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PPGI – ECOLOGIA APLICADA - ESALQ – USP

DISCIPLINA: CIÊNCIA, CULTURA E ÉTICA – ECO 5034


DOCENTES: Dra Maria Elisa Garavello / Dra Laura Alves Martirani
ALUNA: Mirian Stella Rother DATA: 12 de abril de 2011

O fim do mundo como o concebemos: ciência social para o século XXI. Rio
de Janeiro: Revan, 2002 – cap. 10 pp 193-203
WALLERSTEIN, Immanuel Maurice.

O autor começa por definir “diferenciação”, um dos conceitos morfológicos básicos


da sociologia, como sendo o processo pelo qual tarefas que num determinado ponto são
vistas como singulares, que podem ser realizadas por um ou múltiplos atores, e que
resultam em divisão de trabalho. Considerando que a diferenciação (divisão de trabalho)
é cada dia maior no mundo moderno e é considerada mais eficiente (maior produtividade
coletiva), reconhece a crescente especialização dos papéis dos atores e
conseqüentemente, maior espaço para a individuação e maior heterogeneidade
planetária. Em contrapartida, vivenciamos um processo de transição de uma
gemeinschaft (sistema comunidade) para uma gesselschaft (sistema empresa), e
portanto, estaríamos operando num conjunto de valores mais homogênio e integrado.
Wallerstein questiona então a eficiência dos valores opostos homogeneidade e
heterogeneidade planetárias, pois se por um lado, analistas apontam que a primeira
promove uma convergência que leva à harmonia, a segunda promove a polarização que
obviamente levaria a conflitos. Muitos apontam a homogeneidade como a melhor opção,
e a ela creditam a liberdade individual que se vivencia hoje; outros criticam o crescente
controle social a que estamos submetidos (Orwell, Marcuse), e apontam a hetero-
geneidade como solução. Destaca que ambos os lados parecem concordar, neste sen-
tido, que a heterogeneidade seria melhor, mas discordam do fato de estar ou não
ocorrendo.
Quanto à análise das estruturas de saber, que em muito assemelha-se da análise
da economia política, afirma-se que a heterogeneidade é maior hoje, num mundo de
multiplicidade disciplinar (especializações), contudo, as estruturas do saber ainda
dobram-se ante a existência de um saber universal, que não admite variações teóricas. A
distinção filosofia-ciência ainda nem existia. Apenas após a absorção do sistema
cartesiano (distinção sujeito – natureza), no século XVIII é que a ciência social aparece
como um domínio intelectual situado entre a ciência e a filosofia, e apenas no século XIX
assistimos ao surgimento de várias ciências sociais. Também as ciências sociais aca-
bam por sofrer um processo de fragmentação e especialização, e o autor questiona se
este estaria rumando para uma divisão de trabalho saudável ou não. Grupos isola-
cionistas defendem a viabilidade organizacional, mas há de se questionar o caráter
imperialista que cada fragmento tende a se tornar. O que se vê é uma crescente
disciplinarização, com altos níveis de superposição, disfarçadas de interdisciplinariedade,
A este fato, atribui-se o crescimento do número de pesquisadores. Deles continua
se exigindo provas de originalidade, o que os impele a cada dia lutar pela relevância de
uma variante que os diferencie dos demais. O intercâmbio intelectual é menos admi-
nistrável, levando a uma busca por grupos menores, seja por seleção de elites ou
sudivisões democráticas. Diz-se ainda que o saber tornou-se grande demais para uma
única pessoa manusear, o que justificaria a crescente especialização, entretanto, caso
esta pessoa pudesse existir e fazê-lo, estaríamos admitindo que ela poderia decretar
quais subdivisões deveriam ser feitas. O que tem se operado, é que primeiro as pessoas
dividem-se em especializações, e só depois justificam a divisão, face ao crescimento do
saber total. Em contraposição, busca-se temas transversais, universalização, que em
termos organizacionais têm gerado mais sobreposição e especialização.
Pautando-se na questão mais importante, a intelectual, e não na organizacional,
quais seriam as conseqüências mais prováveis? Estudar o macro é tão custoso quanto o
micro e pressupõem os mesmos esforços de preparação. Busca-se o saber, entretanto,
quando decreta-se que determinado tipo de saber é melhor que outro (paradigmas
concorrentes) os proponentes do mais forte se proclamam como único possível, e o dos
mais fracos, declaram-se oprimidos.
E como esta concorrência reflete-se nas estruturas do saber? O autor entende
que estamos à beira da ruína das especializações, cujos alicerces estão fundados no
cartesianismo e no modelo newtoniano. Seus fundamentos (leis naturais universais,
empirismo, linearidade, medições e equacionamentos entre outros) face ao sistema
complexo mais recente (Prigogine), fundamentado na instabilidade, evolução e flutuação
não apenas da natureza, mas da própria sociedade (o que os une, e não mais os
distingue), prevê a necessidade da ciência ter uma mensagem mais universal. A flecha
do tempo é o elemento comum do universo e a evolução é múltipla, e a probabilidade
ganha o status de única verdade científica possível, num mundo irreversível, cujas
memórias habitam a matéria e seres humanos.
Sendo as ciências sociais as incumbidas de estudar o mais complexo dos
sistemas, dela serão extraídas as verdades epistemológicas, inclusive das ciências
naturais, estejam os cientistas sociais preparados ou não.
O autor coloca ainda que o momento seja de nos livrarmos de vez dos pilares
newtonianos das ciências como um todo como estratégia de sobrevivência, acom-
panhados de flexibilidade organizacional e todo tipo de colaboração inteligente: abertura.

Questões

1. Presupondo-se um enxugamento do número de especializações, correríamos o risco


de cair numa “ciência superficial”?

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