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I.1. Introdução
Por definição Saneamento Básico é um serviço público que compreende os sistemas de abastecimento
d'água, de esgotos sanitários, de drenagem de águas pluviais e de coleta de lixo. Estes são os serviços
essenciais que, se regularmente bem executados, elevarão o nível de saúde da população beneficiada,
gerando maior expectativa de vida e conseqüentemente, maior produtividade.
Os sistemas de drenagem são classificados de acordo com suas dimensões, em sistemas de
microdrenagem, também denominados de sistemas iniciais de drenagem, e de macrodrenagem .
A microdrenagem inclui a coleta e afastamento das águas superficiais ou subterrâneas através de
pequenas e médias galerias, fazendo ainda parte do sistema todos os componentes do projeto para que tal
ocorra.
A macrodrenagem inclui, além da microdrenagem, as galerias de grande porte ( D > 1,5m ) e os corpos
receptores tais como canais e rios canalizados.
I.2. Terminologia Básica
Um sistema de drenagem de águas pluviais é composto de uma série de unidades e dispositivos
hidráulicos para os quais existe uma terminologia própria e cujos elementos mais freqüentes são
conceituados a seguir.
Greide - é uma linha do perfil correspondente ao eixo longitudinal da superfície livre da via pública.
Guia - também conhecida como meio-fio, é a faixa longitudinal de separação do passeio com o leito
viário, constituindo-se geralmente de peças de granito argamassadas.
Sarjeta - é o canal longitudinal, em geral triangular, situado entre a guia e a pista de rolamento, destinado
a coletar e conduzir as águas de escoamento superficial até os pontos de coleta (Figura I.1).
Sarjetões - canal de seção triangular situado nos pontos baixos ou nos encontros dos leitos viários das
vias públicas, destinados a conectar sarjetas ou encaminhar efluentes destas para os pontos de coleta
(Figura I.2).
Bocas coletoras - também denominadas de bocas de lobo, são estruturas hidráulicas para captação das
águas superficiais transportadas pelas sarjetas e sarjetões; em geral situam-se sob o passeio ou sob a
sarjeta (Figura I.3).
I.3. Objetivos
Os sistemas de drenagem urbana são essencialmente sistemas preventivos de inundações, principalmente
nas áreas mais baixas das comunidades sujeitas a alagamentos ou marginais de cursos naturais de água. É
evidente que no campo da drenagem, os problemas agravam-se em função da urbanização desordenada.
Quando um sistema de drenagem não é considerado desde o início da formação do planejamento urbano,
é bastante provável que esse sistema, ao ser projetado, revele-se, ao mesmo tempo, de alto custo e
deficiente. É conveniente, para a comunidade, que a área urbana seja planejada de forma integrada. Se
existirem planos regionais, estaduais ou federais, é interessante a perfeita compatibilidade entre o plano
de desenvolvimento urbano e esses planos.
Todo plano urbanístico de expansão deve conter em seu bojo um plano de drenagem urbana, visando
delimitar as áreas mais baixas potencialmente inundáveis a fim de diagnosticar a viabilidade ou não da
ocupação destas áreas de ponto de vista de expansão dos serviços públicos.
Um adequado sistema de drenagem, quer de águas superficiais ou subterrâneas, onde esta drenagem for
viável, proporcionará uma série de benefícios, tais como:
- desenvolvimento do sistema viário;
- redução de gastos com manutenção das vias públicas;
- valorização das propriedades existentes na área beneficiada;
- escoamento rápido das águas superficiais, facilitando o tráfego por ocasião das precipitações;
- eliminação da presença de águas estagnadas e lamaçais;
- rebaixamento do lençol freático;
- recuperação de áreas alagadas ou alagáveis;
- segurança e conforto para a população habitante ou transeunte pela área de projeto.
Em termos genéricos, o sistema da microdrenagem faz-se necessário para criar condições razoáveis de
circulação de veículos e pedestres numa área urbana, por ocasião de ocorrência de chuvas freqüentes,
sendo conveniente verificar-se o comportamento do sistema para chuvas mais intensas, considerando-se
os possíveis danos às propriedades e os riscos de perdas humanas por ocasião de temporais mais fortes.
I.4. Drenagem no Brasil
No Brasil, institucionalmente, a infra-estrutura de microdrenagem é reconhecida como da competência
dos governos municipais que devem ter total responsabilidade para definir as ações no setor, ampliando-
se esta competência em direção aos governos estaduais, na medida em que crescem de relevância as
questões de macrodrenagem, cuja referência fundamental para o planejamento são as bacias
hidrográficas. Isto é, deve ser de competência da Administração Municipal - a Prefeitura, os serviços de
infra-estrutura urbana básica relativos à microdrenagem e serviços correlatos - incluindo-se
terraplenagens, guias, sarjetas, galerias de águas pluviais, pavimentações e obras de contenção de
encostas, para minimização de risco à ocupação urbana.
Quanto a sua extensão não se dispõe de dados confiáveis em relação à drenagem urbana. Estima-se que a
cobertura deste serviço - em especial a microdrenagem - atinja patamar superior ao da coleta de esgotos
sanitários.
Quanto à macrodrenagem, são conhecidas as situações críticas ocasionadas por cheias urbanas, agravadas
pelo crescimento desordenado das cidades, em especial, a ocupação de várzeas e fundos de vales. De um
modo geral nas cidades brasileiras, a infra-estrutura pública em relação a drenagem, como em outros
serviços básicos, apresenta-se como insuficiente.
I.5. Exercícios
1. Definir Saneamento Básico.
2. Classificar os sistemas de drenagem.
3. Por que se diz que a guia é uma faixa longitudinal?
4. Comparar sarjetas e sarjetões.
5. Por que as bocs coletoras são ditas estruturas hidráulicas?
6. Comparar galerias com condutos de ligação.
7. Idem poços de visita com caixas mortas.
8. Quanto maior a bacia de drenagem maior o tempo de concentração?
9. Definir chuvas intensa, freqüente e torrencial em termos de tempo de recorência.
10. Comparar em termos operacionais e de resultados, os instrumentos pluviômetro e pluviógrafo.
11. Qual o objetivo básico dos sistemas de drenagem pluvial urbano?
12. Explicar como os sistemas de drenagem proporcionam os seguintes benefícios:
- desenvolvimento do sistema viário;
- redução de gastos com manutenção das vias públicas;
- valorização das propriedades existentes na área beneficiada;
- escoamento rápido das águas superficiais, facilitando o tráfego por ocasião das precipitações;
- eliminação da presença de águas estagnadas e lamaçais;
- rebaixamento do lençol freático;
- recuperação de áreas alagadas ou alagáveis;
- segurança e conforto para a população habitante ou transeunte pela área de projeto.
CAPÍTULO II
II. CHUVAS
II.1. Introdução
As águas de drenagem superficial são fundamentalmente originárias de precipitações pluviométricas
cujos possíveis transtornos que seriam provocados por estes escoamentos, devem ser neutralizados pelos
sistemas de drenagem pluviais ou esgotos pluviais.
As precipitações pluviométricas podem ocorrer tanto da forma mais comum conhecida como chuva,
como em formas mais moderadas como neblinas, garoas ou geadas, ou mais violentas como acontece nos
furacões, precipitações de granizo, nevascas, etc. No entanto nas precipitações diferentes das chuvas
comuns as providências coletivas ou públicas são de natureza específica para cada caso.
II.2. Tipos de Chuva
São três os tipos de chuvas para a Hidrologia: chuvas convectivas, chuvas orográficas e chuvas
frontais.
As convectivas são precipitações formadas pela ascensão das massas de ar quente da superfície,
carregadas de vapor d'água. Ao subir o ar sofre resfriamento provocando a condensação do vapor de água
presente e, consequentemente, a precipitação. São características deste tipo de precipitação a curta
duração, alta intensidade, freqüentes descargas elétricas e abrangência de pequenas áreas.
As chuvas orográficas são normalmente provocadas pelo deslocamento de camadas de ar úmido para
cima devido a existência de elevação natural do terreno por longas extensões. Caracterizam-se pela longa
duração e baixa intensidade, abrangendo grandes áreas por várias horas continuamente e sem descargas
elétricas.
As chuvas frontais originam-se do deslocamento de frentes frias ou quentes contra frentes contrárias
termicamente, são mais fortes que as orográficas abrangendo, porém, como aquelas, grandes áreas,
precipitando-se intermitentemente com breves intervalos de estiagem e com presença de violentas
descargas elétricas.
II.3. Medição de Chuva
Dois aparelhos são comumente empregados nas medições das chuvas. São eles o pluviômetro e o
pluviógrafo. O pluviômetro é mais utilizado devido a simplicidade de suas instalações e operação, sendo
facilmente encontrados, principalmente nas sedes municipais. No pluviômetro é lido a altura total de água
precipitada, ou seja, a lâmina acumulada durante a precipitação, sendo que seus registros são sempre
fornecidos em milímetros por dia ou em milímetros por chuva, com anotação da mesma dependendo da
capacidade e do capricho do operador (Figura II.1).
O pluviógrafo é mais encontrado nas estações meteorológicas propriamente ditas e registra a intensidade
de precipitação, ou seja, a variação da altura de chuva com o tempo. Este aparelho registra em uma fita de
papel em modelo apropriado, simultaneamente, a quantidade e a duração da precipitação. A sua operação
mais complicada e dispendiosa e o próprio custo de aquisição do aparelho, tornam seu uso restrito,
embora seus resultados sejam bem mais importantes hidrologicamente (Figura II.2).
Figura II.1 - Instalação de um pluviômetro
II.6. Exercícios
1. Por que as águas de
drenagem superficial são
fundamentalmente
originárias de chuvas?
2. Comparar chuvas
convectivas, orográficas e
frontais.
3. Por que as medições de
chuva são necessárias?
4. Por que os pluviógrafos
são essencialmente
instalados nas estações
meteorológicas?
5. Explicar o
funcionamento de um
pluviômetro e de um
pluviógrafo.
6. Por que os equipamentos de medição de chuva devem manter uma certa distância dos obstáculos
horizontais e verticais?
7. O que é intensidade de chuva? Como se determina?
8. O que são equações de chuva? Qual a relação com a intensidade do fenômeno?
9. Fazer um gráfico que relacione intensidade com duração e freqüência para a equação de chuva da
cidade de Porto Alegre, citada no texto.
CAPÍTULO III
III.1. Generalidades
Denomina-se deflúvio superficial direto o volume de água que escoa da superfície de uma determinada
área devido a ocorrência de uma chuva torrencial sobre aquela área. A determinação precisa deste volume
de água acarretará, consequentemente, condições para que sejam projetadas obras dimensionadas
adequadamente, alcançando-se os objetivos pretendidos com a implantação de qualquer sistema de
drenagem indicado para a área. Para determinação desse volume, vários métodos são conhecidos, os quais
podem ser classificados nos grupos abaixo:
a) medições diretas;
b) processos comparativos;
c) métodos analíticos;
d) fórmulas empíricas.
As medições diretas e processos comparativos restringem-se mais para determinações de vazões em
cursos de água perenes tais como córregos, pequenos canais, etc, ficando praticamente sem utilização em
projetos de micro-drenagem em geral. As fórmulas empíricas são resultantes de equacionamento de um
grande número de observações sendo, por isso, bastante confiáveis, mas de utilização restrita a localidade
de origem das observações ou regiões similares.
Procedimentos mais frequentemente empregados, tanto para obras de micro-drenagem como para de
macro-drenagem, são os de natureza analítica, visto que trazem na sua definição estudos
matemáticos/empíricos que promovem maior credibilidade aos seus resultados. Diante do exposto os
métodos analíticos é que serão objeto de estudos a seguir.
III. 2. Métodos Analíticos
Como métodos analíticos são conhecidos os três seguintes: Método Racional, Método do Hidrograma
Unitário e a Análise Estatística.
Para obras de micro-drenagem e método mais empregado em todo o mundo ocidental é o Método
Racional, por ser o de mais fácil manipulação, mas, devido a sua natureza simplificada da tradução do
fenômeno, não é recomendável para o cálculo de contribuições de bacias com áreas superiores a 1,0 km2.
Para bacias de drenagem com área superior a 1,0 km2 justifica-se uma análise mais acurada, pois a
simplificação dos cálculos poderá acarretar obras super ou subdimensionadas do ponto de vista
hidráulico. Recomenda-se que para obras de drenagem de áreas de contribuição superiores a 100 hectares
seja utilizado o Hidrograma Unitário Sintético, desde que a elaboração do mesmo seja baseada em dados
obtidos através de análises da área em estudo.
A Análise Estatística é recomendada para cursos de águas de maior porte, onde a área de contribuição
seja superior a 20 km2, servindo essencialmente para previsão dos volumes de cheias. A limitação do
método está na exigência de um grande número de observações bem como na sua alteração presente ou
futura das características da área contribuinte, pois os dados obtidos anteriormente tornar-se-iam
obsoletos.
Sendo assim conclui-se que o Método Racional deva ser objeto de estudo mais detalhado a seguir, por ser
este o indicado para projetos de micro-drenagem em geral.
III.3. Método Racional
III.3.1. Aplicação
Originário da literatura técnica norte-americana (Emil Kuichling - 1890) o Método Racional traz
resultados bastante aceitáveis para o estudo de pequenas bacias (áreas com até 100 hectares), de
conformação comum, tendo em vista a sua simplicidade de operação bem como da inexistência de um
método de melhor confiabilidade para situações desta natureza.
Menores erros funcionais advirão da maior acuidade na determinação dos coeficientes de escoamento
superficial e dos demais parâmetros necessários para determinação das vazões que influirão diretamente
nas dimensões das obras do sistema a ser implantado.
III.3.2. Fórmula
O Método Racional relaciona axiomaticamente a precipitação com o deflúvio, considerando as principais
características da bacia, tais como área, permeabilidade, forma, declividade média, etc, sendo a vazão de
dimensionamento calculada pela seguinte expressão:
Q = 166,67. C. i. A,
onde:
Q - deflúvio superficial direto em litros por segundo;
C - coeficiente de escoamento superficial;
i - intensidade média de chuva para a precipitação ocorrida durante o tempo de concentração da bacia em
estudo, em milímetro por minuto;
A - área da bacia de contribuição em hectares.
O método presume como conceito básico, portanto, que a contribuição máxima ocorrerá quando toda a
bacia de montante estiver contribuindo para a secção em estudo, implicando que o deflúvio seja
decorrente de uma precipitação média de duração igual ao tempo de concentração da bacia e que esta é
uma parcela da citada precipitação.
III.3.3. Limitações
O método não leva em consideração que as condições de permeabilidade do terreno, notadamente nos não
pavimentados, variam durante a precipitação provocando, frequentemente, subdimensionamento das
galerias de montante em seus trechos iniciais.
Não considera também o retardamento natural do escoamento cujo fenômeno acarreta alteração do pico
de cheia, sendo esta a principal razão da limitação do método para bacias maiores. No caso ter-se-iam
obras superdimensionadas para escoamento das vazões finais de bacias maiores.
Outra consideração que provoca restrições é o fato de considerar constante a intensidade de chuva de
projeto tanto no tempo como no espaço, ou seja, admite uma precipitação uniforme em toda a área de
contribuição, implicando, na prática, em subdimensionamento dos trechos de jusante.
Admite também que o binômio chuva-deflúvio é função de dois fatores independentes, como as
condições climáticas para a chuva e as fisiográficas para cálculo do deflúvio, o que foi desmentido em
estudos posteriores aos de Kuichling, que comprovaram a influência recíproca entre os dois fatores.
Do ponto de vista analítico, ainda se pode comentar que o método, embora tenha como equação
característica uma expressão racional, não pode ser considerado efetivamente como tal, visto que no
cálculo são empregados coeficientes eminentemente empíricos.
Concluindo tem-se que a experiência mostrou que o emprego do método deve-se limitar a obras de
drenagem onde o sistema de galerias não coleta em um só conduto vazões provenientes de áreas
superiores a 100 ha. Nestes termos, o método racional apresenta-se como bastante razoável para o cálculo
de sistemas de micro-drenagem superficial, fato este comprovado, ao longo dos anos, após sua criação.
III.3.4. Tempo de Concentração
Conceitua-se tempo de concentração como o espaço de tempo decorrido desde o início da precipitação
torrencial sobre a bacia até o instante em que toda esta bacia passa a contribuir para o escoamento na
secção de jusante da mesma. Em um sistema de galerias corresponde a duas parcelas distintas, sendo a
primeira denominada de "tempo de entrada", ou seja, tempo necessário para que as contribuições
superficiais atinjam a secção inicial de projeto, enquanto que a segunda corresponde ao tempo gasto pelo
escoamento através dos condutos, a partir do instante em que toda a bacia passa a contribuir para a secção
em estudo. Esta parcela é denominada de "tempo de percurso".
O tempo de percurso, como o próprio conceito mostra, tem cálculo puramente hidráulico, visto que o
mesmo é função das velocidades nos trechos de montante, enquanto que o tempo de entrada depende
essencialmente da conformação superficial da bacia, variando inversamente com a intensidade de chuva.
Deve-se observar também que o escoamento superficial torna-se mais veloz a medida que se aproxima
dos pontos de coleta ou em superfícies impermeabilizadas.
Frequentemente o tempo de entrada, embora de determinação difícil, tem valor entre 10 e 30 minutos. Na
literatura especializada também são encontradas figuras e ábacos para determinação desse tempo (Figura
III.1).
III.3.5. Intensidade Média das Precipitações
No dimensionamento de sistemas de drenagem define-se intensidade de chuva como a quantidade de água
caída na unidade de tempo, para uma precipitação com determinado período de retorno e com duração
igual ao tempo de concentração.
No caso do dimensionamento de galerias a intensidade de chuva é determinada a partir da equação de
chuva adotada, onde a duração corresponde ao tempo de concentração e a intensidade a obter-se será a
média máxima.
III.3.6. Período de Retorno
Os sistemas de micro-drenagem, em geral, são dimensionados para frequências de descargas de 2, 5 ou 10
anos, de acordo com as características da ocupação da área que se quer beneficiar. A seguir são
apresentados alguns valores normalmente utilizados:
Ocupação da área Período de Retorno (em anos)
- residencial 02
- comercial 05 a 10
- terminais rodoviários 05 a 10
- aeroportos 02 a 05
CAPÍTULO IV
SARJETAS
IV.1. Definição
São canais, em geral de seção transversal triangular, situados nas laterais das ruas, entre o leito viário e os
passeios para pedestres, destinados a coletar as águas de escoamento superficial e transportá-las até às
bocas coletoras. Limitadas verticalmente pela guia do passeio, têm seu leito em concreto ou no mesmo
material de revestimento da pista de rolamento (Fig.IV.1). Em vias públicas sem pavimentação é
freqüente a utilização de paralelepípedos na confecção do leito das sarjetas, sendo neste caso, conhecidas
como linhas d'água.
resultando
BOCAS COLETORAS
V.1. Definição
É uma estrutura hidráulica destinada a interceptar as águas pluviais que escoam pela sarjetas para, em
seguida, encaminhá-las às canalizações subterrâneas. São também frequentemente denominadas de bocas-
de-lobo.
V.2. Classificação
Dependendo da estrutura, localização ou do funcionamento, as bocas coletoras recebem várias
qualificações agrupadas como segue:
a) quanto a a estrutura da abertura ou entrada
- simples ou lateral (Figura V.1);
- gradeadas com barras longitudinais, transversais ou mistas;
- combinada;
- múltipla.
b) quanto a localização ao longo das sarjetas
- intermediárias;
- de cruzamentos;
- de pontos baixos.
c) quanto ao funcionamento
- livre;
- afogada.
Definição: chama-se de depressão um rebaixamento feito na sarjeta junto a entrada da boca coletora, com
a finalidade de aumentar a capacidade de captação desta.
Comentários:
a) quanto à localização
- as intermediárias são aquelas que situam-se em pontos ao longo das sarjetas onde a capacidade destas
atingem o limite máximo admissível;
- as de cruzamento situam-se imediatamente a montante das seções das sarjetas, nas esquinas dos
quarteirões, nascendo da necessidade de evitar o prolongamento do escoamento pelo leito dos
cruzamentos;
- as bocas coletoras de pontos baixos caracterizam-se por receberem contribuições por dois lados, visto
que situam-se em pontos onde há a inversão côncava da declividade de rua, ou seja, na confluência de
duas sarjetas de um mesmo lado da rua.
b) quanto ao funcionamento
- dependendo da altura da água na sarjeta e da abertura da boca coletora denomina-se de livre a que
funciona como vertedor e de afogada a que funciona como orifício, sendo estas mais freqüentes em
pontos baixos e, na maioria, com grades.
,
com tgθ = w/[(w/tgθ o ) + a] e
,
onde ω é a largura do rebaixamento.
Determina-se o valor de "E" através da equação
;
b) para cargas onde "y ≥ 2h" o comportamento da entrada é de orifício e a expressão de cálculo é
;
c) para a razão 1,0 < y/h < 2,0 o funcionamento da boca é indefinido cabendo ao projetista avaliar o
comportamento como vertedor ou como orifício afogado.
V.4.3.2. Bocas com grades
Sendo
Q - vazão de projeto a ser captada, em m3/s,
P - perímetro da área com abertura, em metros,
A - área total das aberturas, em m2 (Figura V.9),
y - altura da água sobre a grade, em metros e
e - espaçamento entre barras consecutivas ( máximo de 2,5 cm )
tem-se que
a) para cargas de até 12 cm, grade como vertedor,
e
b)para cargas iguais ou superiores a 42 cm, grades funcionando como orifício,
,
onde, em ambos os casos deve-se tomar um coeficiente de segurança igual a 2,00, ou seja, uma folga
sobre a capacidade teórica de uma vez mais.
c)se 12 < y < 42 cm, a situação é dita de transição entre vertedor e orifício ficando o projetista com a
opção de escolher e justificar a hipótese de cálculo que o mesmo julgar mais adequada.
Correção
simples 1,25
Ponto baixo com grelha 2,00
combinada 1,50
1,25
simples
grelha longitudinal 1,65
Ponto intermediário grelha transversal 2,00
combinada com longit. 1,50
combinada com transv. 1,80
2
F = 2 x [(32/13) - 1] = 2,92
tgθ o = {84 / [(84/12) + 10,5]}= 4,8
h) Parcela "C"
A expressão de M exige um valor para "L" e como este ainda não é conhecido admite-se L = 1,0 m (= 100 cm) como valor inicial para posteriormente
ser feita uma verificação deste valor. Assim, para L=1 tem-se:
M = {(100 x 2,92) / (10,5 x 4,8)}= 5,79, logo C = 0,45 / 1,125,79 = 0,23 m
i) Vazão por metro linear
Q / L = (0,23 + 0,23) x (9,81 x 0,133]}1/2 = 68 l/s
que é um resultado insatisfatório porque, como foi admitido L=1m haveria excesso de mais de 10% da vazão de projeto a ultrapassar a boca coletora em
dimensionamento, o que implica em L>1,0m.
j) Admitindo L = 1,20 m, entãoC = 0,21 e Q/L = 65 l/sm, então a capacidade de captação da BC é Q = 1,20 x 65 = 78 l/s, o que fornece um excesso de
apenas 2 l/s (<10%Qp) (aceito!)
Observação: se a=0 então C=0 e y=yo e Q/L = 20 l/s, ou seja, L = 4,0m.
V.7.2. Boca com grades
Dimensionar uma grade para coletar uma vazão de projeto igual a 80 l/s, tomando-se como largura máxima de gradeamento 0,60 m. São conhecidas
ainda I = 0,04 m/m, n = 0,020 e z = 20.
Solução:
a) cálculo de L
- cálculo de yo
yo= {80 / [375 x (20 / 0,020) x 0,041/2]}3/8= 0,08 m
- cálculo de wo
wo= 20 x 0,08 = 1,6 m;
- cálculo de L
L = 0,326x(20x0,041/2/0,02)3/4x[0,081/2(1,60-0,60)/20]1/2 = 2,0 m
b) escolha da grade
- testando para barras longitudinais
vo = 0,08 / ( 0,082 x 20 /2 ) = 1,25, então Lo= 4x1,25x( 0,08/9,81)1/2 = 0,45m < L = 2,00m, Então podem
ser usadas barras longitudinais;
- testando para barras transversais
Lo' = 2Lo = 0,90 m < 2,00m, também indicando que barras transversais poderão ser utilizadas para a grade
da situação.
CAPÍTULO VI
GALERIAS
VI.1 Definições
Denomina-se de galerias de águas pluviais todos os condutos fechados destina dos ao transporte das
águas de escoamento superficial, originárias das precipitações pluviais captadas pelas bocas coletoras. O
termo galeria por si só já é designação de todo conduto subterrâneo com diâmetro equivalente igual ou
superior a 400 mm. Tecnicamente sistema de galerias pluviais é um conjunto de bocas coletoras, condutos
de ligação, galerias e seus órgãos accessórios tais como poços de visita e caixas de ligação. É a parte
subterrânea de um sistema de micro-drenagem.
VI.2. Período de Retorno
Nos sistemas de micro-drenagem são adotados como chuvas de projeto, aquelas com freqüência de 2, 5 e
10 anos, de acordo com a ocupação da área a ser drenada. Para obras de macro-drenagem o período de
retorno é de 100 anos e é mais conhecido como tempo de retorno de chuvas intensas.
Para projetos de galerias pluviais de micro-drenagem os valores básicos de períodos de retorno a adotar
são os indicados na Tabela VI.1.
TABELA VI.1. Período de Retorno em Função da Ocupação da Área
Tipo de Ocupação Período de Retorno
_______________________________________________________
1. Residencial 2 anos
2. Áreas comerciais 5 anos
3. Áreas com edifícios públicos 5 anos
4. Distritos industriais 10 anos
5. Áreas comerciais muito valorizadas 5 a 10 anos
6. Aeroportos 2 a 5 anos
7. Terminais de passageiros 5 a 10 anos
VI.3. Princípios Técnicos para Eaboração de Projetos de Microdrenagem
VI.3.1. Hipótese de Cálculo
Admite-se um escoamento em conduto livre e em regime permanente e uniforme. Isto quer dizer admitir-
se que de cada trecho de galeria não haverá variação de velocidades de escoamento e de lâmina de água
no tempo, enquanto este trecho funcionar com a vazão de projeto.
Seu cálculo obedecerá, pois, as fórmulas clássicas
Q = A . V , clássica equação da continuidade e
que é conhecida como teorema de Bernouilli (Daniel Bernouilli, cientista suíço criador da Física
Matemática, 1700-1782) para fluidos reais, onde
P = pressão, Kgf/m²
γ = peso específico, Kgf/m
V = velocidade do escoamento, m/s
g = aceleração da gravidade, m/s²
Z = altura sobre o plano de referência, m
hf= perda de energia entre as seções em estudo, devido a turbulência, atritos, etc, denominada de perda de
carga, m
α = fator de correção de energia cinética devido as variações de velocidade na seção, igual a 2,0 no fluxo
laminar e 1,01 a 1,10 no hidráulico ou turbulento, embora nesta situação, na prática, sempre se tome igual
a 1,00.
A Figura VI.1. ilustra os elementos componentes da equação.
FIGURA VI.1 - Elementos da equação de energia em conduto forçado
Sendo "a" e "b" duas seções distintas de uma mesma calha, distanciadas de "L", onde "a" situa-se a
montante de "b" e, tendo em vista a condição de escoamento livre, pa = pb = patm e va= vb. A perda de carga
unitária "hf /L" pode ser considerada igual a própria declividade "l" de projeto para cada trecho de galeria,
a medida que se admita regime permanente e uniforme na determinação das dimensões deste trecho. No
Brasil, em geral emprega-se a fórmula de Chèzy com coeficiente de Manning, ou seja,
V = C. (R.I)1/2onde C = R1/6. n-1
onde "n" é o coeficiente de Manning, função do acabamento das paredes.
VI.3.2. Formas
As seções circulares são as mais empregadas por sua maior capacidade de escoamento e pela facilidade
de obtenção de tubos pré-moldados de concreto para confecção dos condutos.
Na ausência de tubos pré-moldados ou par galerias com diâmetros equivalentes superiores a 1,50m,
situações pouco freqüentes em sistemas de micro-drenagem, pode-se recorrer ao emprego de seções
quadradas ou retangulares, em geral, com paredes verticais em alvenaria e lajes horizontais em concreto
armado.
VI.3.3. Dimensões
O diâmetro mínimo recomendado para galerias pluviais é de 400 mm. No entanto, é comum,
principalmente em projetos de baixo custo, o emprego do diâmetro de 300 mm em trechos iniciais e em
condutos de ligação.
As dimensões das galerias são sempre crescentes para jusante não sendo permitida a redução da seção no
trecho seguinte mesmo que, por um acréscimo da declividade natural do terreno, o diâmetro até então
indicado passe a funcionar superdimensionado.
Nos condutos circulares a capacidade máxima é calculada pela seção plena e nos retangulares recomenda-
se uma folga superior mínima de 0,10m .
VI.3.4. Velocidades
Para que não haja sedimentação natural do material sólido em suspensão na água, principalmente areia,
no interior das canalizações, a velocidade de escoamento mínima é de 0,75 m/s para que as condições de
autolimpeza sejam assim preservadas.
Por outro lado, grandes velocidades acarretariam danos às galerias, tanto pelo grande valor de energia
cinética como poder abrasivo do material sólido em suspensão. O valor limite de velocidade máxima é
função do material de revestimento das paredes internas dos condutos. Em geral, velocidades de
escoamento superiores a 4,0 m/s carecem de informações técnicas adicionais, justificando sua adoção
pelo projetista .
VI.3.5. Declividade
A declividade de cada trecho é estabelecida a partir da inclinação média da do terreno ao longo do trecho,
do diâmetro equivalente e dos limites de velocidade. Na prática os valores empregados variam
normalmente de 0,3% a 4,0%, pois para declividades fora deste intervalo é possível a ocorrência de
velocidades incompatíveis com os limites recomendados.
Terrenos com declividades superiores a 10% normalmente requerem do projetista soluções específicas
para a situação. Em terrenos planos são freqüentes problemas de lançamento final de efluentes.
Hidraulicamente tem-se que quanto maior a declividade das galerias maior será a velocidade de
escoamento e quanto maior as dimensões transversais dos condutos menor será a declividade necessária.
VI.3.6. Recobrimento da Canalização
Função da estrutura da canalização, adota-se como recobrimento mínimo 1,0 m e como limite máximo
4,0 m. Valores fora do intervalo citado, normalmente requerem tubos ou estruturas reforçadas e análises
especiais que justifiquem a opção do projetista.
VI.4. Elementos geométricos das secções
VI.4.1. Seção Parcialmente Cheia: y / D < 1,0
Esta situação encontra-se esquematizada na Figura VI.2 onde "b" é a corda, "y" a altura (lâmina
líquida),"do" o diâmetro da seção e "â" o ângulo central "molhado". Logo, geometricamente,
R (raio hidráulico) = [1 - ],
b (corda) = do . sen (â/2)
e, usando Manning, â = 6,063(nQ/I 1/2)0,6. do-1,6. â 0,4 + sen â .
VI.11.3. Relação Entre os Elementos
R/Ro =1-
V/Vo = [ 1 - ] 2/3
POÇOS DE VISITA
VII.1. Definição
Poço de vista é uma câmara visitável através de uma abertura existente na sua parte superior, ao nível do
terreno, destinado a permitir a reunião de dois ou mais trechos consecutivos e a execução dos trabalhos de
manutenção nos trechos a ele ligados (Figura VII.1).
e D > 0,60
________________________________________________________
(*) Para PV quadrangular Db = aresta
CAPÍTULO VIII
SEÇÕES FECHADAS ESPECIAIS
VIII.1. Generalidades
Em sistemas de esgotos a seções fechadas circulares são as mais empregadas devido serem as que
consumem menos material em sua confecção, bem como têm menor perímetro molhado e,
consequentemente, maior raio hidráulico por unidade de área. São, portanto, as seções teoricamente
ideais, largamente construídas a partir do emprego de tubos pré-fabricados.
No entanto, para grandes condutos a adoção da seção circular fica condicionada a questões estruturais e
físico-geométricas e também a problemas de natureza hidráulica e a processos construtivos como, por
exemplo, fundações em terrenos instáveis, espaço disponível para instalação dos condutos, lâminas
líquidas muito pequenas, etc.
Observa-se que, de acordo com as circunstâncias, o emprego da seção circular pode se tornar inviável ou
até mesmo impossível.
Este capítulo tratará de mostrar algumas seções padronizadas alternativas a circular, denominadas na
literatura de "seções fechadas especiais padrão", ou simplesmente "seções especiais", e o cálculo
hidráulico de cada uma delas.
VIII.2. Seções Padronizadas
A seção ideal, em princípio, será a que minimizar as perturbações do escoamento das águas residuárias,
assim como problemas correlatos de erosão e de sedimentação, detritos flutuantes, etc, e os custos neles
compreendidos desde a implantação até a manutenção, além da acomodação estrutural com o espaço em
volta.
As figuras apresentadas a seguir mostram uma série de seções especiais padronizadas mais
freqüentemente citadas na literatura específica.
Algumas destas figuras são acompanhadas da variação hidráulica do escoamento (vazão parcial sobre a
da seção plena e da velocidade média parcial também em relação a da seção máxima) com a altura do
líquido no interior da seção, numa situação similar à estudada para as seções circulares no Capítulo VI.
FIG. 8. 1 - Exemplos de seções especiais
VIII.3. Cálculo Hidráulico
O cálculo hidráulico de uma seção especial pode se tornar possível a partir do conceito de "conduto
equivalente", relacionando-se a seção em estudo com a circular equivalente, partindo da consideração que
cálculos hidráulicos de seções circulares são de maior domínio pela extensa literatura disponível.
Define-se como "conduto equivalente" aquele que transporta a mesma vazão escoando totalmente cheio,
em condições livres, na mesma declividade. Assim, por definição, chamando-se de "Qo" a vazão a seção
plena de um conduto de seção circular e "Qe" a vazão da equivalente, tem-se
Qe = Qo ou Ae.Ve = Ao.Vo
ou seja, pela expressão de Manning,
Ae.(Re2/3. Ie1/2) /ne = Ao.(Ro2/3. Io1/2) /no
Como, por definição Ie = Io e admitindo ne = no, simplifica-se a expressão anterior para
Ae. Re2/3= Ao. Ro2/3.
Substituindo-se os valores da seção circular em função do diâmetro, encontra-se, para Ao=0,785.Do2e
Ro=Do/4, a expressão
Ae. Re2/3= 0,3115Do8/3
O valor de "Do" pode ser determinado através dos procedimentos já conhecidos, a partir da vazão a seção
plena e da declividade da canalização, eliminando-se esta incógnita. As expressões para determinação de
Ae e Re são encontradas na Tabela VIII.1. em função da dimensão horizontal máxima "D" da seção em
cálculo.
TABELA VIII.1. Dimensões Hidráulicas de Secções Especiais
Forma da Secção D/H A(xD²) P(xD) R(xD)
______________________________________________________________
1.Arco de círculo
- alto 1,13 0,734 3,118 0,235
- baixo 1,58 0,484 2,618 0,185
- com canal 1,00 0,711 3,284 0,216
2.Capacete 0,88 0,847 3,441 0,246
3.Circular 1,00 0,785 3,142 0,250
4.Elipsoidal alta 0,63 1,205 4,062 0,297
5.Ferradura
- normal 1,00 0,847 3,338 0,254
- achatada 1,33 0,599 2,850 0,210
6.Formato de Cesto
- alemão 1,33 0,593 2,820 0,210
- alto 1,00 0,845 3,301 0,256
- baixo 1,60 0,484 2,584 0,187
7.Oval (ou ovóide)
- alto 0,57 1,370 4,430 0,309
- baixo 1,00 0,775 3,143 0,247
- estreito 0,67 1,115 3,920 0,284
- invertido 0,67 1,149 3,965 0,290
- largo 0,80 0,960 3,516 0,273
- normal (alemão) 0,67 1,149 3,965 0,290
- 1 x 3/4 0,75 1,075 3,735 0,288
8.Pentagonal* 1,00 0,833 3,533 0,236
9.Quadrada
- quatro lados 1,00 1,000 4,000 0,250
- três lados 1,00 1,000 3,000 0,333
10.Retangular* 1,50 1,500 5,000 0,300
11.Semi-elíptica 1,00 0,813 3,340 0,243
12.Valeta abobadada 1,00 0,769 3,200 0,240
* podendo ser calculada com relações diferentes.
VIII.4. Características Estruturais
As seções especiais requerem, em função de suas dimensões, cálculo estrutural minucioso e bastante
complexo, pelas condições intrínsecas de hiperestabilidade. Este cálculo requer, a priori, a avaliação das
cargas e esforços solicitantes envolvendo esforços de carregamento e de apoio, tais como peso próprio,
peso do líquido, pressões hidrostáticas, cargas de aterro, sobrecargas fixas e móveis, variações de
temperatura e reações de apoio.
O desenvolvimento destes cálculos extrapolam o nível desta publicação e deverão ser buscados, no caso
de projetos, na literatura relativa a cada assunto, como normas para cálculo de estruturas, teorias de
Mecânica dos Solos, comportamento de cargas permanentes e acidentais, linhas de influência, etc.
A recomendação básica para efeito de dimensionamento é reduzir a possibilidade de fissuras para evitar
infiltrações e, consequentemente, a ação agressiva dos componentes das águas residuárias contra o
material estrutural.
Resumidamente pode se expor os seguintes comentários:
Retangular - é a mais utilizada para moldagem "in loco" face a grande simplicidade de execução e
reduzido custo de montagem das formas e armaduras, não sendo particularmente indicada para trabalhar
sob pressão interna, porém funciona bem para aterros de média e baixa altura e não apresenta problemas
de fundações com qualquer tipo de solo podendo até mesmo dispensar laje de fundo em casos de apoio na
rocha; Ferradura - é de fácil execução e se aproxima do comportamento hidráulico da circular sendo
freqüentemente empregada em bueiros e passagens sob aterros; Oval - devido a seu formato trabalha,
principalmente a compressão e apresenta praticamente todas as vantagens hidráulicas da seção circular
em escoamento livre e, apesar das dificuldades de execução, é sensivelmente vantajosa nos casos de
grandes cargas verticais com pequenas pressões laterais; Arco - substitui com vantagem a oval no caso de
grandes dimensões, sendo que do ponto de vista estrutural é inconveniente o emprego de arcos abatidos,
sendo nestes casos mais indicados a semi-elíptica ou parabólicas.
VIII.5. Escolha da Seção
VIII.5.1. Fatores Determinantes
A adoção de seções especiais está ligada a uma série de fatores determinantes, primeiro da inviabilidade
da seção circular e, a seguir, do tipo de seção a empregar.
Estes fatores podem ser agrupados em três blocos:
- fatores hidráulicos;
- fatores econômicos;
- fatores físico-geométricos.
Normalmente é uma análise sob estes três pontos de vista que define o tipo de seção a empregar, embora
apenas um fator seja suficiente para mostrar a inviabilidade do emprego de seção circular para a
canalização em estudo.
VIII.5.2. Fatores Hidráulicos
Não raramente pode-se deparar com vazões iniciais de projeto muito pequenas em relação as máximas
previstas. Isto acarretaria lâminas muito baixas para as vazões mínimas implicando em escoamento com
arrastes insuficientes para autolimpeza das canalizações, no caso de emprego de seção circular.
A solução para o problema é aumentar a lâmina líquida para melhorar as condições de "afogamento" e,
consequentemente, do escoamento. Isto será conseguido, logicamente, com o estreitamento da corrente
reduzindo seu espalhamento e ampliando sua altura.
Seções ovais (também chamadas de ovóides), arco com canal, valeta abobadada ou pentagonal podem,
por exemplo, ser recomendadas para estudo de uma solução neste caso. Inversamente seções quadrada,
retangular deitada, ferradura, capacete, etc, não podem ser indicadas para a situação, mas se prestam
muito bem para os casos onde as oscilações de vazão sejam pequenas.
VIII.5.3. Fatores Econômicos
O custo da canalização depende essencialmente de suas características estruturais e do método
construtivo. Seções circulares de grande porte (acima de 2,0m de diâmetro) geralmente requerem
moldagem "in loco", pois a aquisição de tubos pré-fabricados se torna inviável a partir do transporte.Por
outro lado a construção "in loco" requer mão de obra especializada desde a armação, tornando a seção
circular mais dispendiosa em relação às outras.
O material a escavar também poder ter importância decisiva na definição da seção a construir. Seções
mais altas e menos estreitas requerem valas mais profundas e menos largas em oposição ao que requerem
as achatadas.
Em terrenos muito duros deve-se implantar seções de maior largura em relação a altura, pois aqui
interessa reduzir os custos de escavações. Da mesma forma terrenos instáveis requerem mais largura para
melhor distribuição do peso próprio e sobrecargas nas fundações. Também quando se pretende evitar
complicações com o lençol freático, principalmente durante a abertura das valas, aliviando a construção e
facilitando o cálculo estrutural no caso de empuxos, deve-se optar por seções que tornem a canalização
"mais rasa".
Uma seção retangular é um exemplo clássico de economia estrutural e de facilidade construtiva,
principalmente na execução das armaduras, formas e moldagem "in loco".
VIII.5.4. Fatores Físico-Geométricos
Frequentemente o desenvolvimento de um projeto é limitado em sua concepção por problemas físicos e
geométricos que surgem como desafio ao projetista. Isto ocorre com mais frequência em grandes centros
urbanos e com grandes condutos.
Nas grandes cidades o número de obras subterrâneas em funcionamento tais como canais, galerias, túneis,
metrôs, condutos de energia e de telefone, canalizações de gás, etc, restringem o espaço subterrâneo
disponível para passagem de novos condutos. Neste caso é comum têem-se faixas subterrâneas
disponíveis reduzidas, onde só podem ser instaladas seções de menor dimensão horizontal em relação a
altura quando a expansão vertical não é problema.
Na situação oposta ter-se-iam espaços mais profundos já ocupados restando disponível a camada mais
superficial do local. Neste caso a opção inverter-se-ia e as seções onde prevalecem a largura em relação a
altura é que seriam as viáveis.
Da mesma forma limitações nas cotas mínimas de lançamento a jusante implicam em seções achatadas,
visto que o emprego, por exemplo, da seção circular poderia implicar em profundidades insuficentes para
embutimento da canalização ou o aprofundamento da vala provocaria o afogamento da extremidade de
jusante com retornos inconvenientes nos trechos finais.
VIII.6. Exemplos
1. Encontrar a dimensão principal de uma seção oval padrão alemão capaz de transportar uma vazão de
5m3/s sob uma declividade de 0,1%.
Solução:
Empregando Manning, n = 0,013, encontra-se Do8/3 = 6,60.
Pela Tabela XV.1, para oval normal, Ae = 1,149D2 e Re = 0,290D, logo 1,149D2 x (0,29D)2/3 = 0,3115 x
6,60 de onde encontra-se D = 1,70m, de qual valor desenha-se a seção hidráulica equivalente,
obedecendo aos traçados indicados.
2.Encontrar a vazão e a velocidade média de escoamento numa seção de valeta abobadada na nascente da
abóbada. Ie = 0,007m/m e De = 3,0m.
Solução:
a) Pela Tabela XV.1. D = H, A = 0,769D2, P = 3,2D e R = 0,24D; então: D = H = 3,0m, A = 6,92m2, P =
9,6m e R = 0,72m.
b) Para se encontrar valores parciais de vazão e velocidade necessita-se dos correspondentes à seção plena
para, a seguir, empregar a relação entre estes valores na figura anexa a seção em estudo a partir do
coeficiente h/H (na nascente da abóbada h/H = 0,5).
- Velocidade Plena: Ve = (1/0,013) x (0,72)0,67 x0,0070,50 = 5,17m/s
- Vazão Plena: Qe = Ae.Ve = 6,92 x 5,17 = 35,78m³/s e com h/H = 0,50 lê-se Q/Qe = 0,47 e V/Ve = 0,975
c) Assim Q = 0,47 x 35,78 = 16,82m³/s e V = 0,975 x 5,17 = 5,04m/s.
VIII.7. Exercícios
1. Definir "seção fechada padrão".
2. Citar situações em que a seção circular poderia se tornar inviável. E situações onde seu emprego seria
impossível.
3. Dar uma definição para "dois condutos equivalentes".
4. Desenhar a seção calculada no exemplo do item XV.3.
5. Como poderia acontecer a corrosão bacteriana nas seções especiais ?
6. Por que a seção retangular é a mais comum das seções especiais ?
7. Por que as seções ovais são mais indicadas para casos de grandes cargas verticais? e pequenos esforços
laterais?
8. Por que os arcos abatidos são pouco recomendáveis para substituição dos ovóides?
9. Quais os fatores que determinam o tipo de seção especial a empregar ?
10. Por que um só fator é suficiente para mostrar a inviabilização da seção circular no caso específico?
Exemplifique.
11. Citar fatores hidráulicos de importância na definição do tipo de seção a instalar.
12. Idem para fatores econômicos e físico-geométricos.
13. Repetir o exemplo do item XV.3 para as demais seções da Tabela XV.1.
14. Desenhar as seções calculadas no exercício anterior.
15. Determinar a velocidade média e a vazão de uma seção tipo capacete de 1,8m de largura e declividade
de 0,08%.
16. Determinar as dimensões de um emissário de esgotos sanitários em arco de círculo com canal, para
transporte de uma vazão 5,0m³/s sob uma declividade de 0,08%. Desenhar a seção.
17. Repetir o exercício XV.7.16 para quando a seção for (a) ferradura achatada (b) formato de cesto
alemão (c) oval invertida (d) oval larga e (e) quadrada.
18. Comparar a capacidade de uma seção circular de diâmetro D com as seguintes seções de idêntica
dimensão horizontal:
a) ovóide alta;
b) elipsoidal alta;
c) cesto alta;
d) quadrada de quatro lados;
e) retangular H/D = 1,50.
19. Repetir o exercício anterior para h/H = 0,5, ou seja, para circular a meia seção. Desenhar as figuras.
20. Encontrar a altura do esgoto e a velocidade média de escoamento de 270 l/s em uma seção em
ferradura de largura igual a 1,2m, sob declividade de 0,002m/m. E se a seção fosse oval de soleira
estreita? ou quadrada?
CAPÍTULO IX
PROJETO HIDRÁULICO
Solução:
a) determinações auxiliares
1) primeira boca coletora - independente da lâmina máxima de água na sarjeta ser atingida, há de existir
bocas coletoras a montante do quarteirão da escola; partindo desta consideração prática, verifica-se a
lâmina na sarjeta mais desfavorável, pois pode se tornar necessário a localização de unidades coletoras
antes do cruzamento de montante citado; sendo assim se tem para a sarjeta em estudo:
- área de contribuição: A = 0,466 ha
- coeficiente de escoamento:C = 0,80
- extensão: L = 170 m
- declividade média:I = 1,4 %
- período de retorno: T = 5 anos (área comercial)
- z = 20 e n = 0,016 (adotados!)
- tempo de concentração para L = 170 m, I = 1,4% e C = 0,80, pela Figura III.1, encontra-se tc = 12
minutos
- intensidade i de precipitação com tc = 12 min e T = 5 anos, pela Figura IX.1 lê-se i = 1,74 mm/min
- altura máxima de projeto na guia: ymáx
vazão teórica: Qo= 166,67 x 0,80 x 1,74 x 0,466 = 108,74 l/s
vazão de projeto (pela Figura IV.6, para I = 1,4% encontra-se F = 0,80 logo Qadm = Qo/F = 108,74 / 0,80 =
136 l/s
Assim ymáx = [136 / ( 375 x 20 x 0,0141/2 / 0,016 )]3/8 donde 0,105 m < 13 cm !
Confirmado, então, PRIMEIRO CONJUNTO DE BC no cruzamento à montante do quarteirão da
ESCOLA! como mostrado na Figura IX.3.
b) cálculo dos trechos
1) trecho 1-2
- área de contribuição: A1-2 = A1+ A2 + A3= 1,177 ha;
- vazão de dimensionamento do trecho: para I = 1,4 %, L = 170 e C = 0,80, então tc = 12 min e como T =
5 anos implica i = 1,74 mm/min (Figura IX.1) onde Q1-2 = 166,67 x 0,80 x 1,74 x 1,177 = 259,15 l/s;
- diâmetro: para I1-2 = 0,0187 m/m, n = 0,015 e Q1-2 = 259,15 l/s e D1-2 = 500 mm (Figura VI.4)
- velocidade e vazão a seção plena: calculando-se pela expressão de Manning encontram-se vo,1-2 = 2,28
m/s e Qo,1-2 = 0,448 m³/s;
- velocidade de projeto: Utilizando-se da Figura VI.3, das seções hidráulicas, encontra-se vp= 2,35 m/s;
- tempo de percurso: tp,1-2 = 90m / (2,35 m/s x 60 min) = 0,64 min.
2) trecho 2-3
- acréscimo de área A2-3 = 1,018 ha;
- tempo de concentração tc,2-3 = (12,00 + 0,64) min;
- precipitação: i2-3 = 1,70 mm/min;
- acréscimo de vazão: Q2-3 = 166,67 x 0,80 x 1,70 x 1,018 = 230,75 l/s;
- vazão de projeto: Qp,2-3 = 230,75 + 259,15 = 489,90 l/s;
- diâmetro: D2-3= 600 mm;
- secção plena: Q O,2-3 = 0,540m³/s e v O,2-3 = 1,91 m/s;
- tempo de percurso: t p,2-3 = 80 /(2,16 x 60) = 0,62 min.
Os demais trechos encontram-se na planilha anexa.