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TRANSTORNOS DE

PERSONALIDADES
TIPOLOGIAS
Personalidade é definida pela totalidade dos traços
emocionais e de comportamento de um indivíduo
(carácter).
Um transtorno de personalidade aparece quando esses
traços são muito inflexíveis e mal-ajustados, ou seja,
prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que
enfrenta, causando a ele próprio, ou mais
comummente aos que lhe estão próximos, sofrimento
e incómodo.
Cluster A (transtornos excêntricos ou
estranhos)

- Transtorno de personalidade esquizóide


- Transtorno de personalidade esquizotípica
- Transtorno de personalidade paranóide
Cluster B (transtornos dramáticos,
imprevisíveis ou irregulares)

- Transtorno de personalidade anti-social


- Transtorno de personalidade histriônica
- Transtorno de personalidade limítrofe
- Transtorno de personalidade narcisista
Cluster C (transtornos ansiosos ou
receosos)

- Transtorno de personalidade dependente


- Transtorno de personalidade esquiva
- Transtorno de personalidade obsessivo-
compulsiva
Cluster A (transtornos
excêntricos ou estranhos)
Transtorno de Personalidade
Esquizóide
Indivíduos distanciados das relações sociais,
que não desejam ou não gostam de
relacionamentos íntimos, realizando de
preferência actividades solitárias. Pouco ou
nenhum interesse em relações sexuais com
outra pessoa, e pouco ou nenhum prazer nas
actividades. Não têm amigos íntimos ou
confidentes, não se importam com elogios ou
críticas, sendo frios emocionalmente e
distantes.
Transtorno de Personalidade
Esquizotípica
Indivíduos excêntricos e estranhos, que têm
crenças bizarras, com experiências de ilusões e
pensamento e discurso extravagante. Falta de
amigos e muita ansiedade no convívio social.
O Transtorno de Personalidade Esquizotípica pode
ser classificado como um modo suave de
esquizofrenia. O transtorno é caracterizado por
formas pouco comum de pensamento e de percepção,
e tendência ao isolamento. Muitas vezes crêem ter
habilidades extra-sensoriais ou que eventos não
relacionados se relacionam a eles de alguma forma
importante. Algumas vezes, empenham-se em
comportamentos excêntricos e têm dificuldades em
concentrar-se por longos períodos de tempo. As suas
conversas são na generalidade excessivamente
elaboradas e difíceis de acompanhar.
Transtorno de Personalidade
Paranóide
Indivíduos desconfiados, que se sentem
enganados pelos outros, com dúvidas a
respeito da lealdade dos outros, interpretando
acções ou observações dos outros como
ameaçadoras. São rancorosos e percebem
ataques a seu carácter ou reputação, muitas
vezes são ciumentos e com desconfianças
infundadas sobre a fidelidade dos seus
parceiros e amigos.
Cluster B (transtornos
dramáticos, imprevisíveis ou
irregulares)
Transtorno de Personalidade Anti-
social
Indivíduos que desrespeitam e violam os
direitos dos outros, não se conformando com
normas. Mentirosos, enganadores e
impulsivos, sempre à procura de obter
vantagens sobre os outros. São irritados,
irresponsáveis e com total ausência de
remorsos.
 Insensibilidade aos sentimentos alheios.
 Tendência a mentir compulsivamente e ter comportamento
fantasioso.
 Atitude aberta de desrespeito por normas, regras e obrigações
sociais de forma persistente.
 Estabelecimento de novos relacionamentos com facilidade, e
dificuldade de mantê-los.
 Baixa tolerância à frustração, com rompantes de agressividade
e violência.
 Incapacidade de assumir culpa, ou de aprender com punições.
 Falta de cuidado com a própria segurança e integridade física,
ou com a segurança e integridade física dos outros.
Importante notar que o termo anti-social, na
psiquiatria, não significa (como rotineiramente
costuma ser entendido) um tipo de inibição
social, mas sim, atitudes contrárias às regras
da sociedade.
Transtorno de Personalidade
Histriônica
Indivíduos facilmente emocionáveis, sempre à
procura de atenção, sentindo-se mal quando
não são o centro das atenções. São sedutores,
com mudanças rápidas das emoções. Tentam
impressionar os outros, fazendo uso de
dramatizações, e tendem a interpretar os
relacionamentos como mais íntimos do que
realmente são.
Transtorno de Personalidade
Limítrofe
O perfil geral do transtorno inclui uma
instabilidade no humor, nas relações
interpessoais, na auto-imagem, na identidade,
no comportamento e no sentimento de si
mesmo, como também manipulação
interpessoal.
As perturbações sofridas pelos portadores do
TPL têm um longo alcance negativo em
muitas ou todas as facetas psicosociais da vida,
incluindo empregabilidade e relações no
trabalho, casa, e ambientes sociais
Transtorno de Personalidade
Narcisista
Indivíduos que se julgam grandiosos, com
necessidade de admiração e que desprezam os
outros, acreditando serem especiais e
explorando os outros nas suas relações sociais,
tornando-se arrogantes.
Cluster C (transtornos
ansiosos ou receosos)
Transtorno de Personalidade
Dependente
Indivíduos que têm necessidade de serem
cuidados, submissos, sempre com medo de
separações. Têm dificuldades para tomar
decisões, necessitam que os outros assumam a
as responsabilidade de seus actos, não
discordam nem iniciam projectos. Sentem-se
muito mal quando estão sozinhos, evitando
isso a todo custo.
O Transtorno de Personalidade Dependente é um
transtorno de personalidade caracterizado pela
dependência afectiva e física de outras pessoas.
Por causa das suas grandes necessidades de
aprovação, as pessoas que são portadoras de TPD
tentam agradar sempre aos outros. Elas podem tornar-
se frustradas porque sentem-se forçadas a fazer coisas
que não querem ou porque sentem que não podem
expressar seus sentimentos.
Transtorno de Personalidade
Esquiva
Indivíduos tímidos (exageradamente), muito
sensíveis a críticas, evitando actividades
sociais ou relacionamentos com outros,
reservados e preocupados com críticas e a
rejeição. Geralmente não se envolvem em
novas actividades, vendo a si mesmos como
inadequados ou sem atractivos e capacidades.
Transtorno de Personalidade
Obsessivo-Compulsiva
Indivíduos preocupados com a organização,
perfeccionismo e controle, sempre atentos a
detalhes, listas, regras, ordem e horários.
Dedicação excessiva ao trabalho, dão pouca
importância ao lazer. Teimosos, avarentos e
não conseguem atribuir tarefas a outras
pessoas.
A maior parte destas características fazem
parte dos traços normais de muitos indivíduos,
e somente quando esses traços são muito
rígidos e não adaptativos é que constituem um
transtorno.
TAREFAS EVOLUTIVAS
DA VELHICE
AJUSTAMENTOS
PSICOSSOCIAIS DA
VELHICE
A compreensão do desenvolvimento adulto e
do envelhecimento demanda esforços
concentrados, se desejarmos identificar as
mudanças e as transformações vivenciadas por
esta faixa etária e possibilitar, assim, a
ampliação da capacidade de planeamento de
políticas públicas de atenção ao idoso.
Sendo o desenvolvimento um processo
multidirecional e multifuncional, influenciado
pelo contexto histórico, abrangendo todo o
curso de vida, ocorre um constante equilíbrio
entre ganhos e perdas, que resulta numa
variabilidade intra-individual e em plasticidade
individual (Baltes, 1987).
A procura de um modelo teórico de
envelhecimento bem sucedido, Baltes (1991)
sugere que:
(1) o curso do desenvolvimento apresenta
variabilidade individual;
(2) existem diferenças importantes entre
envelhecimento normal, óptimo e patológico;
(3) durante o envelhecimento fica resguardado
o potencial de desenvolvimento;
(4) os prejuízos deste período podem ser minimizados
pela activação das capacidades de reserva para o
desenvolvimento;
(5) as perdas cognitivas podem ser compensadas por
ganhos no domínio da inteligência prática;
(6) com o envelhecimento, o equilíbrio entre ganhos e
perdas torna-se menos positivo; (
(7) os mecanismos de auto-regulação da personalidade
mantêm-se intactos na idade avançada.
O envelhecimento bem sucedido é visto como um
processo geral de adaptação descrito como
optimização selectiva com compensação (Baltes,
1991).
Depreende-se, então, que com a crescente limitação
imposta pela natureza biológica e no intuito de
aumentar suas potencialidades, a tarefa adaptativa do
idoso consiste em seleccionar metas e objectivos mais
importantes, optimizar recursos e compensar perdas.
As pesquisas têm demonstrado que as mudanças
biológicas não devem ser encaradas como doenças.
Hábitos de vida, condições de moradia, emprego e
saúde interferem na qualidade de vida e geram um
perfil diferenciado de envelhecimento. A motivação,
a educação e a cultura favorecem os processos
cognitivos, motores, sensoriais e intelectuais. Ocorre,
também, a diminuição do potencial biológico e o
aumento da necessidade de utilização dos recursos
psicológicos, sociais e materiais oferecidos pela
cultura, para compensar tais perdas (Baltes, 1997).
Embora o envelhecimento seja acompanhado
de uma série de adversidades, a pior delas é o
despojamento social. Ser idoso, na nossa
sociedade é sobreviver sem projecto de vida e
submeter-se às burocracias das instituições. É
preciso que o indivíduos tenham projectos que
não envelheçam, é preciso sedimentar uma
cultura positiva da velhice "com interesses,
trabalhos, responsabilidades que tornem sua
sobrevivência digna" (Bosi, 1994, p. 81).
Neste sentido, a teoria de curso de vida enfatiza a
importância da selecção de prioridades de vida para
uma regulação efectiva dos processos
desenvolvimentais. Essas prioridades e os
investimentos pessoais não são arbitrários, pois
envolvem concepções subjectivas de curso de vida e
reflectem tarefas evolutivas que as pessoas
desempenham (Baltes, 1998).
Segundo Neri (1991), as preferências individuais, as
expectativas quanto ao futuro, as realizações e as
metas são indicativas das tarefas evolutivas.
Para alcançar a integridade do "ego" é importante que
o idoso possa fazer uma revisão de sua vida para lhe
dar sentido e reorganizar criativa e positivamente sua
personalidade (Stevens-Long, 1979). Neste sentido,
as tarefas evolutivas da velhice são formas de
organização da vida que possibilitam até a aceitação
da morte (Fitch, 1985). Um ambiente agressivo,
assuntos familiares não resolvidos, ausência de
cuidadores adequados podem dificultar este processo.
Se não há uma adaptação ajustada às demandas, o
envelhecimento pode ser vivenciado com alto nível
de stresse, dificultando a realização das tarefas
evolutivas. Por isso deve-se aprender a construir os
principais papéis de vida com bastante flexibilidade,
de forma que eles sejam compatíveis com a etapa de
vida. Isso requer conhecimento mais profundo dos
papéis sociais e suas propriedades, especialmente as
positivas (Kahn & Antonucci, 1979).
Na tentativa de compreender como se dá esse
processo de adaptação e ajustamento ao
envelhecimento, em termos de recursos,
limites e demandas sociais, foi desenvolvido
um estudo sobre os papéis sociais na
perspectiva do desenvolvimento adulto.
Considerando que o processo de envelhecimento gera
uma agenda de desenvolvimento individual, que
inclui a delimitação de papéis esperados pela
sociedade (Neri, 1995), o propósito deste trabalho foi
estudar os papéis sociais desempenhados por adultos
a partir de 50 anos, com o objectivo de:
(1) identificar as tarefas evolutivas desempenhadas
pelos respondentes deste estudo;
(2) conhecer os papéis sociais por eles exercidos;
(3) investigar possíveis relações entre as variáveis
demográficas, tarefas evolutivas e papéis sociais.
Os resultados deste estudo demonstraram que o
envelhecimento é visto como um evento de vida
negativo associado a doenças, contrastando com
expectativas sociais e valores culturais que dão
prioridade à beleza e à produtividade. Neste sentido,
Jacson (citado por Durkin, 1995) afirma que quando
uma pessoa se reforma diminui a sua autoridade, o
seu papel económico torna-se menos claro, ocorrendo
consequentemente uma perda de status.
As expectativas sociais e valores culturais
influenciam na realização das tarefas
evolutivas dos adultos e, no presente estudo,
parecem contribuir para a manutenção de uma
visão negativa da velhice .
Recorrendo a uma das proposições de Baltes
(1991) para o envelhecimento bem sucedido,
estes indivíduos possuem capacidades de
reservas que, activadas, podem ajudar a
responder aos estereótipos da velhice por
processos de auto-regulação da personalidade
que propiciem sensação de auto-estima
positiva e de satisfação pessoal.
As tarefas evolutivas indicam que os
objectivos de vida seleccionados pelos
respondentes como os mais importantes
apontam que o envelhecimento, enquanto
processo de adaptação, é influenciado pelos
recursos que esses indivíduos possuem, em
termos de percepção das possibilidades de
inserção social e condições de sobrevivência.
Considerações finais
Considerando que, segundo Baltes (1997), à
medida que envelhece o indivíduo tem maior
necessidade da cultura para compensar perdas
e, principalmente, que a educação pode
oferecer instrumentos para optimizar,
compensar e estimular o desenvolvimento e a
aquisição de novas habilidades e recursos,
podemos dizer que a falta de escolarização traz
grande prejuízo para o desenvolvimento dessas
pessoas.
Para o grupo em estudo, envelhecer significa viver
com dificuldades económicas, doenças e sentimentos
de desvalorização social. O conformismo conduz a
uma falta de mobilização para lutar e conquistar
melhores condições de vida. Apesar de todas as
adversidades, essas pessoas encontram protecção e
suporte no relacionamento com família, amigos,
vizinhos, e por meio da crença religiosa. Além disso,
os dados sugerem que a confiança em Deus e a
segurança em relação à moradia mostraram-se
positivas, possibilitando um aumento da satisfação de
vida.
Os resultados apontam que, para este grupo os papéis
sociais são influenciados pelas variáveis
demográficas (idade, sexo, escolaridade, ocupação,
naturalidade e estado civil) e também pelas variáveis
relativas à moradia actual. Concluiu-se também que
as expectativas sociais, o suporte social e a
escolarização são factores de suma importância para
oferecer recursos para a optimização e compensação
necessárias a um envelhecimento bem sucedido.
Fase final da vida
Reflexão sobre a morte e o luto
Morrer é parte integrante da vida e é tão natural
como nascer; mas enquanto o nascimento é
motivo de comemoração, a morte transforma-se
num terrível e inexplicável assunto que
evitamos de todas as maneiras. Hoje em dia o
papel da equipa de saúde na morte é cada vez
mais preponderante, pois quando a família nada
mais pode fazer pelo indivíduo, coloca-o em
instituições de saúde para que esses locais se
encarreguem dele.
Por este motivo, é importante que todos aqueles que
trabalham em Instituições de Saúde e/ou de Terceira
Idade ou que, de alguma outra forma, lidem
profissionalmente com situações de morte e de luto,
compreendam este fenómeno e estejam preparados
para lidar com ele, não só no que respeita às tarefas a
desempenhar mas também em relação às questões
emocionais dos próprios, dos indivíduos que
enfrentam a morte e dos seus familiares.
Ao nascermos todos ficamos sujeitos a uma
mesma limitação: a morte. Apesar de nos ser a
todos familiar – quer pela experiência próxima
do falecimento de familiares quer de amigos
ou mesmo desconhecidos – o tema da morte e
do luto é um dos mais difíceis de abordar,
causando um sofrimento terrível.
O termo luto refere-se à perda real do objecto
– de uma pessoa (ente querido, familiar,
amigo...). Embora o luto possa ser
acompanhado de depressão e ambos
apresentem algumas similitudes torna-se
importante demarcar estas duas situações. Em
primeiro lugar porque embora não haja luto
sem depressão, pode obviamente haver
depressão sem luto.
Enquanto na depressão o sujeito não sabe
muito bem o que perdeu (perdeu o amor do
objecto), no luto o indivíduo sabe muito bem
que perder o objecto (embora por vezes,
principalmente nos primeiros momentos haja
alguma tendência para negar a realidade com o
intuito de evita a dor).
O trabalho de luto, cuja duração é variável – o
luto normal está fixado em cerca de 9 meses –,
consiste em desinvestir no objecto perdido por
investimento em novos objectos. Quando o
sujeito não realiza esta tarefa produz um luto
patológico.
Para despegar do objecto perdido é necessária
uma certa carga de agressividade que nem
todos os indivíduos conseguem dirigir ao
objecto perdido ficando antes num registo de
idealização e relembrando geralmente apenas
os melhores momentos.
De acordo com os autores da psicodinâmica, o
luto patológico tem duas razões de ser: a
relação não foi suficientemente vivida (quer
por ter sido muito curta – como acontece aos
pais de bebés que morrem precocemente –
quer por ter ficado aquém das expectativas) ou
então o indivíduo prefere viver num falso
pressuposto (que conduzirá aos terrenos
drásticos da psicose) do que a encarar a perda
real do objecto.
Aquando de uma perda, a primeira reacção
passa geralmente pela colocação da culpa no
exterior – projecção da culpa. De seguida, o
sujeito tende a interrogar-se do que poderia ter
feito para evitar a perda, o que geralmente leva
a uma inflexão da culpa sobre o próprio –
culpabilização – por oposição à idealização do
sujeito perdido.
Para o sujeito conseguir terminar o trabalho de
luto é importante haver uma deflexão da
agressividade, na qual o sujeito consegue
atribuir alguma culpa ao sujeito perdido que
como ser humano que era, tinha características
positivas mas negativas, também.
Com este reconhecimento evitará a
culpabilização do próprio e a idealização do
sujeito perdido, passando a conseguir
mobilizar esforços para um re-investimento
em novos objectos que levarão nunca ao
esquecimento do ente perdido – mas também
não é isso que se pretende – mas antes à
resolução pacífica do processo de luto.
O luto é uma experiência angustiante mas
comum. Mais cedo ou mais tarde, a maioria de
nós vai sofrer a perda de alguém próximo. No
entanto, no nosso dia-a-dia falamos e
pensamos muito pouco acerca da morte, talvez
porque hoje em dia nos deparamos com ela
com menos frequência do que os nossos avós.
Para eles, a morte de um irmão ou irmã, amigo
ou familiar era uma experiência comum nos
seus primeiros anos de vida ou durante a sua
adolescência. Para nós, estas perdas acontecem
geralmente mais tarde na nossa vida. Talvez
por isso não tenhamos a hipótese de aprender a
lidar com o luto - como nos faz sentir, o que
devemos fazer, o que é "normal" acontecer - e
de o aceitar.
O processo de luto dá-se sempre que há uma
perda, mas principalmente depois da morte de
alguém que amamos. Não se trata de um único
sentimento, mas de um conjunto de
sentimentos que necessitam de algum tempo
para ser resolvidos e que não devem ser
apressados.
Nas horas e dias seguintes à morte desse outro
importante, a maioria das pessoas passa por uma fase
de descrença, ficando totalmente "atordoadas", como
se não pudessem acreditar no acontecido. Mesmo
quando a morte era esperada, este sentimento pode
surgir. Este sentimento de torpor ou dormência
emocional pode ajudar a levar a cabo todas aqueles
procedimentos burocráticos inerentes a este processo,
mas pode tornar-se num problema se continuar a
subsistir.
Ver o corpo da pessoa falecida pode, para alguns, ser
um modo importante de começar a ultrapassar tudo
isto. Da mesma forma, para algumas pessoas, o
velório e o enterro podem ser situações onde a
realidade começa a ser encarada. Apesar de ser difícil
lidar com estas situações, o facto é que elas
constituem um modo de dizer adeus àqueles que
amamos. Na altura, estes acontecimentos podem
parecer demasiado dolorosos para que sejam vividos,
mas o facto é que fugir aos mesmos pode levar a um
arrependimento tardio.
Depois desta fase de "torpor", poderá surgir
um período de grande agitação, ansiedade e
ânsia pelo que foi perdido. Surge o sentimento
de querer encontrar essa pessoa seja de que
maneira for, mesmo que tal seja impossível.
Por isto, a pessoa começa a não conseguir
relaxar ou concentrar-se e o sono pode ser
perturbado.
Os sonhos que surgem nesta altura podem ser muito
confusos e algumas pessoas chegam mesmo a "ver"
quem perderam, na rua, em casa e em todo e qualquer
lado que os faça lembrar a primeira. Com muita
frequência, a pessoa em luto sente-se muito zangada e
revoltada - contra médicos e enfermeiros que não
conseguiram impedir a morte que agora lhe pesa,
contra os amigos e familiares que nunca deram o seu
máximo ou mesmo contra a pessoa que perdeu e
assim a deixou.
Outro sentimento comum é o sentimento de culpa.
Nesta altura, começam a pensar em tudo aquilo que
podiam ter feito ou dito e que já não tem retorno ou
mesmo naquilo que podiam ter feito para impedir
essa morte. Naturalmente que a morte é geralmente
um acontecimento que está para além do controlo seja
de quem for e a pessoa em luto deve ser recordada
disto mesmo. A culpa também pode surgir depois de
se sentir alívio pela morte de alguém que nos era
muito querido mas que sabíamos estar a sofrer. Este
sentimento é normal, compreensível e muito comum.
O estado de agitação referido atrás é
geralmente mais forte nas duas semanas que se
seguem à morte do ente querido, mas segue-se
rapidamente de períodos de grande tristeza e
depressão, retiro e silêncio. Esta mudança
súbita de emoções pode deixar amigos e
familiares confusos, mas faz parte do processo
natural de luto.
Apesar da agitação começar a cessar, os períodos de
depressão tornam-se mais frequentes e atingem o seu
máximo passadas quatro a seis semanas do sucedido.
Crises de choro e angústia intensa podem surgir a
qualquer momento, sendo habitualmente despoletadas
por pessoas, sítios ou acontecimentos que fazem
lembrar quem se perdeu. Algumas pessoas podem
não conseguir perceber estas crises ou ficar sem saber
o que fazer quando isto sucede
Poderá haver uma tendência da parte da pessoa em
luto para evitar as outras pessoas mas isto pode trazer
problemas futuros e, por isso, será melhor que volte à
sua "vida normal" o mais rapidamente possível.
Durante este período, pode parecer estranho aos
outros que a pessoa em luto passe muito tempo
sentada, sem fazer nada, mas o facto é que ela estará a
pensar em quem perdeu, recordando constantemente
os bons e os maus períodos que passaram juntos. Esta
é uma fase silenciosa mas essencial à resolução do
luto.
À medida que o tempo passa, a angústia intensa
resultante do luto começa a desaparecer. A
depressão atenua-se e será possível finalmente
começar a pensar noutros assuntos e até em
projectos para o futuro. No entanto, o
sentimento de perda nunca desaparecerá por
completo. Depois de algum tempo, deve ser
possível sentir-se de novo "completo", apesar
de faltar sempre uma parte de si que nunca
será substituída.
COMO PODEM AJUDAR
OS AMIGOS E
FAMILIARES?
A família e os amigos podem ajudar a pessoa
em luto passando tempo com ela. Não se trata
de falar com ela sobre o sucedido, mas antes de
estar com ela e demonstrar que estão presentes
para o que for necessário neste período de dor e
tristeza. É importante que a pessoa em luto, se
necessitar, tenha alguém com quem chorar e
falar sobre a perda sentida, sem que o receptor
lhe esteja permanentemente a dizer para se
recompor e refazer a sua vida.
Com o tempo, elas recompor-se-ão, mas antes
disso terão de chorar a pessoa perdida e de
falar sobre ela. Se algumas pessoas terão
dificuldade em perceber porque é que elas se
mantêm sempre no mesmo assunto, ao invés
de o ultrapassar, o facto é que este processo
deve incluir estas fases porque só dessa forma
poderá ser ultrapassado. Só desta forma a
pessoa em luto terá a oportunidade de nos
dizer o que deseja e como se sente.
Não nos devemos esquecer que datas
importantes (o dia do aniversário, do
casamento, etc.) poderão ser particularmente
difíceis de reviver e pôr a pessoa em luto a
participar activamente na preparação de tais
celebrações poderá ajudá-la a não se sentir tão
sozinha. É importante dar o tempo necessário à
pessoa em luto para que o possa ultrapassar,
pois de outra forma poderá vir a ter problemas
no futuro.
AQUELES QUE FICAM
"PRESOS" AO LUTO
Há pessoas que parecem não passar pelo
processo de luto, que não choram no funeral,
que evitam falar da pessoa que perderam e que
voltam à sua vida "normal" rapidamente. Esta
é a sua forma normal de lidar com a perda sem
consequências negativas, mas outras pessoas
poderão, ao contrário, sofrer sintomas físicos e
passar por episódios repetidos de depressão
nos anos seguintes.
Algumas pessoas podem não ter a oportunidade de
passar pelo processo de luto da melhor forma, uma
vez que têm de continuar a sua vida profissional ou
familiar, não tendo tempo para o fazer.
Por vezes, o problema é que a perda sofrida não é
vista como suficientemente forte para que seja
necessário um luto, por exemplo, depois do
nascimento de um nado morto ou depois de um
aborto.
Algumas pessoas podem iniciar o processo de luto
mas permanecer no mesmo, sem o resolver. Nestes
casos, a dor e a angústia por quem se perdeu mantêm-
se e podem mesmo passar anos sem que a situação
seja realmente resolvida. Nestes casos, a pessoa pode
continuar a não aceitar que perdeu quem faleceu,
mantendo-se na fase de descrença referida atrás ou,
por outro lado, só conseguir pensar em tal pessoa,
mantendo, por exemplo, o quarto da pessoa falecida
intacto e como uma espécie de local de culto.
Ocasionalmente a depressão que ocorre com
todo e qualquer luto pode agravar-se ao ponto
de a pessoa deixar de se alimentar e de pensar
em suicidar-se. Em todos estes casos será
obviamente necessária ajuda profissional
especializada.

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