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A - Idade Média - Dos Nibelungos A Jerônimo Bosh - Eric Voegelin
A - Idade Média - Dos Nibelungos A Jerônimo Bosh - Eric Voegelin
A - Idade Média - Dos Nibelungos A Jerônimo Bosh - Eric Voegelin
● 9 Frederico II
● 10 O Direito
● 11 Sigério de Brabante
● C. O CLÍMAX
● 12 S. Tomás de Aquino
● D. A IGREJA E AS NAÇÕES
● 13 Carácter do Período
● 14 Ultramontanos e Egídio Romano
● 15 Monarquia Francesa
● 16 Dante
● 17 Marsílio de Pádua
● 18 Guilherme de Ockham
● 19 Política Nacional Inglesa
● 20 Da Cristandade Paroquial
à Cristandade Imperial
● 21 A Área Imperial
● 22 O Movimento Conciliar
ERIC VOEGELIN
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
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A época medieval
Capítulo 7. Joaquim de Fiora
1. O progresso na história
Era geral na época o sentimento de que o crescimento
das ordens significava um progresso da espiritualidade,
inaugurando uma nova fase da vida cristã. A experiência
revelatória de Joaquim accionou estas potencialidades e
criou uma nova configuração da história. O passo
decisivo foi a concepção do Terceiro Reino não como um
sabbath eterno mas como a idade derradeira da história
da humanidade que se segue à eleição do filho.
O decurso de um reino abrange um período preparatório
(de Adão a Abraão, 21 gerações) seguido pela initiatio,
(Abraão a Uzias, 21 gerações) e a fructificatio (Uzias a
Zacarias, 21 gerações) a última das quais é ao mesmo
tempo o período preparatório para o próximo reino. Os
reinos têm, pois, 42 gerações; e como a duração das
gerações para o reino de Cristo é de 30 anos, o segundo
reino terminaria em 1260. A data é antecedida para 1200
porquanto o próprio Segundo Reino é precedido por um
curto período preparatório das duas gerações
precursoras de Zacarias e João Baptista de modo que
Joaquim está no final do Segundo reino e pode ser o
profeta do Terceiro. O começo de cada reino é marcado
por uma trindade de dirigentes, dois precursores e o
dirigente do próprio reino com os seus doze filhos
(Abraão, Isaac, e Jacob com os seus doze filhos carnais;
Zacarias, João Baptista e Cristo o homem, com seus doze
2. O significado da história
O primeiro símbolo“é a concepção da história como uma
sequência de três eras, das quais a última é claramente o
terceiro reino final”.[1] Entre as variantes de notória
relevância política, estão a partição da história em
épocas antiga, do cativeiro e dos santos na terra que
marcou a revolução puritana; a doutrina Iluminista da
sucessão de fases teológica, metafísica e enciclopédica
marca a revolução de 1789; a dialéctica marxista com os
três estádios de liberdade inconsciente, alienação e reino
da liberdade findou em 1989; o ciclo formado por santo
império, império do Kaiser e terceiro império inspirou o
Reich nacional-socialista dos mil anos que findou em
1945.[2]
3. Os elementos constantes da nova especulação política.
a. A concepção de Joaquim resultou num conjunto de
elementos formais para a interpretação do saeculum que,
desde então, permanecerá, isolado ou em combinação,
parte integrante da especulação política ocidental.
b. A Função do Pensador Político
O terceiro símbolo é o do profeta da nova Era, que pode
surgir confundido com o dirigente. O próprio Joaquim de
Fiora representa o primeiro modelo do intelectual que
presume ter uma visão do curso da história como um
todo acessível ao conhecimento. Sucessivas vanguardas
iluminadas irão reclamar-se de idêntico conhecimento da
marcha do tempo e propor as suas especulações como a
lógica da história.
Salisbúria.
Afinal, as virtudes têm a função militante de
confundirem os vícios do mundo. É impossível
compreender a atitude franciscana se as categorias
éticas de virtude e vícios forem referidas apenas ao
carácter individual. No contexto dos escritos, virtudes e
vícios são forças que emanam dos poderes supremos do
bem e do mal, de Deus e do satã e que se apoderam dos
homens. A luta das virtudes contra os vícios é uma
empresa colectiva. Sem alcançar a rigidez maniqueísta,
existe aqui uma matiz de imanentismo maniqueísta. A
simplicidade tem que confundir a sabedoria deste
mundo; a pobreza luta contra os cuidados mundanos; a
humildade contra o orgulho. Possuir as virtudes exige
atacar o mundo e as instituições de família, propriedade,
herança, autoridade governamental e civilização
intelectual. O ataque reveste-se da forma social de uma
pregação das virtudes.
Ao sentir-se demasiado doente para pregar, São
Francisco utilizou a forma da carta aberta divulgando a
sua mensagem aos fiéis. A mais importante destas
cartas, e a mais notável pela sua dignidade é a carta de
1215 "A todos os Cristãos" (Opusculum commonitorium et
exhortatorium (epistola quam misit omnibus fidelibus).
2. O estilo da pobreza
O ataque ao mundo em nome dos conselhos evangélicos
parece revigorar a expectativa escatológica de um reino
que não é deste mundo. Contudo, é uma força e uma
fraqueza de S. Francisco a criação da ideia de uma vida
em conformidade com Cristo como modo de existência.
Tentou realizar o que Joaquim de Fiora projectara;
estabelecer uma nova ordem do espírito no mundo. A
sua atitude e linguagem sofrem desta dualidade. Quando
ataca o mundo (mundus ou saeculum ) utiliza o
3. A submissão à Igreja.
Estes conflitos profundos ajudam-nos a determinar de
modo mais preciso a posição e a função de São
Francisco. O espírito de revolta contra os poderes
estabelecidos espalhava-se por todo o mundo ocidental,
dos intelectuais, aos burgueses e camponeses. O
movimento era cada vez mais dirigido contra a
organização feudal da sociedade, incluindo a Igreja
sacramental. Quando o movimento encontrava apoio de
massas, adoptava a forma de seitas fundamentalistas,
desenvolvendo fricções com a Igreja, quer
intencionalmente quer por pressões circunstanciais; o
regresso ao ideal evangélico de perfeição era o único
simbolismo revolucionário disponível para a civilização
cristã desse tempo.
ERIC VOEGELIN
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
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A época medieval
Capítulo 9
Frederico II
Dominus Mundi
1. A deslocação do império
2. A constituição de Melfi
3. Cristandade Cesárea
2. A constituição de Melfi.
A posição de Frederico II tornou-o um Salvador para os
amigos, um Anticristo para os inimigos O título de
dominus mundi, atribuído pelos seus cortesãos, oscila
entre o significado de senhor imperial do orbis terrarum
e de príncipe satânico deste mundo. O fascínio luciferino
do imperador ainda dificulta actualmente a sua imagem.
ERIC VOEGELIN
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
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A época medieval
Capítulo 16 Dante
§1. Isolamento do pensador político
.....................................
§2. A separação entre espírito e política
Desde a época de Dante que o realista espiritual se
enfrenta com o problema de que a realidade política
circundante do mundo ocidental já não absorve
adequadamente o espírito nas instituições públicas.
Podemos discernir três fases principais no processo de
separação entre espírito e política. O início da primeira
fase é marcado por Dante e pela sua descoberta da nova
solidão espiritual. A segunda fase é marcada pelo
surgimento de reformadores religiosos e de realistas
espirituais seculares. A terceira fase traz um novo nível.
Aos primeiros reformadores corresponde o activista
político-religioso, representado por Marx, que tentou unir
o espírito e as instituições sociais através de destruição
revolucionária da sociedade existente, para dar lugar ao
novo homem, o proletário. Aos realistas espirituais dos
sécs. XVI e XVII corresponde o espírito livre isolado de
Nietzsche cuja análise do niilismo europeu é o último
juízo do mundo ocidental pós-medieval, tal como a
Divina Comédia era o primeiro.
§5. As Cartas
.......................
§6. O De Monarchia
A construção de Dante já não é aceitável porque a
antropologia moderna enriqueceu-se com a visão da
estrutura histórica da mente humana. Já não é possível
identificar a essência do homem com um intelecto sem
história, embora exista quem pratique isto
frequentemente. A unidade da humanidade não é
intelectualmente estática; é um campo aberto em que as
possibilidades da mente humana se desdobram
historicamente e se manifestam na sequência de
civilizações e nações. É cientificamente insustentável
parar a história num ponto do tempo e declará-lo
ERIC VOEGELIN
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
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A época medieval
Introdução
Na área europeia entre a França e zona eslava, não
houve um reino nacional como em Inglaterra. nem
monarquia carismática como em França. A unidade
política e o continuum de ideias política desde o séc. X é
nessa área preenchida pelos cargos do Sacrum Imperium
assente no Papa e Imperador. O Sacrum Imperium não é
um reino alemão mas apenas um domínio de forte base
militar e eclesiástica na zona intermédia
germano-italiana.
Esta estrutura é habitualmente mal compreendida por
diversos motivos. 1) A Querela das Investiduras e o surto
dos Hohenstaufen obscurecem processos regionais.
Assim, o interregno de 1254-1273 não foi tão importante
como convencionalmente se pensa. 2) As unidades
políticas regionais não evoluíram para a forma de
estado-nação. Os símbolos evocativos da zona imperial
não atingem expressão literária em pensamento político
sistemático. Ora onde não existem doutrinas, é preciso
analisar as instituições. 3) A historiografia alemã
oitocentista e nacionalista falou de obsessão italiana, de
erros de Hohenstaufen e Habsburgos, deformando o
período medieval como época das oportunidades
perdidas para a criação do estado nacional alemão.
§ 1 Política sub-imperial
§ d. A colonização do Leste
A nova solução - dos imperadores Habsburgos - foi a
criação de um núcleo de poder a leste do território
alemão, aproveitando a expansão germânica contra os
eslavos. Enquanto os reinos da Europa fixavam
fronteiras nacionais, os alemães estavam em movimento
a partir do Elba e do Saale nos sécs. XII ao XIV, num
movimento comparável à expansão atlântica dos
europeus. Este movimento deixou ficar uma diferença
entre civilização metropolitana ocidental e civilização
colonial oriental que, só no séc. XVIII, se aproximam com
o movimento Sturm und Drang como assinalou Josef
Nadler[1].
A integração institucional da Alemanha ficou ainda mais
dificultada com os novos particularismos dos municípios
do Leste.. E até hoje [1941] os padrões de co
1 Política sub-imperial
A dificuldade de integração institucional agravou-se
devido aos particularismos alemães. As comunas, os
municípios, a pequena nobreza e o terceiro estado da
Alemanha não produziram dirigentes, porque não existia
um enquadramento nacional que permitisse acumular a
experiência política. Até hoje, os padrões de
comportamento políticos não resultam de um pretenso
carácter nacional alemão mas da ausência de
instituições estabilizadoras nacionais. Ademais, a
expansão para Leste, atingiu território totalmente eslavo
e criou problemas de minorias. A fronteira política alemã
ficou sempre em suspenso, até ao Volga.
A iniciativa da expansão não foi uma iniciativa imperial.
Em 1140, Adolfo de Schaumburg funda Lubeck, primeiro
§ 2 A Bula de Ouro
§ a Carlos IV
Em 1356, Carlos IV toma a iniciativa de reconhecer e
formalizar a estrutura política alemã através da Bula de
Ouro. Seja quem for o respectivo autor, a Bula surgiu na
sua Chancelaria após negociações com os Eleitores.
Carlos IV não era um carismático, mas antes um cristão
devoto, sem ilusões sobre papado, e um bom europeu.
Do nome original de Venceslau, rei da Boémia, passou
para Carlos, rei dos Francos, Rei de Borgonha e
Imperador romano. Administrador cuidadoso, tinha a
intuição de que quase todos os homens têm um preço. A
complexidade da figura torna-o pouco conhecido mas
criou uma solução que durou mais de quatro séculos.
§ d O Colégio Eleitoral
A eleição é feita em Francoforte por sete eleitores, o que
criou os problemas de representação e de maioria. "Talis
electio perinde haberi et reputari debebit, ac si foret an
ipsis omnibus nemine discrepante concorditer celebrata."
(Bula, II, 4). A maioria de quatro eleitores (entre sete) tem
o carácter de quorum porquanto são precisos quatro
votos eleitorais para eleger o rei. Transforma-se em regra
de maioria pela coincidência de que colégio de eleitores
tem sete membros.
Assim, a fórmula da Bula transforma em eleição o que
antes fora escolha. Os procedimentos de elevação ao
trono formam um processo extraordinariamente
complicado que, nalguns casos, durava anos. A escolha
de um candidato era o primeiro passo; depois vinham as
negociações com o candidato; depois a eleição, ou seja, a
concordância dos príncipes eleitores: depois a nomeação
seguida de louvor, o agrément de pessoas menores e a
aclamação do povo; depois a entronização e a coroação
ainda interrompida por actos de louvor e aclamação; a
aquisição do consentimento das tribos; o tomar posse das
insígnias; a imposição de funções face a dissidentes.
Este processo complicado em que se atinge o pleno
consenso de reino e rei é reduzido no séc. XIII quando as
Regras do Sachenspiegel seleccionam a eleição como
momento central. O voto é acto formal que sanciona uma
concordância substancial antes de começar a votação.
Existe, pois, um voto de prestígio e um voto eleitoral. Em
1273, o desinteresse por eleição leva o Papa a insistir em
eleição por quorum. Na bula de Ouro a representação por
consenso é reduzida à ficção da concórdia. O prestigio
dos votos eleitorais formaliza-se na instituição do colégio
eleitoral.
f. Lupold de Babenberg
Como mostrou Dempf, a literatura sobre o zelo fervente
pela pátria germânica é vasta, destacando-se em
particular o De juribus regni et imperii Romani, escrito por
um canonista, provavelmente o Bispo de Bamberg. Para
este, o reino dos francos livres é anterior ao império.
Descendentes de Troianos fugitivos, os Francos são tão
antigos quanto os romanos. Após translatio imperii de
Gregos para Francos, por vontade do povo romano e
acção do papa, a questão gira em torno da relação do
regnum germânico com o imperium.
A doutrina tem cinco artigos principais:
Por jus gentium, o povo sem rei tem direito a eleger um.
Mesmo que a eleição seja in discordia, por maioria os
direitos do rei são iguais. O voto de maioria produz
concórdia no caso de uma universitas como é o Colégio
eleitoral. Os eleitores formam um collegium, não são sete
sujeitos soltos. Os príncipes são representantes do povo
e a eleição é um acto do povo alemão através de seus
representantes
Como noutros reinos ocidentais, também o rei-imperador
é imperator in regno suo; direitos como o de legitimação
de filhos e reabilitação de pessoas não lhe advêm do facto
de ser imperador.
§ 3 AS CIDADES-ESTADO
§f. Borgonha
Veneza é uma cidade-estado que integra territórios
rurais. Em Borgonha, a integração da rede urbana dos
Países Baixos no reino da Borgonha. Um senhor feudal
integra feudos sobrepondo uma administração central.
Começa com Filipe II, Duque de Borgonha em 1363,
casado com herdeira de Flandres e Artois. Através de
compras e cessões, Filipe o Bom adquire Holanda,
Zelândia, Brabante, Limburgo Luxemburgo, Hainault,
Namur, Antuérpia e Nechlin. O seu sucessor, Carlos o
Temerário (1467-1477), acrescentou Guelders e
Flandres.
Criou-se um Grande Conselho sob a presidência do
Chanceler de Borgonha e com representantes de todas as
províncias. Existia uma Câmara de Justiça desde 1473
que depois se separou como Parlamento de Malines e
tornou-se um Tribunal de Recurso Supremo. A
administração financeira do reino era organizada por três
Câmaras de Contas, situadas em Lille, Bruxelas, e Haia.
Criou-se um exército permanente organizado em
Compagnies d’Ordonnance. Em 1463 são convocados
para os Estados Gerais do Reino os representantes dos
estados locais que se ocuparam da racionalização do
sistema financeiro. A criação da Ordem do Tosão de Ouro
em 1430, mostra a intenção de formar uma nobreza do
reino, distinta da nobreza local. Uma área feudal foi
transformada em monarquia com administração central
§ i. Confederação Suíça
A Suíça foi a única sobrevivente das Ligas do Sudoeste,
com um processo original de formação nacional. Veneza
foi a cidade que organizou um território; em Borgonha, o
senhorio feudal organizou as áreas urbanas em reino; na
Suíça, as comunas rurais tiveram a iniciativa. Uri e
Schwyz e Unterwalden faziam parte do Ducado da
Suábia, sendo autonomizadas por Frederico II. Arnulfo
de Habsburgo tentou recuperar os cantões. Este núcleo
associou-se às cidades de Lucerna, 1322 e Zurique,
1351. O tratado com Zurique permaneceu modelar até
1848, quando a nova constituição incorporou lições
americanas. A aliança de 1351 concede mútua
protecção, autonomia local e jurisdição limitada,
tribunais e dieta. Com a adição de Glarus, Zug e Berna
em 1353 reúnem-se os oito cantões mais antigos. O êxito
excepcional dos suíços relaciona-se com a aquisição de
um hinterland para as cidades. Na solução federal do
problema das cidades, o ardor e proezas da infantaria
camponesa combinou-se com a astúcia diplomática dos
mercadores urbanos.
§ k Constituição de Veneza
No conjunto dos estados italianos, Veneza tem um papel
comparável ao de Inglaterra entre os estados nacionais
europeus. A situação periférica permite estabilidade; não
tem os problemas de sobre-extensão dos grandes
estados: o comércio é tão forte que as artes e ofícios não
destabilizam a cidade governada pela oligarquia
comercial. Por tudo isto, criou uma constituição
oligárquica que entusiasma a Europa. Após o desastre de
1172, os Venezianos transformaram a assembleia
popular originária num Conselho de 480 cidadãos,
eleitos por um ano pelos sestieri para tratar dos negócios
públicos. O poder do Doge é limitado por seis
conselheiros. Em 1297 o Grande Conselho tem 1500
membros hereditários; a legislação é feita pelo Senado de
120 membros; o conselho dos 40 é o tribunal. O Colégio
é o executivo com o Doge e mais 26 membros. O
Conselho dos Dez é adoptado em 1310 para órgão
supremo desta oligarquia.
a. Estado da questão
A comuna de Roma representa um problema complicado
da política no nível sub-imperial. A revolta e ascensão ao
poder de Rienzi no dia de Pentecostes de 1347 foi,
aparentemente, uma revolta mais de popolani contra os
barões. Mas quando Rienzo assume as funções de
Signore vêm à superfície novos aspectos específicos, tais
como o renacimento das antigas formas constitucionais
romanas e o reformismo espiritual visando a Igreja.
Convocadas por Rienzo, as cidades italianas enviaram
emissários e os soberanos europeus ficaram
surpreendidos “vedendo comme Roma era rinata” na
expressão de Maquiavel nas Histórias Florentinas I, 31
em que pela primeira vez associa o termo ‘renascimento’
a um evento político, reconhecendo Rienzo como o
precursor da ideia de Príncipe que sacode o jugo de
tiranos estrangeiros.
O mundo simbólico de Rienzo é medieval mas os seus
sentimentos impelem-no para o futuro. Os progressos
realizados na compreensão de Rienzo - em particular
com a obra de Konrad Burdach, Rienzo und die gestige
Wandlung seiner Zeit, Berlin, 1913-1938 - já dissiparam
a imagem do tribuno sonhador, romântico, e
conservador. Um passo em frente para compreender a
sua actuação exige que se afaste o simbolismo
renascentista com que a sua figura é interpretada e se
reverta às Cartas em que expôs a sua política como base
da sua auto-apresentação e auto-interpretação
retrospectivas.
c. O tribunus augustus
A coroação de Rienzo é acompanhada de numerosos
actos simbólicos. Mencionemos aqui apenas a imersão de
Rienzo na pia baptismal de pórfiro no Baptistério de San
Giovanni, a mesma em que fora baptizado o imperador
Constantino, evocando a purificação e a reforma
[ Binder VI ] pp.427-589