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DO LIVRO INFANTIL
2 de Abril
2009
A
ÁRVORE
DE
ANDERSEN
EM
SETÚBAL
R. V.
Está a chegar mais um 2 de Abril. Se a muitas outras pessoas não admito o direito de
o ignorar, muito menos a mim. Dia de Andersen. Dia Internacional do Livro Infantil. A Árvore
de Andersen em Setúbal. O seu actualíssimo simbolismo. Não posso ficar indiferente. É o
mínimo. O resto é fazer o melhor que ainda puder pela memória setubalense de Andersen e
pela divulgação dos melhores livros para as nossas crianças.
Antes de começar a escrever estas linhas fui mais uma vez até à Avenida Luísa Todi,
em amena tarde de domingo. Em obras ainda o coreto, um monumento. Património. Ao lado,
o abeto que homenageia Hans Christian Andersen,.igualmente ou ainda mais, um
monumento. Património. Entre o abeto e a rua, um pequeno edifício, com muito bom design.
Um novo monumento? E porque não? Só porque a finalidade não é ser utilizado por bandas
de música, razão de haver coreto, por pouco utilizado que seja actualmente? É que acho
muito bem o design do pequeno edifício. Parabéns ao projectista. O que não consigo
compreender é como foi possível fazer do abeto dedicado a Andersen como que um anexo
do que parece que será um quiosque-bar. Alguém pode acreditar que um projectista que
revela tão bom gosto, implantaria ali e assim o pequeno edifício se tivesse olhado para
aquele abeto com olhos de ver e se inteirasse do seu simbolismo? Por mim, não consigo
acreditar.
Quando me vieram dizer que estava ali implantado aquele pequeno edifício, não quis
acreditar. Devia ser algo de provisório relacionado com o andamento das obras. Tive que ir
ver. Senti revolta. Maior, porém, foi o sentimento de vergonha. A revolta pode dar grito.
Quem sente vergonha, por regra esconde-se ou pelo menos fica calado. Fiquei. Até que fui
interpelado e como se fosse sobretudo a mim que competia gritar o “não pode ser”. O meu
maior receio era que o abeto chegasse a desaparecer, ele que já passou por vários
acidentes Deixaram marcas que não sei se e como podem ser reparadas. Felizmente lá está
à espera do nosso respeito.
Julgo que sou a pessoa menos indicada para abrir a boca. Até parece que… Um
pouco de bom senso dá para compreender. O abeto foi oferecido pelas Autoridades
Dinamarquesas a Setúbal e sua Câmara Municipal, não a mim, por mais que tudo tenha
partido duma iniciativa minha e não seja preciso esconder que não foi fácil levá-la por diante
para que tudo acabasse por acontecer em 28 de Outubro de 1998, com o respeito, brilho e
significado que se recorda. Se estou quebrando o silêncio é para evitar confusões. A
vergonha é do que vejo, não do que penso.
Insisto em que só vejo a ignorância como desculpa para o que a mim me parece
(bem sei que também a outras pessoas) uma manifesta falta de respeito pela memória
setubalense de Andersen. Não posso considerar como desprezo ou acinte (é perguntar: a
quem?) a implantação daquele pequeno edifício no local em que está. A ignorância terá de
ser a justificação, como o é para muito do que tem acontecido. Tanto poder que a ignorância
tem e tem tido! No dia em que se comemoraram no Salão Nobre os 150 anos do nascimento
de João Vaz ouvi o Professor Doutor Fernando António Baptista Pereira comparar o que
aconteceu em Setúbal com o Teatro D. Amélia com o que acontece em Évora com o teatro
da mesma época. Ainda hoje lá está, é património da cidade e continua a ser utilizado. Podia
ter-se construído o Cine-Teatro Luiza Todi noutro espaço, comentou com a sua autoridade
Baptista Pereira.
Se a ignorância tem tanto poder, por que não dedicar-lhe um monumento? Ao poder
da ignorância! Faz ou não sentido perguntar se se justifica que o pequeno edifício da
Avenida Luísa Todi, implantado ali à sombra de A Árvore de Andersen em Setúbal, seja
considerado um bonito monumento à ignorância? Posso perguntar publicamente, sem me
admitir entrar em guerras inúteis e sem querer ofender ninguém?
Manuel Medeiros
Setúbal . 22 de Março . 2009