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PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA

Secretaria dos Negócios Jurídicos


Divisão do Contencioso Geral

Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo.

PREFEITURA MUNICIPAL DE
SOROCABA, por seu procurador que esta subscreve, não se conformando com a R. decisão
proferida pelo R. Juízo a quo nos autos do PROCESSO Nº 284/06 - MEDIDA
CAUTELAR INOMINADA - em que figura como Autor GIANCARLO PARINI ME,
vem perante V. Exa., com fulcro no artigo 522 do C.P.C, interpor o presente recurso de
AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO,
consubstanciado nas anexas razões, requerendo o seu regular processamento e, ao final, que o
mesmo seja conhecido e provido para reformar a R. decisão agravada.

Requer, sejam intimados de todos os atos e


termos do processo os procuradores das partes, sendo do Agravado, o Dr. Jairo Aires dos
Santos - OAB 109.036, com escritório à Rua Leite Penteado nº 86, Centro, Sorocaba/SP, e
dos Agravantes, os procuradores municipais: Dr. João Benedito Martins - OAB 65.529 e
Dr. Ruy Elias Medeiros Junior - OAB 115.403, ambos com endereço à Av. Engº. Carlos
Reinaldo Mendes s/nº, Palácio dos Tropeiros, Alto da Boa Vista, Sorocaba/SP.

Requer ainda, o recebimento do presente recurso


com efeito suspensivo, suspendendo-se, assim, os efeitos da liminar concedida, até a decisão
final do presente agravo de instrumento.

Termos em que,
pede deferimento.
Sorocaba, 18 de Abril de 2006.

Ruy Elias Medeiros Junior


Procurador Municipal
OAB 115.403

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RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

AGRAVANTE : PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA DE SOROCABA

AGRAVADO : GIANCARLO PARINI – ME

PROCESSO Nº 284/06 - MEDIDA CAUTELAR INOMINADA

TERCEIRA VARA CÍVEL DA COMARCA DE SOROCABA

EGRÉGIO TRIBUNAL:

O agravado ingressou com medida cautelar inominada,


cujo escopo é obstar a prática de qualquer ato que importe multa, lacração ou limitação de
funcionamento por ato da municipalidade no seu estabelecimento, sob pena de multa de
R$10.000,00 para cada ato praticado.

Ao apreciar o Pedido de liminar, o Digno Juízo a quo


deferiu liminar, proferindo a seguinte decisão:

"1.Sem que a requerida, por falta de regulamentação da Lei Municipal


n° 4.913/95 (fato afirmado pela autora, frise-se), esteja em condições de emitir o "certificado de uso
de som" nela referido, de se reputar dotada de viabilidade jurídica a tese engendrada pela autora,
de que, diante disso, também não possa inviabilizar a atividade comercial da requerente. 2. A tese,
frise-se, não é nova e, nesta Comarca, já foi objeto de discussão no E. Tribunal de Justiça de São
Paulo, 8a Câmara de Direito Público, Apelação Cível n° 132.486.5/3-00, Rei. Des. TERESA
RAMOS MARQUES, em acórdão assim ementado: "PROCESSO - Interdição - Medida cautelar -
Som ao vivo - Posturas municipais - Sentença de procedência - enquanto não cumpre sua própria
legislação, tornando possível a regularização da emissão de ruídos pelos munícipes, não pode o
município aplicar as punições legais pela respectiva irregularidade - Dado provimento ao recurso".
3. No juízo de cognição sumária, portanto, prossiga-se com a liminar, que fica DEFERIDA, para o
fim de determinar-se, à ré, que se abstenha de praticar qualquer ato que importe multa, lacração,
ous limitação no funcionamento do estabelecimento-autor, sob pena de multa de R$10.000,00 (dez
mil reais) para cada ato que caracterize o descumprimento desta determinação. 4. Cite-se a ré para
contestar, em 20 (vinte) dias, notificando-se, outrossim, do inteiro teor desta decisão. 5. Principal
em 30 (trinta) dias. Int. Sor., 21 de fevereiro! de 2006. (a.) Dr. MARIO GAIARA NETO, Juiz de
Direito."

Com essa decisão, entretanto, não concorda o


Município de Sorocaba, pelas razões a seguir expostas:

PRELIMINARMENTE:

LITISPENDÊNCIA.

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O presente feito deve ser julgado extinto nos termos do artigo 267,
V, do CPC, haja vista que sobre a questão ora em debate existe em andamento neste
foro (3ª. Vara Cível de Sorocaba) o Processo n. 986/2004 – MANDADO DE
SEGURANÇA - , ocorrendo identidade de partes, objeto e causa de pedir, e além disso
já se encontra sentenciada com denegação do pedido.

Referido feito se encontra no Tribunal de Justiça (APELAÇÃO N.


528.026.5/7-00 – relator Osvaldo Magalhães), aguardando julgamento de apelação
interposta pelo autor/agravado, haja vista que a segurança foi denegada (vide extrato
do TJSP anexo).

Destarte, imperiosa a decretação da extinção do feito sem


julgamento de mérito, em razão da litispendência.

MÉRITO:

I – Síntese da inicial:

A empresa autora ingressou com a presente ação cautelar


objetivando a obtenção de ordem judicial para suspender os efeitos do auto de infração
nº 2.127 e a ameaça de interdição do estabelecimento comercial e, ainda, garantia de
funcionamento com utilização de música ao vivo ou mecanizada, em face da
imposição de aplicação da Lei Municipal nº 4.913/95, que veda a utilização de
equipamento sonoro sem o necessário estudo de viabilidade segundo as normas da
ABNT.

Inicialmente, o autor obteve alvará da municipalidade para a


exploração do ramo de atividade de “Bar com Salão para Festas”, posteriormente
transmudou sua atividade para “Danceteria”, prolongando seu horário de
funcionamento e assim foi notificado por diversas vezes a suspender a atividade de
som ao vivo até final regularização de sua atividade.

Assim é que, em 08 de novembro de 2003, foi notificado


(notificação 4341 e 4404) para providenciar Inscrição Municipal e Encerrar suas
atividades com utilização de som ao vivo, sob pena de ser autuado com base na Lei
Municipal 4.913/95 (lei do silêncio); em 19 de novembro de 2003, recebeu as
notificação de n . ° 0019/2003, para comparecer a Divisão de Fiscalização, sita na rua:
aparecida n.° 244 – vila Santa Rosália – Sorocaba, onde foi informado que não
poderia utilizar musica ao vivo ou mecânica, sob pena de ser autuado com base
na Lei Municipal 4.913/95 (lei do silêncio), haja vista que o alvará que possui
veda a utilização de som ao vivo após as 24 horas; No dia 22 de novembro foi
autuado em R$328,15 (trezentos e vinte e oito reais e quinze centavos), com base na
Lei Municipal citada.

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Que, essas atitudes do Poder Público Municipal, ensejaram a


propositura de Mandado de Segurança, processo n . ° 602.01.2004.008582-8 (número
de ordem: 986/2004), cujo trâmite se deu pela terceira Vara Cível da Comarca de
Sorocaba, sendo concedida Liminar, porém denegada a segurança, no mérito,
corroborando entendimento do digno representante do Ministério Público, de que a Lei
4.913/95, não precisa ser regulamentada, e que o requerente não havia providenciado
pedido de "certificado de uso de som", deixando de atender as determinações da
lei. Referido processo encontra-se no tribunal em sede de recurso Interposto pelo
autor.

Que, finalmente, o requerente apresentou projeto de tratamento


acústico, bem como, Laudo Pericial, elaborado por profissional especializado,
atestando que o nível de ruído na avenida onde o estabelecimento está localizado,
pouca ou nenhuma interferência sofre quando a danceteria está em pleno
funcionamento, o que equivale dizer que o nível máximo de ruído não altera na
medição efetuada com ou sem música ao vivo.

Que, entretanto, o impasse permanece, pois a divisão de


fiscalização da ré não aprovou o laudo unilateral apresentado pelo autor, e o projeto de
tratamento acústico não chegou a ser colocado em prática, ficando sujeito as sanções
administrativas.

Dos Fatos – procedimentos administrativos:

Embora a questão já tenha sido amplamente debatida nos autos do


processo n. 986/2004 – Mandado de Segurança – cujo trâmite se deu perante esse D.
Juízo da 3ª. Vara Cível, o qual, repita-se, teve denegada a segurança, e encontra-se
em grau de apelação, fato esse que configura litispendência, pois há identidade de
partes, de objeto e de causa de pedir, pelo principio da eventualidade, merece, mais
uma vez ser debatido no mérito, como segue:

Em 13 de outubro de 2003, a O autor, Giancarlo Parini ME,


pretendendo estabelecer-se na Avenida Dr. Afonso Vergueiro nº 1.231, Centro, no ramo
de atividade de bar com salão de festas, pleiteou a Municipalidade a análise da
viabilidade do local para a exploração dessa atividade comercial.

Considerando que o local pretendido localiza-se na ZCP (artigo 1º,


da Lei Municipal nº 5.609/98), com base na Lei Municipal n.º 1.541/68, a
Municipalidade declarou como viável a instalação e exploração da referida atividade
comercial, no endereço apontado.

Apresentada a documentação exigida por lei, a inscrição


municipal foi deferida sob nº 130.590, em 06 de novembro de 2003, para instalação e
exploração da atividade comercial indicada pelo autor, ou seja, bar com salão de
festas.
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Que a fiscalização municipal constatou, entretanto, que o autor,


desvirtuando o ramo de atividade comercial declarada ao Município, instalou no local
uma danceteria, utilizando-se de aparelhagem de som (ao vivo ou mecânica) com
funcionamento após as 24:00 horas e sem o necessário alvará de funcionamento, que
somente é concedido após as adaptações necessárias as leis e posturas municipais.

Assim, em 08 de novembro de 2003, através das notificações nºs.:


4.341 e 4.404, notificou o autor a providenciar, respectivamente, a inscrição municipal
adequada para o seu ramo de atividade e o certificado de uso para utilização de som.1

Contudo, a O autor quedou-se inerte com relação às providências


administrativas necessárias à exploração de sua atividade comercial e, em 14 de
novembro de 2003, a fiscalização constatou que a mesma continuava explorando a
atividade comercial de danceteria, após às 24:00 horas e com uso de som ao vivo em
alto volume.
Em 19 de novembro de 2003, o autor foi notificado a comparecer
na Seção de Fiscalização de Atividades, no prazo de 48 horas, para tratar de assunto a
respeito da atividade comercial exercida. Diante de seu silêncio, em 22 de novembro
de 2003, lavrou-se a notificação nº 4.885 para que a empresa autora encerrasse suas
atividades às 24:00 horas, nos termos da Lei Municipal nº 6.802, de 08 de abril de
2003, sob pena de autuação, nos termos da Lei Municipal nº 3.444/90, com redação
dada pelas Leis Municipais nºs.: 4.985/98 e 5.793/98.

Ante ao descumprimento da notificação, e a persistência em


manter a atividade comercial após as 24:00 horas, com a utilização de som, inclusive
sem o certificado de uso, lavrou-se o auto de infração nº 2.127.

Após a autuação retro mencionada, a empresa autora pleiteou, na


esfera administrativa, autorização para funcionamento no horário das 22:00 horas às
4:00 horas da manhã, às sextas-feiras e aos sábados; bem como alteração da
viabilidade de local para uso de som mecânico. Na ocasião apresentou projeto e
orçamento de isolamento acústico para danceteria.

O pedido de alteração de viabilidade do local foi indeferido pela


Secretaria de Edificações e Urbanismo e Serviços Públicos com base no seguinte
parecer:

“Inicialmente foi autorizado BAR COM SALÃO DE


FESTAS.
O BAR está funcionando.
Contudo o SALÃO DE FESTAS mascara uma ‘danceteria’.

1
Conforme Processo Administrativo nº 20.924/04 – cópia inteiro teor em anexo.
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Com o problema do som nossa fiscalização em sua atuação


constatou a atividade de danceteria e o estabelecimento foi
autuado (fls. 20) depois de devidamente notificado.
Agora segue às fls. 24/30 viabilidade para BAR COM
SALÃO DE FESTAS E USO DE SOM, bem como horário
especial e prazo para adequações das instalações a lei do
som.
SMJ o pedido deve ser indeferido por dois motivos:
1)- desvirtuamento de uso de SALÃO DE FESTAS
p/ DANCETERIA.
2)- falta de adequações das instalações, que deverá
ser precedido de sua aprovação e certidão de vistoria de
conclusão.
Depois das instalações adequadas e seu pedido corrigido
poderíamos expedir a viabilidade.
É nosso parecer ‘sub-censura’.”

Destarte, a autora foi notificada (notificação nº 5.945), a encerrar


suas atividades face ao indeferimento do pedido de alteração da viabilidade do local,
sob pena de autuação, nos termos da Lei Municipal nº 3.444/90, com redação dada
pelas Leis Municipais nºs.: 4.985/95 e 5.793/98.

Do Direito
É princípio constitucional o livre exercício de atividade
econômica, mas sempre delimitado, conforme o interesse social. Aliás, não poderia
ser diferente, já que os princípios de um sistema jurídico para se relacionarem e terem
coerência, não podem ter amplitude ilimitada, sob pena de se tornarem incompatíveis.
É por isso que todo princípio apresenta: a) uma regra de vital importância; b) e seu
limite. Prova do que está se dizendo, pode ser abstraída da regra do parágrafo único,
do artigo 170, da Constituição Federal:

“É assegurado a todos o livre exercício de qualquer


atividade econômica, independentemente de autorização de
órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.” (grifo
nosso)

Ora, salvo no casos previstos em lei, é a exceção ao princípio do


livre exercício da atividade econômica, que insista-se, pode ser limitado por lei. Neste
aspecto, CELSO RIBEIRO BASTOS ao comentar o artigo constitucional em destaque,
acrescenta:
É aceitável, pois, que dependam de autorização certas
atividades sobre as quais o Estado tenha necessidade de

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exercer uma tutela, quanto ao seu desempenho no atinente


à segurança, à salubridade pública etc.”2

Na realidade, o Poder Público para limitar determinadas condutas


utiliza-se do poder de polícia, com base em lei. Neste sentido bastante elucidativa é a
lição de HELY LOPES MEIRELLES:

“Atuando a polícia administrativa de maneira


preferencialmente preventiva, ela age através de ordens e
proibições, mas, é sobretudo por meio de normas
limitadoras e condicionadoras da conduta daqueles que
utilizam bens ou exercem atividade que possam afetar a
coletividade, estabelecendo as denominadas limitações
administrativas. Para tanto, o Poder Público edita leis e os
órgãos executivos expedem regulamentos e instruções
fixando as condições e requisitos para o uso da propriedade
e o exercício das atividades que devem ser policiadas, e,
após as verificações, é outorgado o respectivo alvará de
licença ou autorização, ao qual se segue a fiscalização
competente.” 3

O que se pretende fixar, desde o início, é que o exercício de


atividade comercial, definitivo ou transitório, embora livre, é limitado pela lei. A lei
fixa os limites para o exercício de qualquer atividade e o uso de bens. E o Poder
Público, evidentemente, pode aquilatar sobre a viabilidade ou não de autorização ou
licença para determinada atividade.

Essa questão é importantíssima, na medida em que o


preponderante interesse público é um primado que não pode ser desprezado. A
instalação de uma atividade comercial, provisória ou definitiva, que é um interesse
particular e individual, não pode se sobrepor ao interesse público de segurança,
higiene, urbanismo, meio ambiente etc.

Assim, por exemplo, a questão da saúde, afeta a vigilância


sanitária, é importantíssima e, não observada pode conduzir a situações bizarras e de
alto risco. Outra questão ainda, a ser verificada, é se a Lei de Urbanismo Municipal
permite a exploração dessa atividade no local pretendido.

2
in Comentários à Constituição do Brasil, Saraiva, 7º v. p. 39.
3
in Direito Municipal Brasileiro, Malheiros, 6ª ed. p. 346.

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Daí se vê, como ressalta JOSÉ NILO DE CASTRO “que a razão


do poder de polícia repousa na necessidade da proteção do interesse coletivo,
figurando-lhe o fundamento na prevalência do interesse geral do Poder Público sobre o
interesse particular, um dos princípios basilares de nosso Direito Administrativo.”

E conclui o ilustre professor de Direito Municipal:

“Exercita-se o poder de polícia administrativo nas matérias


e assuntos de interesse local, tais como: proteção à saúde,
aí incluídas a vigilância e fiscalização sanitárias; proteção
ao meio ambiente, ao sossego, à higiene, à funcionalidade;
disciplinam-se as edificações e as posturas municipais, em
toda a amplitude local como a regulamentação de: horário
de funcionamento do comércio local, de indústria, de
prestação de serviços (salvo atividades bancárias e
financeiras); tráfego e trânsito no perímetro urbano e nas
vias públicas municipais; proteção ecológica da fauna e
flora; localização, nas áreas urbanas e nas proximidades de
culturas mananciais, de substâncias potencialmente
perigosas; estética urbana e guarda municipal.” 4

Disso se conclui que o particular não pode simplesmente exercer a


atividade comercial que pretende, sob pena de por em risco valores superiores, de
interesse social, que se protegeu em patamar acima dos direitos individuais. A vida, a
segurança, a saúde, o bem estar, não podem ficar relegados, como valores
subordinados ao capitalismo. O sistema jurídico brasileiro, isto não permite, e por isso
se criou o princípio da primazia do interesse público. Comentando essa questão o
professor CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO destaca:

“o princípio da supremacia do interesse público sobre o


interesse privado é princípio geral de direito inerente a
qualquer sociedade. É a própria condição de sua
existência.” 5

Nem mesmo eventual omissão do Poder Público, não poderia


implicar na possibilidade de o autor conseguir autorização para o exercício da
mercancia, sem cumprir as regras ditadas pelo interesse social. Veja-se que o conflito é
entre normas de interesse individual e normas de interesse geral. E para compor esse
conflito, evidentemente, a solução deve ser compatível com o interesse social.

4
in Direito Municipal Brasileiro, Livraria Del Rey, p. 239/240
5
in Elementos de Direito Administrativo, Revista dos Tribunais, 2ª ed. p. 50.
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Há de se frisar ainda, que a Constituição Federal atribuiu aos


Municípios a competência para legislar sobre assuntos de interesse local; promover, no
que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do
uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; e ainda, suplementar a legislação
federal e a estadual, no que couber. 6

Seguindo a estrutura estatal delineada pela Constituição Federal,


a Lei Orgânica do Município de Sorocaba, estabeleceu que compete ao Município
conceder licença para localização, instalação e funcionamento de estabelecimentos
industriais, comerciais e de serviços;7 bem como, conceder licença para exercício de
comércio eventual ou ambulante. 8

De maneira que, dentro dos limites territoriais do Município, é de


sua exclusiva competência a concessão de licença de localização, instalação e
funcionamento de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços, e licença
para exercício de comércio eventual ou ambulante.

Vale lembrar mais uma vez a lição do mestre Hely Lopes


Meirelles:
“A polícia administrativa municipal deve estender-se a
todos os locais públicos ou particulares abertos à
freqüência coletiva, mediante pagamento ou gratuitamente,
bem como aos veículos de transporte coletivo”
...
Nesses lugares a Administração Municipal dispõe de amplo
poder de regulamentação, colimando a segurança, a
higiene, o conforto, a moral, a ética e demais condições
convenientes ao bem estar do público”. 9

E arremata com conclusão preciosíssima a respeito do tema:

“Além dos vários setores específicos que indicamos


precedentemente, compete ao Município a Polícia
Administrativa das atividades urbanas em geral, para a
ordenação da vida da cidade. Esse policiamento se estende
a todas as atividades e estabelecimentos urbanos, desde a
sua localização até a instalação e funcionamento, não para
o controle do exercício profissional e do rendimento
econômico, alheios à alçada municipal, mas para a
verificação da segurança e higiene do recinto, bem como a

6
artigo 30, incisos I, II e VIII, da CF.
7
artigo 4º, inciso XXII, alínea a, da Lei Orgânica Municipal
8
artigo 4º, inciso XXII, alínea c, da Lei Orgânica Municipal.
9
obra citada, p. 363/364.
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própria localização do empreendimento (escritório,


consultório, banco, etc...) em relação aos uso permitidos
nas normas de zoneamento da cidade”. 10

Portanto, resta evidente a competência do Município para legislar


sobre a matéria, em razão do exercício de seu Poder de Polícia Administrativa.

E, no exercício do poder de polícia administrativa, primando pela


supremacia do interesse da coletividade sobre interesses individuais, o Município de
Sorocaba, através da Lei Municipal nº 6.802, de 08 de abril de 2003, estabeleceu o
horário das 8:00 às 24:00 horas para o funcionamento de estabelecimentos
comerciais, como bares, lanchonetes, restaurantes e quadras poliesportivas. E
mais, disciplinou que a utilização de música ao vivo ou som ambiente por esses
estabelecimentos comerciais depende do cumprimento das disposições legais
pertinentes e da observância do direito de vizinhança.11

E mais uma vez, atento ao interesse público, zeloso que é com a


saúde pública, o Município de Sorocaba, através da Lei Municipal nº 4.913, de 04 de
setembro de 1995, disciplinou o controle e a fiscalização das atividades que geram
poluição sonora. Ou seja, estabeleceu regras para o controle da poluição sonora
produzida por estabelecimentos comerciais visando garantir o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, cumprindo, assim, mais um mandamento constitucional de relevante interesse
público. 12

Diz a A autora, que “a Lei Municipal nº 4.913/95, não foi


regulamentada pelo órgão competente, no prazo estabelecido no corpo da própria lei,
tornando-a letra morta ...”

Diz HELY LOPES MEIRELLES:

"O poder regulamentar é a faculdade de que dispõem os


Chefes de Executivo (Presidente da República,
Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para sua correta
execução.13

10
obra citada, p. 370/371.
11
artigo 1º e parágrafo único, da Lei Municipal nº 6.802/03.
12
artigo 225, da CF.
13
in Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros, 22ª ed. p. 112.
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E ainda:

"Atos administrativos normativos são aqueles que contêm


um comando geral do Executivo, visando à correta
aplicação da lei. O objetivo imediato de tais atos é
explicitar a norma legal a ser observada pela Administração
e pelos administrados. Esses atos expressam em minúcia o
mandamento abstrato da lei e o fazem com a mesma
normatividade da regra legislativa, embora sejam
manifestações tipicamente administrativas." 14

Com efeito, existem situações em que a norma legal, pela sua


complexidade, precisa ser explicada para sua correta aplicação e execução. Entretanto,
se a norma legal é precisa, clara em seus termos e dispositivos, não precisará ser
regulamentada a posteriori; bastando apenas que seja sancionada, promulgada e
publicada, para produzir seus efeitos concretos e imediatos (ex nunc).

A Lei Municipal nº 4.913/95 se encaixa nesse tipo. É clara,


objetiva, precisa, estando formalmente perfeita e exata em seu conteúdo. O fato de que
ad cautelam nela se consignou que seria regulamentada, não significa que não seja ela
auto-executável e de efeitos concretos.

É da doutrina:

"No direito brasileiro o poder regulamentar destina-se a


explicar o teor da leis, preparando sua execução,
completando-as, se for o caso. 15

Ou seja, nem sempre é necessário regulamentar a lei, e a falta de


regulamentação não implica que a lei não seja executável. Segundo, ainda, HELY
LOPES MEIRELLES:

"Mas, quando a própria lei fixa o prazo para sua


regulamentação, decorrido este sem a publicação do
decreto regulamentador, os destinatários da norma
legislativa podem invocar utilmente os seus preceitos e
auferir todas as vantagens dela decorrentes, desde que
possa prescindir do regulamento, porque a omissão do

14
obra citada, p. 161.
15
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. Revista dos Tribunais. p. 128.
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Executivo não tem o condão de invalidar os


mandamentos legais do Legislativo." 16

Na obra: A Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro,


EDUARDO ESPINOLA e EDUARDO ESPINOLA FILHO, preceituam:

"A executoriedade da lei, mediante a promulgação. -


Existente, como preceito jurídico, a lei precisa tornar-se
executória, para que esteja em condições de ser obedecida e
cumprida.
É a promulgação, que lhe dá essa executoriedade.
A promulgação é um ato, que compete, obrigatoriamente,
ao chefe do Estado, mediante o qual este dá força
executória às leis, que tenha sancionado."17
Por conseguinte, a promulgação introduz a lei na ordem jurídica.
Através desse ato, ela se reveste de executoriedade, permitindo que a Administração,
imediatamente, providencie os atos subsequentes, necessários à sua fiel execução.

In casu, repita-se, à exaustão, a lei municipal em testilha está


perfeita, na forma e conteúdo, sendo clara, precisa e objetiva, e independe de
regulamento para sua execução e para operar seus efeitos. O fato de constar que seria
regulamentada não retira a sua executoriedade.

Por outro lado, a ninguém é dado o direito de não cumprir a lei,


alegando que não a conhece (artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil
Brasileiro).

Na obra "Atividade Legislativa do Poder Executivo no Estado


Contemporâneo e na Constituição de 1988", diz o PROF. CLÈMERSON MERLIN
CLÈVE:

“Para se tornar obrigatória, todavia, perante terceiros, deve


a lei passar pelo mecanismo da publicidade. O Estado de
Direito exige a publicidade dos atos normativos como
condição de sua eficácia. Ninguém pode ignorar a lei,
todavia, para vigorar referido princípio, há a necessidade de
a lei ser levada ao conhecimento dos cidadãos. A
publicidade é uma conseqüência da promulgação, já que
esta contém uma ordem de publicação."18

16
obra citada, p. 113.
17
Renovar, p. 37.
18
Revista dos Tribunais, 1993. p. 115.
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MAYR GODOY, em sua obra "Técnica Constituinte e Técnica


Legislativa", explica:

“A promulgação da lei, como da resolução e do decreto


legislativo acarretam o conhecimento do texto, pela
administração e pelo seu corpo legislativo, aos quais se
impõem como norma vigente antes e mesmo sem
publicação, em determinados casos. No entanto, é da
publicação que se irradia a vigência do direito novo,
consoante as disposições da cláusula de vigência e a Lei de
Introdução ao Código Civil." 19

Da doutrina retro colacionada, conclui-se que a Lei Municipal nº


4.913/95 é auto-executável, sendo obrigatório o seu cumprimento pela Administração
Pública a partir da promulgação, e para os cidadãos, a partir da sua publicação. E
mais, a não regulamentação da lei pelo Poder Executivo não tem o condão de revogar
o ato legislativo, material e formalmente, constitucional.

Esse também o entendimento jurisdicional. A respeito da referida


lei municipal, a Terceira Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, no voto em que foi relator o Desembargador Viseu Júnior, assim se
manifestou:

“MANDADO DE SEGURANÇA – Fechamento de


estabelecimento que funciona em desacordo com a lei
municipal sobre poluição sonora. Exercício do poder de
polícia, como atuação estatal demarcadora do conteúdo de
direitos privados, impondo freios à atividade individual,
assegurando a paz pública e o bem estar social. Recurso
não provido.” 20

Esclarece o referido acórdão que:

“A Lei Municipal nº 4.913/95, que exige o


certificado de uso, é auto-executável e, ao dispor sobre o
controle e fiscalização das atividades que geram
poluição sonora, determinou ao Poder Público o dever
de cientificar os estabelecimentos que estivessem em
Universitária de Direito, 1987. p. 80/81.
19

Apelação cível nº 191.345.5/2-00, Sorocaba, Sant’ana Atlético Club x Secretário de Finanças do Município de
20

Sorocaba. julgado em 08/06/2004, votação unânime.


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perfeito funcionamento, dando prazo de 180 dias para a


devida adequação.

Ocorre que o estabelecimento em questão estava


funcionando de forma irregular, sem atender a lei em
apreço. A possibilidade de fechamento faz parte do
poder de polícia da Administração.

A Constituição Federal, no art. 225, elevou o meio


ambiente à condição jurídica de bem de uso comum do
povo e atribuiu à coletividade e ao próprio Poder
Público o dever de zelar por sua proteção e preservação.
Um dos principais instrumentos para viabilizar tal
tarefa é o poder de polícia.

Assim, o poder de polícia é exercido para


assegurar a paz pública e o bem estar social, dirigindo-
se à liberdade individual e à propriedade privada,
fixando marcos para o exercício desses direitos.

Se o estabelecimento funciona de modo irregular,


em conflito com a legislação sobre poluição sonora, é
coerente a determinação de encerramento da atividade
ou fechamento administrativo.” 21

A obtenção pela autora da inscrição municipal nº 130.590 se deu


exclusivamente para a exploração de atividade comercial no ramo de bar com salão de
festas, porque, nos termos da Lei Municipal nº 1.541/68 (Código de Zoneamento), é
permitida a exploração dessa atividade comercial no local apontado, qual seja Avenida
Dr. Afonso Vergueiro.

Contudo, a fiscalização municipal constatou que houve por parte


da autora o desvirtuando do ramo de atividade comercial declarada ao Município,
instalando no local uma danceteria, com funcionamento após as 24:00 horas e com a
utilização de som ao vivo ou mecânico.

Como já minuciosamente relatado, a Administração Pública


Municipal notificou a autora várias vezes, dando-lhe a oportunidade de adequar a
inscrição municipal ao ramo de atividade realmente explorado, inclusive para
providenciar o certificado de uso para utilização de som. Mas, ante ao descumprimento
da notificação, e a persistência em manter a atividade comercial após as 24:00 horas,
com a utilização de som, inclusive sem o certificado de uso, lavrou-se, em 22 de

21
cópia em anexo.
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novembro de 2003, o auto de infração nº 2.127, que já foi objeto de ampla discussão
no mandado de segurança.

O certo é que, somente após a autuação, a autora pleiteou, na


esfera administrativa, autorização para funcionamento no horário das 22:00 horas às
4:00 horas da manhã, as sextas-feiras e aos sábados; bem como, alteração da
viabilidade de local para uso de som mecânico, apresentando para tanto orçamento de
isolamento acústico para danceteria. Contudo, ignorou todas as disposições da Lei
Municipal nº 4.913/95, principalmente no que se refere a documentação relacionada no
artigo 4º, imprescindível para instruir pedido de certificado de uso. Tanto que, ao invés
de apresentar um laudo técnico comprobatório de tratamento acústico apresentou tão
somente um orçamento.

Os pedidos foram indeferidos com base no parecer da Secretaria


de Edificações e Urbanismo e Serviços Públicos, acostado às fls. 31/verso e 32 do
Processo Administrativo nº 18.680/03 (cópia inteiro teor em anexo), que considerou
dois motivos para tanto: o desvirtuamento do uso e a falta da conclusão das
adequações das instalações.

Assim ocorrendo, a infratora foi notificada - notificação nº 5.945


- a encerrar suas atividades face ao indeferimento do pedido de alteração da
viabilidade do local, sob pena de autuação, nos termos da Lei Municipal nº 3.444/90,
com redação dada pelas Leis Municipais nºs.: 4.985/95 e 5.793/98.

Essas notificações e autuações foram lavradas com observância


aos procedimentos ditados na Lei Municipal nº 3.444/90, que dispõe:

Artigo 1º - Fica instituída a Taxa de Fiscalização de


Instalação e de Funcionamento que incide sobre o exercício
por pessoa física ou jurídica de atividade comercial,
industrial, imobiliária em geral, agropecuária e de prestação
de serviços em geral, e será cobrada em decorrência das
atividades municipais de fiscalização e de ocupação do solo
urbano.
Parágrafo único - A taxa não incide nas hipóteses previstas
na Constituição Federal, observado, sendo o caso, o
disposto na legislação complementar.

Artigo 8º - A inscrição será efetuada antes do início da


atividade e alterada pelo sujeito passivo dentro do prazo de
até 30 (trinta) dias, contado a partir da data da ocorrência
de fatos ou circunstâncias que impliquem sua modificação.
Parágrafo único - O poder público municipal poderá
promover, de ofício, inscrição ou alterações cadastrais sem

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prejuízo da aplicação das penalidades cabíveis, quando não


efetuadas pelo sujeito passivo ou, em tendo sido,
apresentarem erro, omissão ou falsidade.

Artigo 14 – Tendo o Fisco Municipal apurado a ocorrência


de infração às disposições contidas nesta Lei, serão
adotados os seguintes procedimentos, de forma sucessiva:
I – Notificação ao infrator, cientificando-o da necessidade
de regularização de sua situação, sob pena de autuação;
II – Perdurando a infração, autuação e notificação,
cientificando da sujeição à nova autuação, em dobro, caso
não regularize a situação;
III – Ainda perdurando a infração, autuação e notificação,
cientificando da necessidade de encerramento das
atividades, sob pena de lacração do estabelecimento;
IV – Não cessando as causas que deram origem às
autuações e não atendidas as notificações, lacração do
estabelecimento;
§1º - Não será iniciado novo procedimento antes de quinze
dias contados da ação anterior, sendo este o prazo de
recurso contra a ação fiscal levada a efeito.
§2º - Eventualmente, o Fisco Municipal poderá ser instado
a proceder a lacração de estabelecimento. (redação dada
pela Lei Municipal nº 4.989, de 13 de novembro de 1995)

Artigo 15 – As infrações às disposições contidas nesta Lei


serão punidas com os seguintes valores:
a) multa de 200 (duzentas) UFIR's aos que deixarem de
efetuar, nos prazos fixados no artigo 8º., a inscrição inicial,
as alterações de dados cadastrais ou o encerramento de
atividade. (redação dada pela Lei Municipal nº 5.793, de 26
de outubro de 1998).
b) multa de 250 (duzentas e cinquenta) Unidades Fiscais do
Município se Sorocaba, aos contribuintes que promoveram
alterações de dados cadastrais ou encerramento de
atividade, quando ficarem evidenciadas não terem ocorrido
as causas que ensejaram essas modificações cadastrais.
(redação dada pela Lei Municipal nº 4.989, de 13 de
novembro de 1995)

Destarte, como demonstrado, todos os atos administrativos


relatados nesta ação foram praticados em estrita observância ao ordenamento jurídico

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vigente, sem violação ao princípio da legalidade, nem tão pouco configurando abuso
de poder.

Não sem razão, o DD. Juízo de primeiro grau proferiu sentença


nos autos do MANDADO DE SEGURANÇA – Processo n. 986/2004 – entre as
mesmas partes, vazada nos seguintes termos:

Vistos

(...)
De se denegar a segurança.

A uma, por não possuir, o agravado,


autorização para que possa exercer atividade que envolva a utilização de música
ao vivo ou mecanizada. A licença conferida ao agravado limita-se à exploração
de atividade de w bar com salão de festas" (fls. 12).

A duas, por não constar, dos autos, que a


impetrante tenha se submetido às exigências e restrições previstas nos artigos
2º., 3º., 4º. e 5º. da Lei Municipal n. 4.913/95.

A três, na medida em que a legislação


municipal em comento, pese a recomendação constante do artigo 12, é daquelas
que não dependem de regulamentação.

Nesse último tópico, impende considerar


que: na ausência de norma municipal e, eventualmente, de norma estadual a
regular a matéria, prevalece a normatização federal, especificada na Resolução
CONAMA n.01/90 que, por sua vez, faz remissão à NBR 10151 da ABNT,
segundo se extrai do artigo 2º. da Lei Municipal n. 4.913/95, por
aí se concluindo que a regulamentação reclamada pela agravado
nãoé, sob esse prisma, necessária.

- não há necessidade de a Municipalidade


elaborar cadastro especial de profissionais e empresas habilitadas a elaborar o
laudo técnico previsto no artigo 4º., inciso VI, da Lei Municipal n. 4.913/95. O que
se exige, apenas, é que o profissional que subscreva o trabalho seja habilitado e
regularmente inscrito no cadastro do ISS do Município (artigo
5º, inciso I e § 1º.).

De se concluir, assim, quanto à questão âa


regulamentação da Lei Municipal n. 4.913/95, com o ilustre Promotor de Justiça
oficiante, Dr, ORLANDO BASTOS, que a fls. 161 escreveu:
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"A regulamentação, como se verifica do artigo


2º. da lei, poderá ser feita para tornar a norma mais rigorosa do que a legislação
estadual e federal, mas, na sua ausência, aproveitam-se os dispositivos estaduais e
federais atinentes à matéria"

No mesmo sentido, por fim, o entendimento


constante do v. acórdão proferido na Apelação Cível n. 191.345.5/2-00, da 3ª.
Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, Rel. Des.
VISEU JÚNIOR, j. 08.06.2004, do qual se extrai a seguinte passagem:

“A Lei Municipal n. 4.913/95, que exige o


certificado de uso, é auto-executável e ao dispor sobre o controle e fiscalização das
atividades que geram poluição sonora, determinou ao Poder Público o dever de
cientificar os estabelecimentos que estivessem em perfeito funcionamento, dando o
prazo de 180 dias para a devida adequação (...) Se o estabelecimento funciona de
modo irregular, em conflito com a legislação sobre poluição sonora, é
coerente a determinação de encerramento da atividade ou
fechamento administrativo" (grifei).

Com esses fundamentos, afastada a alegação


de ocorrência de decadência e forte na ausência de necessidade de
regulamentação da Lei Municipal n. 4.913/95, DENEGO a segurança
pleiteada....”.

Requer-se, portanto, seja o presente recurso


recebido com efeito suspensivo, a fim de suspender os efeitos da decisão liminar
concedida, na medida em que o uso indiscriminado do som que provém da
referida danceteria fere o direito ao sossego e invade a esfera individual de cada
munícipe vizinho ao estabelecimento, e ainda a segurança de toda a
coletividade, em razão de não estar o referido estabelecimento credenciado para
a exploração do referido ramo de atividade, que obviamente exige o
atendimento a posturas mais rigorosas da administração.

Requer, ainda, em preliminar, seja declarado


extinto o feito sem julgamento de mérito nos termos do artigo 267, V, c.c. artigo
301 do CPC (litispendência); ou, subsidiariamente, no mérito, seja o recurso

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provido para determinar a cassação da liminar concedida, pelos motivos já


apontados.

Justiça

Sorocaba, 18 de Abril de 2006.

Ruy Elias Medeiros Junior


Procurador Municipal
OAB nº 115403

RELAÇÃO DE DOCUMENTOS

1. Instrumento de mandato

2. Processo administrativo nº 20.924/2004 – cópia inteiro teor

3. Lei Municipal nº 5.609, de 19 de março de 1998.

4. Lei Municipal nº 4.913, de 04 de setembro de 1995.

5. Lei Municipal nº 6.802, de 08 de abril de 2003.

6. Lei Municipal nº 3.444, de 3 de dezembro de 1990.

7. Lei Municipal nº 4.989, de 13 de novembro de 1995.

8. Lei Municipal nº 5.793, de 26 de outubro de 1998.

9. Sentença do Juízo da 3ª. Vara Cível da Comarca de Sorocaba nos


autos do Processo 986/2004 – MANDADO DE SEGURANÇA – movido
por Giancarlo Parini – ME contra Secretário de Finanças da Prefeitura
Municipal de Sorocaba/SP.

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