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10/02/2011 16h40 - Atualizado em 10/02/2011 16h45

'Elas não querem voltar para a escola',


diz mãe que educa filhas em casa
Meninas de 9 e 11 anos estão fora da escola desde 2008,
no interior de SP.
Ministério Público quer fazer valer a Constituição
Federal.
Roberta Steganha Do G1 SP

A família acusada de negligência pelo Ministério Público por não mandar as filhas de 9
e 11 anos desde 2008 para a escola, em Serra Negra, cidade a 139 km de São Paulo, diz
que elas estão felizes e que não sentem falta da escola, pois são educadas em casa. “Elas
dizem que não querem nunca mais voltar para a escola, que adoram aprender comigo”,
diz a mãe, Leila Brum Ferrara, de 45 anos.

A mãe das duas meninas que nasceram nos Estados Unidos é brasileira e casada com o
norte-americano Philip Ferrara. Em entrevista ao G1, ela dá detalhes sobre o método de
estudo e explica as razões que levaram ela e o marido a educarem as meninas em
ambiente doméstico.

Segundo a mãe, as aulas são todas ministradas em inglês por ela e pelo marido e seguem
o currículo normal de uma escola americana. Tudo é feito por meio da internet, diz.
“Mas eu ensino também português, além de história e geografia do Brasil. Elas gostam
muito de aprender. Estudam cerca de quatro horas por dia. A mais velha fala e escreve
muito bem português”, conta.

Para Ferrara, o método de ensino "home school" cria pessoas mais seguras. “Elas ficam
mais felizes, mais seguras, pois não enfrentam pressão. Mas a gente não coloca as
meninas numa redoma, não”, afirma.

No entanto, segundo a mãe, um ponto muito questionado sobre esse método de ensino
diz respeito à socialização das crianças. Ela diz que as meninas convivem com outras
crianças, não ficam apenas em casa. “Elas fazem balé e jogam tênis quase todos os dias.
Têm uma vida social perfeita”, diz Ferrara.

Método não reconhecido


Segundo o promotor de Justiça da Infância e Juventude em Serra Negra, Marcelo de
Mendonça Neves, o Ministério Público instaurou um pedido de providência para
verificar porque as crianças não estavam mais frequentando a escola. “Os pais disseram
que elas não iam porque iam fazer home school, mas no Brasil isso não é reconhecido.
Aqui as crianças têm que estar matriculadas na escola. É obrigatório, está na
Constituição Federal”, explica.
saiba mais

 Polícia desconsidera negligência em caso de crianças educadas em casa

Ainda de acordo com Neves, com essa ação o MP pretende que as crianças voltem para
a escola. “Nós estamos fazendo isso pela proteção das crianças. Não queremos que elas
possam ser prejudicadas por uma decisão dos pais. Vamos seguir a lei brasileira para
que o estudo delas seja completo”, afirma o promotor.

A mãe discorda. Ferrara afirma que os pais é que devem escolher se os filhos vão ou
não para a escola. “Eu acho que esse direito não deveria ser do estado. Mesmo que fosse
liberado, acho que nem 1% da população faria (home school) porque dá trabalho educar
em casa. Eu larguei minha carreira para ficar com elas”, completa.

A mãe diz também que com a educação doméstica as filhas terão mais oportunidades no
futuro. “É mais completo (o estudo). Quando você vai ensinar quilo, litro, por exemplo,
você vai à cozinha e faz um bolo para ensinar”, conta.

Negligência
Na quarta-feira (9), o delegado Rodrigo Cantadori, de Serra Negra, desconsiderou a
ocorrência de negligência no caso dos pais que educam suas filhas de 9 e 11 anos em
casa.

A Polícia Civil instaurou um inquérito sobre o caso no último dia 2, a pedido do


Ministério Público.
Os pais foram ouvidos pela Polícia Civil por 45 minutos na terça. Após o depoimento, o
delegado disse considerar difícil caracterizar como crime de abandono intelectual o
caso, já que os pais não estavam sendo negligentes.

Entretanto, Cantadori informou que, antes de concluir o inquérito, ainda vão ser
necessárias outras investigações sobre a eficiência dos métodos de ensino virtual da
escola americana. "A polícia vai averiguar como tudo isso funciona", disse o delegado.

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