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Idealizado por

LEILA MATTOS

EPISÓDIO ESPECIAL

‘ME LEVA PRA LUA’


Personagens:
Antuérpia, empregada da casa, 30 anos.
Vera, dona de casa, 50 anos.
Ivone, mãe de Vera, 69 anos.
Adalberto, esposo de Vera, 46 anos.
Denise, irmã de Vera, 42 anos.
Formiga, esposo de Denise, 38 anos.
Caco, filho de Vera e Adalberto, 14 anos.
Marina, filha de Denise e Formiga, 13 anos.
Belgica, filha de Antuérpia, 5 anos.
Gomide, amigo de Antuérpia, 28 anos
Emilia, amiga de Adalberto, 48 anos
CENA 1 – EXT. – FRENTE DA CASA DE CACO – DIA

(A câmera mostra a frente da casa da família.)

CORTA PARA

CENA 2 – INT. – QUARTO DE CACO – DIA

(Tiago está dormindo, quando Vera, sua mãe, bate à porta e


entra.)

VERA – Caco, Caco, meu filho!


Vamos acordando!

CACO – Ah, mas ainda tá cedo


mãe!

VERA – Cedo, coisa nenhuma.


Todo mundo já levantou. Eu, seu
pai e a vovó.

CACO – A vovó não conta, ela


acorda SUPER cedo!

VERA – Sim, mas já são 11 da


manhã meu filho!

CACO – Me deixa dormir?

VERA – Não! Aliás, já ia


esquecendo... Vai tomar banho, já
que hoje sua tia Denise vem
passar o dia aqui em casa.

CACO – Tia Denise? Ela vem


sozinha?
VERA – Não, vem teu tio Formiga,
e tua prima Marina.

CACO – Agora sim, bem melhor.


Vai ter com quem eu conversar.

VERA – Então vai, acorda que eu


estou te esperando lá embaixo.

(Vera sai e Caco levanta e sai atrás dela)

CORTA PARA

CENA 3 – INT. – COZINHA DA CASA DE CACO – DIA

(Antuérpia prepara o almoço, debruçada na bancada cortando


verduras, enquanto Ivone, a avó, faz cruzadinhas.)

IVONE – Lisboa, me ajude aqui.


Não estou conseguindo responder
essa.

ANTUÉRPIA – (com sotaque


francês carregado) Madame Ivone,
meu nome não é Lisboa, quantas
vezes vou ter de corrigir a
senhora?

IVONE – Ok, Roma. Venha cá e


me ajude a responder essa!

ANTUÉRPIA – Diga, qual?

IVONE – Qual a cor do cavalo


branco de Napoleão?

ANTUÉRPIA – Napoleón?
Desculpe Dona Ivone, não sou
francesa e não sei a cor do cavalo
de Napoleón.

IVONE – Mas, Amsterdã! Você


tem que saber essa então! Qual a
capital da Bélgica?

(Belgica, a filha de Antuérpia, irrompe em cena)

BÉLGICA – Mère, mère, je suis


très jolie ? (Mãe, mãe, eu sou
muito bonita?)

ANTUÉRPIA – Oui, Tu est. Mais,


pourquoi est parlé de ça ? (Sim,
você é. Mas, porque está falando
disso?)

BÉLGICA – Caco dîte-moi que je


suis ‘horrível’. Qu’est que c’est? (O
Caco disse que eu sou horrível. O
que significa isso?)

ANTUÉRPIA – Filha! Fala em


Português! Mon Dieu! Meu
Francês enferrujou!

BÉLGICA – Hihihihihihihi,
desculpe. É que eu gosto tanto!

IVONE – Descobri você! Você é


francesa sim, Helsinque!
Querendo me esconder! Agora me
diga! Qual é a capital da Bélgica?

ANTUÉRPIA – Bruxelas, Dona


Ivone! B-R-U-X-E-L-A-S! Agora me
deixa cortar as verduras em paz!
IVONE – Olha, deu certinho! Você
é um anjo, Paris! Um anjo.

(Vera entra na cozinha)

VERA – Posso saber o que as


duas queridas estão conversando?

IVONE – Verinha, amada. Estou


fazendo umas cruzadinhas e a
Madri, está me ajudando!

(Vera faz cara de dúvida e Antuérpia sai correndo. Ela volta, com
dois pompons e começa a cantar)

ANTUÉRPIA – Me dá um AN, Me
dá um TU, Me dá um ÉR, me dá um
PI, Me dá um A. Antuérpia!
Antuérpia! Antuérpia!

IVONE – Ai, que gracinha.

VERA – Adorei a performance,


agora vamos trabalhar mamãe!
Temos que arrumar a mesa pro
almoço.

(Antuérpia se enfeza e cozinha com raiva. Belgica está sentada


na pia, assistindo)

BELGICA – Mamãe, por que a


Dona Ivone, nunca acerta seu
nome?

ANTUÉRPIA – Ela é uma


desmemoriada. Mas, eu não ligo.
Estou pensando numa coisa tão
engraçada aqui filha. Imagina... Se
todos nós fossemos pra Lua! Eu,
você e o Gomide! Tá, até que eu
levaria o Seu Adalberto, a Verinha,
o Caco...

(Delírio de Antuérpia. Começa a música: Que Será – Dalva de


Oliveira.)

CENA 4 – EXT. – QUINTAL DA CASA DE CACO – DIA

(A cena a seguir, começa com Antuérpia nos fundos da casa,


montando uma estrutura de aço que remete a um foguete. Belgica
pula animada, do lado de Antuérpia. A música cessa quando
Gomide, o homem com quem Antuérpia está de namoro, entra no
quintal.)

GOMIDE – Menina?

ANTUÉRPIA – Ai, que susto.

GOMIDE – Está no mundo da lua,


é?

ANTUÉRPIA – Quase. Belgica, vai


brincar, vai filha.

(Belgica sai correndo imitando o barulho de um foguete)

GOMIDE – Pelo jeito, não é só você


que está no mundo da lua.

ANTUÉRPIA – É que eu estava


confabulando, imagina se nós todos
fossemos para a lua?

GOMIDE – Pra lua?

ANTUÉRPIA – É. Pra lua. Não sei,


lá deve ser tão legal.
GOMIDE – Gravidade Zero. Todos
nós voando, voando, voando.

ANTUÉRPIA – Me leva pra Lua?

GOMIDE – E como?

ANTUÉRPIA – Eu tenho toda a


ideia planejada já! Fiz mapa e tudo.

(Aumenta a música Banho de Lua – Cely Campelo, enquanto


Antuérpia e Gomide procuram nos quartinhos do fundo, umas
pastas com projetos de foguete)

CENA 5 – INT. – HALL DE ENTRADA/ SALA DE ESTAR DA


CASA DE CACO – DIA/TARDE

(A Campainha toca e Caco corre para atender. Vera grita da


cozinha.)

VERA – Caco! Vá atender a porta!


É sua tia!

CACO – Está bem!

(Caco abre a porta. Entram, Denise, irmã de Vera, Formiga,


esposo de Denise e Marina, a filha do casal.)

CACO – Prima!

MARINA – Caquito!

(Marina vê Caco e os dois começam a fazer brincadeiras)

MARINA – Sai, que eu vou te dar


um soco.

DENISE – Tenha modos, Marininha,


minha filha.
FORMIGA – Deixa eles brincarem,
meu amor. (Para Caco) Teu pai está
aí?

CACO – Meu pai está chegando já.


Ele teve um problema na firma e já
vem pra casa.

FORMIGA – Firma de sábado? Seu


pai vive na lua com esse trabalho
também né?

CACO – Ele gosta bastante daquilo.


E eu vou herdar! Indústria
Automotora Caquito! Quero
construir carros!

MARINA – Como sonha esse meu


primo. Cuidado com o soco!

(Marina soca o primo de brincadeira)

DENISE – Marina!

CACO – Deixa ela, tia. Ela é


fraquinha.

MARINA – Vem aqui seu moleque!

(Os dois saem correndo e sobem as escadas da casa, enquanto


Formiga passa a observar uns quadros na sala de estar.Vera
chega até o Hall.)

VERA – Denise, querida!

(Denise solta um gritinho estridente)

DENISE – Verinha!
(Dona Ivone grita da cozinha)

IVONE – Vera, querida!

DENISE – Mamãe!

IVONE – Denise, querida! Dá-me


um abraço e avisa a Verinha que a
Atenas já colocou a comida na
mesa!

DENISE – (Para Vera) Quem é


Atenas?

VERA – A mamãe nunca se lembra


do nome da empregada!

DENISE – A Havana?

(Antuérpia entra no Hall)

ANTUÉRPIA – Ah, não. A senhora


também vai errar meu nome?

VERA – É Antuérpia, Dê. É


complicadinho assim mesmo.

ANTUÉRPIA – Ok. Vocês me


chamam de todas as capitais
europeias e o meu nome que é
complicado... O almoço ficou uma
delícia, vem comer Caco e Marina!

DENISE – Nananinanão! Está


errado! Havana não fica na Europa.

ANTUÉRPIA – Eu ia terminar de
citar, que a senhorita foi a primeira a
cometer a proeza de confundir com
a capital de Cuba.

DENISE – Havana é a capital de


Cuba? Jurava que era aquela prisão
que o Obama falou que ia desativar.

(Formiga entra novamente no Hall para chamar a esposa e escuta


sua fala)

FORMIGA – É Guantánamo, meu


bem. Vamos comer, pra parar com
asneiras.

ANTUÉRPIA – Obrigada, seu


Aranha.

FORMIGA – É Formiga.

ANTUÉRPIA – Todo mundo erra


meu nome, eu também tenho
direito!

(Antuérpia ri e sai para a cozinha. Formiga balança a cabeça e ri


também. )

CORTA PARA

CENA 6 – INT. – SALA DE JANTAR DA CASA DE CACO –


DIA/TARDE

(Estão dispostos na mesa, uma cadeira vazia, e no sentido


horário da mesa redonda estão, Vera, Ivone, Denise, Formiga,
Marina, Caco, Belgica e Antuérpia. O jantar já acontece há algum
tempo)

VERA – Gente, queria pedir um


minuto.
DENISE – Pode falar!

(Nesse instante, Adalberto entra na sala.)

ADALBERTO – Pessoal, cheguei!

VERA – Amor! Achei que viesse


para o jantar e não para o almoço,
de tanto que demorou.

ADALBERTO – Desculpa, mas eu


estou trabalhando em um projeto
fantástico de um foguete.

DENISE – Foguete? Vai nos levar


pra lua, cunhado?

ADALBERTO – Na verdade, é essa


a minha ideia.

DENISE – Ih, o homem


enlouqueceu de vez mamãe!

IVONE – Imagina! Ir pra lua? Isso é


loucura!

(Ivone solta uma gargalhada)

IVONE – Varsóvia! Vá buscar um


prato para o meu genro!

ANTUÉRPIA – Varsóvia sou eu?

IVONE – Claro! Com quem mais eu


estaria falando?

ANTUÉRPIA – Já estou indo. Seu


Adalberto, conte mais sobre a sua
ideia da viagem pra lua!
IVONE – E quem disse que você
também vai? Mas que abuso!

(Ivone solta outra gargalhada)

ANTUÉRPIA – Eu vou buscar o


prato.

(Antuérpia sai. Fica um silêncio na mesa, todos se observam, até


que Adalberto se levanta e vai até a cozinha. Antuérpia vai para a
cozinha e Belgica corre atrás dela. A empregada se debruça
sobre a mesa e cai em prantos.)

CENA 7 – INT. – COZINHA DA SALA DE CACO – DIA/TARDE

ANTUÉRPIA – Ai filha... Estou tão


cansada de ser tratada como uma
escrava!

BELGICA – Calma mamãe. A Dona


Ivone é uma bruxa vestida de vovó.

ANTUÉRPIA – Ai, como você é


gracinha. Dá cá, um abraço.

(Antuérpia abraça Belgica, enquanto isso, Adalberto entra na


cozinha)

ADALBERTO – Antuérpia?

(Antuérpia se assusta)

ANTUÉRPIA – O senhor sabe o


meu nome?

ADALBERTO – Claro! Tanto tempo


trabalhando conosco!
ANTUÉRPIA – Pois saiba, que o
senhor é o único.

ADALBERTO – Ah, você fala da


Ivone, não é?

ANTUÉRPIA – Ela me trata muito


mal!

ADALBERTO – Ela é uma


desmemoriada e tem preguiça de
lembrar o seu nome. Então te
chama de qualquer coisa.

ANTUÉRPIA – Só que isso ofende.


Ofende ser lembrada como
qualquer coisa.

ADALBERTO – Você ficou


chateada porque ela falou de não te
levar pra lua não é?

ANTUÉRPIA – Fiquei. Apesar de já


saber desse seu projeto.

ADALBERTO – Como soube?

ANTUÉRPIA – O senhor guardou


no meu quartinho todos os seus
papeis antigos.

ADALBERTO – Não é possível! Os


papeis antigos estavam lá o tempo
todo?

ANTUÉRPIA – Estavam! O senhor


não sabia?
ADALBERTO – Eu procurei esses
papeis durante anos. Não sabia que
estavam lá! Cara, você me salvou
Antuérpia! Me salvou! Agora,
prepare-se!

ANTUÉRPIA – Pra que?

ADALBERTO – Vamos para a lua!

(Antuérpia abre um grande e contagiante sorriso. Começa a


música Night Fire Dance – Andreas Vollenweider, enquanto
isso aparece imagens da lua, principalmente a imagem de Neil
Armstrong, em 1969, ano em que o primeiro homem pisou na
lua.)

CORTA PARA

CENA 8 – INT. – HALL DE ENTRADA DA CASA DE CACO –


NOITE

(Entrando Denise, Formiga, Vera, Adalberto, Antuérpia, Ivone)

DENISE – Verinha, dá cá um
abraço. O almoço estava ótimo!
Parabéns!

(Denise e Vera se abraçam)

IVONE – A Verona é uma


cozinheira de mãos cheias!

ANTUÉRPIA – Obrigada, Dona


Ivone.

FORMIGA – Meu bem, vamos. Ah,


já ia me esquecendo. Cuida bem da
Marina, cunhadinha!
VERA – Pode deixar! Espera aí!

(Vera vai ao pé da escada e grita)

VERA – Caco! Marina! Desçam aqui


pra dar um beijo na Tia Denise e no
Tio Formiga!

DENISE – Tia não! Não sou tão


velha ainda

(Denise ri. Caco e Marina descem


as escadas correndo.)

DENISE – Dá um abraço aqui,


Caco!

(Caco abraça Denise e se


desvencilha para abraçar Formiga,
Marina faz o mesmo.)

MARINA – Tchau mamãe! Se cuida!

DENISE – Tchau minha flor!

FORMIGA – Tchau minha


tuchucutinha!

MARINA – Tchau!

CACO – Marina, aposto quem


chega primeiro no meu quarto!

MARINA – Apostado!

CACO – 1,2,3 e JÁ!

VERA – Cuidado, meu filho. Não


corram nas escadas!
(Caco e Marina sobem)

IVONE – Que raios é isso, Formiga?

FORMIGA – Um apelido carinhoso


minha sogra jararaquinha!

IVONE – Denise! Seu marido me


chamou de Jararaquinha! J-A-R-A-
R-A-C-A! Eu posso com isso?

(Denise faz uma cara de medo e puxa Formiga)

DENISE – Vamos embora, bebê!


Tchau mamãe! Tchau Verinha!
Tchau Veneza! E tchau criança...

(Denise se aproxima de Belgica)

DENISE – Dá um beijinho na Dê!

BELGICA – Beijinho?

DENISE – É!

(Belgica morde o nariz de Denise)

DENISE – Ahhhhhhhhhhhhhhh!
Mas que criança mau criada!

ANTUÉRPIA – Belgica! Vá para o


seu quarto! Vamos conversar sério,
mocinha!

(Belgica passa, Antuérpia lhe lança um sorriso, uma piscadela e


faz um sinal de positivo)
ANTUÉRPIA – Desculpa, Dona
Denise, a Belgica não está
acostumada com tanta gente em
casa.

DENISE – Tá desculpada, Viena. Tá


Desculpada!

FORMIGA – Tchau amigos! Até


mais!

DENISE – Tchau meus lindos!


Beijo! Beijo!

(Denise e Formiga saem. Antuérpia fecha a porta.)

VERA – Bom, vamos todos dormir,


foi um dia longo.

IVONE – Vou me deitar, boa noite!

VERA – Boa noite mamãe!

ANTUÉRPIA – Boa noite gente!

ADALBERTO – Boa noite!

(Todos saem para seus quartos)

CORTA PARA

CENA 9 – EXT. – QUINTAL DA CASA DE CACO – NOITE

(A cena começa no quarto de Adalberto e Vera. Adalberto se


levanta, e caminha até a janela, ele espia para tentar enxergar o
quarto de Antuérpia. Ele veste um roupão e desce as escadas
devagar, passa pela cozinha, e pega uma lanterna. Vai até o
quintal e começa a iluminar a porta de Antuérpia. Antuérpia
acorda assustada e sai na porta com um lampião. Adalberto a
chama em voz baixa)

ADALBERTO – Antuérpia!

ANTUÉRPIA (falando um pouco


alto) – Seu Adalberto?

ADALBERTO – Silêncio! Sou eu


sim, venha aqui. Tenho uma
proposta a lhe fazer.

ANTUÉRPIA – Que proposta?

ADALBERTO – Você vai adorar!

(Adalberto leva Antuérpia para dentro da casa. Os dois caminham


lentamente até a porta do porão. Lá, eles vão descendo as
escadas até uma pequena porta com um cadeado. Antuérpia
exclama enquanto Adalberto abre o cadeado.)

ANTUÉRPIA – Seu Adalberto, o


que vai acontecer?

ADALBERTO – Como assim?

ANTUÉRPIA – Não sei! O senhor


vai sair correndo e me trancar nessa
portinha. Tenho medo de ficar
presa.

ADALBERTO – Ficou louca, foi? Eu


garanto que você vai gostar. Só não
pode contar pra ninguém o que vai
ver!

ANTUÉRPIA – O senhor está me


dando medo!
ADALBERTO – Acalma Antuérpia!
Acalma!

ANTUÉRPIA – Ai, estou ansiosa.

ADALBERTO – Está pronta?

ANTUÉRPIA – Estou!

(Adalberto abre a porta e uma forte luz os ilumina. Começa a


música Night Fire Dance – Andreas Vollenweider, os dois
entram. Trata-se de uma oficina de foguetes, todas as paredes
são prateadas e possui um enorme painel de controle, no meio da
sala, um foguete em construção.Antuérpia fica boquiaberta
enquanto Adalberto sorri.)

ANTUÉRPIA – Seu Adalberto!

ADALBERTO – O que achou?

ANTUÉRPIA – É lindo!

ADALBERTO – É o que você tinha


sonhado?

ANTUÉRPIA – Exatamente! E por


que o senhor não contou nada a
ninguém?

ADALBERTO – Eu estive anos,


trabalhando nesse projeto, junto
com uma amiga minha de anos. Se
chama Emília Cachoeira, ela tem
trabalhado comigo nesse foguete.
Ela desenhou os protótipos,
trabalha na NASA, nos Estados
Unidos.
ANTUÉRPIA – Ai, que legal! Na
NASA?

ADALBERTO – Sim, ela é


brasileira, mas me ajuda nesse
projeto desde que mudou pros
Estados Unidos.

ANTUÉRPIA – Nossa, eu sempre


adorei astronomia.

ADALBERTO – Nunca quis estudar


astronomia?

ANTUÉRPIA – Nunca tive


oportunidade. Mas, um dia vou
estudar.

ADALBERTO – Vai sim! Nós vamos


pra lua!

ANTUÉRPIA – Pra lua!

ADALBERTO – E eu quero que


você me ajude. Vai ser meu
presente de casamento pra Verinha.

ANTUÉRPIA – Ai, que


emocionante.

ADALBERTO – A família toda


viajando para a lua. Juntos!

(Adalberto e Antuérpia se abraçam. Começa a música: Que Será


– Dalva de Oliveira)

CORTA PARA
CENA 10 – INT. – QUARTO DE VERA E ADALBERTO – DIA

(Câmera mostra Vera deitada e a cama vazia ao seu lado. Ela se


espreguiça, senta na cama e abre os olhos, percebe que
Adalberto não está na cama.)

VERA – Adalberto acordando antes


de mim? Nesse mato, tem coelho!

(Adalberto entra no quarto de roupão trazendo uma bandeja de


café da manhã.)

ADALBERTO – Bom dia, meu


amor.

VERA – Nossa, que romantismo.


Tudo bem que nosso aniversário de
casamento está chegando, mas não
é pra tanto.

(Vera ri)
ADALBERTO – Eu gosto de te
tratar bem!

(Adalberto rouba um beijo de Vera.)

VERA – E eu, adoro ser tratada


bem! Agora, escuta. A Antuérpia te
ajudou a preparar esse café todo
aqui né?

ADALBERTO – Em partes. Eu fiz


um pedaço do bolo e assei uma
parte dos pãezinhos.

VERA – Com certeza, são esses


mais douradinhos.
ADALBERTO – Pensa. Sou
cozinheiro de mão cheia! Vou tomar
banho.

(Adalberto tira o roupão e Vera sai da cama e o empurra no


colchão. Os dois trocam carícias.)

CORTA PARA

CENA 11 – INT. – COZINHA DA CASA – DIA

(Antuérpia está lendo um livro de astronomia. Dona Ivone entra


na cozinha, seguida de Caco e Marina.)

IVONE – Bom dia, Genebra!

ANTUÉRPIA – Bom dia, Dona


Ivone. A senhora quer que eu
prepare o café para os meninos?

CACO – Põe mel no meu leite,


hein?

MARINA – Eu gosto de café bem


fraquinho, quase um pingado. E
cream-cracker com margarina hein
Genebra?

IVONE – Eu quero só Waffles.

(Os três se encaminham para a sala de jantar)

MARINA – Tua empregada tem um


nome engraçado Caco!

CACO – Ela não é do Brasil, dã! Ela


é de uma terra indígena da
Austrália, ela foi empalhada e
depois mumificada e depois caiu
numa nave extraterrestre aqui na
nossa casa!

(Antuérpia entra na sala de estar. Marina se assusta.)

ANTUÉRPIA – Viu assombração


menina? Está branca feito leite!

MARINA – Você é extraterrestre?

ANTUÉRPIA – Oi?

IVONE – Marina! Pare de


confundir a Zagreb.

CACO – É que eu contei a sua


história pra ela!

ANTUÉRPIA – Que história?

MARINA - De que você uma terra


indígena da Austrália, ela foi
empalhada e depois mumificada e
depois caiu numa nave
extraterrestre aqui na nossa casa!

ANTUÉRPIA – Santa Paciência!

IVONE – Essa santa é nova?

ANTUÉRPIA – A mais antiga de


todas, Dona Ivone! De todas!

(Antuérpia sai. Os três riem e começam a comer.)

MARINA – A senhora é muito


malvada vovó!

CACO – E põe malvada nisso!


IVONE – Eu sou esperta, meus
queridos. A gente não pode dar
espaço, que elas já vêm se
encostando.

CACO – Vamos pro parque


temático vovó?

MARINA – Uhuuul!

IVONE – Vamos!

CORTA PARA

CENA 12 - EXT. – QUINTAL DA CASA – DIA

(Antuérpia sai no quintal e vê Gomide no portão.)

GOMIDE – Tutinha! Tutututinha!

ANTUÉRPIA – Gomide! Que


surpresa boa!

GOMIDE – Abre aqui, abre!

ANTUÉRPIA – Você não sabe,


estou completamente irritada
nessa casa. A única coisa que me
alegra é saber que vamos pra lua!

GOMIDE – Pra lua?

ANTUÉRPIA – É uma longa


história. O Seu Adalberto está
construindo um foguete e...

(Antuérpia segue contando a história, sobe a música Luna –


Alessandro Safina, que logo cessa.)
CORTA PARA

CENA 13 – INT. – QUARTO DE VERA E ADALBERTO – DIA

(Vera e Adalberto estão se vestindo, enquanto Vera passa batom


no espelho. Adalberto mexe em alguns papeis. O celular de
Adalberto toca.)

VERA – Atende, que essa música


me irrita!

ADALBERTO – Não estou


encontrando o celular!

VERA – Acho que está em cima


da pia.

ADALBERTO – Pia? Do
banheiro?

VERA – Pia da sala que não ia ser


né?

ADALBERTO – Recomeçou!

VERA – Brincadeirinha! Mas,


ATENDE LOGO!

ADALBERTO – Achei!

(Adalberto atende. É Emília, sua amiga da NASA)

ADALBERTO – O quê? Saiu a


liminar? Nós vamos? Tem
certeza?
UHUUUUUUUUUUUUUL!
EMÍLIA (Em Off) – Vocês serão a
primeira família a viajar para a lua!

(Adalberto solta um grito que ecoa em todos os cantos da casa.


Mostra o quintal com Antuérpia e Gomide, a garagem, onde estão
Ivone, Caco e Marina e por fim foca o rosto de Vera.)

VERA – Caramba! Que grito foi


esse?

ADALBERTO – Não posso


explicar agora! Depois, prometo
que você saberá e amará tudo!
Tchau!

(Adalberto dá um beijo no rosto de Vera e sai.)

VERA – Esse meu marido, bateu a


cabeça e perdeu um parafuso. Um
não, vários!

(Vera sai do quarto rindo.)

CORTA PARA

CENA 14 – INT. – COZINHA DA CASA – DIA

(Antuérpia e Gomide estão sentados na mesa da cozinha.


Adalberto passa por lá antes de sair e anuncia.)

ADALBERTO – Saiu a liminar!


NÓS VAMOS PARA A LUA!

ANTUÉRPIA – Que coisa boa!

GOMIDE – Caraca, que imediato!

ADALBERTO – Todos vão!


Inclusive você Gomide! Agora eu
vou me encontrar com a Emília por
vídeo conferência e definir os
últimos detalhes. Só um conselho,
arrumem suas malas.

GOMIDE – Pode deixar!

ANTUÉRPIA – Vou pegar minhas


trouxinhas!

(Eles riem e Adalberto sai apressado.)

CORTA PARA

CENA 15 – X – RELÓGIO – X

(Um relógio digital toma toda a tela, mostrando as horas


passando rapidamente com a música Night Fire Dance –
Andréas Vollenweider)

CORTA PARA

CENA 16 – EXT. – QUINTAL DA CASA – DIA

(Todos estão com malas, prontos para embarcar no foguete. A


câmera vai focando um por um todos olhando para o alto. Da
esquerda para a direita: Dona Ivone, Denise, Formiga, Marina,
Caco, Belgica, Gomide, Antuérpia, Vera e Adalberto. O plano se
abre e Emília vem andando em direção à família.)

EMÍLIA – Vocês viram como ele


ficou lindo?

VERA – Eu não estou acreditando


até agora!

ADALBERTO – Está tudo certo?


EMÍLIA – Certíssimo. Vai ser
televisionado pela TV Destino. O
lançamento da primeira família a ir
para a lua.

ANTUÉRPIA – Nossa, que máximo.


TV Destino é aquela que está
fazendo aniversário não é?

EMÍLIA – Essa mesmo. Três anos


traçando entretenimento em nossas
vidas!

ADALBERTO – Essa TV é o
máximo e nós apareceremos nela!
Nossa família é linda!

VERA – Vamos embarcar?

TODOS – Vamos!

CORTA PARA

CENA 17 – INT. – FOGUETE – DIA

(Imagem da decolagem de um foguete)

CORTA PARA

CENA 18 – INT. – RUA DA CASA DE VERA E ADALBERTO –


DIA

(Uma aglomeração de pessoas em frente a casa, uma repórter


com um microfone da TV Destino.)

REPÓRTER – Olá, estamos aqui


em frente á casa da família mais
lunática no mundo. E é daqui, junto
com os amigos dessa família, que
nós vamos chamar uma reportagem
diretamente da lua, com nossa
repórter Evana Ribeiro.

(Corta para cena na lua. Todos os personagens estão com roupas


especiais andando lentamente, em crateras.)

EVANA – Estamos aqui,


diretamente da lua, para
entrevistarmos a família mais
lunática do Brasil! Esse aqui é
Adalberto. Como surgiu essa ideia
maluca?

ADALBERTO – É o meu presente


de casamento para minha Vera
aqui.

(Adalberto e Vera se beijam. Ivone interrompe a câmera da


repórter e fala.)

IVONE – Gente, eu queria pedir


desculpas por tratar a Antuérpia tão
mal assim!

ANTUÉRPIA – O que? Gente, ela


acertou o meu nome!

IVONE – Pois é.

ANTUÉRPIA – Ai, Dona Ivone me


dá um abraço!

(Ivone abraça Antuérpia)

IVONE – Continuando... Pois é. Eu


chutei.
ANTUÉRPIA – Mas chutou certo. E
é isso que importa. Cara, eu adoro
essa lua.

EVANA – Gente, essa família é


mesmo muito elegante. Vamos
fazer uma foto?

TODOS – Vamos!

(Todos se juntam e fazem uma pose. Close em Evana dizendo)

EVANA – Xis!

(A foto congela e logo depois se descongela.)

VERA – Vou fixar esse quadro aqui,


no hall de entrada.

ADALBERTO – Eu não disse que ia


levar você pra lua?

VERA – Disse sim! E cumpriu!

ADALBERTO – Um beijo?

VERA – Aceito, Dr. Lunático.

(Adalberto e Vera se beijam. A família aparece cantando


parabéns pelo aniversário de casamento. Sobe a música: Luna –
Alessandro Safina.)

FIM DO EPISÓDIO

Uma obra de Leila Mattos


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