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O uso de medicamentos com álcool é reconhecidamente prejudicial, mas por

incrível que pareça, essa associação ainda é extremamente comum.

A associação de bebidas alcoólicas com medicamentos pode levar a efeitos


colaterais graves, incluindo o risco de morte. O álcool pode tanto potencializar
os efeitos de um medicamento quanto neutralizá-lo. Pode também activar
enzimas que metabolizam o medicamento em substâncias tóxicas para o
organismo.

Para entender como o álcool e outras substâncias são metabolizadas

1.) Álcool potencializando o efeito de um medicamento

Quando as enzimas que metabolizam o medicamento são as mesmas do


álcool, estas ficam "ocupadas" processando o etanol, fazendo com que o
medicamento permaneça mais tempo e em maior concentração na corrente
sanguínea. Em alguns casos esta pode ser a diferença entre a intoxicação ou
não.

2.) Álcool inibindo a acção de um medicamento

Este processo ocorre em consumidores crónicos. O estímulo alcoólico


constante no fígado faz com que haja um aumento no número de enzimas
hepáticas. Quando um medicamento chega no fígado há um excesso destas
para metabolizá-lo, inactivando a droga muito mais rapidamente do que de
costume. Este excesso de enzimas, podem permanecer por semanas após se
cessar o consumo de álcool.

3.) Álcool actuando no mesmo sítio dos medicamentos

Outra maneira de potencialização de remédios é quando estes, assim como o


etanol, também atuam sobre o sistema nervoso central, como no caso de
narcóticos e sedativos. Causam uma perigosa sedação.

4.) Remédios aumentando o efeito do álcool

Alguns medicamento inibem as enzimas que metabolizam o álcool,


aumentando seus efeitos e seu tempo de permanência no organismo.
Potencializam as lesões do álcool no organismo.

Alguns exemplos de interação álcool-medicamentos:

- ANESTÉSICOS : O uso de álcool dificulta a ação dos anestésicos, sendo


necessária doses maiores para a indução anestésica em atos operatórios.
Também potencializa os efeitos tóxicos destes medicamentos para o fígado.

- ANSIOLÍTICOS ( BENZODIAZEPINAS): Aumentam o efeito sedativo, o risco


de coma e insuficiência respiratória.
- ANTABUSE (dissulfiram) : Antabuse ou Antabus é o principal nome comercial
de uma droga chamada Dissulfiram, que inibe a enzima acetaldeído
desidrogenase impedindo a transformação do metabólito tóxico acetaldeído em
ácido acético (leia sobre a intoxicação do álcool para entender melhor o
mecanismo). O acúmulo desta substância tóxica causa efeitos como vômitos,
palpitação, cefaléia, hipotensão, dificuldade respiratória e até morte.

É uma substância usada no tratamento do alcoolismo, pois mesmo pequenas


doses de álcool provocam efeitos muito desconfortáveis. O doente toma o
primeiro copo e começa a se sentir mal, parando imediatamente de beber. Isso
acontece porque com o bloqueio da metabolização do acetaldeído, que é uma
substância muito tóxica, sua concentração sanguínea chega a ficar 10x maior
do que acontece normalmente. Com isso, pequenas doses de álcool levam a
níveis de acetaldeídos maiores do que ocorrem em muitos "porres". Em 15
minutos o paciente já começa a sentir os efeitos desagradáveis. Até pequenas
quantidades de álcool como em doces e molhos podem causar os sintomas.

Elevadas doses de álcool em quem faz uso de antabuse podem ser fatais.

- ANTIBIÓTICOS: Existe um conceito de que misturar antibióticos e álcool é


perigoso e pode inactivar o primeiro. Isto é uma verdade parcial.

Realmente a associação de álcool com alguns antibióticos pode levar a efeitos


graves do tipo antabuse, descrito acima.

São eles:
Metronidazol (Flagyl®)
Trimetoprim-sulfametoxazol (Bactrim®)
Tinidazole (Tindamax®)
Griseofulvin (Grisactin®)

Outros antibióticos como Cetoconazol, nitrofurantoína, eritromicina, rifampicina


e isoniazida também não devem ser tomados com álcool pelo perigo de
inibição do efeito e potencialização de toxicidade hepática.

Em ralação aos outros antibióticos não há relatos de interação. Porém, deve-se


lembrar que o álcool inibe o sistema imune e dificulta o combate contra agentes
infecciosos. Portanto, não é inteligente beber enquanto se está com uma
infecção.

- ANTICOAGULANTES: O álcool aumenta o efeito anticoagulante da Varfarina


(Marevan®, Varfine®, Coumadin ®) podendo causar hemorragias. (leia:
INTERAÇÕES COM A VARFARINA)

- ANTICONVULSIVANTES: Aumentam os efeitos colaterais e o risco de


intoxicação enquanto que diminui a eficácia contra as crises de epilepsia.

- ANTIDEPRESSIVOS: Aumentam as reações adversas, o efeito sedativo e


diminui a eficácia dos antidepressivos. Pode também causar picos
hipertensivos.(leia: ANTIDEPRESSIVOS: Escitalopram, Citalopram, Fluoxetina,
Sertralina e Paroxetina).

- ANTIINFLAMATÓRIOS: Aumentam o risco de úlcera gástrica e


sangramentos. Aspirina (AAS) aumenta os efeitos do álcool. (leia: AÇÃO E
EFEITOS COLATERAIS DOS ANTIINFLAMATÓRIOS)

- ANTI-HIPERTENSORES: Reduzem a eficácia, causam tonturas e arritmias


cardíacas

- ANTI-HISTAMÍNICOS (ANTIALÉRGICOS): Aumenta o efeito sedativo e causa


tonturas e desequilíbrio.

- HIPOGLICEMIANTES (ANTIDIABÉTICOS): Também pode causar efeito


antabuse. Uso agudo de etanol prolonga os efeitos enquanto que o uso crônico
inibe os antidiabéticos.

- PARACETAMOL: Aumenta o risco de hepatite medicamentosa.

- PROTETORES GÁSTRICOS: Aumenta o efeito do álcool e os efeitos


colaterais do medicamento.

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