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Painel Bioenergia: Etanol e Biodiesel

IEA-USP, 9-11-2006

Tecnologia para o etanol combustível: situação


atual e perspectivas
Isaias C Macedo – NIPE, UNICAMP
Contexto

• Em 2006, 420 M t cana estão sendo processadas em


310 usinas (~ 40 novas estão em construção),
produzindo 30 M t açúcar e 17 M m3 etanol.
• O Brasil é o maior produtor mundial de cana (33,9 %),
açúcar (18,5 %) e etanol (36,4%); e também o maior
exportador de açúcar e etanol (2005).
• Etanol corresponde a 40,6% do combustível para
veículos leves (total de 19,2 M veículos) (2005).
Observações
• Na implementação da produção de etanol uma completa
integração foi obtida nos processos: flexibilidade de
produção, melhor qualidade do açúcar e perdas
menores.
• Foi necessário um extenso desenvolvimento de
tecnologia para a produção, logística e uso final.
• Foi também necessária uma legislação específica,
subsídios iniciais ao programa e uma grande
negociação entre produtores, produtores de veículos,
agentes do governo e a “competição”: a indústria do
petróleo.
• Agentes no desenvolvimento: setor privado (CTC,
Allelyx, Canavialis, fornecedores de equipamentos e
insumos); setores públicos (Planalsucar, IAC);
Universidades e Institutos.
Tecnologia, 1975-2000
1980/ 1990
Introdução de variedades de cana desenvolvidas no
Brasil
Uso da vinhaça em ferti-irrigação
Controles biológicos na produção de cana
Melhorias nas operações agrícolas (cultivo, colheita)
Introdução do sistema de moagem com “4 rolos”
Microbiologia para as fermentações “abertas” em grande
escala; processo e controles
Flexibilidade na produção: etanol / açúcar
Aumento na produção de energia (auto-suficiencia)
Especificações para o etanol; motores E-100
Mistura, tancagem e transporte de etanol
Tecnologia, 1975-2000
1990/2000
Avanços no gerenciamento técnico (agrícola e industrial)
Geração de energia elétrica excedente
Avanços na automação industrial
Otimização do corte, carregamento e transporte da cana
Mapeamento do genoma da cana; transformações
Mecanização da colheita
Motores Flex-fuel
Tecnologia, 1975-2000
Resultados, período 1975-2000, S. Paulo:
+ 33% t cana / ha
+ 8% açúcar % cana
+ 14% conversão: (açúcares na cana) para (etanol)
+ 130% produtividade na fermentação, m3 etanol /(m3
reator . dia)
Para o Centro-Sul, médias em 2003/4 foram:
Produtividade em cana: 84,3 t / ha
Açúcar % cana: 14,6
Conversão Industrial: 86%
• Observando a evolução do custo de produção, podemos
dizer que a agro-indústria da cana no Brasil está no
estágio de “tecnologia madura”, com os menores custos
mundiais e com alta qualidade dos produtos?

• Neste caso: estamos buscando melhorias contínuas (e


pequenas) para os processos, nos próximos anos?
Tecnologias para o futuro
• Nos próximos anos é necessário fazer a implementação
completa das tecnologias já disponíveis
• Evolução tecnológica: agricultura “de precisão”, processos
de separação, maior integração da colheita /
carregamento / transporte, automação industrial;
variedades (áreas novas)
• Uso final: evolução do flex-fuel e outros
• Sub-produtos: energia excedente (iniciado); etanol de
bagaço e palha (5 – 10 anos)
• Produtos derivados da sacarose (vários)
• Perspectivas de médio – longo prazo para variedades
geneticamente modificadas
• Médio – longo prazo: a implementação de “bio-refinarias”
com utilização eficiente de sacarose e resíduos (bagaço e
palha)
O uso de resíduos
Cana, Brasil, 2005: 60 M t sacarose; 120 M t bagaço e
palha

30% excedentes de bagaço + 50% palha poderiam levar a


48 M t (MS), com custo de recuperação baixo (~1 €/GJ).
No mundo, custos de biomassa (resíduos, plantações para
energia) são 2 - 3 €/GJ; espera-se 1.5 €/GJ , futuro

Bio-refinarias poderão contar com alguns novos processos de


conversão:
Biomassa (hidrólise) → açúcares, (etanol, outros):
comercial ~ 2010 to 2020
Biomassa (gasificação) → energia elétrica ou combustíveis
por síntese (etanol, DME, gasolina, diesel); comercial ~
2015 to 2025.
Ambos dependem de tecnologias mais eficientes e baratas,
e de biomassa mais barata.
Gasificação
Resultados comerciais: 10 – 100 MW(t); de pequenos
motores automotivos até ciclos combinados com
turbinas a gás.
Tecnologias em desenvolvimento: há muitos projetos
(escala piloto).Dois conceitos importantes visam energia
elétrica (ciclos BIG-CC); e mais recentemente a síntese
de combustíveis.
Todos precisam de reduções de custos importantes para
competir com óleo a $30./bbl, ou com energia elétrica
“convencional”.
P&D: sistemas de alimentação de biomassa; gasificação
com ar, para gás de médio PC; limpeza dos gases;
turbinas para gás de baixo PC; reatores de síntese
(exemplo, reatores em fase líquida para DME).
Hidrólise e as “bio-refinarias”
Açúcares (e etanol) de material lignocelulósico: a
tecnologia poderia levar a uma grande gama de
aplicações, no mundo.

Forte P&D (plantas piloto, e semi-comerciais) visando


redução de custos
Pré-tratamentos no futuro deverão ser na maioria físicos
(explosão com vapor, água quente pressurizada); os
processos de hidrólise / fermentação seriam
simultâneos, com uso dos açúcares de 5 e 6 carbonos
(para etanol).
Processos poderiam atingir 52% de recuperação de
energia da biomassa, contra 35 % hoje. Biomassa e
investimento seriam ~75 - 80% do custo total.
P&D: Demonstração dos pré-tratamentos físicos;
alimentação de biomassa; microorganismos e enzimas
para os processos (CBP, ou mais simples).
Produtos derivados de açúcares
(sacarose, glucose, hidrolisados)
Houve expansão mundial nos últimos 15 anos, com alguns
produtos chegando a 1 M t / ano.
• Atingiram 23 % do mercado global de adoçantes (2002):
frutose, glucose, polióis.
• Ácidos orgânicos: cítrico, glucônico, lático, ascórbico):
0,7 M t / ano (1998)
• Amino-ácidos (MSG, lisina, treonina): ~1.5 M t / ano
• Polióis: 1.4 M t / ano (48% sorbitol, 2001); glicerol (de
todas as fontes) foi 0,8 M t / ano (2000).
• Enzimas: menores volumes, alto valor agregado; de
todas as fontes, US$ 1500. M / ano, dobrando até 2008.
• Plásticos: promessas, fase pré-comercial; PLA, PHAs, 3-
GT; 10 M t / ano seriam usadas apenas para
embalagens, substituindo derivados de petróleo.
Derivados de sacarose e etanol: Brasil

• Alguns já são produzidos comercialmente no Brasil (L-


lisina; MSG; extratos de leveduras; ácido cítrico;
sorbitol). Plásticos (PHB) estão em estágio pré-
comercial.
• Possibilidades para produtos de maior escala (~1 M t /
ano) e especialidades (10 – 50k t / ano) estão sendo
avaliadas em várias usinas.
• Derivados do etanol estão sendo re-avaliados. Entre
1980 e 1990 mais de 30 produtos usavam até 0,5 M m3
etanol / ano; em 1993 a capacidade instalada para 14
produtos era superior a 100000 t / ano.
Considerações na seleção do produto
• Disponibilidade do processo: patentes, aquisição da
tecnologia, desenvolvimento interno
• Qualidade requerida do açúcar (caldo, açúcar bruto ou
refinado, HTM); custo açúcar/custo total
• Investimento, e necessidade de operação anual
• Natureza do processo (complexidade, custos
associados, efluentes, proteção ambiental)
• Escala de produção e adequação à usina
• Economia; os mercados de exportação (quase sempre
necessários) e as taxas de câmbio
• O arranjo comercial: parcerias?
O desenvolvimento destes novos produtos nas usinas deve
considerar que:

• Materiais e sistemas auxiliares em geral apresentam


custo relativamente baixo (açúcar, energia, tratamento e
disposição de efluentes)
• Uma usina “média” usando 1/2 de sua cana , produziria
~ 70000. t / ano de um produto novo; seria provavelmente
auto-suficiente em energia, e poderia usar o sistema de
efluentes da usina.
• Tecnologias estão em muitos casos disponíveis
(licenciamento ou compra) para novos produtos (embora
nem sempre as “melhores”)
• A comercialização é um ponto muito difícil para as usinas;
parcerias e associações adequadas podem ser
necessárias, especialmente nos casos de exportação.
Resumo
Nos próximos 10 – 20 anos o uso mais eficiente da
biomassa da cana (e possivelmente de variedades
modificadas geneticamente) poderá aumentar
significativamente a gama de produtos e seu valor.
Energia (eletricidade e combustíveis líquidos) poderá ser
uma fração ainda maior destes produtos
Algumas tecnologias em desenvolvimento avançado (no
exterior) podem ser chaves para esta transformação: a
hidrólise de biomassa (com as diversas fermentações
para outros produtos); e a gasificação de biomassa,
para energia elétrica ou combustíveis.
A cana de açúcar aparece como a matéria prima ideal para
estas futuras “bio-refinarias” pelo seu custo
relativamente baixo, grande disponibilidade e pelo “mix”
de 1/3 sacarose com 2/3 de material ligno-celulósico
pré-processado.

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