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Certo dia João atrasou-se em suas tarefas de corte de cana, devido às suas
quimeras e perdeu o caminhão que o levaria pra casa e teve de voltar a pé por
trilha perigosa.
Ele rezava o credo e o pai nosso o tempo todo e tremia muito de medo.
A noite era de Lua Cheia e João , como bom romântico esqueceu seus medos
e resolveu admirá-la. Ficou parado por muito tempo imaginando ser o São
Jorge que abateria o dragão e ganharia como prêmio a mão da bela princesa
pálida.
Isso não durou muito. Que reino? Que dragão? Que princesa? Pálida?
A sua volta todos tinham a pele queimada e ressecada pelo sol.
Foi então que ele ouviu um cantarolar, muito baixo, vindo da direção do rio.
Pensou logo na Iara, mas sua curiosidade o impeliu a espiar. Ele ficou
abaixado, oculto pela vegetação perto do rio, foi então que ele viu uma bela
mulher de cabelos negros e longos saindo de dentro do rio. Ela era muito bela
e pálida, como nos poemas que lera escondido. O estranho é que suas vestes
não estavam molhadas.
A bela moça pos a mão sobre o colo de alabastro e virou-se para a Lua. Sua
pele por demais branca ganhava tom azulado quando submetido aos efeitos do
corpo celeste.
João tremia, sabia que era a Mãe d’ Agua e temia que ela descobrisse sua
presença, mas mesmo assim não recuou, pois sabia que em sua curta vida
restante de desgraças não veria de novo tão majestosa cena.
A Iara deitou-se, como se quisesse expor seu corpo à luz da Lua. Ela usava um
vestido branco e transparente de gaza, pelo menos parecia. Ela contorcia-se
como se quisesse expor mais partes de seu corpo a luz da Lua. Ergueu
levemente sua saia para que exibisse com certo recato o que já não podia ser
recatado. João tremia. Ele não podia acreditar, mas a tão temida Iara também
amava e seu amado era alguém com quem nenhum homem poderia competir:
o Astro-Principe.
Ele havia sido descoberto. Pensou em correr, mas de que adiantaria?O canto
dela o traria de volta fácil. O pobre cortador de cana abaixou sua cabeça e
caminhou em direção à Iara, já esperando por sua punição. Afogamento? Não
seria tão ruim
João ficou imóvel e esperou pelo pior. Mas nisso a Mãe d’Água deixou cair
suas largas vestes tornando desnudo seu corpo perfeito.
A Iara deu-lhe as costas e começou a entoar canto mavioso, que atraiu o pobre
jovem em direção ao rio, ele já sabia: afogamento.Pelas mãos da Iara.
Quando este tinha apenas a cabeça para ser submersa, a Iara parou seu
mergulho, virou-se, o olhou com ternura e disse-lhe:
_Tu sabes dos inúmeros homens desavisados que afoguei nesse rio não?
Sabes por que fiz isso? Eles rendiam-se fácil ao meu canto, mas rendiam-se
não pelo meu poder de controlá-los, mas pela promessa desejosa das mentes
deles de que possuiriam de forma carnal, uma das filhas queridas de Tupã,
mestre da criação. Tu me querias por outros motivos, tu me amaste? Sim,
guardado em castidade,olhaste todo tempo meu ato de união etérea entre mim
e a Lua e não sentiste inveja ou desejo, admiraste o belo e o puro,
compreendeu que aquele não era um ato da natureza a qual pertence.
Tu deves levar tua vida normalmente e quando chegar tua hora viverás ao meu
lado no reino das águas, tendo de mim, tudo aquilo que lhe é mais caro em
vida.
_Mas Iara, minha vida é miserável, prefiro ir contigo, ninguém nem sequer
notará minha falta.
João saiu da água e reparou que suas roupas também não estavam molhadas.
O pobre cortador ficou com aquela cena e palavras na cabeça por semanas,
começou a esmorecer e a definhar de tristeza. Ele já não tinha amigos, apenas
uma avó já velha e não muito saudável. Os vizinhos diziam que aquilo era mal
olhado ou feitiçaria.
Certa noite de Lua cheia, João juntou sua ultimas energias e caminhou até a
beira do rio, não viu sinal da Iara apesar da Lua. Pensou ele que ela havia o
esquecido ou jurado em falso.
Até hoje só um homem conhece a origem dessa coruja e dessa lenda, pois ele
também foi poupado pela Dama Pálida do rio que pediu a ele que contasse
isso apenas a alguém que lhe fosse muito especial.