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Wesley e a Participação dos Leigos na Missão

(Autor: Bispo José Ildo Swartele de Mello)

A Reforma protestante ergueu a bandeira em defesa do sacerdócio universal de todos os crentes, mas foi no
movimento wesleyano que vimos isto se dar na prática. Wesley, durante seu ministério, chegou à conclusão de
que os leigos poderiam e deveriam exercer o ministério sacerdotal. Isto foi fundamental para o crescimento
quantitativo e qualitativo do movimento wesleyano e para o sucesso de sua missão. Pois, para que a Igreja
possa exercer sua missão de modo integral, é indispensável que a missão seja entendida como ministério de
cada crente e não fique restrita a uma elite de obreiros ordenados. Vejamos como foi que Wesley procedeu na
designação de líderes para agir como pastores seculares, chegando a ponto de ordenar os pregadores
comissionados.
O processo de criação de novas lideranças de Wesley era assim: Cada líder de classe possuía um assistente.
Os que eram treinados tornavam-se pregadores leigos, e, sendo bem sucedidos, conquistavam o
reconhecimento e o direito de serem ordenados pastores. Suzana, mãe de João Wesley, disse a ele,
apontando para um leigo: “aquele leigo pode pregar tão bem quanto você! Deixe-o pregar!” Três meses como
membro de uma classe para se tornar membro de uma sociedade, mas, mesmo assim, continuavam
freqüentando as classes. Os líderes de uma classe, também participavam de uma outra classe com cristãos
mais maduros que ele e assim por diante. Lelièvre ressalta que Wesley tinha muito interesse no
desenvolvimento intelectual de seus assistentes leigos, exortando-os sempre para que se dedicassem aos
estudos e, sempre que possível, ele se reunia com um grupo para lhes transmitir conhecimentos. Certa vez,
Wesley comentou: “estudei, em companhia de alguns jovens, um compêndio de retórica e outro de ética. Não
vejo por que um homem de inteligência mediana não possa aprender em seis meses melhor filosofia do que
aquela que se aprende em Oxford em quatro ou até mesmo sete anos.”i
A missão da Igreja, portanto, não deve ser encarada como privilégio de um pequeno grupo de ministros
ordenados ou como algo destinado para aqueles que recebem um chamado para o campo missionário no
exterior. O cristão é missionário por excelência, onde quer que esteja, e não um cliente dos produtos da fé.
Todos os membros da Igreja, sem exceção, por terem sido integrados no corpo, receberam dons e ministérios.
A função dos líderes maduros da Igreja é equipar homens e mulheres para a missão da Igreja no mundo. Pois
a Igreja não existe como um fim em si mesma, mas existe para servir a Deus no mundo na proclamação e
expansão do Evangelho do Reino de Deus, por palavras e boas obras, o que implica a participação ativa e
construtiva de cada cristão, homens e mulheres, jovens e idosos, cultos e incultos, pobres e ricos... Por falar
em mulheres, Wesley, contrariando a opinião geral de seu tempo, autorizou que as mulheres pregassem, o
que abriu portas para que a Igreja Metodista viesse a ordenar mulheres ao ministério pastoral.ii
Portanto, concluímos que, se quisermos servir a comunidade, teremos contar com a participação da Igreja
como um todo, de cada membro, com os seus dons e talentos. Dons 1 Co 12, Rm 12, Ef 4, 1 Pe 5.10-11.
Capacidades, dons e ministérios que Deus dá ao seu povo para servir. Problema é não dar ênfase em dons
como o de serviço ou de socorro. Importante tomar consciência do sacerdócio universal de todos os crentes.
Há uma relação entre o sacerdócio e os dons, que são essenciais para o exercício de seu ministério. As
pessoas precisam ser ajudadas a descobrirem os seus dons, e os pastores e líderes precisam também ajudar
os crentes a afirmar seus dons e desenvolver seus dons, com o intuito de beneficiar os outros. A Igreja é uma
comunidade de dons, uma comunidade de ministério. O problema é quando o pastor monopoliza os dons. Uma
Igreja pastorcentrica acaba deixando de ser Cristocêntrica. Mas Cristo reparte dons, promovendo a
democratização do ministério. Afirmar o sacerdócio universal da Igreja não é o mesmo que dizer que todos são
pastores, pois existem alguns com dons e chamados para esta função em especial, assim como existem
outros dons e ministérios. O pastor deve reconhecer suas limitações, pois não tem todas os dons, nem todas
as respostas. Precisamos uns dos outros. Um bom lema para equipe pastoral está em 1 Pedro 5.1-4, onde
Pedro diz que é presbítero com eles, apela para uma ação não autoritária e não por interesse financeiro.
Conceito colegial de pastorado com a descrição de suas tarefas.
O crente deve exercer a sua missão a semelhança de Cristo que se encarnou e habitou entre nós. Isto implica
na necessidade da presença do povo de Deus na comunidade e de identificação com a comunidade em
termos de serviço e compreensão e participação nos sofrimentos. Transmitindo as bênçãos do Evangelho
através das boas obras e do ensino da Palavra, com vistas à transformação de indivíduos e da própria
comunidade onde está inserido.
O crescimento numérico não deve ser o propósito número um da Igreja, mas sim o crescimento natural que se
dá através da preocupação com a sua saúde, assim como uma árvore que, em boas condições, cresce até
certa dimensão normal para o seu tipo. Não se espera que cresça mais que isto. Ou seja, não é um
crescimento ilimitado em si mesma. O importante é que existam muitas árvores, um bosque ou uma floresta.
Multiplicação em diferentes lugares da cidade, vivendo o testemunho do Evangelho. Isto sim é muito mais
importante do que mega igrejas, que costumam gerar pouca oportunidade de participação para os membros, o
que produz muitos crentes de arquibancada, que só assistem. Mega igrejas têm a ver com ambições
financeiras e preocupação com fama e reputação baseada em números. Por isto, como já vimos neste
trabalho, temos a necessidade de promover estruturas que facilitem o crescimento integral da Igreja. Grupos
pequenos, caseiros. Os templos são prescindíveis. Consciência de que ingressar na Igreja não é entrar dentro
de um templo e também não significa em entrar num clube religioso, mas, sim, num grupo de missão para
servir a sociedade.
Todos os membros da Igreja deveriam participar de cursos bíblicos e teológicos. Desenvolver capacidade de
refletir sobre a fé e relacioná-la com a vida prática. Mas, hoje, estão até acabando com a Escola Dominical,
alegando a necessidade de mais espaço para adoração e estão cada vez mais reduzindo o período de
pregação e estudo. Mas o púlpito deve ser uma cátedra, um lugar de ensino. Não deve ser monopólio do
pastor, outros devem ser treinados para fazer o mesmo. Exposição de todo o conselho de Deus. A leitura é um
meio de graça. O povo precisa aprender a ler. Tomar gosto pela leitura. Isto facilita o trabalho pastoral. Lêem
um livro e depois conversam sobre suas impressões e lições. Estamos conscientes da necessidade da
docência, não apenas formal, mas informal, e através do exemplo ao estilo de Jesus, na vida prática. Tal
ensino marca a vida das pessoas. Outro tipo de docência que tem ainda maior alcance é aquela dirigida para
fora da Igreja e que está vinculada à tarefa profética. Como conseguir que a Igreja se pronuncie a respeito de
assuntos éticos relevantes a sociedade? Uma Igreja que se põe a serviço do bairro. A Igreja existe para servir
e faz isto para a glória de Deus. A Igreja precisa estar presente no bairro num sentido construtivo onde a
evangelização se dá no contexto do convívio em meio ao serviço.
Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P.
165. Citando Diário de Wesley, 4 de março de 1747.

Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida.
1997. P. 230.
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