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Lincoln de Assis Moura

2ª. Edição
2009
Anexo: Poesias de Naïr Pimentel
Chora pobre coração....
Compilação feita por:
Maria Sílvia de Assis Moura em 1989.
Lincoln de Assis Moura

Chora pobre coração....

2ª. Edição

2009
à Nair, como tudo o mais.
Primeiro prefácio à primeira edição

A história da humanidade não é muito justa


com os alfaiates. Há milhares de estórias sobre
generais, marinheiros, escritores, cientistas,
ladrões, etc... e o único alfaiate famoso é o “João
Mata-Sete” , que não ficou famoso por ser alfaiate
senão pela pequenez da sua profissão em relação
ao gigante.
Dizem que no interior de São Paulo existe
um clube com o nome de Associação dos Alfaiates
que de alfaiate só guarda o nome.
Com tudo isso, não é de se estranhar que
ninguém queira ser um alfaiate. Quando o pai
pergunta ao filho: “O que você vai ser quando
crescer?” é mais fácil ouvir, e com menos espanto,
“salsicha” que “alfaiate”.
Isto tudo é uma grande pena. O homem
que queria ser alfaiate foi juiz de direito e nunca
cortou uma fazenda ou pregou um botão. No
entanto foi homem de muitos amigos e deixou uma
vasta herança de emoções e boas lembranças. Ao
longo da vida, cerziu enfeites de “Epídamos
Pamplonas” em numerosos corações, bordou
“Gervásios” em tantos outros. Enfim, há retalhos de
emoções por ele cuidadosamente costurados nas
almas de toda a sua descendência, cobrindo com
remendos muito bem alinhavados toda sorte de
percalços que nos tece a vida.

Antonio Álvaro de Assis Moura


Segundo prefácio à primeira edição

Lincoln de Assis Moura nasceu em


Ituverava, quinto filho de Virgínia de Assis Moura
(Sinhá) e Mário de Assis Moura. Ainda bebê, muda-
se com a família para Ribeirão Preto, cidade maior,
distante 90 km. Realizou seus estudos de primário
e ginásio no colégio "Otoniel Mota". Estudou piano
e era enxadrista.
Em janeiro de 1926, veio para São Paulo
para fazer o curso de Direito na Faculdade São
Francisco, onde se formou aos 21 anos.
Desde sua chegada a São Paulo
frequentava a casa do Sr. David Pimentel, amigo de
longa data de seu pai, onde aconteciam saraus e
brincadeiras, lá conheceu as filhas de Adélia e
David, entre elas Nair, e logo enamorou-se dela.
Nair, hoje chamada carinhosamente „Ná‟,
em um primeiro momento, não entendeu os
sentimentos dele e não aceitou a corte que lhe era
proposta, chegando até a zombar do pretendente,
pois era ainda uma criança. Algum tempo depois, e
alguma poesia mais tarde, ela soube aceitar o amor
que lhe era oferecido. Casaram-se em 9 de
dezembro de 1931. Em 1932, Lincoln foi nomeado
promotor em Pederneiras, SP. Durante a revolução
de 1932, ele trabalhou como patrulheiro noturno.
Sempre nos perguntamos como duas
famílias tão amigas, com muitos filhos com as
mesmas idades, eles não tiveram a oportunidade
de se encontrar antes.
Ná conta que ouviu de sua mãe, à época
do seu nascimento, quando da visita de Dona Sinhá
a seguinte frase: "Comadre, a senhora bem que
podia dar essa menina para casar com o meu
menino?" Lincoln nascera dez meses antes.
Outra coincidência: quando Nair tinha cinco
anos, Dr. Mário foi visitar o amigo Sr. David e levou
cinco bonecas para as filhas de Adélia e David. A
boneca da Nair tinha vestido vermelho e recebeu o
nome de Geni.
Lincoln contava que, em 1924 foi a
Igarapava visitar a avó, Dona Maria Marocas, e
numa tarde ouviu música vindo do piano do cinema,
enquanto jogava bilhar. Foi espiar e lá estava Nair,
que não reparou que era observada.
A eles agradecemos o que somos hoje, e
essa bela poesia que também nos foi deixada.

Maria Sílvia de Assis Moura


Prefácio a segunda edição

Não tenho recordação de que meu avô ou


minha avó tenham plantado alguma árvore, até
duvido disso. No entanto a imortalidade, desejo
comum da humanidade, foi atingida por eles nos
filhos, netos e bisnetos, e também neste livro.
Agora que comemoramos o centenário de
Ná e Doc, pareceu-nos muito pertinente incluir
nesta segunda edição as poesias da Ná. No início
julgamos que seriam suficientes para um outro livro,
a ser incluído no mesmo volume, porém não
conseguimos a quantidade imaginada. Portanto, as
poesias da Ná seguem como um anexo com o
nome de “Sorri, amor sorri!”, título de uma das
quadras do Doc, que remete ao título do livro,
porém em oposição.
As poesias da Ná são mais alegres, o
humor está presente nas paródias. Porém, mais do
que tudo, a combinação de chorar e sorrir, nos
lembra das máscaras do teatro, que, sem nenhuma
dúvida, nos faz lembrar os dois e as festas, que
ainda continuamos a fazer.

Antonio Álvaro de Assis Moura


Foto do autor em abril de 1930.
Fac-símile de um original corrigido
pelo próprio punho do autor:
QUADRAS

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Chora pobre coração,
Sempre, sempre te ouvirei!
É grande a dor da paixão...
Chora triste coração,
Que deste amor morrerei!

março/1927

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Ninguém no mundo é obrigado
A ter de mim compaixão;
Mas a ninguém é outorgado
Enganar meu coração.

abril/1927

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A vida é uma gargalhada,
É alegria, riso e dor.
É uma lágrima rolada
De um coração sofredor.

março/1927

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POEMAS

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Desprezo

Por ti sempre apaixonado


Estive; não me acreditas...
Meu coração tens magoado
Com teus caprichos e fitas.

Não venhas dizer, portanto,


Que tu me amas; não creio.
Pois eu que te amava tanto
agora muito te odeio.

Vai-te! Não quero mais ver-te.


Nem tua voz escutar!
Foi grande mal conhecer-te!
Bem maior o de te amar.

julho/1927

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Inveja

Que o tempo tem seu momento


de inveja, eu percebi.
Corre mais que o pensamento,
quanto estou junto de ti.

Depois, quando separados


estamos, que coisa triste.
Relógios ficam parados
e em parar o tempo insiste.

abril/1927

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ACRÓSTICO

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Acróstico

Não deviam ser geladas


As tuas mãos tão delicadas,
Irascível com razão
Reclama um velho rifão

Porque “mão frias” oh flor,


Implicam na alma um amor

Mas colocando entre as minhas


Estas tão lindas mãozinhas,
Nunca mais ouvirás queixas.
Tu, frias as minhas deixas,

Enquanto as minhas ardentes,


Logo as tuas deixam quentes.

1931

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CANÇÃO

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Canção da minha alma
I

Que aconteceu à minha alma


Que ela está tão triste assim?
Ora, tem força, tem calma,
Sê pois valente, minha alma
Tu não tens pena de mim?

II

Minha alma, que foi que viste?


Oh que tristeza sem fim!
Será que a vida é tão triste,
Será que minha alma insiste
Em não ter pena de mim?

Coração por que padeces,


Por que nunca bem te quis?
Rogarei a Deus mil preces,
Para a mágoa que padeces
Deixar-te um dia feliz!

Onde está aquela alegria


Que estava sempre a teu lado?
Menos infeliz seria,
Se Cupido aquele dia,
Não tivesse te apanhado.

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SONETOS

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Conselho às moças bonitas

Ouve bem, é preciso que eu te diga.


Esta história passou-se há muitos anos.
Aquela que ali vês, beleza antiga
Brincou de amor com gregos e troianos.

Seu nome trouxe atado a muita intriga,


Na louca execução de tolos planos.
Como tu, divertiu-se, minha amiga
E n‟alma recolheu só desenganos.

Não faças pois, da vida uma quimera,


Buscando, em vão, eterna primavera,
Nem desprezes o amor desta maneira!

Cuidado! O tempo é tão maldoso e rude,


Que não há de poupar-te a juventude,
Nem deixar-te formosa a vida inteira.

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Vitória

Venceste com o mal que me quiseste.


Com o bem que eu te quis eu fui vencido.
Mas a tua vitória se reveste
De um brilho passageiro e colorido.

O pesar do desdém que tu me deste


Venceu o amor em pobre alma nascido.
Com o desprezo muito mais pudeste
Do que as lanças agudas do Cupido.

Venceste! Seja eterna esta vitória,


E de prazeres cheia a tua glória,
Como falso foi teu amor já morto!

Que eu te não seja triste um só momento!


Não tenhas por remorso o meu tormento
Que eu não quero um remorso por conforto.

agosto/1927

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Sorri!

Sorri amor sorri! Não sejas triste!


Esquece para sempre teus pesares!
Transforma em riso a dor que em ti persiste!
Destrói com teu sorriso teus penares!

Sorri! Oculta a lágrima que insiste


Em ver umedecidos teus olhares!
Disfarça a mágoa que em teu peito existe!
Afoga em teu sorriso teus cantares!

Sorri, que o teu sorriso é tua vida,


E que somente assim, despercebida,
Não notarás o quanto estás penando!

Sorri sempre, pois que, teu riso findo,


Quem tanto chora por te ver sorrindo,
Talvez sorria se te vir chorando!

agosto/1927

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Servilismo

Toda a gente seu mal tem


Que só a morte põe fim.
O meu - é te querer bem.
O teu - é rires de mim.

Mas, se o teu riso provém


De eu te querer tanto assim...
Que eu te diga, então convém,
Que hás de rir sempre de mim.

Em te amar em vão insisto,


De te querer não desisto,
Sabendo que não me queres;

Porque eu te amando - te ris,


E rindo, serás feliz,
Mais que todas as mulheres!

março/1927

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Incerteza

Que me desprezas, sei perfeitamente!..


Que eu te adoro, não devo mais dizer!..
Mil vezes já t‟o disse!.. Certamente,
O que te digo finges não entender.

Se me encontras, procuras não me ver..


Se te falo, respondes friamente...
Por mais leal que seja o meu querer,
Mostraste a ele sempre indiferente.

Sofrendo por te amar, humilde vivo...


De ti mesmo orgulhosa, em gesto altivo,
Desprezas este afeto com tal calma,

Que eu não sei de incerteza quem mais tenha:


Se é um imenso amor que se desenha,
Ou se é um desprezo que se acolhe na alma.

maio/1927

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Soneto

Quando na vida um dia me surgiste,


Não te moveu o coração ardente,
A clamar pelo teu inutilmente,
A suspirar por ti, sozinho e triste!

Com franqueza afinal a mim abriste


Tua alma de mulher indiferente.
Embora o amor buscasses, insistente,
Foi sempre em vão, jamais o conseguiste.

E eu te contei, então, todo o mistério


Do meu amor infrene e desvairado.
E tu me creste e me levaste a sério!

Hoje és só minha e a ti sempre terei.


E hás de muito querer-me anjo adorado,
Se aprendeste tal qual eu te ensinei.

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Contraste

Contemplo da janela ao meu quintal.


Um lindo beija-flor, devagarinho,
Retira, satisfeito e leva ao ninho,
O perfume que envolve o roseiral.

Percebendo que não lhe quero mal,


Acerca-se de mim bem de mansinho.
Onde? Dize se viu meiguice igual,
Que nos recorde a desse passarinho!

Cerro os olhos e vejo-te ao meu lado,


Gozando o meu suplício imerecido
E a sorrir, por me ver desconsolado.

Debalde eu te suplico, em vão te chamo.


Dize, agora, tu, se tem sentido,
Tanta perfídia na mulher que eu amo.

43
Rancor

Fazer as pazes tu queres


Não porque me queiras bem;
Tu és mulher e as mulheres
Não tem amor a ninguém.

As mentiras que proferes,


Para mim valor não tem
Não crendo mais em mulheres,
Em ti não creio também.

Beija-flor sem coração,


Vai procurar outra flor,
Nas rosas de outro jardim.

Pois não terás meu perdão,


Não te darei meu amor,
Não te rirás mais de mim!
setembro/1927

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Ingenuidade

Por motivos talvez de autoridade.


Os homens que se julgam de talento,
Em matéria de amor e casamento.
Revelam quase sempre ingenuidade.

Zelando por um bom divertimento


As mulheres os querem, na verdade.
Mas, por um simples gesto de vaidade
E não por um sincero sentimento.

E os incautos, sorrindo, lá se vão.


Veda seus olhos um amor fagueiro;
E o ardor dessa imensa, atroz, paixão.

Não deixa a nenhum deles suspeitar


Que a mulher faz dos homens um cinzeiro
Do seu capricho, luxo e bem-estar.

outubro/1927

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Advertência (ou Despeito)

Não creias que este amor tão decantado


No pranto aflito dos meus tristes ais,
Possa evocar as dores de um passado
Que a descrença não deixa viver mais!

Não faças deste amor imaculado


Um mártir de caprichos tão banais.
Não te ufanes assim, tem mais cuidado
Que as mágoas do amor-próprio são fatais.

Não se julgue de todo vitoriosa


Tua alma de mulher tão orgulhosa,
Na eterna presunção de ser amada,

Pois se logrei, te amando, um só lamento,


É que este amor, tão nobre sentimento,
Nunca esteve ao alcance do teu nada.

julho/1927

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Soneto

Oh! Tu, que vives tão desconsolado,


Dissolvendo a existência na amargura
Dá-me as mãos, vem comigo, descuidado,
De um lenitivo andemos à procura.

Olha, em torno, a cidade do passado,


Em cujo reino impera a desventura.
Ouve da brisa o choro alucinado,
E do cipreste as queixas que murmura.

Contempla aqueles olhos rasos d‟água


Que não procuram disfarçar a mágoa
Nem ocultar a lágrima sentida.

Se julgas dor e pranto, impor-te a sorte


Nestes recantos íntimos da morte
Melhor tu podes compreender a vida.

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Soneto

Faze do riso o teu melhor amigo!


Ri de mim, se quiseres. Desse pranto
Que tristes olhos umedece tanto!
Ri da esperança que me deu abrigo!

Ri do afeto que há de muito eu te mendigo!


Ri da grandeza deste amor tão santo!
Que, da amargura envolto em negro manto,
Chorando, um dia sorrirei contigo!

Ri das ilusões, mal de que padeço!


Da dor de um coração! Do grande crime
De adorar-te! Do amor que eu não mereço!

Ri sempre, que o sarcasmo da risada


Mil vezes menos, um amor oprime,
Que o falso pranto da mulher amada!

48
Hesitação

Penso em dizer que te quero


Mas tenho tanto receio!
Não t‟o disse. Que é que espero?
Um sorriso? Um galanteio?

E, indeciso, desespero.
A mim mesmo fico alheio.
Devo dizer que te quero?
Que por teu SIM eu anseio?

Deves saber meu segredo?


Devo guardá-lo comigo?
Meu Deus! Que horror! Tenho medo!

Não, meu amor, não t‟o digo,


Pois levas sempre em brinquedo
Tudo o que falo contigo.

dezembro/1926

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Sorri amor sorri!


Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Compilação feita por ocasião da festa


do centenário de Naïr e Doc.

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Naïr Pimentel de Assis Moura

Sorri amor sorri!

Anexo para 2ª. Edição

2009

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Dois Centenários
Nair Pimentel e Lincoln de Assis Moura,
nascidos no mesmo ano, conheceram-se já na
primeira infância, pois seus pais mantinham
amizade antiga.
Ao se casarem, portanto, aos vinte e dois
anos de idade, apenas vieram a concretizar, de
modo definitivo, um relacionamento de longa data
existente que se tornou duradouro, ainda, por mais
de cinqüenta anos.
Possuíam muita coisa em comum: eram
ambos músicos, compositores, ela mais voltada
para temas eruditos e sacros, ele inclinado para
composições populares; eram, igualmente,
escritores de prosa e verso e as respectivas
atividades desenvolvidas nessa área sugeriam, até,
a existência de uma salutar e alegre competição.
Ao longo de vinte anos o casal recebeu a
chegada de oito filhos, que vieram nem sempre de
um em um, os quais foram criados com
irrepreensível desvelo e cuidadoso carinho, e,
principalmente, com muita preocupação, fosse
quanto à saúde e educação, não apenas a
costumeira e corriqueira, mas, a qualificada, ou
seja, a de cultura superior, e, mais ainda, a
religiosa.
É interessante ressaltar, nesse passo, que
a prole, seguramente, aprendia mais em casa do
que na escola, no que diz com as matérias
curriculares, pois os pais tinham conhecimento
sólido quanto a elas: ele dominava as áreas de
matemática, álgebra, trigonometria e geografia, ela,

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Naïr Pimentel de Assis Moura

por outro lado, dominava o setor das línguas, como


latim, português e francês, isto sem falarmos em
história, geral e do Brasil, antiga e moderna, que
ambos conheciam igualmente e muito bem.
O casal jamais se preocupou com a
ambição material, embora, por várias décadas,
houvesse passado dificuldades próprias de família
numerosa, que se obrigam ao sustento com renda
limitada. Sem embargo, é certo que, com esforço e
comedimento, soube superar a alongada fase de
criação dos filhos, aos quais não deixou faltar o
necessário às respectivas formações, e chegou aos
últimos anos de união com a tranqüila convivência
junto aos filhos, netos e bisneto.
Herança material, Nair e Lincoln nada
deixaram: os valores culturais, morais e religiosos,
porém, foram transmitidos em abundância, como se
percebe, facilmente, pela alegria que transparece
em cada um dos semblantes de todos os seus
descendentes, a cada oportunidade em que se
reúnem para homenageá-los.

Antonio de Pádua de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Foto da autora por ocasião de sua


formatura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

SONETOS

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Minha vida

A minha vida é um jardim em flor


Os sonhos mil que a juventude tece
São como a rosa cujo intenso odor
Enleva a alma e as dores adormece

Embevecida neste resplendor


Vivo a sonhar como se não soubesse
Que a perfumada e colorida flor
Em breve tempo murcha e desfalece

Busco esquecer esta realidade


E percorrendo a senda da verdade
Às suas vozes eu darei guarida

Ao despontar a rósea flor da idade


Irei viver a nova mocidade
Pois é aos quarenta que começa a vida

Feito em homenagem a Maria Laura por ocasião do


aniversário de quarenta anos da neta.

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Meus oitenta anos

Palmilhando as estradas do destino


Colhi rosas, lutei contra os espinhos
Caminhei sob sol ardente, a pino,
Tropeçando nas pedras do caminho.

Mergulhei em riacho cristalino,


Conheci bem de perto a paz dos ninhos,
Assisti, em crepúsculo opalino,
Ao revôo de tardos passarinhos.

Vislumbrando os portais da eternidade,


Não deploro os momentos de amargura
Nem me perco em suspiros de saudade.

Conquistei os tesouros da amizade


Que me rendem carinhos e ternura
E traduzem, enfim, felicidade!

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Meus noventa anos

Peregrina de tão longa jornada,


Vou cumprindo, serena, pela vida,
A tarefa que a mim foi confiada,
Pela Graça e o Amor fortalecida.

Sob o peso dos anos já curvada,


Não me sinto, porém, esmorecida!
À vontade de Deus, resignada,
Não recordo a estrada percorrida.

Se a tristeza è a sombra da alegria,


A bonança sucede a tempestade.
Se vivemos momentos de saudade,

Também temos as horas de euforia.


E brindamos, felizes, neste dia.
Ao amor, à união e à amizade!

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Rúbida Corona

Este amor que nasceu tão de repente


Mas que o tempo não pôde destruir
É uma força imortal e onipotente
Que há de sempre vibrar a vos unir.

Este amor tão real e tão presente


Que até mesmo na dor vos faz sorrir
É uma chama vivaz, ativa, ardente
Que ilumina, a brilhar, vosso porvir.

Sentimento suave e embriagador,


Começou como a vida de uma flor
Pequenina de pétalas sutis.

Entretanto cresceu, dominador,


E hoje forte, sincero, encantador,
Transformou-se em coroa de rubis.

Feito para a comemoração das bodas de rubi do casal Célia e


Antonio de Pádua.

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

ENIGMAS

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Enigma de um verso

Nasci num campo de linhagem nobre


cercado de carinhos e zelos.
Cresci feliz em meio a gente pobre
a quem servia sempre com desvelos.

Adulto, de aparência refinada,


eu brilho nos salões da alta roda
sem contudo deixar abandonada
essa plebe que vive na cidade

Mas logo percebi o meu engano.


Não sou um bom amigo ou conselheiro.
Sou um degradado, vil e insano!
Não sirvo pra ninguém de companheiro.

Um monstro sou, satânico maldoso,


duro, tirano, um ídolo de barro.
Aos que me amam, eu me torno odioso.
Já sabem quem sou?
Sou um ...

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Enigma em verso

Meu pai, um homem reto e piedoso,


Cometeu um pecado na velhice
E eu nasci.
Na minha meninice,
Mostrei ser irascível e genioso.
Tentaram moderar o meu humor
Em vão!
Tornei-me santo e pecador.
Aos que de mim abusam
Trato mal.
Mas não sou mesquinho.
Se me tratam com carinho,
Posso até ser cordial.
Sabem que eu sou?
Eu sou o .......

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Naïr Pimentel de Assis Moura

PARÓDIAS

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Naïr Pimentel de Assis Moura

E agora, seu Zé

E agora, seu Zé
Dinheiro acabou.
A firma faliu,
O Banco quebrou,
A loto furou,
O bicho não deu.
Cavalo mancou.
Esposa fugiu,
A sogra chegou.
Cachorro pirou,
O gato morreu.
Arara voou,
Carro – ladrão levou –
(Não tinha seguro!)
Luz, empresa cortou
(Está no escuro!).
Galinhas, gambá comeu.
Amigos não tem,
Parentes também,
Para se encostar,
Não pode chorar!
E agora, seu Zé
Compre uma figa de osso
E amarre no pescoço.

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Casa Brasileira

Numa casa brasileira sempre tem


Um gato embaixo da mesa
Quando à porta fortemente bate alguém
É cobrança com certeza.
Fica bem esta pobreza, fica bem,
Nesse povo já descrente, ai,
E a tristeza desta gente está
Nesta grande certeza de viver sempre indigente, ai,

Quatro paredes rachadas, um cheirinho de bolor,


Um cacho de uvas pintadas, muita pulga no calor,
Um getúlio de azulejos, mais um cacho de vespeiras,
Uma ordem de despejo, um credor à minha espera,
ai,
É uma casa brasileira, com certeza,
É com certeza uma casa brasileira, ah!
Na pobreza desolada do meu lar,
Há fartura de miséria,
A cortina da janela é o ar,
E a vidraça está de férias

Falta muito, muito, para melhorar,


Esta vida de favela, ah!
É só água e um pãozinho,
Mais um feijão mulatinho,
Carunchado na tigela.

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Moda do jogo

C'o marvado jogo é que atrapio,


Eu fico doente só de vê baraio,
Gosto de perdê, gosto de ganhá,
Só não gosto mesmo é de sapiá,
- As lombriga assanha e pode me matá
Eh lá

Gosto de roleta, gosto de cavalo,


Gosto de baraio e de briga de galo
Quando tô jogando é que tô em paz
Viajo na Mogiana porque joga mais
Eh lá

Marido me disse, ele me falô


Largue desse jogo, largue por favor,
Eu disse marido deixe de trelê,
Só largo do jogo quando falecê
E jogo inté as roupa se ocê me enchê
Eh lá

Quarqué dia desses meu juizo estora


Jogo meu marido prá janela fora
Aí vem a polícia e na mesma hora
Me leva prá cana e então dessa vez,
Vou jogar somente xadrez
Adeus prá meceis...

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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Naïr Pimentel de Assis Moura

Foto do casal no dia do casamento.

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Naïr Pimentel de Assis Moura

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