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LISBOA citações

Acordas num lugar de brumas: brumas azuis e cor-de-rosa. Não tens a certeza do céu mas sentes em redor de ti um
arejado bocejo de água. Dizem-te: Lisboa. Não podes ainda ver claramente. São tudo espumas de aurora. Mas de
repente o sol atira certeira uma chispa de ouro. E sentes um brilho súbito de nácar descoberto. Repetem-te Lisboa...

Cecília Meireles

"Lisboa que fala, ri, ama, chora e odeia de mais; Lisboa que não dosa suas paixões, que não usa o meio termo, porque
desconhece a indignidade das atitudes premeditadas . Burgo de alfurjas saudosistas e auto-estradas actualizadas, de
palácios e mansardas, devoto e brigão - povo feliz que se prosterna nos templos, que se lhe falta o terço usa os dedos
ao passar a Procissão da Senhora da Saúde; povo que quer o Céu pela fé, mas que quer andar também na rala, à
gandaia, a gastar a alma e os sapatos em pecados e andanças, a moinar nas ruas e na vida, aos baldões da paixão e
do desvairamento, na Mouraria ou no Estoril, na África ou no Brasil, pouco importa - são andejos, cantadores e
românticos como aves do litoral..
Lisboa que embalou o sono do meu Brasil menino(...) nossa feitura é vossa, à vossa imagem e semelhança, vossas
alegrias e tristezas, vosso amor e ódios também serão nossos.
Lisboa que nossos olhos namoram, segue o vosso destino, cidade irmã"

Assim via Oswaldo de Macedo a cidade de Lisboa Corria o ano de 1954.

“Requiem prematuro pelos eléctricos de Lisboa”

“Quando acabem os eléctricos


Da Rua da Misericórdia
Tão amarelos por fora
Tão britânicos por dentro
Não gostarei de Lisboa

Quando os carris e os troles


Inúteis e desalmados
Pela Calçada do Combro
Deixarem de faiscar
Não gostarei de Lisboa

Quando no Largo do Carmo


À sombra dumas ruínas
Não me esperar indolente
O último para o Chile
Não gostarei de Lisboa

Quando da estreita travessa


Da cara de cada dia
Não surgir um velho arfante
Para apanhar o das oito
Não gostarei de Lisboa

E quando ao atardecer
Prostradas pombas e luzes
Não saltar do vinte e quatro
O sempre lépido ardina
Não gostarei de Lisboa.”

José Carlos González em “Lisboa e Outros Sapatos”


"O Ar do Lisboeta"
(Lista a encurtar ou a acrescentar pelo leitor)

”o ar milonga do lisboeta
o ar mastronço do lisboeta
o ar activo do lisboeta
o ar coitado filha do lisboeta
o ar cabotino do lisboeta
o ar reservado do lisboeta
o ar dia oito do lisboeta
o ar missa da uma do lisboeta
o ar campdòrique do lisboeta
o ar queixudo do lisboeta
o ar ramona do lisboeta
o ar bichona do lisboeta
o ar pasma do lisboeta
o ar barrigatesta do lisboeta
o ar último olhar de jesus do lisboeta
o ar vilas boas do lisboeta
o ar estoril do lisboeta
o ar em princípio vou do lisboeta
o ar eu depois confirmo do lisboeta
o ar catarino do lisboeta
o ar daniel do lisboeta
o ar terilene do lisboeta
o ar jaguar do lisboeta
o ar poupar do lisboeta
o ar gastar do lisboeta
o ar solmar do lisboeta
o ar morrinhanha do lisboeta
o ar seminarista do lisboeta
o ar boçal do lisboeta
o ar servil do lisboeta
o ar por aqui me sirvo do lisboeta
o ar eu cá não vi nada do lisboeta
o ar portagem do lisboeta
o ar esnègabar do lisboeta
o ar jardim cinema do lisboeta
o ar crise de teatro do lisboeta
o ar é natal é natal do lisboeta
o ar estufa fria do lisboeta
o ar padre cruz do lisboeta
o ar mártires do lisboeta
o ar conjuntura do lisboeta
o ar ultramar do lisboeta
o ar tecnolírico do lisboeta
o ar você do lisboeta
o ar donamélia do lisboeta
o ar alentejano do lisboeta
o ar chico esperto do lisboeta
o ar sector um do lisboeta
o ar monsanto do lisboeta
o ar transístor do lisboeta
o ar trombudo do lisboeta
o ar lisbonudo do lisboeta
o ar matraquilhos do lisboeta
o ar agenda do lar do lisboeta
o ar et pluribus unum do lisboeta”

Alexandre O' Neill

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