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Goiânia, 25 de outubro de 10 De: 08 a 14 de agosto de 2004

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  .:: Editorial
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
  .:: Conexão
Indo além do construtivismo
  .:: Ponto de Partida
  .:: Poderes É preciso defender o ensino especial e também a sua reforma radical, incluindo a
  .:: Bastidores fiscalização da sociedade, participação de pais e excepcionais em sua gestão
  .:: Reportagens
Nildo Viana - Especial para o Jornal Opção

  .:: Entrevistas O debate que vem sendo travado entre os professores e colegas
Ademir Luiz e Cristiano Alencar Arrais é de grande importância,
não somente pela relevância da temática como também por
  .:: Ideias proporcionar algo raro no Brasil, — um debate intelectual, — pois o
  .:: Economia medo de expor concepções publicamente, principalmente quando
  .:: Dissonância são polêmicas, é típico da intelectualidade brasileira, pouco
  .:: Licínio acostumada a debater publicamente e bastante apegada aos
  .:: Cartas
redutos acadêmicos isolados da sociedade. A minha contribuição
ao debate se limitará a discutir a questão da educação inclusiva e
  .:: Laila
não aos pormenores que os dois debatedores por vezes adentram, principalmente quando se
  .:: Imprensa trata de suas polêmicas mais voltadas para os textos já publicados.
  .:: A Semana
Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar o professor Ademir Luiz por abrir o debate e
corajosamente criticar a proposta de educação inclusiva. Embora a forma como ele o faz
  .:: Opção Cultural (algumas expressões e colocações) seja passível de crítica, isto não anula a idéia geral do
  .:: Rural Business seu texto. Como não tive acesso ao texto do professor Cristiano Alencar Arrais, suponho que
  .:: Informática talvez seja isto que tenha motivado sua resposta. Em segundo lugar, gostaria de colocar a
necessidade de aprofundar a questão das motivações que geram a proposta de educação
inclusiva.
  .:: Otávio Lage
(+) listar mais
Em um pequeno livro, intitulado Inclusão ou Exclusão, O Dilema da Educação Especial
(Edições Germinal, 2002), Maria Angélica Peixoto aponta as raízes desta política: o
  .:: Edições Anteriores neoliberalismo. A política neoliberal tem como uma de suas características a redução dos
  .:: Contato gastos públicos, o que atinge as políticas sociais. Ao lado disso, a situação mundial de
aumento do desemprego e miséria faz com que os conflitos sociais se tornem mais intensos.
  .:: Expediente
Assim, o Estado neoliberal tem de, simultaneamente, diminuir seus gastos e as políticas
sociais e conter os conflitos sociais derivados desta situação. A ação estatal neoliberal toma
duas providências para concretizar isto: aumenta a repressão (basta ver o crescimento da
população carcerária em todo o mundo e as políticas de “tolerância zero”) e busca
implementar políticas paliativas sem custos adicionais, tal como nos exemplos das políticas
de cotas e da “escola inclusiva”.

Em terceiro lugar, gostaria de lembrar que a chamada “deficiência mental” é uma coisa,
enquanto que a deficiência física é outra. A idéia da existência de uma “deficiência mental” é
questionável. Uma “deficiência física” é perceptível, pode ser vista. Assim, a surdez, os
problemas de ordem visual, de paralisia, entre outros, são problemas físicos. A “deficiência
mental”, ao contrário, não é visível, ou melhor, é visível no comportamento, que é avaliado
por um ponto de vista fundado no padrão de comportamento socialmente aceito. Thomas
Szaz, David Cooper e Michel Foucault criticaram a ideologia da doença mental, mas ela
Desemprego atinge persiste, inclusive na forma de ideologia da deficiência mental.
menor nível desde
O psiquiatra Thomas Szaz, em seus livros O Mito da Doença Mental e A Ideologia da
Doença Mental, demonstrou que a idéia de doença mental é falsa, pois não se pode pensar
em doença nesta esfera, sendo isto uma extrapolação metafórica inaceitável, do mundo
físico para o psíquico. Não existe doença ou “deficiência mental”, apenas discordância com
idéias e comportamentos, assim como não existiam bruxas “malvadas” na Idade Média, mas
tão-somente idéias e comportamentos repudiados pelos dominantes. O que pode existir são
problemas físicos que atingem o comportamento e idéias de um indivíduo, isto é, problemas
físicos que aparentam ser problemas mentais.

http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Reportagens&idjornal=93&idrep=869 25/10/2009
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Obviamente que a inserção do aluno excepcional na rede de ensino regular (a dita


“inclusão”) é problemática nos dois casos, pois como argumentam Ademir Luiz e Maria
Angélica Peixoto, não há estrutura para tal e isto somente prejudicaria os excepcionais.
Porém, também devo deixar claro que o construtivismo, expressão pedagógica do
neoliberalismo — que vem sendo implantado ou aprofundado inclusive por governos de
partidos social-democratas, merece fortes críticas, mas não do ponto de vista de um elitismo
iluminista, expressão de um neoliberalismo ainda mais conservador. É preciso pensar na
qualidade do processo educacional, mas antes disso é preciso discutir o que é qualidade na
educação, quais são os diversos interesses por detrás das diversas concepções de
qualidade e como conceber qualidade de forma que não seja uma maneira a mais de
reproduzir as desigualdades sociais.

Por fim, é preciso se preocupar não somente com a escola e sua suposta “qualidade” mas
principalmente com os seres humanos chamados “excepcionais”. Se a proposta de escola
inclusiva não é adequada para eles, então é preciso construir alternativas, pois não basta
defender a educação especial tal como existe. É preciso solucionar os seus problemas
também, pois existem instituições de ensino especial que utilizam a força de trabalho dos
excepcionais como “mão-de-obra barata”, explorando-os.

Assim, é preciso defender o ensino especial mas também a sua reforma radical, incluindo a
fiscalização da sociedade civil, a ampla participação de pais e excepcionais em sua gestão,
entre outros elementos necessários. Por conseguinte, concluo colocando que pensar o
problema da educação dos excepcionais nos remete a um conjunto de questões
relacionadas, o que só pode ser feito a partir do ponto de vista da totalidade, como já
colocavam Hegel, Marx, Lukács e Korsch.

Nildo Viana, professor da Universidade Estadual de Goiás, é mestre em filosofia, doutor em


sociologia pela UnB, e autor de Escritos Metodológicos de Marx, Violência Urbana e Estado,
Democracia e Cidadania, entre outros livros.

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