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Neste texto, Vernant fala sobre a polis.

Como se deu sua formação, consolidação e qual


a sua importância para o desenvolvimento dos gregos e do Ocidente de um modo geral.
A consolidação da polis grega foi muito importante para o desenvolvimento de todo o
Ocidente, quando ela foi efetivada, entre os séculos VIII e VII, as noções de relações
sociais e interpessoais se alteraram. O período da Grécia arcaica, mais conhecido como
período dos sete sábios, que se iniciou no século VIII a.C., era um período de profundas
mudanças. Vários agrupamentos constroem cidadelas e fortalezas para as suas defesas.
A partir daí, ao redor dessas cidadelas começam a surgir cidades. As pessoas migram
para obter a proteção dessas fortalezas e ali vão se estabelecendo. Surgem pólos
comerciais e até sedes governamentais. Nesta época surge Atenas, Tebas, Megara; no
continente surge Esparta e Corinto no Peloponeso; Mileto e Éfeso na Ásia Menor;
Mitilene, Samos e Cálcis nas ilhas do mar Egeu. A monarquia abre espaço à uma
oligarquia urbana, onde economicamente predominam o artesanato e o comércio, apesar
de não haver uma unidade monetária. Essa “independência”, falta de um poder
centralizado, foi critério fundamental para o surgimento da polis. A palavra polis é
derivada da palavra política (politikós que significa aquilo que concerne ao cidadão, aos
negócios públicos). A polis vem desse direito do cidadão de reger sua cidade.
Obviamente existiam parâmetros, mas a polis era onde se exercitava a arte erística
(téchne eristiké). A arte erística é esse amor a discussão, a arte da discussão, o amor
pela discussão só pelo fato de se discutir. É isso que movimenta a polis grega, a
controvérsia. Peithó também entra nesse ponto, pois o discutir muitas vezes não conduz
a lugar nenhum. É preciso peithó, a persuasão, para se ganhar a disputa erística. Entre a
política e o logos , há assim relação estreita, vínculo recíproco. A arte política é
essencialmente exercício da linguagem; e o logos , na origem, toma consciência de si
mesmo, das suas regras, de sua eficácia, através de sua função política. Historicamente,
são a retórica e a sofística que; pela análise que empreendem das formas do discurso
como instrumento de vitória nas lutas da assembléia e do tribunal abrem caminho às
pesquisas de Aristóteles ao definir, ao lado de uma técnica da persuasão, regras da
demonstração e ao pôr uma lógica do verdadeiro, própria do saber teórico, em face da
lógica do verossímil ou do provável, que preside aos debates arriscados na prática. Esse
panorama político da Grécia possibilita a consolidação da polis. Não existia mais a
visão do soberano, nem o poder monárquico. Todas as decisões estavam submetidas à
arte oratória, e deverão resolver-se na conclusão de um debate. Isso conseqüentemente
evitava o poder despótico. Existia liberdade de expressão. Um exemplo disse está em
Homero na forma como Aquiles trata Agamêmnon (o rei dos reis, basileutatos). A
política se torna, de fato, objeto de reflexão teórica. Qual é a melhor constituição? Por
que tal tipo de geografia engendra tal tipo de governo? Por que a Grécia encarna o
melhor regime? Essas são as perguntas que se fazem. Vemos surgir também uma crítica
política bastante virulenta – os panfletos aristocráticos contra a democracia, atribuídos a
Xenofonte. E de outro lado as utopias: filósofos como Platão imaginam um sistema
diverso, o da cidade ideal, que Aristóteles também tentará definir. Em suma, a partir do
instante em que, na vida comum, o debate e a argumentação se tornam elementos
fundamentais, as técnicas de persuasão e a reflexão sobre a argumentação tornam-se
objetos que despertam interesse. Na Grécia do século 5º teve o surgimento da sofística.
Uma prática que consistia em recrutar jovens da elite intelectual de diferentes cidades e
lhes fazer pagar lições de retórica, tendo como pano de fundo um certo relativismo, a
idéia de que quem souber persuadir sempre fará passar sua tesepor verdadeira – ou seja,
em qualquer problema se podem alinhar duas colunas, os argumentos a favor e os
argumentos contra. Em sentido oposto, no entanto, essa tentação do ceticismo deu
origem a um esforço para mostrar que verdade e verossimilhança são coisas diversas:
Platão e Aristóteles distinguem os raciocínios falsos dos corretos e estabelecem critérios
de verdade. Surge assim um tipo de discurso, ou de diálogo, de questionamento, que é a
primeira forma do que se chamará, no Ocidente, de filosofia. Em suma, a polis foi ponto
de partida para toda a evolução do pensamento grego: a filosofia, o teatro, a política e
etc. Esse universo da polis é também, o marco inicial da democracia, apesar de não ser
já caracterizada com esse nome, pois os grandes chefes de estado eram chefes
guerreiros, o que segundo Vernant caracteriza mais uma aristocracia guerreira que era
dominante. Mas todos tinham o direito a opinião, desde que não fossem mulheres,
crianças, estrangeiros e escravos.

origem: As origens do pensamento grego http://pt.shvoong.com/humanities/6570-


origens-pensamento-grego/#ixzz1I9598fSf

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