro estudo feito por GONÇALVES et al.
(2002) utilizando amostras do mesmo tipo de solo retirado da cidade de Itaocara, são
mostrados TABELA. 14.
TABELA 14: Resultados de análises de C-BMS, RBS e qCO2 obtidos na literatura e a média B B
Meloni et al.1
P P Gonçalves et al.2
P P JUN/2004 NOV/2004
BMS
380,55 343,00 157,96 206,12
(µgC/g solo)
RBS
1,29 1,75 1,02 1,17
(µgC.g-1solo/hora)
P P
qCO2 B
1- Solo de mata ciliar em Campos da Mantiqueira (MG) (2001); 2- amostras de solo secadas ao ar originárias de
áreas de pastagens da cidade de Itaocara e submetidas a estudo de terra fina seca ao ar.
Para facilitar uma comparação entre os valores encontrados na literatura e os deste estudo
foram colocados, na TABELA 14, os valores das médias dos resultados das análises de BMS,
RBS e qCO2 das amostras do sítio de estudo de jun/2004 e nov/2004.
B B
Fazendo-se uma comparação com os resultados obtidos das três análises propostas BMS, RBS
e qCO2 por este estudo com dados semelhantes da literatura observam-se uma diferença nos
B B
Os resultados da análise BMS feitas neste trabalho apresentaram, tanto para amostras
coletadas em jun/2004 como para as coletadas em nov/2004, valores bem abaixo dos obtidos
em literatura. É importante considerar que apesar de se tratar de solo com as mesmas
características estes estão sob condições diferentes de manejo, pluviosidade, temperatura e
umidade.
75
Com relação à análise de RBS pode–se observar que se comparado os resultados das amostras
colhidas em jun/2004 e nov/2004 com as análises feitas por MELONI et al., (2001) os valores
são próximos. Os resultados das amostras deste trabalho estão um pouco inferiores aos
valores da literatura. No entanto, se comparado com os valores obtidos, das duas coletas, no
presente estudo com os resultados obtidos por GONÇALVES et al., (2002) esse diferença
aumenta.
76
Capítulo 7
de Paty do Alferes é feito neste trabalho como ferramenta na tentativa de se avaliar o impacto
da ação dos agrotóxicos e seus resíduos no solo e as conseqüências que esse impacto
provocam ao meio ambiente.
Com os resultados obtidos foi feita uma avaliação dos valores das amostras do sítio de estudo
analisando sobre quatro pontos diferentes na tentativa de avaliar se o solo desta área está
impactado, e se pode ser estabelecida uma relação deste impacto com a utilização de
agrotóxicos. Nos quatros pontos analisados utilizam-se os resultados das análises das
amostras do sítio de estudo para comparação com: o valor da respectiva amostra de mata
clímax local; épocas diferentes de coleta das amostras (sazonalidade); pontos com diferentes
alturas do terreno; e dados de literatura.
77
VII.1 - COMPARAÇÃO COM AMOSTRA DE MATA CLÍMAX LOCAL
Sobre o primeiro ponto analisado a intenção é verificar se o solo do sítio de estudo está
impactado em comparação ao solo de uma área de mata clímax local.
Os resultados obtidos, na maioria das ASE’s, nas duas épocas diferentes de coleta, apresentam
valores de C-biomassa, bem mais elevados se comparado com as respectivas AMC’s.
A análise de BMS quantifica a parte viva da matéria orgânica do solo excluindo-se as raízes e
animais maiores do que aproximadamente 5x103 µm3 e, funcionalmente, atua como agente de
P P P P
Dessa forma pode-se entender que quanto maior for à quantidade de BM em um determinado
solo maior será sua capacidade de estocar e processar nutrientes permitindo que organismos
vivos possam fazer uso destes e tenham facilidade em realizar seus ciclos de desenvolvimento
normalmente.
BROOKES (1995) afirma que o declínio da atividade microbiana tem grande impacto na
fertilidade natural do solo provocando grandes efeitos nos ecossistemas naturais. Assim pode-
78
se estabelecer uma relação da quantidade de biomassa microbiana existente no solo com sua
qualidade.
O solo do sítio de estudo apresenta um alto teor de argila enquanto o solo da mata clímax
local apresenta um teor de areia muito maior. Segundo PFENNING et al. (1992), uma maior
quantidade de biomassa microbiana é encontrada no solo com maior quantidade de argila.
Um outro ponto importante é que as amostras de solo coletadas no sítio de estudo estão muito
próximas às raízes das plantas, rizosfera (BOLTON JUNIOR et al., 1993). O solo rizosférico
tem características bem diferentes do solo mais distantes das raízes (não rizosférico). A planta
pode modificar a rizosfera com a mudança de pH, de potencial redox, de contaminação de
íons, e com liberação de compostos orgânicos (ROVIRA, 1979; MARSCHNER, 1995). O
solo retirado dos pontos de mata clímax local não foram coletados de áreas rizosféricas.
Neste estudo uma comparação dos valores de C-biomassa das ASE’s com os valores das suas
respectivas AMC’s não avalia de maneira adequada o estresse ou impacto no solo provocado
por um xenobionte. Principalmente pelo fato da alta variabilidade deste parâmetro e a
necessidade de se avaliar um maior número de amostras da área de mata clímax local. Foi
observado que a maioria dos valores, de C-biomassa, obtidos das ASE se mostraram
superiores aos valores da sua respectiva AMC. Isso levaria a dedução de que o solo da mata
clímax local está mais impactado do que o solo do sítio de estudo.
79
da matéria orgânica por parte da microbiota. Mostra também o comportamento da microbiota
na decomposição da matéria orgânica do solo.
Comparando os resultados das análises de RBS das amostras de jun/2004 e nov/2004, ambas
apresentam a maioria dos valores com diferença em relação às respectivas amostras de mata
clímax local. Por outro lado, se for feita uma comparação dos valores médios da RBS das
amostras de jun/2004 e nov/2004 com os valores das suas respectivas amostras de mata
clímax local, estes são similares independentes da época de coleta. No entanto, essa pequena
variabilidade, levando em consideração somente à atividade microbiana medida pela
quantidade de C-CO2, pode ser decorrente de problemas relacionados à remoção das amostras
B B
e a secagem. É possível que este parâmetro sozinho não seja suficiente e adequado para que se
possa avaliar uma situação de impacto em médio prazo do uso de agrotóxicos sobre o
ambiente ou a microbiota do solo. Necessita-se para tal a avaliação dos demais parâmetros em
conjunto.
A análise do qCO2 das amostras do sítio de estudo comparadas às amostras de mata clímax
B B
local mostra uma diferença muito grande para amostras coletadas em nov/2004 e pequena
para as amostras coletadas em jun/2004. Em relação aos resultados das amostras de jun/2004,
pode-se observar que o resultado de sua amostra de mata clímax local está dentro do intervalo
de amplitude de variação das amostras do sítio de estudo, sem uma justificativa aparente o
mesmo fato não ocorre com os resultados das amostras coletadas em nov/2004. Por isso, uma
análise levando em consideração a comparação entre os resultados das análises de qCO2 das
B B
80
VII.2 - COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS DAS AMOSTRAS COLETADAS
EM JUNHO E NOVEMBRO.
Pode-se fazer uma relação do manejo ao qual está submetido o solo em junho de 2004, em
decorrência da utilização demasiada de agrotóxicos nas plantações de tomate, com a redução
da biomassa microbiana e as alterações nas propriedades biológicas do solo e por
conseqüência a saúde do meio ambiente.
Uma vez cessado a adição de agrotóxicos, como aconteceu com a área em novembro de 2004,
a microbiota sobrevivente passa a aumentar sua atividade principalmente em virtude da
grande quantidade de matéria orgânica disponível na faixa superior do solo. Grande parte
desta matéria orgânica é proveniente da degradação dos pesticidas e fertilizantes utilizados no
período de atividade da lavoura que se acumulam na faixa superior de 15 cm do solo.
81
VII.2.2 – Respiração basal do solo
Na comparação das médias dos resultados das amostras colhidas em jun/2004 e nov/2004
sugere dizer que a microbiota do solo apresenta uma atividade similar tanto no mês de
novembro quanto em junho. Um comportamento diferente ocorre em relação aos valores
médios de C-biomassa, uma vez que há um aumento do valor médio de C-biomassa das
amostras de nov/2004 em relação às de jun/2004.
ESPÍNDOLA et al. (2001) citam que, assim como a BMS, a RBS é bastante influenciada pela
temperatura ambiente e a taxa de precipitação pluviométrica, mostrando-se intimamente
associada ao teor de umidade do solo. Isso sugere que os valores maiores encontrados para as
amostras coletadas em nov/2004 foram influenciados pelas características sazonais da região.
Um outro fator, neste caso não de ordem natural, mas antropogênica, é a ação dos agrotóxicos
sobre a microbiota do solo. Essa ação pode provocar uma redução na quantidade de
microrganismos da mesma forma que diminuir o potencial de decomposição da matéria
orgânica alterando a capacidade do solo manter a sua produtividade vegetal à medida que
elimina organismos importantes responsáveis por estas funções.
82
VII.2.3 – Quociente metabólico
A comparação entre os valores das amostras de jun/2004 e nov/2004 mostra que a primeira
coleta apresenta valores com uma amplitude de variação muito maior do que a segunda coleta.
Além disso, os valores médios dos resultados das amostras também acompanham a mesma
tendência, maior para as amostras de jun/2004 do que para as de nov/2004. Esse alto valor de
qCO2 para as amostras de jun/2004 indicam um menor potencial produtivo do solo neste
B B
período indicando também que o mesmo está sob um alto estresse microbiano que pode estar
relacionado à produtividade da área neste período e à utilização indiscriminada de
agrotóxicos. Isso pode ser traduzido em uma necessidade de quantidades maiores de energia
para executar as atividades microbianas como decomposição da matéria orgânica no solo em
jun/2004 do que em nov/2004.
Por outro lado, LOPES (2001) cita alguns autores que encontraram em seus estudos valores
elevados de qCO2 em solos contaminados com metais pesados.
B B
83
VII.3 - COMPARAÇÃO POR ALTURA DE AMOSTRAGEM
De uma maneira geral isso sinaliza que em função da declividade do terreno há um processo
de lixiviação que faz com que a BM não consiga se fixar no solo nas camadas mais altas do
terreno conseqüentemente se acumulando nas partes mais baixas. Isso pode acarretar também
em uma não fixação dos nutrientes nas áreas mais altas, o que certamente influencia na
qualidade do solo de uma maneira geral.
84
As amostras coletadas em jun/2004 apresentam uma tendência de decréscimo da atividade
microbiana no sentido do topo para a base do terreno. Esse dado comparado com o
GRÁFICO 4, mostra que as amostras de jun/2004 apresentam um incremento, mesmo que
não linear, de BM no mesmo sentido do terreno que as amostras de nov/2004. Esse
comportamento relacionado a BMS já era esperado em comparação com outros trabalhos, por
outro lado a RBS apresenta limitações como indicador em função a sua alta sensibilidade a
diversos fatores ambientais e antrópicos. Mesmo assim, pode-se afirmar que o solo em junho
se encontrava sob um estresse muito maior que em novembro.
VIG et al. (s/d) em seu relatório menciona que existem diversos relatos na literatura sobre a
inibição da respiração do solo em decorrência de altas doses de inseticidas.
Quando os herbicidas são aplicados em sistemas agrícolas, podem exercer certos efeitos
prejudiciais sobre a microflora do solo (DUAH-YENTUMI & JOHNSON, 1986; WARDLE
& PARKINSON, 1990).
quanto maior esse valor maior é o nível de estresse e perturbação deste solo. Pode-se afirmar
que as análises indicam que de uma maneira geral a mesma área no mês de junho apresenta
um nível de estresse e perturbação maior do que no mês de novembro de 2004.
85
Por outro lado, a curva dos valores de qCO2 das amostras coletadas em jun/2004, mostrada no
B B
GRÁFICO 6, sinaliza um nível de estresse bem mais elevado nas amostras do meio do
terreno em comparação as outras alturas. Este alto qCO2 pode ter como causa uma maior
B B
86
VII.3 -COMPARAÇÃO COM DADOS DA LITERATURA
Os estudos feitos por MELONI et al. (2001) e GONÇALVES et al. (2002), apresentados na
TABELA 9, com solos podzólico vermelho amarelo, mostram alguns resultados com
diferenças significativas aos encontrados neste estudo. É importante que se considere que à
medida que se alteram as condições ambientais a comunidade microbiana dos solos é
acentuadamente influenciada, podendo as populações microbianas ou seus processos ser
inibido por inúmeros fatores estressantes (DOMSCH et al., 1983). A principal diferença é que
nos solos estudados pelos autores não se realizava nenhum tipo de atividade agrícola, sendo
um coletado de uma área de mata ciliar e o outro coletado de uma área de pastagem.
Em seu estudo MELONI et al. (2001) verificaram uma tendência de solos sob mata apresentar
alta comunidade microbiana, com baixas perdas de nutrientes, em função de uma maior
mobilização destes no solo, e uma taxa de ciclagem bastante elevada em função do efeito
rizosférico.
No estudo feito por GONÇALVES et al. (2002) o solo podzólico vermelho-amarelo foi
coletado de uma área de pastagem, logo sujeita de uma maneira em geral, a uma adição de
matéria orgânica originária de fezes de animais. Segundo LOPES (2001) um incremento de
matéria orgânica e nutriente no solo favorece o crescimento microbiano.
O solo do sítio de estudo, em Paty do Alferes, que submetido a uma perturbação decorrente
do manejo da cultura de tomate apresentava uma tendência a maior a perda de matéria
87
orgânica do solo e conseqüentemente leva a uma redução da biomassa microbiana (DORAN,
1980).
Também em decorrência desse manejo o solo do sítio de estudo recebia, pelo menos em
jun/2004, uma considerável carga de agroquímicos. Dentre estes, muitos fungicidas eram
utilizados para controle de algumas pragas características das culturas de tomate. Os
fungicidas em sua maioria possuem em sua molécula átomos de metais pesados cujo efeito
danoso a microbiota do solo é reportado por diversos autores
Os metais pesados, pela sua persistência e pelo seu potencial tóxico são determinantes no
equilíbrio microbiológico dos solos (KLEIN &THAYER, 1950; MASTENSSON, 1992).
A atividade microbiana, medidas pela respiração basal, mostra também diferenças quando se
comparam os valores da literatura com os obtidos por este estudo. Apesar desta diferença ser
pequena, comparada aos valores encontrados por MELONI et al. (2001), ela aumenta quando
comparada aos valores encontrados por GONÇALVES et al. (2002).
Os valores encontrados por este estudo tanto para as amostras de jun/2004 quanto para as de
nov/2004 apresentam-se abaixo dos valores da literatura aqui citados, indicando uma
atividade menor da comunidade microbiana no solo do sítio de estudo. Isso também reforça a
hipótese de que altas cargas de agroquímicos sobre o solo podem levar a um impacto na
população microbiana com conseqüente inibição das atividades destes e da respiração basal
do solo.
variações médias superiores aos valores de literatura. Como qCO2 reflete a taxa de respiração
B B
88
basal por unidade de biomassa microbiana (LEONARDO, 2003) e deste modo expressando a
quantidade de energia necessária para manutenção da atividade metabólica em relação à
energia necessária para síntese da biomassa microbiana (BARDGETT & SAGGAR, 1994)
pode-se considerar que o solo do sítio de estudo, baseado neste indicador, despende uma
quantidade maior de energia para a sua atividade metabólica de degradação da matéria
orgânica do solo do que para sua própria reprodução. Isso sinaliza uma situação de alteração
da atividade microbiana e um estresse do agroecossistema.
Segundo CHANDER & BROOKES (1993) e LEITA et al. (1995), um maior valor da
respiração microbiana deve-se a uma maior reciclagem da população microbiana,
necessitando de um maior consumo de energia para a sua sobrevivência.
Segundo ZILLI et al. (2003) a redução da diversidade microbiana do solo pode ser um importante
indicador da perda de resiliência e, por conseqüência, da qualidade do solo. A abundância de
algumas espécies de microrganismos parece não ser tão importante quanto a manutenção da
diversidade, isso porque a abundância reflete de forma mais imediata à flutuação microbiana de
curto prazo e a diversidade revela o equilíbrio entre os diversos organismos e os domínios
funcionais no solo (KENNEDY, 1999; LAVELLE, 2000).
Contudo o solo impactado terá uma eficiência menor apresentando uma baixa fertilidade. Isso
tem como conseqüência uma ação compensatória por parte dos agricultores que adicionam
quantidades maiores de fertilizantes e outros agroquímicos ao solo. Em decorrência disto há
um impacto no agroecossistema, pois a microbiota, responsável pela degradação da matéria
orgânica e a ciclagem dos nutrientes, sofrerá uma série de alterações como: a supressão de
espécies sensíveis; predominância das espécies mais resistentes e tolerantes; inibição da sua
atividade e etc.
Outros efeitos concomitantes são provocados e um deles é a resistência química das pragas
que acaba levando a um uso maior e mais diversificado de praguicidas.
89
O agricultor em conseqüência disso tudo, estará aumentando a sua exposição aos pesticidas
aumentando assim a probabilidade de intoxicar a si e a sua família. Esse risco de intoxicação
dos agricultores é potencializado à medida que o conhecimento sobre os riscos e as formas de
proteção aos agroquímicos são muito pequenos o que aumenta os riscos de intoxicação.
No estudo feito por DELGADO & PAUMGARTTEN (2003) com famílias de agricultores da
região de Paty do Alferes, mostrado no QUADRO 2, foi constatada uma série de sintomas
relatados pelos próprios agricultores após a utilização de agrotóxicos.
Isso reforça a hipótese de que o tipo de manejo utilizado nas culturas convencionais de tomate
da região de Paty do Alferes, onde o uso de agrotóxicos é abusivo e diversificado provoca um
dano à saúde do ambiente principalmente pela perda de qualidade e eficiência do solo, que se
torna menos fértil. Em decorrência disto, de forma indireta, há um comprometimento da saúde
dos trabalhadores rurais.
90
Capítulo 8
Conclusão
A comparação das amostras do sítio de estudo com as respectivas amostras coletadas de uma
área de mata clímax local próxima apresentou informações inconsistentes para que se possa
concluir a respeito do impacto do solo do sítio de estudo.
Com base nos resultados das análises de RBS, BMS e qCO2 e demais comparações, pode-se
B B
Foi detectada uma diferença na quantidade da microbiota quando se comparou o solo do sítio
de estudo em plena fase de manejo da cultura de tomate, onde eram utilizadas cargas de
agrotóxicos, com o mesmo solo em uma outra época e com dados da literatura.
No entanto, não é possível quantificar qual a contribuição devido somente ao uso abusivo de
agrotóxicos e qual devido ao cultivo de tomates. Para isso, seria necessário um levantamento
em outras áreas onde houvesse cultivo e não houvesse uso de agrotóxicos como as culturas
orgânicas.
Um parâmetro sozinho não foi capaz de avaliar se o solo do sítio de estudo estava impactado.
Apenas quando se analisam os três parâmetros em conjunto é possível ter uma certa dimensão
das alterações que o uso abusivo de agrotóxicos podem provocar na microbiota do solo.
Para se ter uma noção mais ampla, principalmente em relação às alterações qualitativas
sofridas pelo solo em decorrência da ação dos agrotóxicos e seus metabólitos, seriam
necessárias outras análises mais específicas.
91
No geral, todas estas constatações sugerem que o solo no sítio de estudo encontrava-se
impactado tanto em junho quanto em novembro de 2004 e que esse impacto tem um efeito na
saúde do ambiente.
92
Capítulo 9
Recomendações
Como recomendações para a área de estudo e toda a região de Paty do Alferes é importante
que se intensifique estudos sobre o uso de agrotóxicos e seus efeitos na saúde do ambiente e
da população, como o da presente tese. É importante também que haja um desdobramento de
tal estudo para que possa se fazer um levantamento mais longo e pormenorizado envolvendo
de maneira mais ampla os efeitos dos agrotóxicos no solo e sua microbiota e os reflexos na
diversidade genética.
Com relação às práticas realizadas nas culturas de tomate é importante que haja um
investimento na educação sistemática dos trabalhadores rurais principalmente quanto às
questões envolvendo os riscos da manipulação, aplicação de agrotóxicos e o descarte de
embalagens vazias. Programas como os desenvolvidos pela EMBRAPA que estimulam
manejos sustentáveis que visam à utilização de adubos na fertilização do solo, o manejo
integrado de pragas que preconiza o uso racional de agrotóxicos assim como a agricultura
orgânica.
93
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