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Autor: Bàbálórìsà Alberto Acaiaba


XETO MARRUMBAXETO

Muita gente confunde candomblé de caboclo com candomblé de Angola.

Isto no meu ponto de vista não é correto.Pois o caboclo é a entidade espiritual


presente em todas as religiões afro-brasileiras. Existem algumas casas de Ketú que
cultuam caboclos e fazem uma festa anual para os mesmos. Outras casas cultuam
de modo mais reservado e não fazem festas públicas, tendo acesso ao culto
somente os filhos da casa e os mais chegados da comunidade.
Alguns zeladores fazem toque para caboclo por terem antes passagem pela
umbanda, angola e outros cultos que o caboclo se faz presente.
Não é tão raro acontecer de zeladores que seguem os modelos de casas
tradicionais de ketú onde o caboclo não é cultuado, ou não é cultuado com tanta
freqüência, “virarem” no caboclo em sessões reservadas.
O que vejo hoje em dia é que o candomblé de caboclo tem um espaço cada vez
maior dentro dos terreiros, sejam nos que cultuam Òrìsà, Voduns, N’kices, tendo
seus toques igual ou maior número de presentes que os toques aos Òrìsà.
Apesar dos caboclos identificados como índios, há caboclos de diferentes origens:

Ao caboclo de origem indígena chamamos geralmente de "Caboclo de Pena";


Ao caboclo de origem sertaneja, os caboclos boiadeiros que são os homens que
lidam com o gado chamamos de "Caboclo de Couro".

Quando louvamos os caboclos todos os seus feitos são exaltados, seus lugares
preferidos suas façanhas nas matas ou na lida com o gado, suas crenças, onde
então acontece o sincretismo, pois são louvados a figura de Jesus Cristo e alguns
santos católicos.
Algumas pessoas erroneamente tratam o candomblé de caboclo de modo
pejorativo, como se o mesmo não tivesse a sua força, sua graça, sua beleza,
sentindo-se os próprios donos da verdade.

Mas, como diz um velho ditado:


Òlotitun lese kékeré - O dono da verdade tem pernas curtas.

Como estas poucas linhas na verdade são para expressar a beleza dos seus
cânticos e a alegria deste toque presente na maioria dos candomblés de São Paulo,
eis algumas das cantigas mais tradicionais entoadas.

Entidade: Caboclo
Nação: Todas que os respeitam
Saudação:Xeto marrumbaxeto

CÂNTICOS DE BOIADEIRO

Cadê a minha corda


Corda de laçar meu boi
1)
O meu boi fugiu
Eu não sei pra onde foi

Zai zai zai boa noite meus senhores


Zai zai zai boa noite eu venho dar
2)
Zai zai zai eu me chamo boiadeiro
Zai zai zai não nego meu natural
Lá nas matas, lá na Jurema
Lá nas matas, lá na Jurema
3)
É uma lei severa, é uma lei sem pena
É uma lei severa, é uma lei sem pena

Em cima do meu lajedo


Eu bebi água de gravatá
4)
Eu bebi água de gravatá, sou boiadeiro
Eu bebi água de gravatá, sou gentileiro

Ainda okê, eu dei um tiro quero ver cair


5)
Ainda okê, eu dei um tiro quero ver zunir

Abre-te campestre que eu quero passar


6)
Eu quero ver meu gado, aonde ele está

Abelha que faz o mel, também faz o samburá


Abelha que faz o mel, também faz o samburá
Caboclo pega sua flecha
7)
Não deixa outro tomar
Caboclo pega sua flecha
Não deixa outro tomar

A menina do sobrado mandou me chamar pelo seu criado


A menina do sobrado mandou me chamar pelo seu criado
8) Eu mandei dizer a ela estou vaquejando o meu gado
Olô boiadeiro eu gosto de samba arrojado
Olô boiadeiro eu gosto de samba arrojado

Aparei minha roseira para tirar do caminho


Aparei minha roseira para tirar do caminho
9)
Na aldeia de boiadeiro não se pisa no caminho
Na aldeia de boiadeiro não se pisa no caminho

Pedrinha miudinha, pedrinha na Luanda e


10)
Lagedo tão grande, tão grande na Luanda e

Meu lajedo é muito grande é de pedrinha miúda


11)
É de pedrinha miúda, é de pedrinha graúda

12)
Vou me embora pro sertão
Oh viola meu bem viola
Que eu aqui não me dou bem
Viola meu bem viola
Sou operário da leste
Sou maquinista do trem
Vou me embora pro sertão
Que eu aqui não me dou bem
Oh viola meu bem viola
Oh viola meu bem viola
Oh viola meu bem viola
Oh viola meu bem viola

Eu tenho meu chapeu de couro


Eu tenho minha guiada
13)
Eu tenho meu lenço vermelho
Para tocar minha vaquejada

Agradeço a todas as pessoas que respeitam o candomblé de caboclo, o querido


Ogã Luiz Freitas que sempre nos tem prestigiado em cada toque, seja de Òrìsà, de
caboclo ou qualquer outra manifestação do culto, meus sinceros respeitos por sua
humildade e ensinamentos que não foram poucos (mesmo sem ele perceber).

Referências Bibliográficas:
Os candomblés de São Paulo.
Hucitec - São Paulo, 1991
PRANDI, Reginaldo -
Herdeiras do axé.
Hucitec - São Paulo, 1996
SANTOS, Alberto Tadeu
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Bàbálórìsà Alberto Acaiaba

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