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PROPAGANDA-PUBLICIDADE:

“ATENÇÃO PARA NOSSOS COMERCIAIS”.


Trazemos à discussão, neste capítulo, um assunto crucial da comunicação em nossos dias: a questão da
propaganda e publicidade, ou o que geralmente chamamos de “Comerciais”.
Se você ficar uma hora diante da televisão (vamos tomar o meio de comunicação televisivo como
exemplo, por ser o mais importante), você vai ver que dos 60 minutos a que você assiste, 34 vão ser filmes ou
novelas, 06 vão ser notícias ou comentários, e 20 minutos vão ser propaganda, comerciais. Um terço do tempo
da nossa televisão é dedicado a anúncios publicitários.
Nos capítulos anteriores, nós já discutimos o que significam os 34 minutos de filme e novela, e os 6
minutos de notícias. Nessa nossa discussão vamos abordar a problemática referente aos outros 20 minutos: os
comerciais.
Para início de conversa, é fundamental distinguir dois tipos de informação ou comunicação publicitária:

1) A comunicação informativa racional, denotativa.


É a que funda na informação objetiva da coisa, e procura informar as características essenciais mais
importantes de qualquer objeto ou tópico a ser informado. Se estamos precisando de uma casa, ou de qualquer
outra coisa, como um carro, uma moto; ou se estamos querendo vender uma casa, um carro ou uma moto, nós
fazemos um anúncio: colocamos dados essenciais, objetivos, da coisa que desejamos vender ou comprar, e o
interessado, com as informações necessárias, vai nos procurar para ver a possibilidade de adquirir ou vender o
objeto.
Essa propaganda, ou comunicação informativa é absolutamente necessária para o funcionamento de nossa
sociedade. É um dos grandes fatores de progresso e desenvolvimento de nossos dias.

2) A comunicação afetiva, inconsciente, conotativa.


É a comunicação baseada não na razão e nas qualidades objetivas do objeto, mas numa relação secundária,
construída através de ligações e relações estabelecidas com as forças básicas, geralmente inconscientes,
existentes em toda pessoa humana. Essas forças básicas são os desejos e aspirações que todos nós possuímos,
como por exemplo o desejo de realização, o desejo de sucesso, o desejo de liberdade, o desejo de estima, desejo
de amar e ser amado, a força sexual, o desejo de prestígio, de aceitação, de ser identificado e aceito como pessoa
humana. Todos nós temos esses desejos, forças e aspirações, e estão ligados ao mais profundo de nosso ser.
Mas como se dá, então, essa comunicação inconsciente baseada nas forças básicas da natureza humana?
Vejamos. Você conhece as experiências feitas por Pavlov, dos reflexos condicionados. O psicólogo
Pavolv dava um pedaço de carne para um cachorro, e ao mesmo tempo tocava o sino. Toda vez que dava carne,
tocava o sino. Isso durante dias e meses. Pois bem: depois de alguns meses, se ele apenas tocasse o sino, o
cachorro começava a salivar, pois o cachorro tinha ligado o som do sino com a carne, e apenas o som do sino
fazia com que o cachorro salivasse.
Não estamos comparando ninguém aqui com um cachorro. Mas o nosso mecanismo animal, inconsciente,
afetivo, baseado em nossas forças básicas, funciona em grande parte duma maneira semelhante. Nós possuímos
esses determinados desejos e aspirações, fundamentais a nosso ser e a nossa realização. Todos nós desejamos, de
qualquer maneira, nos realizarmos como pessoas. O que faz então, esse segundo tipo de propaganda? Ele liga um
determinado produto a uma dessas forças básicas, muitas vezes inconscientes, pouco controláveis, a um
determinado produto que se deseja vender. Cria-se assim uma ligação, um tipo de reflexo condicionado, entre o
produto anunciado e determinados desejos e aspirações vitais da pessoa. Dando-se alguns exemplos, a gente
entende melhor.
Quem não deseja Ter sucesso na vida? Você lembra da propaganda dos cigarros Hollywood? Apresentam-
se cenas de grandes façanhas, corridas de automóveis, etc... e os personagens fuma Hollywood. Escrito ou
falado, numa voz convincente e sugestiva: “Hollywood, rumo ao sucesso”. As pessoas, principalmente em
nossos dias, estão em situações cada vez mais difíceis, problemáticas, às vezes, desesperadas. Ansiosas para
solucionar seus problemas, conseguir vencer na vida. A ilusão que o fumar lhes dá vem fazer com que esqueçam
seus problemas, ou ao menos por um momento se julguem vitoriosos. Se eles não conseguem o sucesso, ao
menos têm a sensação do sucesso, fumando o cigarro. O cachorro não come carne, mas saliva...
E aquela propagando do cigarro Charme? “O importante é Ter charme...”. As vezes a gente vê pessoas
com as quais a natureza foi um tanto ingrata e avara. Como dizia aquele velho gaúcho: “Pediu a Deus para ser
feio, e entrou duas vezes na fila...”. mas o jeito então é disfarçar. Já que “o importante é ter charme”, a gente
tenta suprir o que a natureza não concedeu através de umas ligações simbólicas, estabelecidas com a mocinha do
comercial... a coisa sai então pela tangente. Dum lado a mocinha se compensa pensando que ao menos algo de
lindo ela tem: fuma o mesmo cigarro da mocinha do comercial. Do outro lado, quem a vê, pensa mais ou menos
assim: “Bem, nem tudo está perdido. Ao menos Charme ela fuma. Podia ser pior”. E disfarça, pensando na
mocinha da propaganda.
E assim por adiante. Determinada bebida já está ligada indissoluvelmente a determinada garotona: onde
está uma, está a outra. Se não há uma, há a lembrança da outra. E o cachorro começa a salivar... os astros e
estrelas de cinema servem de chamariz para se poder vender mais e mais. Jogadores de futebol, comentaristas
esportivos, atletas bem sucedidos, cumprem o importante papel de vender produtos estocados e encalhados;
engatar compradores incautos com loteamentos lindos no papel, mas terrivelmente desumanos na realidade;
forçar pobres viúvas e empregadas domésticas a fazerem cadernetas de poupança nas quais nem a correção
monetária é assegurada, ou melhor: onde oficialmente a correção monetária é assegurada, mas na prática são
roubados do seu poder real de compra. E não são só financeiras, ou empresários particulares que recorrem a tais
expedientes. É o próprio governo, federal, estadual ou municipal, que puxa a fila dos tocadores de flauta, dos
criadores de ilusão. Até a própria propaganda oficial, paga pelo povo explorado e sofrido, serve para enganar o
próprio povo. As próprias cadeias e prisões com que são amarrados e aprisionados, são pagas pelo próprio povo.
E a força dessa propaganda é tão violenta, que as pessoas chegam a beijar os grilhões que as aprisionam...
As técnicas de tal propaganda são altamente sofisticadas. São inúmeros os processos psicológicos, todos
eles inconscientes ou semi-conscientes, que arrastam as pessoas a se aprisionarem e iludirem. Entre outros,
podemos citar os seguintes:
a) Imitação: é geralmente inconsciente, dá-se de cima para baixo (a gente imita os mais importantes) e
de fora para dentro (primeiro se aceita a pessoa, depois imita-se ela).
b) Sugestão ou auto-sugestão: é um ato psicológico automático, no qual não intervém a iniciativa nem
o querer das pessoas; as quais se inspira uma idéia por métodos quase hipnóticos.
c) Persuasão: é uma insistência sobre a sensibilidade, que é atacada por uma série de motivações
afetivas, às vezes conscientes, mas pouco lógicas, mesmo quando se apresentam como razões.
d) Pressão Moral: é o processo pelo qual se leva alguém a fazer algo apelando para o sentimento de
culpa, como por exemplo, comerciais assim, apresentados antes do dia das mães: “Você não será bom filho se no
dia das mães não apertar a mão de sua mãe e não deixar nela um relógio...”. de tanto repetir o comercial e
sendo que ninguém quer ser mau filho, a pessoa acaba comprando o relógio, não consegue pagar, seu nome entra
no SPC e ele inferna sua vida.
e) Finalmente a percepção subliminar, que é proibida por lei, mas que não deixa de exercer grande
influência, principalmente através de milhares de “out-doors” espalhados pela cidade ao longo das estradas.
É interessante refletir um pouco sobre essa afirmativa de Baran e Sweezy: “A aspiração a status e o
esnobismo, a discriminação racial e sexual, o egoísmo e a carência de contatos, a inveja, a cobiça, a avareza e
a ausência de escrúpulos --- nenhuma dessas atitudes é criada pela propaganda, mas todas são usadas e
articuladas por elas”.

3) Outras Considerações.
É preciso fazer aqui algumas considerações importantes. A primeira é justamente sobre o problema ético
que tal tipo de propaganda publicidade apresenta. Até que ponto isso é lícito? Até que ponto não se está violando
os direitos e a dignidade da pessoa humana? Qual a propaganda-publicidade lícita, e quando ela chega a ser
ilícita, imoral?
É importante também levar em consideração que toda elaboração artística, toda criatividade, todo uso da
beleza e da arte é algo positivo, e deve ser colocado a serviço do bem comum da humanidade. Não se está
negando, pois, que o engenho e a arte possam e devam ser colocados a serviço do homem.
Mas entre colocar a arte, a iniciativa e a criatividade a serviço dos homens e do progresso, e usá-los para a
escravidão e degradação do próprio homem, vai um passo bastante grande. O meio em si mesmo pode ser usado
tanto para a elevação do homem, como para sua degradação. É importante, pois, ver o fim para o qual ele é
usado.
Tomado em consideração os valores básicos de nossa sociedade, que são o lucro, a busca de prestígio, a
competição, valores fundamentalmente materialistas, não podemos esperar ingenuamente que determinados
apelos morais possam ser tomados em consideração pela sociedade como um todo. Pensamos que é fundamental
que nos previnamos, e que criamos um tipo de “hábito de liberdade”, uma virtude altamente necessária em
nossos dias. Num mundo bombardeado de mensagens, onde um homem normal recebe em média 30 mil
mensagens por dia, todas em forma afirmativa (compre, fume, ande, viaje, beba, coma, leia), é fundamental que
antes de colocarmos qualquer ação, nós nos perguntemos ao porque de tal ação, e por que estamos prestes a
executar tal ação. Numa sociedade acelerada e estonteante como a nossa, quase não há mais espaço para a
reflexão e para a opção livre e social. Tudo vem de roldão, numa avalanche fenomenal. Tornamo-nos robôs,
passamos a executar nossas ações por pura rotina. Não damos mais tempo e espaço à reflexão para a escolha e
decisão. Perdemos o hábito de pensar, pesar os dois lados, decidir com consciência e liberdade. E a isso que
chamaríamos de “hábito de liberdade”, a virtude que poderá nos levar a uma libertação mais ou menos eficaz, na
medida em que a procurarmos e a exercitarmos no dia-a-dia de nossa vida, em cada momento e em cada ação de
nossa existência.

Verificação de conteúdo

1 - O que é comunicação informativa racional, denotativa? Exemplifique-os.

2 – O que é comunicação afetiva, inconsciente, conotativa? Exemplifique-os.

3 – O que o autor quer dizer com forças básicas? Exemplifique-os.

4- Cite cinco técnicas de propagandas sugeridas pelo autor?

5 – Das 5 técnicas de propagandas expostas pelo autor quais ferem os preceitos éticos? Exemplifique-os.

6 – Até que ponto os comerciais e propagandas levam ao consumismo irracional? De exemplos.

7 – Procure ficar 40, 20 (o necessário) minutos na frente do televisor ou rádio coletando dados sobre
comerciais e propaganda, donde abordará sua opinião, contrastando (discordando) ou concordando, desde que
ofereça exemplos convincentes.

8 – Em que sentido podemos interpretar a propaganda e comerciais do nosso tempo, (no jornal, escrito e
falado, rádio e televisão) como sendo único e exclusividade do sistema capitalista? Sim. Não. Exemplifique-os.

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