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ULM & Santa Marcelina

A Universidade Livre de Música (ULM) foi criada em 1989. Em 1990 foram iniciadas
suas atividades pedagógicas, coordenadas pelo Centro de Estudos Musicais Tom Jobim.
O intuito de sua criação era "abordar, estimular e privilegiar o ensino da música popular
brasileira" (Bellodi, 2008).

Sua primeira sede foi na Rua Três Rios 363, no bairro do Bom Retiro, logo depois se
transferindo para o prédio anexo, na Rua Lubavicth, 64.

Até o ano passado, a escola se distribuía em três localidades distintas: Largo General
Osório, 147, no bairro da Luz, Avenida Padre Antonio José dos Santos, 1019, e também
em São José dos Campos.

Em 1990, o Maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim recebeu o cargo


honorífico de reitor da ULM. Músicos como Arrigo Barnabé, Aílton Escobar, Akiko
Oyafuso, Hélio Ziskind e Amílton Godoy foram os responsáveis pela elaboração da
proposta pedagógica dos períodos iniciais.

Nos últimos anos, a proposta pedagógica passou a ser profissionalizante, com a meta
de preparar o aluno para o mercado de trabalho na área da música. A média era de 2.500
alunos que completavam sua formação gratuita anualmente nesta escola.

O nome ULM perdurou até o fim da gestão da antiga Organização Social, que também
se chamava Tom Jobim (Manual do Aluno, 2008). As Organizações Sociais (OS´s) são
responsáveis pela gestão das áreas da Cultura e da Saúde. Por isso, uma OS administra a
ULM:

A OS é um modelo de parceria entre Estado e sociedade; de organização pública não-estatal, é constituído por pessoas jurídicas de
direito privado sem fins lucrativos/econômicos (ex.: fundações ou associações) qualificadas pelo Poder Público

(Araújo, F. F, 2006, p.3)

Em meados de 2008, a Secretaria de Estado da Cultura fez o contrato com uma nova
OS: a Santa Marcelina.

A principal justificativa da mudança de OS era a irregularidade da contratação dos


professores. Dentro do modelo das OS´s "os recursos humanos são contratados pelo
regime jurídico da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)" (Ibdem, p.6). Ou seja, a
ULM poderia ser considerada um "cabide de empregos" enquanto não adotasse esta
forma de contratação. Mas isto não é toda a verdade.
Ela se tornou uma das escolas de música de maior prestígio no Brasil, graças à sua
estrutura física e, principalmente, à história da instituição e a qualificação do corpo
docente. Este alto nível contribuiu para formar alunos que se destacaram no mercado
musical, atuando em todas as áreas, desde orquestras até conjuntos de música popular.

É certo que algumas falhas também puderam ser observadas. Tanto na orientação
pedagógica, quanto na parte material, e na forma de contratação dos professores. Estes,
sempre receberam pouco em vista do retorno que proporcionaram à sociedade.

Por fim, apesar de os alunos serem poucos (2.500) perto do número de candidatos
inscritos anualmente (já chegou a somar 20.000), eram encontradas dificuldades para
horários e locais de estudos, matérias adequadas, etc.

No fundo, todos os alunos e funcionários tinham esperanças de que estes problemas


fossem solucionados. Tratava-se mais de melhorar algo que já estava bom. Aqueles
que apenas se aproveitavam do Estado deveriam sair e os problemas pedagógicos e
materiais solucionados.

Todos estes problemas se tornaram muito pequenos a partir de outubro de 2008, quando
a nova OS Santa Marcelina divulgou aos alunos e professores que ela seria a
responsavel pela gestão a partir de 2009.

Já em novembro de 2008 os alunos estavam angustiados pela razão da possibilidade


de perderem seus professores. Enquanto estes também pouco sabiam ou informavam
sobre as mudanças que ocorreriam.

Todo este mistério teve um desfecho indesejado. Professores fundamentais, por serem
coordenadores ou ativos quanto às propostas pedagógicas, foram eliminados. Mas esta
eliminação não obedeceu a uma avaliação criteriosa e transparente.

As listas de convocados para as fases do processo seletivo de profissionais de música


foram alteradas seis vezes. Nomes que poderiam se reprovados pela banca examinadora
foram aprovados, e nomes que pelo mérito poderiam ser aprovados, foram deixados de
fora.
Ao final, o número de professores que conseguiram atribuir aulas, ao invés de aumentar,
diminuiu em relação ao ano anterior.

Quanto à manutenção dos prédios, algumas reformas já foram feitas. Até o fim
deste ano a Santa Marcelina receberá da Secretaria de Estado da Cultura uma
verba de R$ 20.000.0000,00 (vinte milhões de reais), além de outras possíveis
rendas obtidas através das leis de incentivo fiscal. Tudo indica que parte deste
investimento apenas conseguiu melhorar a fachada da escola.

Não houve processo seletivo para alunos dos cursos de formação, apenas para
iniciação musical. Somente crianças ingressaram na escola, enquanto nos anos
anteriores havia uma grande contingente de candidatos. A alegação da direção foi a
de que devido ao processo seletivo dos profissionais de música e a quantidade de
tarefas acumuladas pela mudança, esta seleção não foi possível.

Os alunos teriam muitos motivos para ficar tristes por isso, mas como se não bastasse,
dois outros acontecimentos aprofundaram ainda mais a crise: a mudança radical da
proposta pedagógica e a imposição dos "ciclos", correspondentes às idades ideais dos
estudantes.

Sabe-se que os alunos da ULM tinham um perfil bastante diversificado até então. Tanto
com relação às idades, quanto com relação ao aspecto sócio-cultural. Esta diversidade
de perfis corresponde aos princípios que nortearam a fundação da escola, e que vinham
sendo mantidos durante quase duas décadas.

Com a nova proposta pedagógica, esta heterogeneidade tende a acabar. São propostos
limites de idade para cada ciclo de formação, o quê é uma forma sutil de exclusão
da maior parte do atual contingente de alunos. Mesmo porque a escola, segundo o
edital publicado no Diário Oficial de 10/12/08, tem como "Meta" para 2009, o
antendimento de 1250 alunos para os cursos de formação da escola. Ou seja, metade da
média de estudantes dos anos anteriores.

O excedente dos alunos deverá ser transferido para as clínicas, mais conhecidas como
workshops, que não têm o caráter de cursos de formação.
Além deste artifício, o estudante que se encontra fora das idades ideais, já está
encaminhado para os últimos anos dos ciclos, e as matérias que deverá cursar durante o
ano são alternativas em relação ao currículo oficial. O nome dado para estas turmas de
alunos é "transição". Tudo isto indica que ao final deste ano letivo, as pessoas da
transição não permanecerão na escola.

Para finalizar, os cursos de formação que eram oferecidos no período noturno,


geralmente cursados por alunos que trabalham ou estão fora da idade escolar, foram
encerrados.

Uma atitude simbólica desta mudança radical foi a alteração do nome de ULM pra
EMESP - Escola de Música do Estado de São Paulo. O nome foi mudado
repentinamente, sem que ninguém da nova direção tivesse comunicado aos alunos,
professores e, finalmente, à população.

Não apenas o nome foi mudado, como também não mais consta no endereço eletrônico
da escola a História da ULM. Não se menciona mais São José dos Campos como uma
das unidades.Tanto no Manual 2009 quanto no sítio eletrônico, está registrado apenas o
nome da nova administração, ao invés dos nomes responsáveis pela construção da
escola ao longo dos anos.

Nestes documentos, não há menção alguma às épocas passadas. Toda a história da


ULM, da inauguração até o ano passado, está se dirigindo para o esquecimento. Até os
próprios coordenadores e diretores atuais parecem desconhecer totalmente o trabalho
realizado anteriormente.

A nova direção aponta para a padronização do que antes era uma escola livre. Isto
significa que os currículos serão fixos, como um conservatório tradicional. Uma das
coordenadoras pedagógicas, durante a apresentação do novo curso, disse até que a
escola passaria a ser um preparatório para o vestibular.

Isto demonstra com muita clareza como a nova funcionária desconhece o perfil dos
alunos da ULM. Muitos deles já concluíram o curso de graduação em Música ou ainda
estão cursando. Mesmo assim, se aprimoram na escola. Outros não tem intenção
nenhuma de fazer faculdade, visto que se prepararam pra ser músicos práticos.
Além disto, é possível dizer até que o corpo docente da ULM foi superior ao corpo
docente de qualquer faculdade do Brasil. Mas a intenção que está por trás do novo
currículo não é tanto a preocupação com o vestibular, quanto a de colaborar com as
orquestras financiadas pelo Governo do Estado.

No Manual 2009, está escrito: "para o Curso de Formação a escola dispõe de duas
modalidades de ingresso: o ingresso mediante exame aberto e ingresso para integrar os
grupos instrumentais jovens da Tom Jobim" (p.7).

Podemos entender, de todos estes fatos, que o Governo do Estado tem o propósito de
varrer a memória da instituição que recebe o nome Tom Jobim. Também quer fazer a
propaganda de seus grupos e orquestras. Por isso a ULM , ou melhor, EMESP, ao invés
de atender ao interesse da população e à toda diversidade de seus alunos, quer
padronizar o ensino e utilizar a escola como um laboratório para os grupos e orquestras.

Esta lógica garante o lucro e a propaganda do atual governo, ao mesmo tempo em que
desampara milhares de jovens músicos e profissionais.

Por tudo isso, fez-se necessário um movimento de união entre os estudantes e


professores.

Os alunos vêm realizando debates e reuniões a fim de que seus direitos sejam
defendidos. Além disso, eles estão comparecendo às audiências públicas e divulgando
para a sociedade o quê o governo e a nova OS estão fazendo com o dinheiro que os
cidadãos pagam seus impostos.

Documentos e Referências:
BELLODI, Julio N. I. Criatividade e Educação Musical. Dissertação de Mestrado,
UNESP. Disponível em <http//WWW.ia.unesp.br> 2008. pp. 26 – 43.

ARAUJO, F.F. Novos Arranjos Organizacionais para prestação de


serviços públicos. Disponível em
<http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/artigos/NOVOS_ARRANJOS_OR
GANIZACIONAIS_PARA_PRESTAcaO_DE_SERVIcOS_PuBLICOS.pdf>

2006

Diário Oficial do Estado de São Paulo, 12/10/2008

Manual do aluno da ULM, 2008

Manual do aluno da EMESP, 2009

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