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Luís Cláudio Villafañe G. Santos
Euclides da Cunha
Uma biografia
Para Sabrina.
Amiga, cúmplice, amor da vida toda
Apresentação
1. O incidente do sabre
2. Positivista hesitante, ardente republicano
3. Floriano Peixoto
4. A Troia de Taipa
5. Chefe de operários e homem de letras
6. Os sertões
7. Dormiu desconhecido para no dia seguinte acordar
famoso
8. Rio Branco
9. Conflito inevitável
10. A odisseia do Purus
11. No Itamaraty
12. A tragédia da Piedade
Fontes e bibliografia
Cronologia
Lista de pessoas
Termos para busca
Autor
Créditos
Apresentação
Escrevi este livro para o futuro. […] Não lhe dei nem
prefácio, nem paraninfo, que o apresentasse à minha
terra. Quis aparecer só, absolutamente isolado na
grande fraqueza do meu nome obscuro diante dos que
compartiram aquela luta. E apareci só. Não
apareceram porém os protestos. Não podiam
aparecer: desafiariam imprudentemente a réplica
inflexível dos fatos. Não deviam aparecer; afrontariam
inutilmente as energias triunfantes da verdade.[16]
Creia, meu pai, que não tenho outra saída. Peço o seu
auxílio. A Saninha está mudada; tem sofrido muito;
acaba de passar por amargos desapontamentos; tem
pelo sr. verdadeira estima; pode ser quase uma filha e
afinal, e à parte defeitos de caráter que já estão
diminuídos, é digna da estima pela sua honestidade e
pelo coração.[10]
O apelo teatral não convenceu Manuel da Cunha, e um
par de semanas depois Euclides e família — sem d. Túlia
— tinham um novo endereço no mesmo bairro: rua
Cosme Velho, no 91. A ideia de desistir da viagem para a
Amazônia não passara de recurso dramático.
Em fins de outubro, o Congresso finalmente aprovou
os recursos que financiariam as expedições ao Purus e ao
Juruá. O endosso parlamentar oficializava a comissão e,
em 28 de novembro, foi assinada a portaria que
nomeava Euclides primeiro comissário brasileiro da
expedição incumbida do reconhecimento do Alto Purus.
Somente a partir daí ele passou a receber a remuneração
de quatro contos de réis mensais correspondente à
chefia da expedição. Rio Branco acenou com a
possibilidade de remunerá-lo pelo período já trabalhado
durante aqueles meses de preparação — quando
houvesse disponibilidade, provavelmente com a verba
reservada do ministério. Mas, no fim, Euclides deixou o
Rio de Janeiro sem cobrar a promessa. O chanceler
dispunha de razoável orçamento como “verba reservada”
para despesas de caráter secreto, que ele usava a seu
bel-prazer, principalmente para comprar a boa vontade
da imprensa.
Euclides completou a equipe que o acompanharia na
aventura. Em coordenação com Cabo Frio, definiu como
auxiliares o primeiro-tenente da Marinha Alexandre
Argolo Mendes, o médico Tomás Catunda e, como
secretário, o agrônomo Manuel da Silva Leme. Incluiu
também, como auxiliar técnico, o primo Arnaldo Pimenta
da Cunha, filho do tio José, com quem se hospedara em
Salvador em 1897. Participar da comissão seria um início
de carreira promissor para Arnaldo, um jovem
engenheiro, mas Euclides temia pela saúde do parente.
Em conversa com Luís Cruls, de quem tomara
emprestados instrumentos astronômicos, descobriu que
na então ainda recente expedição chefiada por este com
o objetivo de definir as coordenadas geográficas da
nascente do Javari, “ninguém absolutamente escapou à
malária ou ao beribéri; alguns morreram e outros (entre
os quais o próprio dr. Cruls) ainda agora sofrem as
consequências da viagem”.[11]
Em Manaus, a equipe brasileira ainda seria reforçada
por vinte soldados do 36o Batalhão de Infantaria,
chefiados por dois alferes, Antônio Carlos Cavalcanti de
Carvalho e Francisco Lemos, e um encarregado do
material, o coronel Rodolfo Nunes, além da tripulação das
embarcações, que teria de contratar: tanto barcos como
tripulantes. E, é claro, ali também se incorporou o
fotógrafo que Cabo Frio considerara “um luxo
desnecessário”.
Em meio às atribulações da vida pessoal, da
preparação para a missão e das providências
burocráticas, Euclides — surpreendentemente — não
deixou registro de suas impressões sobre as profundas
transformações e os gravíssimos incidentes que
ocorreram na capital do país naquele segundo semestre
de 1904. A reforma urbana promovida pelo prefeito
Pereira Passos ganhava seu símbolo mais importante
com o início das obras, em março, e a inauguração, em
setembro (ainda em caráter precário), da avenida
Central, hoje avenida Rio Branco. Só essa obra significou
a destruição de mais de seiscentas edificações, sem
indenização aos moradores, onde se amontoavam quase
4 mil pessoas. Também o esforço de erradicação das
endemias que assolavam a capital causava
desassossego. As medidas de combate à varíola, à febre
amarela e à peste bubônica se faziam de forma
autoritária, com grande ônus sobre as camadas mais
desassistidas, e se traduziram na expulsão dos pobres do
centro da cidade para os morros e subúrbios.
A resposta popular à violência do Estado aconteceu
com a decretação da vacinação obrigatória contra a
varíola. A revolta explodiu em 10 de outubro de 1904;
por quase uma semana o Rio de Janeiro se tornou uma
praça de guerra. O levante da população só pôde ser
contido por meio de violenta repressão pela polícia e
pelas Forças Armadas. No meio da crise houve ainda uma
confusa tentativa de golpe de Estado, com o apoio dos
alunos da Escola Militar da Praia Vermelha. A rebelião
militar também foi sufocada e, como consequência, a
Escola foi fechada pelo governo. Reabriria mais tarde, no
bairro do Realengo, mas por alguns anos os oficiais de
infantaria e cavalaria se formaram na Escola de Guerra
em Porto Alegre, bem longe da capital federal.
Não há registro da visão pessoal de Euclides sobre a
Revolta da Vacina. Por um lado, é possível imaginar que
ele tenha visto com grande simpatia a atuação de
Oswaldo Cruz, afinal um cientista que buscava
modernizar a saúde pública. Mesmo o viés autoritário da
campanha de vacinação obrigatória e das reformas
urbanísticas não seria estranho ao substrato positivista
(e depois spencerista) da visão de mundo de Euclides.
Por outro lado, em acréscimo aos muitos mortos e feridos
em decorrência da repressão da revolta, mais adiante
quase quinhentas pessoas foram deportadas para o Acre
em navios-prisão — além dos processados judicialmente
(estes foram poucos, um deles Vicente de Souza, antigo
editor do jornal Democracia, para o qual Euclides
contribuíra). O fato é que o escritor que denunciara o
massacre de Belo Monte silenciou sobre as violações dos
direitos dos pobres na capital do país. A omissão de
Euclides deve ser vista também sob a perspectiva de que
os termos — e a chefia — da comissão brasileira ao Alto
Purus ainda não tinham sido aprovados pelo Congresso.
A bordo do vapor Alagoas, Euclides partiu no dia 13 de
dezembro rumo a Manaus. Menos de uma semana
depois, desembarcou no Recife e, enquanto o navio
carregava e descarregava, visitou Oliveira Lima. Juntos,
os dois passearam pela cidade e por Olinda. Ressentido
com Rio Branco, o diplomata deixara a capital federal
para se refugiar em sua cidade: só apresentaria suas
credenciais em Caracas mais de um ano depois, em 25
de maio de 1905. Na verdade, mais de dois anos se
passaram entre o posto anterior, no Japão, e a assunção
da representação na Venezuela.[12] Na prática, foi uma
longa licença remunerada, durante a qual Oliveira Lima
aproveitou para escrever sua obra mais importante: D.
João VI no Brasil.
A viagem prosseguiu, com novas escalas em Fortaleza
e São Luís. Euclides acreditava que ficaria deslumbrado
com a primeira impressão que teria do rio Amazonas,
mas acabou tendo uma decepção. Reclamou em carta
para Oliveira Lima:
Não sei bem que tempo gastarão ainda. Noto que têm
pouca pressa. Não se agitam. Quedam numa adorável
placidez, em que se partem todas as minhas
impaciências. Espanhóis ardentíssimos, álacres e
ruidosos para as zarzuelas e para todas as requintadas
troças desta desmandadíssima Manaus — são
quíchuas, quíchuas morbidamente preguiçosos quando
se trata de partir.[35]
[…]
Defendemos o Direito.
Apresentação
1. Refiro-me aqui às datas de publicação das respectivas
primeiras edições. As referências ao longo deste livro
correspondem, eventualmente, a outras edições,
conforme indicado na bibliografia.
[ «« ]
24. Ibid.
[ «« ]
43. Ibid..
[ «« ]
31. Ibid.
[ «« ]
36. Ibid.
[ «« ]
37. Ibid., 7 set. 1897.
[ «« ]
11. Santana (Ciência & arte, op. cit., pp. 139-40) explica
que “durante algum tempo se imaginou [os
Apontamentos] serem resultantes do trabalho conjunto
dos dois, versão que seria favorecida pelo próprio
Teodoro, que se refere a ele como um ‘manuscrito da
lavra de nós ambos’, e agravada pela não devolução do
caderno a seu dono, ficando de posse de Euclides da
Cunha e, finalmente, sendo doado ao Instituto Histórico e
Geográfico da Bahia por Arnaldo Pimenta da Cunha, após
a morte do escritor”.
[ «« ]
22. Ibid.
[ «« ]
6. Ibid.
[ «« ]
7. Roberto Ventura, Retrato interrompido da vida de
Euclides da Cunha, op. cit., p. 221. Até sua morte,
Euclides continuaria a corrigir as sucessivas edições de
Os sertões. Segundo cuidadoso estudo feito por Walnice
Nogueira Galvão (“Editar Euclides da Cunha”. Veredas,
Porto Alegre, n. 8, p. 204, 2007): “Se somarmos as
emendas que realizou enquanto viveu nas edições a que
teve acesso, e que afinal não passaram de três, no total
chegariam a 10 mil, o que não é nada desprezível”. Vale
assinalar que este último número se refere a mudanças
no texto original, muito além das oitenta correções feitas
nos volumes da primeira edição.
[ «« ]
36. Ibid.
[ «« ]
40. Ibid.
[ «« ]
50. Ibid.
[ «« ]
51. Ibid.
[ «« ]
9. Ibid., p. 260.
[ «« ]
Referências bibliográficas
capa
Daniel Trench
tratamento de imagens
Carlos Mesquita
pesquisa iconográfica
Cassiana Der Haroutiounian
composição
Manu Vasconcelos
preparação
Heloisa Jahn
checagem
Érico Melo
índice remissivo
Marco Mariutti
revisão
Jane Pessoa
Ana Maria Barbosa
versão digital
Antonio Hermida
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
——
Santos, Luís Cláudio Villafañe G. (1960-)
Euclides da Cunha: Uma biografia: Luís Cláudio Villafañe G. Santos
Tradução: Fernanda Abreu
São Paulo: Todavia, 1ª ed., 2021
432 páginas
ISBN 978-65-5692-141-9
CDD928
——
Índices para catálogo sistemático:
1. Biografia: Perfil biográfico 928
todavia
Rua Luís Anhaia, 44
05433.020 São Paulo SP
T. 55 11. 3094 0500
www.todavialivros.com.br
Roberto Carlos
Medeiros, Jotabê
9786556921259
512 páginas