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Alekxander Henrique de Oliveira Pinheiro

Aluno do curso de Turismo


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UERN – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte

Jararaca, de Cangaceiro à SANTO:


Os VALORES CULTURAIS atribuídos pela sociedade

Num momento de intensa globalização, a busca pela preservação das culturas locais
surge como foco de resistência mostrando que a miscigenação cultural, não acontece sem
que sejam incorporados os valores das culturas locais. No âmbito do turismo,
especialmente no que diz respeito ao Turismo Cultural, o que mais se tem debatido dentro
das salas de aula, eventos ou reuniões referentes ao assunto é sobre o processo de
aculturação das localidades turísticas. Fenômeno esse gerado especialmente pelo turismo
de massa, fruto da sociedade contemporânea capitalista que, na maioria das vezes, busca o
atrativo turístico cultural apenas como fonte de lazer e distração, deixando á parte os
valores históricos e culturais.
A prática da religiosidade nordestina, misto de folclore e religião, era vista, até
poucos anos atrás, como uma prática que servia como refúgio lúdico da seca, do êxodo
para as cidades ou outras regiões do país, da ausência de justiça e da desestrutura agrária
regional, características de um povo que não encontrava alternativa a não ser a busca pela
salvação espiritual através das práticas e costumes religiosos.
O Turismo e a Religião são dois dos maiores fenômenos vivenciados pela
sociedade contemporânea. A partir dessa afirmativa, a presente pesquisa busca enfatizar a
relevância acerca dos aspectos da preservação cultural de um fato e da localidade tendo
como pano de fundo a conversão á santidade de um indivíduo marginalizado e
confrontando as crendices e costumes populares que viviam impregnadas nas sociedades
do início do século XX, menos alfabetizada e necessitada por crer em algo ou alguém e os
novos valores atribuídos, ao mesmo caso, pela sociedade do início do século XXI, mais
instruída, capitalista e necessitada de tempo livre para o lazer. As principais fontes de
pesquisas deste estudo baseia-se nas publicações de matérias jornalísticas, obras literárias,
trabalhos acadêmicos, fotografias e entrevistas.

A Trajetória
Segundo o historiador Paulo Gastão “José Leite de Santana, o Jararaca, nasceu em
1901, na cidade de Alagoa de Baixo, hoje Buíque, estado de Pernambuco”. Em 1925,
como informa o historiador Luís Câmara Cascudo, José Leite estava no sertão
pernambucano, “e com a alcunha de Jararaca já se encontrava chefiando bandos de
cangaceiros, assaltando fazendas e vilas, incendiando, matando”. Juntou-se ao bando de
Lampião em princípios de 1927.
Preso em 14 de junho de 1927, um dia depois da invasão frustrada de Lampião à
Mossoró, maior cidade da região oeste do Rio Grande do Norte, Jararaca permaneceu
quatro dias na cadeia pública da cidade, ferido no peito e nas pernas. Na noite de 18 de
junho, foi levado para o cemitério local. Segundo as lendas populares, a guarda que o
conduzia, obrigou Jararaca a abrir a própria cova. Um soldado o sangrou e o bandido teve
as pernas quebradas para caber na cova e foi enterrado ainda vivo. Tinha 26 anos.

Mitos e Lendas
Cemitério de Mossoró. Um túmulo em especial chama a atenção pela quantidade de
gente que se aglomera ao redor, pela luminosidade refletida pelas centenas de velas acesas
em intenção a alma do falecido que pela crendice popular “obra milagres” e pelo som das
vozes que entoam músicas de adoração e caráter religioso. O túmulo coberto de flores e
pedras de rio guarda os restos mortais do cangaceiro José Leite de Santana, o Jararaca. Ao
lado do túmulo, os populares explicam que as pedras, muitas pedras, são em agradecimento
a alguma graça alcançada.
Muitos são os mitos e controvérsias a respeito da morte de Jararaca, o mais
comentado deles é se ele teria sido enterrado vivo. Os que acreditam que ele já estivesse
morto afirmam que foi devido a série de maus-tratos a que foi submetido.
Outro fato interessante é que Jararaca teria cavado a própria cova. Na verdade,
Jararaca acometido dos ferimentos não tinha condições para realizar tal façanha. Segundo
algumas lendas, a cova cavada de forma premeditada, era pequena e assim foi preciso ter
suas pernas quebradas a golpes de fuzil.
Uma das versões mais aceitas é o depoimento que o Sr. Pedro Sílvio de Morais, um
dos integrantes da escolta que “justiçou” o cangaceiro, fez ao historiador Raimundo Soares
de Brito. Dizia o Sr. Pedro:
Pelas onze e meia horas da noite, de uma noite de luar muito clara,
e sempre fria, do mês de junho, uma escolta composta de oficiais,
sargentos e praças, conduziu em automóvel o bandido, dizendo que
ele iria para Natal. No momento da saída e ao dar entrada no carro,
Jararaca disse que tinha deixado as alpargatas na prisão e pediu ao
comandante para mandar buscá-las, pois não queria chegar na
capital com os pés descalços. O tenente-comandante estão disse
que em Natal lhe daria um par de sapatos de verniz. Quando os
automóveis pararam no portão do cemitério por motivo de “pane no
motor” de um deles, Jararaca perguntou: Mas, isto aqui é o
caminho de Natal? Como resistia descer do automóvel, um
soldado, empurrando-o, deu-lhe uma pancada com a coronha do
fuzil. (Nonato 1993, p.64)

A outra parte da história é contada por Leonardo Mota que diz:

No cemitério, rodeado de soldados, mostraram-lhe uma cova aberta


lá num canto, quase fora do “sagrado” e lhe perguntaram se ele
sabia para quem era. Foi quando Jararaca falou, destemido: “Saber
de certeza não sei não, mas porém estou calculando. Não é para
mim? Agora, isso só se faz porque me vejo nestas circunstâncias,
com as mãos inquiridas e desarmado! Um gosto eu não deixo para
vocês: é se gabarem de que eu pedi que não me matassem. Matem!
Matem, mas é um homem! Fiquem sabendo que vocês vão matar o
homem mais valente que já pisou neste chão. (Nonato 1993, p.66)

Visões e Histórias
Na busca por visões distintas, não me prendi apenas as pesquisas em laboratório, as
pesquisas in loco foram fundamentais para poder observar as mais diversas opiniões sobre
o caso de Jararaca.
Perguntado sobre qual o motivo que atraia o Sr. Raimundo de Freitas Nunes, 72
anos, o mesmo responde: ''Todo ano venho ao cemitério. Visito o túmulo de Jararaca por
curiosidade, pra ver o movimento. Este ano, contei 520 velas, afora as da fornalha do lado.
Dizem que ele se arrependeu de dois crimes, antes de morrer, o menino que ele sangrou na
ponta de um punhal e os bicos dos peitos de uma mulher, que ele arrancou”, crimes que se
tornaram uma espécie de referência a sua frieza e crueldade.
Numa visita ao cemitério local feita em 20/03/2007, enquanto aguardava o senhor
por nome de Joceano, numa sala anexa a capela do cemitério, não pude deixar de ouvi-lo
falar ao telefone que era evangélico. Esse fato gerou em mim, a vontade de instigá-lo nas
perguntas sobre Jararaca para observar, a partir de sua visão religiosa qual seria sua
opinião. Qual não foi minha surpresa quando esclareci pra ele que estava ali pra fazer uma
entrevista sobre as histórias em torno do mito Jararaca, o que ele me respondeu
prontamente e finalizador: “Esse tipo de assunto você vai saber com o Sr. Paulo Gastão”.
Tentei mais uma vez e perguntei se ele já tinha presenciado algum fato estranho como
pagamento de promessas. Ele me interrompeu e falou: “Menino, você quer ir ver o túmulo
de Jararaca? Te mostro e depois você procura pelo Sr. Paulo lá no trabalho dele!.” A partir
desse acontecimento, mais uma singularidade apresenta-se como típica: a devoção ou
qualquer outro tipo de culto a Jararaca e os “santos populares” é característica católica ou
folclóricas do sincretismo, sendo, de certa forma, ignorada ou rejeitada por outras práticas
religiosas.
O Sr. Paulo Gastão é membro-fundador da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos
do Cangaço) estuda o cangaço há aproximadamente 50 anos, tornando-se um referencial
dessa área de estudos do nordeste, tendo várias publicações, matérias e artigos sobre o
referido assunto, estando em fase de desenvolvimento de um livro, ainda sem título, com
mais de 100 páginas contendo apenas fontes bibliográficas para ajudar na orientação de
estudos e pesquisas sobre o cangaço, estando no prelo a segunda edição aumentada e
revisada da obra ‘Uma contribuição ao estudo do cangaço’.
Ainda no mesmo dia, ao sair do cemitério, busco pelo Sr. Paulo. Ligo para ele e
trinta minutos depois estou sentado ao seu lado de um senhor simples, porém muito seguro
quanto ao assunto, iniciando uma entrevista calorosa e interessante. Minha primeira
pergunta é sobre o que ele pensa em relação ao mito Jararaca, que ele começa
respondendo: “Olhe, sobre a morte de Jararaca ainda está cheia de mistérios. Ninguém
sabe ao certo se ele foi enterrado vivo ou não. O que se sabe é que no dia anterior ao seu
sepultamento ele ainda estava vivo e falando, lá na cadeia. O povo foi quem começou a
falar as histórias das pernas terem sido quebradas, de ele ter cavado a própria cova, mas
nunca se provou e a polícia da época nunca falou dessa forma.
Perguntei o que ele achava se fosse instaurada uma possível exumação do corpo na
busca de respostas para comprovar ou não o mito e ele responde: “E pra que?! Já faz 80
anos que isso aconteceu. Não vão achar mais nada lá. Ele foi enterrado na terra, sem
caixão. O que podem achar são uns pedacinhos de ossos que vai dar no máximo pra fazer
um DNA, confrontando com os dos irmãos que ainda se encontram vivos e moram no
estado de Pernambuco, mas ninguém nunca saberá se ele foi enterrado vivo”.
Numa seguinte pergunta, indago sobre o que ele acha da admiração da sociedade,
seja ela dos anos 1920 ou a contemporânea em relação aos cangaceiros e ele segue
respondendo: “Os cangaceiros era como uma espécie de representantes. O povo não tinha
força para enfrentar o descaso do governo e da polícia daqueles tempos. Então quando os
cangaceiros faziam algo contra o governo ou a polícia, o povo mesmo calado se sentia
vingado. Mesmo sentindo medo da presença física do cangaceiro, o povo daquela época os
admirava e até os tinha como heróis. Já a nossa sociedade criou uma espécie de culto
admirativo pela coragem de romper com os valores daquela época. Eles eram bem-visto
pela ostentação do ouro que era exposto em seus corpos e o dinheiro do qual eles
dispunham”.
Pergunto sobre o que ele pensa a respeito do valor que a sociedade mossoroense
atribui ao cangaceiro Jararaca. “Ainda é muito pouco. É pouco e Jararaca é covardemente
tratado nessa história. Acredito que ele foi morto covardemente, pois diferente de Colchete
(cangaceiro do bando de Lampião) que foi morto no tiroteio, na invasão a Mossoró.
Jararaca foi baleado e só quatro dias depois é que foi morto. Jararaca merece ser elevado,
ele tem que ser mais reconhecido. Estão construindo o Memorial do Cangaço, espero que
ele tenha um lugar merecido lá. Pra você ter uma idéia do poder desse homem, no Dia de
Finados o túmulo dele, revestido de cerâmica cinza e barata é mais visitado que o túmulo
de Dr. Rodolpho Fernandes, todo em mármore carrara, que era o prefeito da época da
invasão da cidade”.
Sigo perguntando sobre o que ele pensa em relação aos cultos, as orações e
promessas á Jararaca. “Olhe, acho que isso era coisa das beatas, das rezadeiras, daquele
povo do passado que era muito religioso. Isso tem haver com a formação do povo mais
antigo que era muito religioso e via nesses acontecimentos algo como coisa do diabo ou de
Deus e como Jararaca sofreu muito, o povo achou que ele merecia o perdão e que tinha
pagado pelos pecados. Se você for ver, cada um tem uma visão. Os cordelistas escrevem
muitos contos sobre Jararaca e nessas histórias Ele (Jararaca) sempre consegue enganar o
diabo, sempre está sobre o diabo, mas ele sempre respeita a religiosidade e a Deus. Pra
você ter uma idéia não só o Jararaca, todos os cangaceiros eram tão religiosos e tementes á
Deus que carregavam um terço ou patuá (escapulário) pendurado no pescoço e rezavam
todo dia três vezes: ao acordar, no meio dia e ás seis horas da noite”. E finaliza a pergunta:
“Não comungo com a visão de santidade, mas respeito o status que atribuem á Ele”.
O Historiador segue contando: “sou muito amigo dos familiares de Jararaca. Eles
me contam que Ele sempre foi muito diferente dos outros. Desde pequeno. Ele sempre foi
muito arredio. Ás vezes, o irmão pedia pra ele ir buscar o gado, ele saía pra fazer o que lhe
foi pedido, mas muitas vezes nem voltava. Ás vezes saía de manhã e só voltava á noite. Ele
tinha um desvio de comportamento muito grande. Sempre foi violento e estranho. Nunca
aceitou receber ordens de ninguém. Só recebeu ordens de Virgulino Ferreira (Lampião)
porque foi o homem que ele mais admirou. Em muitos casos como o de Lampião, os
cangaceiros entram para essa vida pra se vingar de alguém, mas no caso de Jararaca ao que
os estudos indicam foi por pura “ruindade”, ele era mau, como eu disse desde pequeno ele
tinha um instinto desviado. Já depois de adulto ele virou uma fera. Pode usar essa palavra,
Fera!”.
O Senhor é conhecedor de algum tipo de manifestação por parte da Igreja em
relação a história que envolve Jararaca? “Não. A única coisa que posso dizer é que existiu
uma coesão muito grande da Igreja para com a defesa da cidade. Na época o padre da
Igreja de São Vicente (principal trincheira de defesa) era Padre Motta e o Cônego era
Amâncio Ramalho e naquela época o poder religioso era muito respeitado, tinha voz
ativa”.
O Senhor conhece alguma pretensão da SBEC em relação á Jararaca como, por
exemplo: homenagens, etc. “Não. Eu, Particularmente, estou redigindo uma obra que recria
e valoriza a figura de Jararaca a partir de uma visão imparcial sobre ele.
A atenção atribuída a Jararaca pela sociedade contemporânea é justa? “Não. Tanto
da parte civil como governista local. Pra você ter uma idéia, a última reforma que foi feita
no túmulo de Jararaca, foi feita por um cidadão de Fortaleza (CE). Às três reformas feitas
no túmulo foram de ordens privadas, particulares.
Para o jornalista e historiador Fenelon Almeida que atribui a santidade de Jararaca à
fé popular, ele cita o seguinte:

A crueldade da execução provocou, sem dúvida, a pena, o dó, a


piedade na gente que a pobreza e a ignorância marginalizaram na
sociedade. Daí naturalmente, chega-se, ao culto ostensivo à alma de
um cangaceiro já de mãos cansadas de matar e roubar. (Almeida,
Fenelon 1995)

Na opinião do primo em terceiro grau de Jararaca, Roberval Ferreira, pós-graduado


em História, o que levou Jararaca a se tornar "santo" foi a fé popular. "Se o povo vem até
aqui movidos pela fé, e se o Vaticano vier procurar um milagre constituído cientificamente
vai encontrar", afirma.
Mesmo com opiniões divergentes, as pessoas entrevistadas e os textos analisados
sempre acabam unindo a idéia do caráter místico e a associação da religiosidade ao caso. A
transgressão e o mito religioso são pontos que estão intimamente unidos fazendo parte da
identidade do cangaceiro.

O Cangaceiro que virou Santo


A ‘conversão’ de um indivíduo criminoso em santo popular morto de modo
violento e dramático por policiais no ano de 1927 faz desde então, seu túmulo receber
inúmeros, e constantes visitantes, especialmente no Dia de Finados. No passado as visitas
eram em sua maioria para fazer ou pagar promessas e milagres. Nos dias atuais, a maior
parte dos visitantes limita-se á curiosos e turistas que buscam conhecer a história e o lugar
onde está enterrado Jararaca, muito publicado por sua valentia e crueldade na literatura e
cantoria de cordel e contos populares.
As peregrinações ao cemitério começaram logo depois da morte do bandido. Desde
então, todos os anos, centenas de pessoas visitam o túmulo de Jararaca, acendem velas,
fazem orações e pedidos ao santo-cangaceiro que obra milagres. Um dos primeiros casos
atribuídos aos milagres do cangaceiro foi o de uma senhora contando que teria sonhado
com ele, que lhe teria dito está sofrendo por haver cometido tantas maldades em vida e por
ter morrido sem desenterrar seu tesouro, jóias e dinheiro, produto de seus roubos. Esta
senhora teria sido, tempos depois, dada como desaparecida junta com seu marido. Então,
começou a passar de boca em boca a lenda de que teria desenterrado o tesouro e fugido
com ele.
Após esse primeiro ‘milagre’, foi reforçada a idéia de que haveria algo especial na
morte de Jararaca. Mitos criados como o possível sepultamento ainda vivo, a resistência e
martírio de Jararaca impressionam os populares e alimentam no inconsciente o sentimento
de piedade que manifesta-se na forma de devoção e crença fervorosa em alguns e
admiração e curiosidade em outros.
É como se Jararaca causasse na sociedade uma espécie de encantamento pelo seu
caráter transgressor, perigoso e marginalizado. O fato de Jararaca ser um caso singular
sugere, segundo Roger Caillois que: “tão sagrado quanto o bem, faz daquele que o tocou
ou foi por ele tocado um ser especial. A transgressão horroriza e fascina”.
Parece que a morte trágica, cruel, lenta e sofrida vivida por elementos como
Jararaca, especialmente no interior do sertão nordestino, surge para a população como um
processo de “iniciação” que, através do martírio, prepara o indivíduo, purificando-o.
Segundo uma devota de Jararaca ele “já havia sofrido muito no cangaço antes de sofrer na
mão da polícia e agora na morte”.
A idéia do sepultamento de uma pessoa viva causa certo choque tornado-se um
ícone das representações acerca de sua morte sobrecarregando de sentido religioso e
místico a devoção tornando seu túmulo o marco físico ainda existente para adoração ao
santo-cangaceiro e atrativo turístico. Assim, surge uma identidade ambígua, do bandido
que era e é adorado como santo por uma sociedade mais arcaica e apreciado
potencialmente pela massa contemporânea como atrativo turístico, a partir das crendices e
mitos de uma época que levaram o bandido transgressor atingir a santificação.

Turismo e Religiosidade
Mesmo que oculto no cotidiano, o folclore é existencial nas pessoas. A
religiosidade na cultura de um povo é um dos traços mais marcantes. No caso do nordeste,
existe um fato atípico, onde a religiosidade e devoção à uma determinada pessoa (Antônio
Conselheiro, Padre Cícero, Frei Damião, Jararaca, Baracho) entram para a memória de um
grupo de indivíduos a partir de mitos criados pelo consciente coletivo reforçada pelo
tradicional apego a religiosidade, alimentando num grupo de indivíduos, a partir de um
fato atípico, como a morte, lenta e sofrida, vivida especialmente pelos bandidos, uma
espécie de ritual iniciatório, que converte o bandido em mártir e logo em seguida, em
santo. Porém, Jararaca tornou-se uma espécie de santo incompleto. Os fiéis o vêem como
seu próximo não só porque sofreram no passado, mas porque continuam sofrendo. Os
devotos incorporam a adoração no sentido de completar sua purificação através das rezas e
orações, assumindo um papel de “ajudante” na busca da salvação da alma do cangaceiro.
Esse fato apresenta-se como um misto de folclore e religião que levam as manifestações de
cultos, romarias, peregrinações ou, no caso da sociedade contemporânea a própria
atratividade turística seja ela de caráter histórico, religioso ou cultural.
No caso específico do turismo, onde a troca de valores, referenciais a cada
indivíduo, seja ele o visitado ou o visitante é comum, especialmente nos países em via de
desenvolvimento onde existe uma característica típica em não oferecer resistência às coisas
que vêm de fora ou pelo que é novo fato característico, principalmente, pela fragilidade da
identidade, o turismo surge naturalmente como um fenômeno conseqüente de um processo
da produção social que pode ser material ou imaterial.
Quanto à cidade de Mossoró e da história de Jararaca, o fenômeno religioso
ganhou no decorrer dos anos, sentido cultural e força como atratividade turística o que
consequentemente adquiriu forma mercantilista a partir dos elementos históricos e
religiosos gerando o deslocamento de turistas e a geração de insumos financeiros. Esse
fato, característico da sociedade contemporânea que, se comparada às sociedades de outras
épocas, está impregnada de valores como o capitalismo moderno, as novas tecnologias, os
novos e facilitadores meios de comunicação, deixando de lado os valores de caráter
místicos, religiosos, culturais, etc.
A partir desse diagnóstico, surge a necessidade de implantar a atividade turística,
sobre a visão do segmento do Turismo Cultural e Religioso de caráter Sustentável,
agregando os valores históricos aos agentes sociais relevando a prática do turismo não só
como gerador de divisas, mas como uma atividade capaz de auxiliar na obtenção de
resultados relevantes quando se refere à preservação da memória e identidade, na
manifestação da essência e dos significados do patrimônio histórico local. A construção de
valores referenciais das tradições e costumes conduz à preservação dos fatos históricos,
garantindo a preservação cultural e o processo de (re)conhecimento desses valores sociais.
BIBLIOGRAFIA:

SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. Mossoró/RN.


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LINS, Daniel. Lampião, o Homem que amava as Mulheres. Ed: Annablume – 1998. 1ed.
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HORTA, Carlos Felipe de Melo Marques. O Grande Livro do Folclore. Ed. Leitura. Pág.
83,84. Belo Horizonte – 2006
NONATO, Raimundo. Lampião em Mossoró. Coleção O Mossoroense - Fundação Vingt-
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CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro - São Paulo, Global. 11ª
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Mossoró. Dezembro de 2006.
FREITAS, Tânia. Violência e Sagrado. IX Jornada sobre Alternativas Religiosas na
América Latina – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ – Rio de Janeiro - RJ. 21
a 24/09/1999
Lauro da Escóssia o Centenário de um ícone. Jornal O Mossoroense, Mossoró, 13 mar.
2005. disponível em: www.omossoroense.com.br. Acesso em 10 mar. 2007.
Relato de uma viagem precursora. Jornal O Mossoroense, Mossoró, 18 mar. 2007.
AMORIM, Maiara. Entrevista de “O Mossoroense” com Jararaca é considerada o maior
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Mossoró Cultural. Jornal O povo, Fortaleza, 23 mar. 2007.
Parabelum na mão. Jornal Página Certa, Mossoró, 22 ago. 2006.
OLIVEIRA, Chistian Dennys Monteiro. Turismo Religioso – São Paulo: Aleph, 2003. –
Coleção ABC do Turismo.

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