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PPGI – ECOLOGIA APLICADA - ESALQ – USP

DISCIPLINA: CIÊNCIA, CULTURA E ÉTICA – ECO 5034


DOCENTES: Dra Maria Elisa Garavello / Dra Laura Alves Martirani
ALUNA: Mirian Stella Rother DATA: 22 de março 2011

O QUE É METODOLOGIA CIENTÍFICA

CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia


Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, pp. 11-31

Delimitar o que se entende por ciência (do latim: scire, conhecimento, sabedoria)
é tarefa para quem deseja iniciar-se na produção do conhecimento científico.
Historicamente sempre houve relação estreita entre ciência, filosofia e arte, todas
três, cada uma a seu modo, comprometidas com o questionamento da realidade e com a
discussão das possibilidades da felicidade humana.
Neste sentido, pode-se afirmar que existem vários tipos de conhecimento,
diferenciados pela forma de abordagem da realidade, ao buscar comprendê-la ou
explicá-la. São eles: senso comum, artístico, filosófico, teológico e científico.
O que distingue o conhecimento científico do senso comum, que também produz
informações sobre a realidade como os outros, é o imediatismo de seus objetivos, que se
traduz na falta da necessidade de conhecer suas propriedades e suas relações de causa
e efeito. Também não existem preocupações com enquadramento e generalidade das
condições, tampouco com o modo de aprendizado (metodologia) ou divulgação deste
conhecimento.
Compreende-se como características do conhecimento científico a busca pelas
relações causa / efeito, as situações em que os fatos / realidade ocorrem e se repetem,
sua generalidade, ou seja, sua validade em situações outras, e a divulgação do
conhecimento e do caminho percorrido para chegar até ele (método), através do
exercício da intersubjetividade, (o conhecimento em discussão), como forma de
preservar seu caráter não dogmático.
No início da modernidade (séc. XVII) houve uma valorização da observação e da
experimentação, porque partiu-se do pressuposto que o homem era capaz de, por si só,
descobrir as causas dos fenômenos, descrevendo em leis gerais o seu modo de
funcionamento.
Sobre o método: não é apenas o passo a passo de como se chegou a determi-
nado conhecimento, mas o porquê da escolha de determinado caminho. Trata-se
portanto de uma questão teórica, pois os pressupostos do método são anteriores à
coleta de informações. Pressupostos diferentes, determinam procedimentos diferentes a
respeito do homem e de suas possibilidades de conhecer a realidade, as maneiras pelas
quais a natureza e a sociedade são concebidas e o próprio processo de produção do
conhecimento. Assim, o pressuposto é que havia uma ordem (regularidade) nos eventos
naturais. Caso o pressuposto fosse diferente (sem qualquer ordem ou regularidade), o
procedimento seria diferente.
Apesar dos cientistas concordarem com a maioria dos critérios de produção
científica, nem todos partem da mesma concepção do que seja o conhecimento
científico, pois os pressupostos do que seja homem, natureza e sociedade são
diferentes. Assim, torna-se mais apropriado discutir o que sejam tendências meto-
dológicas.
No séc. XVII surge a epistemologia, ramo da filosofia que formula os diferentes
fundamentos para a ciência. O conhecimento passa a ser visto como relação a partir dos
trabalhos de Kant, que separa o sujeito (que se propõe a conhecer) e o objeto (o aspecto
da realidade a ser conhecido). Ele discute o papel do sujeito e como deve comportar-se
para produzir conhecimento, assim revela pressupostos subjacentes à pesquisa.
Na epistemologia surgiram três perspectivas: o empirismo, que supõe a primazia
do objeto, origem e fonte de conhecimento, em relação ao sujeito, que neste caso é
passivo; o racionalismo, que ao contrário, supõe a primazia do sujeito, capaz de pensar e
estabelecer relações entre elementos da fonte de conhecimento, e que valoriza a causa;
e por último, o interacionismo, quando o conhecimento é produzido a partir da interação
sujeito-objeto. A última, por considerar a ciência como prática social, considera que os
pressupostos dos cientistas não são neutros, portanto, não se pode considerar a ciência
neutra neste caso.
O séc. XVII abriga o surgimento histórico da modernidade e a constituição dos
primeiros fundamentos para o conhecimento científico. Marcada pelo início do modo
capitalista de produção, e por crises de diversas ordens (religiosa, política, social, de
consciência e teórica), acaba por gerar o seu contrário: a valorização da capacidade do
homem de conhecer e transformar a realidade, sobretudo nos aspectos do domínio e
controle da natureza em benefício próprio. Passa também a buscar a forma mais segura
de produzir conhecimento, o marco da ciência moderna. E a questão central desta é o
método, e seus inimigos: o erro (parcialidade, interesses particulares, afetos,
imaginação, linguagem, preconceitos) e o dogmatismo medieval.
Entre os primeiros modernos, destaque para Descartes, para quem chegar à
verdade significa captar a ordem eterna e imutável que rege os fenômenos. No
Racionalismo, Descartes busca fundamentar, de forma dedutiva, a existência do cogito
(razão). Assim ter conhecimento é ter idéias que são diferentes das coisas tomadas em
sí mesmas. Mas como saber se a representação (idéia) contém as mesmas
propriedades da realidade ? Duvidar de tudo o que penso, menos do fato que penso.
Como garantir a qualidade do que se pensa ? Pelo pressuposto metafísico da
intervenção divina no intelecto humano. O conhecimento é obra da razão, de natureza
matemática e puramente dedutiva.
No Empirismo de Bacon a produção do conhecimento acontece no âmbito da
experiência sensorial. Por indução: observa-se a repetição de um evento muitas vezes, e
elabora-se leis que regem o funcionamento da natureza. Uma questão: Como garantir
que um fenômeno observado irá repetir-se no futuro?
Racionalistas e Empiristas separam a realidade da representação (idéia),
entretanto Locke os diferencia por idéias de sensação, quando percebemos as
qualidades sensíveis do objeto, e idéias de reflexão, as que envolvem operações da
mente.
Séculos XVII e XVIII: o estabelecimento da ciência moderna. Sua figura central é
Newton, que combinou empirismo e racionalismo, em seu método matemático que
permitia converter princípios físicos verificáveis pela observação, em resultados
quantitativos e chegar igualmente a princípios físicos. Newton postula ainda ser a
natureza uma máquina perfeita, criada por Deus, e cuja mecânica o homem descobrirá
aos poucos.
As Ciências Humanas surgem no contexto da tensão entre a objetividade das
ciências exatas e do conhecimento histórico (antropologia, psicologia, etc) e vai se
configurando como objeto próprio de seu estudo.
Questões:

1. O séc. XVII abriga o surgimento histórico da modernidade e a constituição dos


primeiros fundamentos para o conhecimento científico. Marcada pelo início do
modo capitalista de produção e por crises de diversas ordens (religiosa, política,
social, de consciência e teórica), acaba por gerar o seu contrário: a valorização da
capacidade do homem de conhecer e transformar a realidade, sobretudo nos
aspectos do domínio e controle da natureza em benefício próprio. Podemos
afirmar que a origem de toda a problemática ambiental que enfrentamos data
deste período ?

2. A transição do século XX para o XXI também está sendo marcada por inúmeras
crises: políticas, econômicas, sociais, tragédias ambientais, etc. Paradoxalmente
nunca houve tanto desenvolvimento tecnológico e tanta difusão e fontes de
informação e conhecimento. Em função de nossa excessiva crença na Ciência,
poderíamos acabar, à exemplo do séc. XVII, por gerar o nosso contrário? ou seja:
revalorizar o que é divino e deixar de acreditar na capacidade do homem de
modificar a realidade ?

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