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Hobbes x Rousseau
Uma aná lise sobre a natureza humana e o
estado de natureza na obra dos dois
filó sofos
André Ricardo Pontes
Este trabalho é uma apresentação das idéias de Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau
sobre o que cada um considera ser a natureza humana e o estado de natureza, e uma breve
comparação entre essas idéias.
Hobbes x Rousseau
Uma análise sobre a natureza humana e o estado de natureza na obra dos dois filósofos
Hobbes e Rousseau, que terão suas idéias sobre a natureza humana e o estado de
natureza discutidas neste presente trabalho, têm, sem dúvida, visões bastante opostas
sobre os temas. Veremos, a seguir, expostas as idéias de ambos separadamente,
iniciando com Hobbes, para, em seqüência, analisarmos comparativamente essas
idéias, de forma a verificar se as visões são diametralmente opostas ou se, apesar de
amplas diferenças, há pontos significativos de convergência nestes dois grandes
filósofos, analistas das relações humanas.
Thomas Hobbes, inglês, um dos pais da filosofia política ocidental e liberal, pensou em
como é o homem no estado natureza; como são suas relações com outros homens,
qual é a natureza do espírito humano, o que é o estado e como se comporta o homem
sem a força deste ente que existe para controlar as ações humanas. Veremos, nesta
parte do trabalho, as idéias deste filósofo, onde o estado de natureza e a natureza
humana estão intimamente ligados.
Estado de natureza
Neste estado de igualdade, também os direitos de todos são iguais. Todos têm direito
a tudo, de forma que não existe moralidade ou imoralidade, justiça ou injustiça, certo
ou errado. A cada indivíduo é lícito fazer qualquer coisa que julgue necessário para
efetivar sua permanência (o que significa tanto proteger seu corpo da morte, ou de
ferimentos, quanto obter conforto, por exemplo), inclusive dominar ou até mesmo
matar outros homens que estejam em seu caminho ou que representem, em seu
julgamento, uma ameaça a essa permanência.
Neste estado, fica evidente que não se desenvolvem atividades que demandam
esforço e tempo, como a indústria ou a agricultura, já que a posse de algo só existe
momentaneamente, enquanto essa posse pode ser desfrutada e defendida. A
qualquer momento, tanto por meio da força física quanto por meio da enganação,
Natureza humana
A lei natural, entretanto, ditada pela razão, diz que, para buscar a conservação, é
preciso buscar a paz, o que significa acabar com o estado de natureza, ou estado de
guerra. Para isso é que existirá a política. Esta, portanto, não é parte da natureza
humana. É, sim, uma necessidade que busca a permanência do indivíduo, já que, para
isso, todos abrem mão de alguns direitos. Existem, segundo o autor, duas formas de se
abrir mão de um direito: a renúncia e a transferência. A renúncia dá-se quando o
indivíduo manifesta sua vontade de que deixe de ser lícito que ele possa fazer
qualquer coisa, ou seja, o indivíduo abre mão de algumas atividades que, outrora, seria
direito seu realizar. A transferência, por outro lado, dá-se quando o indivíduo
manifesta sua vontade de que não lhe seja lícito resistir a algo. Quando o autor fala em
transferência, não significa passar o direito de um indivíduo a outro, já que isso não é
possível, pois, por padrão no estado natural, todos os indivíduos já possuem todos os
direitos possíveis. A transferência, portanto, é em relação à passividade do sujeito, de
defender-se de algo ou resistir a algo, enquanto que a renúncia diz respeito à atividade
do sujeito, são ações que ele teria direito de realizar, mas abre mão desse direito.
André Ricardo Pontes – RA: 200500200 Página 3 de 6
Hobbes x Rousseau
Uma análise sobre a natureza humana e o estado de natureza na obra dos dois filósofos
Quando os indivíduos abrem mão de direitos, eles passam a fazer acordos entre si, de
forma que surge, então, o estado civil como protetor destes acordos e como o
garantidor das licitudes nas relações entre os homens, de forma a regular as
desconfianças entre os homens e a proteção ao esforço de trabalho, o que leva à
conservação da paz, do indivíduo, e da humanidade como um todo.
Conclusã o
É preciso, portanto, que os indivíduos abram mão de alguns direitos para que seja
possível à humanidade conservar-se. Emerge, então, o estado civil como regulador das
atividades entre os homens, de forma a impedir que os homens utilizem seu direito
natural a qualquer coisa, por exemplo, impedindo que um indivíduo mate outro para
obter uma propriedade que pertence ao primeiro.
De acordo com o filósofo, o homem é mais fraco e menos ágil do que outros animais,
mas é mais organizado. Suas necessidades são poucas: água, alimento, um lugar para
descanso. Todas essas coisas, a natureza oferece. Além: a natureza oferece tudo o que
todos os animais precisam. Os homens apropriam-se de todos os outros e alimentam-
se de tudo, inclusive do que comem os outros animais, sendo, portanto, mais fácil para
ele subsistir do que aos outros animais.
Assim, a conservação do homem natural não é problema, pois suas necessidades são
poucas. Se viverem em lugar frio, tratam de usar as peles de animais para se
aquecerem. A natureza proveu bem o homem, de forma que o primeiro que fez roupas
ou habitação fez coisas desnecessárias, pois não havia razão para que, homem feito,
necessitasse de algo diferente do que necessitava quando criança.
O Estado Civil
Para Rousseau, o estado civil é a degeneração do homem. É este estado que faz os
homens buscarem coisas que não precisam, o que provoca as desigualdades.
Entretanto, Rousseau faz uma concessão: não se pode, como quis Hobbes, depositar o
direito natural nas mãos de um único homem, pois este também age em benefício
próprio e, tendo ele todo o poder concedido pelo direito natural dos homens, utilizará
este poder para si mesmo, para conservar-se acima dos demais. O ideal, portanto, é
que exista uma forma de passar este poder a leis, e não a homens, de forma que as leis
sejam também liberdade, já que são o fruto da escolha dos homens.
Rousseau acredita na democracia como melhor forma de governo, uma vez que
democracia está diretamente ligada com a natureza de associação dos homens. O
gênero humano necessita de união, de agrupamentos, para não perecer. Porém, é
Conclusão
Ambos vêem a sociedade civil como um meio para a conservação do homem, já que,
sozinho, a chance de preservação é menor. Entretanto, tanto a forma como essa
sociedade acontece, como a razão pela qual ela surge são motivos de diferenças. Para
Hobbes, a natureza humana é egoísta, e todos vivem em um medo permanente, e é
em sociedade, ou seja, em um ambiente controlado, onde as pessoas abrem mão de
alguns direitos, que a vida humana pode alcançar sua plenitude. Para Rousseau, por
outro lado, a natureza humana é piedosa, com poucas necessidades, e é na sociedade
que os males, as mesquinharias, o medo, a desigualdade aparecem. Além disso, para
Hobbes, as leis são formas de conter as liberdades das pessoas, ou seja, as leis são
limitadores dos homens, portanto incompatíveis com a idéia de liberdade, enquanto
para Rousseau, como as leis são expressões da vontade da maioria, elas são a própria
liberdade.
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